Decretado “dia do silêncio” para a próxima semana que vai servir para avaliar possibilidade de cessar-fogo permanente no Leste.
Conflito na Ucrânia já fez 4300 mortos desde Abril ANATOLII STEPANOV / AFP
É a mais recente tentativa de travar
a violência no Leste da Ucrânia. Na próxima terça-feira vai ser declarado um
“dia do silêncio”, que deverá marcar o fim das hostilidades entre o exército e
as forças separatistas pró-russas. Porém, no terreno os confrontos permanecem e
as várias quebras de acordos de cessar-fogo anteriores trazem incerteza quanto
à validade das tréguas.
O anúncio foi feito pelo Presidente, Petro Poroshenko, através de um
comunicado publicado quinta-feira no seu site. A notícia foi
confirmada pelo lado separatista, através do presidente do parlamento da
autoproclamada República Popular de Donetsk, Andrei Purguine.
O acordo foi alcançado no âmbito do
grupo de contacto mediado pela Organização para a Cooperação e Segurança na
Europa (OSCE) e que conta com representantes do Governo de Kiev, das forças
rebeldes e da Rússia. Tratou-se de um compromisso “oral”, contou à AFP uma
fonte separatista, e para isso contribuiu o facto de os dois lados estarem
“cansados dos tiros sem qualquer sentido”.
Desde 5 de Setembro – data em que foi
assinado um acordo de cessar-fogo em Minsk – que têm sido ensaiadas várias
tentativas de pôr fim à violência, sempre sem sucesso. O memorando de Minsk
previa o recuo de 15 quilômetros do armamento pesado ao longo da linha da
frente, de forma a criar uma zona-tampão. Porém, os confrontos continuaram,
sobretudo na área do aeroporto de Donetsk e em zonas urbanas de Lugansk.
Durante o período do cessar-fogo que não o chegou a ser morreram mais de mil pessoas,
no total das mais de 4300 vítimas mortais do conflito iniciado em Abril.
Com o falhanço reconhecido do acordo
de Minsk, os intervenientes no conflito foram tentando implementar tréguas
sectoriais. Na segunda-feira, foi anunciado um cessar-fogo na área do aeroporto
de Donetsk e um acordo “de princípio” para o fim das hostilidades em Lugansk a
vigorar dias depois.
Mas o desenvolvimento no terreno
rapidamente dissipou qualquer esperança nos acordos firmados. Bombardeamentos
esta quinta-feira provocaram a morte de um homem e feriram a sua mulher num
distrito de Donetsk, controlado pelas forças rebeldes, segundo a Reuters. As
forças armadas ucranianas comunicaram a morte de seis soldados e treze feridos,
nos combates das últimas horas – um dos balanços mais pesados em semanas. O
porta-voz do exército, Andrei Lisenko, afirmou que as forças rebeldes sofreram
igualmente “muitas baixas” durante três tentativas em romper as linhas
ucranianas.
A persistência dos confrontos abre
espaço a um crescente cepticismo e impaciência de parte a parte. “Temos perdas
humanas e sofrimento todos os dias”, lamentou o ministro ucraniano dos Negócios
Estrangeiros, Pavlo Klimkin, durante uma reunião ministerial da OSCE em
Basileia, em que pediu “uma verdadeira implementação” do acordo de cessar-fogo
e “não apenas compromissos e palavras”.
O seu homólogo russo, Sergei Lavrov,
também em Basileia, fez apelos no mesmo sentido, lembrando que “um cessar-fogo
já foi anunciado antes” e que “acabou por diminuir consideravelmente a
violência, mas não totalmente”. Lavrov garantiu ainda que o Governo russo irá
desdobrar-se em contactos para “persuadir todos a respeitar os compromissos,
assim como tudo aquilo que foi acordado em Minsk”. Um fim das hostilidades
poderia levar a uma diminuição da escala das sanções económicas actualmente em
vigor contra a Rússia.
Terá de se esperar até terça-feira
para verificar se não haverá, como até aqui, mais quebras nas palavras dos dois
lados do conflito. Ao que tudo indica, o “dia de silêncio” irá servir como um
indicador acerca das reais possibilidades para que um cessar-fogo definitivo
seja alcançado. Uma fonte próxima da presidência ucraniana, citada pela AFP,
esclareceu que, “caso [o dia de tréguas] seja respeitado, o recuo da artilharia
pesada será iniciado a 10 de Dezembro”.
Fonte: Publico.pt
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