segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Kiev e rebeldes avançam para nova tentativa de pôr fim à violência

Decretado “dia do silêncio” para a próxima semana que vai servir para avaliar possibilidade de cessar-fogo permanente no Leste.

 Conflito na Ucrânia já fez 4300 mortos desde Abril ANATOLII STEPANOV / AFP
É a mais recente tentativa de travar a violência no Leste da Ucrânia. Na próxima terça-feira vai ser declarado um “dia do silêncio”, que deverá marcar o fim das hostilidades entre o exército e as forças separatistas pró-russas. Porém, no terreno os confrontos permanecem e as várias quebras de acordos de cessar-fogo anteriores trazem incerteza quanto à validade das tréguas.

O anúncio foi feito pelo Presidente, Petro Poroshenko, através de um comunicado publicado quinta-feira no seu site. A notícia foi confirmada pelo lado separatista, através do presidente do parlamento da autoproclamada República Popular de Donetsk, Andrei Purguine.

O acordo foi alcançado no âmbito do grupo de contacto mediado pela Organização para a Cooperação e Segurança na Europa (OSCE) e que conta com representantes do Governo de Kiev, das forças rebeldes e da Rússia. Tratou-se de um compromisso “oral”, contou à AFP uma fonte separatista, e para isso contribuiu o facto de os dois lados estarem “cansados dos tiros sem qualquer sentido”.

Desde 5 de Setembro – data em que foi assinado um acordo de cessar-fogo em Minsk – que têm sido ensaiadas várias tentativas de pôr fim à violência, sempre sem sucesso. O memorando de Minsk previa o recuo de 15 quilômetros do armamento pesado ao longo da linha da frente, de forma a criar uma zona-tampão. Porém, os confrontos continuaram, sobretudo na área do aeroporto de Donetsk e em zonas urbanas de Lugansk. Durante o período do cessar-fogo que não o chegou a ser morreram mais de mil pessoas, no total das mais de 4300 vítimas mortais do conflito iniciado em Abril.

Com o falhanço reconhecido do acordo de Minsk, os intervenientes no conflito foram tentando implementar tréguas sectoriais. Na segunda-feira, foi anunciado um cessar-fogo na área do aeroporto de Donetsk e um acordo “de princípio” para o fim das hostilidades em Lugansk a vigorar dias depois.

Mas o desenvolvimento no terreno rapidamente dissipou qualquer esperança nos acordos firmados. Bombardeamentos esta quinta-feira provocaram a morte de um homem e feriram a sua mulher num distrito de Donetsk, controlado pelas forças rebeldes, segundo a Reuters. As forças armadas ucranianas comunicaram a morte de seis soldados e treze feridos, nos combates das últimas horas – um dos balanços mais pesados em semanas. O porta-voz do exército, Andrei Lisenko, afirmou que as forças rebeldes sofreram igualmente “muitas baixas” durante três tentativas em romper as linhas ucranianas.

A persistência dos confrontos abre espaço a um crescente cepticismo e impaciência de parte a parte. “Temos perdas humanas e sofrimento todos os dias”, lamentou o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Pavlo Klimkin, durante uma reunião ministerial da OSCE em Basileia, em que pediu “uma verdadeira implementação” do acordo de cessar-fogo e “não apenas compromissos e palavras”.

O seu homólogo russo, Sergei Lavrov, também em Basileia, fez apelos no mesmo sentido, lembrando que “um cessar-fogo já foi anunciado antes” e que “acabou por diminuir consideravelmente a violência, mas não totalmente”. Lavrov garantiu ainda que o Governo russo irá desdobrar-se em contactos para “persuadir todos a respeitar os compromissos, assim como tudo aquilo que foi acordado em Minsk”. Um fim das hostilidades poderia levar a uma diminuição da escala das sanções económicas actualmente em vigor contra a Rússia.

Terá de se esperar até terça-feira para verificar se não haverá, como até aqui, mais quebras nas palavras dos dois lados do conflito. Ao que tudo indica, o “dia de silêncio” irá servir como um indicador acerca das reais possibilidades para que um cessar-fogo definitivo seja alcançado. Uma fonte próxima da presidência ucraniana, citada pela AFP, esclareceu que, “caso [o dia de tréguas] seja respeitado, o recuo da artilharia pesada será iniciado a 10 de Dezembro”.

Fonte: Publico.pt