35º aniversário do desastre de Chernobyl
Em 26 de abril de 1986, uma tragédia de magnitude indescritível ocorreu na usina nuclear de Chernobyl, no norte da Ucrânia. À 1h23min, uma explosão na usina arrancou o telhado de concreto do Reator 4, lançando grandes quantidades de partículas radioativas tóxicas na atmosfera. Além das tentativas imediatas dos trabalhadores da Chernobyl de apagar o incêndio causado pela explosão, não houve reação oficial do governo a esta catástrofe - nenhum anúncio foi feito, nenhum aviso foi dado - nada que mostrasse a menor preocupação para a população da Ucrânia ou para a comunidade global em geral. Em um ato deliberado do que só pode ser visto como negligência e desprezo pela segurança de milhões, as autoridades soviéticas permaneceram em silêncio.
Nesse ínterim, o povo da Ucrânia desconhecia completamente o perigo iminente para as suas vidas. As autoridades soviéticas não iniciaram as evacuações da área circundante de Chernobyl até 36 horas após a explosão. Só depois que grandes quantidades de radioatividade foram detectadas em partes da Europa e depois que especialistas escandinavos determinaram que a fonte era a Ucrânia, o Kremlin se apresentou para anunciar que havia ocorrido um acidente em Chernobyl e que Moscou estava cuidando da situação. A reação deles dificilmente foi apropriada para a magnitude da situação. E, como tal, cinco dias após a catástrofe, milhares de cidadãos desavisados, muitos deles crianças, desfilaram nas ruas de Kiev, a apenas 60 milhas ao sul de Chernobyl, em comemoração ao Primeiro de Maio, alheios ao perigo silencioso e invisível que se infiltrou sua cidade.
O Brasil e a solidariedade com as vítimas de Chernobyl.
A comunidade ucraniana no Brasil não ficou alheia aos acontecimentos. Na gestão de Jose Welgacz como Presidente da Representação Central Ucraniano Brasileira, entre os anos de 1990 e 2001 vieram ao Brasil para tratamento médico 15 crianças ucranianas vítimas da radiação de Chornobyl. As crianças ficaram alojadas em casas de desce descendentes de ucranianos e foram tratadas no Hospital Evangélico por iniciativa do ex-deputado André Zacharow. Nos anos seguintes a Representação Central Ucraniano Brasileira realizou trabalho de parceria com o Hospital de Clinicas da UFPR e foram treinados 10 médicos e enfermeiras ucranianas para a realização de transplantes de medula óssea sob a direção do Dr. Ricardo Pasquini. Com a aquisição da técnica da UFPR os médicos ucranianos no retorno passaram a realizar os transplantes de medula óssea na Ucrânia.
A Ucrânia e a desnuclearização.
Um dos reflexos do acidente de Chernobyl foi a importante participação da delegação da Ucrânia na Conferencia sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992 que contou com a presença do presidente do parlamento Ucraniano Alexandr Moroz, do Ministro do Meio Ambiente Yuri Tcherbak e do Deputado que havia presidido a comissão de investigação do acidente Volodymyr Iavoriskiy. Textos da resolução final da Conferencia refletem as reflexões mundiais sobre o acidente.
E, em 5 de dezembro de 1994, é assinado o Memorando de Budapeste onde a Ucrânia que era a terceira potência nuclear do planeta abandona o uso de armas nucleares. O memorando de Budapeste sobre Garantias de Segurança é um acordo político assinado em Budapeste, Hungria, em 5 de dezembro de 1994, oferecendo garantias de segurança por seus signatários com relação à adesão da Ucrânia ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. O Memorando foi originalmente assinado por três potências nucleares: a Federação Russa, os Estados Unidos e o Reino Unido. China e França mais tarde deram declarações individuais de garantia também.
O memorando inclui garantias de segurança contra ameaças ou uso da força contra a integridade territorial ou a independência política da Ucrânia, assim como as da Bielorrússia e do Cazaquistão. Como resultado, a Ucrânia cedeu o terceiro maior arsenal de armas nucleares do mundo entre 1994 e 1996.
Durante a Crise da Crimeia de 2014, os Estados Unidos afirmaram que o envolvimento russo é em violação das suas obrigações para com a Ucrânia no âmbito do Memorando de Budapeste, e em clara violação da soberania e da integridade territorial da Ucrânia.
Laboratório de Pesquisas e Turismo.
Hoje na região protegida no raio de 30 km do entorno desenvolveu-se a flora e a fauna que é objeto de acompanhamento científico e pesquisas.
Atualmente, os turistas são transportados para a área por cerca de duas dezenas de agências de viagens de Kyiv, várias operadoras da Polônia e de outros países. Também existe turismo ilegal, onde guias levam estrangeiros por algumas centenas de dólares para aldeias abandonadas em Pripyat.
Existem muitos locais exclusivos na área: a própria usina nuclear de Chernobyl com um novo abrigo acima do 4º reator e enormes torres de resfriamento, a estação de radar de arco horizontal "Duga", dezenas de antigas vilas com cemitérios abandonados e uma igreja na aldeia de Krasno, a estação ferroviária Yaniv e, de fato, a lenda - o epicentro do mito turístico de Chernobyl.
Em 2019, a zona de Chernobyl foi visitada por mais de 120 mil turistas. Esse número tinha todas as chances de ultrapassar 200 mil em 2020, se não fosse o coronavírus.
Crédito: Vitório Sauchuk