segunda-feira, 21 de agosto de 2017

KREMLIN TENTA SE APOSSAR DA UCRÂNIA

Posted: 30 Jul 2017 01:30 AM PDT
O anunciado país de Malorossía incluiria por completo as regiões de Lugansk e Donetsk. Mas, isso seria só como início de conversa.
O anunciado país de Malorossía incluiria as regiões de Lugansk e Donetsk por completo.
Mas, isso seria só um início de conversa...
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Separatistas pró-russos no leste da Ucrânia proclamaram um novo Estado denominado Malorossía, que significa “Rússia Menor”, mas que de fato é o primeiro passo de um processo que visa engolir quase todo o território da Ucrânia e até parte da Moldávia!

O líder pró-russo Alexander Zajarchenko explicou que o novo Estado se aglutinará em volta das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk. Sua Constituição será votada em referendo e a capital será a cidade de Donetsk, informou “El Mundo” de Madri. 


Esses dois territórios sublevados pelo influxo de Moscou já tinham aprovado a secessão num referendo em que os eleitores votavam mirados por fuzis e cujos resultados foram contestados. No dia seguinte os “vencedores” pediram a integração na Federação Russa. 



Mas Vladimir Putin não ousou sequer reconhecer a independência desses secessionistas. Seu plano era mais sibilino. 



Ele pretendia usar os revoltosos que já estavam sob seu controle para exigir imediatas concessões do governo ucraniano legítimo de Kiev. 

Mais na frente, ele esperava usá-los como alavanca para engolir a Ucrânia inteira. Mas a intriga não conseguiu quebrar o patriotismo ucraniano e ficou paralisada.


Agora renova a tentativa com a proposta desta atreira Malorossía. “Será um Estado sucessor da Ucrânia”, confessou Alexander Timofeev, membro do governo da autoproclamada República Popular de Donetsk.


A ocupação efetiva do leste da Ucrânia pelos secessionistas pró-russos
é de só uma fração de Lugansk e Donetsk. Além da península da Crimeia
e das regiões de Ossétia e Abécassia que pertencem à Geórgia.

Os separatistas controlam só uma parte das regiões de Lugansk e Donetsk, mas pretendem ser os donos absolutos desses Oblasts (Estados).



Alegam que “o governo da Ucrânia demonstrou ser um Estado falido”, sem se preocupar que nas regiões usurpadas os separatistas nem fornecem os serviços básicos à população. 

O mapa da Malorossía vem mudando, mas inclui territórios nunca alcançados pelos separatistas. Chegam até a Moldávia, engolindo a grande cidade ucraniana de Odessa e todo a costa do mar Negro. 

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, relembrou que os separatistas são meras “marionetes da Rússia”. 


Balazs Jarabik, investigador do Centro Carnegie, afirma ser evidente que “os separatistas não poderiam sobreviver sem ajuda russa”. Durante o conflito, os separatistas apelaram à Rússia para que essa os salvasse anexando seus territórios.



É bem o que Putin gostaria como início de conversa. Mas a astúcia lhe sugeriu cuidar-se. Inventou a “Novorrosía” e tentou forjar uma guerra civil que não foi acompanhada pela população. 



Foi então obrigado a engajar pesadamente tropas russas e invadir os territórios “separatistas”, sofrendo graves perdas e desprestigiando a causa da guerra aos olhos da opinião pública russa.



A conhecida escritora Anne Applebaum, que está publicando o livro A fome vermelha, sobre a história da Ucrânia, acredita que a “Rússia está por trás”



Ela mostra que desde os tempos da URSS, Moscou costuma “criar estados 'fake' (falsos) baseados em territórios ocupados pela própria Rússia para desestabilizar outros países” que ela quer engolir. 

Mapa revelador do plano russo circula em sites ocidentais 'companheiros de estrada' de Moscou.
E prevê a ocupação pela Malorrosía e/ou Novorossía até de partes da Moldávia (com cores russas).
Depois, seria anexado o centro da Ucrânia incluída Kiev (com cores ucranianas).
Só sobraria a Ucrânia ocidental empurrada para a Polônia (listada no mapa).

O Kremlin tomou distâncias, mas “para inglês ver”. Pois Leonid Kalashnikov, criatura do regime e presidente do Comitê da Duma para a Comunidade de Estados Independentes, defende que a criação da Malorossía é “inevitável”.

Simultaneamente, o Kremlin intensificou as violações das linhas de fogo acertadas nos acordos de Minsk, estimulando ataques militares dos separatistas armados por ele.


Kurt Volker, ex-embaixador dos EUA perante a OTAN e encarregado das negociações de paz na Ucrânia, responsabilizou a Rússia pela retomada das violências no leste ucraniano. 



Segundo ele, atualmente as partes estão se matando numa “verdadeira guerra” que nada tem de um “conflito congelado”, como a Rússia e seus companheiros de viagem fazem crer, noticiou a agência Reuters

Na cidade de Kramatorsk, 700 km ao sudeste de Kiev, Kurt Volker anunciou que recomendará a Washington um maior engajamento no processo de paz.

Os recentes combates na região do Donbass deixaram 12 mortos numa semana. Berlim e Paris exigiram respeito dos acordos de cessar-fogo de Minsk de 2015.

Esses estão sendo regularmente violados e é patente que a Rússia e seus acólitos não pretendem cumpri-los. No máximo, explorá-los para tirar vantagens.

A tensão se estendeu até a Geórgia, no Cáucaso, onde o presidente Giorgi Margvelashvili e seu homólogo da Ucrânia, Petro Poroshenko, criaram um Alto Conselho Bilateral.


Esse visa “a liberdade dos territórios ocupados” pela Rússia em ambos os países e promover “a integração total na OTAN e na União Europeia”, noticiou a UOL



Poroshenko qualificou os povos ucraniano e georgiano de “vítimas da agressão da Rússia”. E agradeceu aos voluntários georgianos que combatem contra os separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia “pelo convencimento que dessa forma também lutam pela Geórgia”.



“Apesar de termos duas regiões ocupadas (pela Rússia), estamos orientados para a cooperação e a amizade”, acrescentou o presidente georgiano Margvelashvili. 

Soldado ucraniano católico morto em recente ataque dos separatistas pró-russos violando os acordos de Minsk. Combates retomaram com intensidade.
Soldado ucraniano católico morto em recente ataque dos separatistas pró-russos
violando os acordos de Minsk. Combates retomaram com intensidade.

Ele se referia às autoproclamadas repúblicas de Abecásia e Ossétia do Sul, que o Kremlin considera Estados independentes após engoli-los pela força das armas na guerra russo-georgiana de 2008.

UCRÂNIA COLOCA LÊNIN NO LIXO

Estátuas de Lênin vão parar em lixões e depósitos
Por Luis Dufaur

O fotógrafo suíço Niels Ackermann palmeou a Ucrânia durante três anos juntamente com o jornalista francês Sébastien Gobert de “Libération”.
Eles foram registrar que fim tiveram as inumeráveis estátuas de Lenine hoje desaparecidas dos locais públicos.

A cabeça do monumento Dinipropetrovsk foi doada ao Museu Histórico Nacional, mas acabou posta de lado.

Sabia-se que elas haviam sido derrubadas durante o reerguimento do povo ucraniano contra o domínio russo representado pelo regime de Yanukovych (2010-2014).
Mas essa atitude em face das estátuas do tirano acentuou-se ainda mais após aplicação da lei de “desovietização”, de maio de 2015.
Pareceu uma viagem aos porões artísticos do inferno. Os resultados ficaram compilados no álbum “Procurando Lenine” (Looking for Lenin, ed. Noir sur Blanc, Montricher, Suíça, 2017, 176 p.).
Mas o álbum acabou mexendo em algo que ia além do registro fotográfico.
Ele permitiu narrar de modo diferente a história recente da Ucrânia, as relações de força ditatorial contra o povo, as decepções dos iludidos com o comunismo e as nostalgias da era soviética que ainda subsistem como fantasmas de uma casa assombrada.
O fotógrafo ficou pasmo ao constatar que cada ucraniano tem alguma coisa a contar sobre Lenine e a ação comunista com que ele tentou esmagar o país, massacrando milhões, expropriando as propriedades particulares, fechando a Igreja Católica e tentando fazer desaparecer por completo a alma, a cultura e a identidade nacional ucraniana.
Mães de família, professores, policiais, políticos, operários, camponeses, todos têm uma história de dor para contar, até o momento em que não mais havia na sua aldeia uma estátua do assassino de massa russo.

Os ucranianos deixaram bem claro o que pensavam da emblemática estátua do ditador em Kiev
Niels conta que as derrubadas de imagens de Lenine começaram antes mesmo da queda de Yanukovich. Uma delas chegou a ser jogada por terra na Ucrânia ocidental antes da extinção da URSS.
A primeira onda de desmantelamentos do odiado líder comunista se deu na década de 1990.
Após a Declaração de Independência da Ucrânia – em 24 de agosto de 1991, a qual foi ratificada em plebiscito por 90% da população –, em quatro ou cinco anos foi suprimida a metade das 5.500 estátuas que a URSS havia espalhado por tudo quanto é canto.
Em 8 de dezembro de 2013 começou em Kiev a leninopad [“queda dos Lenines”], quando uma estátua principal do tirano comunista, no centro da capital, foi desatarraxada e estraçalhada, caracterizando o início da revolução libertadora.
O povo se jogou encima dela e a estilhaçou com golpes de marreta, picas e paus, com uma ferocidade que fez lembrar os alemães derrubando o Muro de Berlim.
Não era uma revanche contra o homem Lenine, mas contra o regime que ele fundou e a estátua encarnou, contra o passado soviético e a política atual de Putin, explicou o fotógrafo.
Um site anunciava uma a uma as localidades em que “os Lenines” iam sendo arrancados, e a onda crescia em velocidade.
Das aldeias e regiões rurais até as grandes cidades, todos corriam para se livrarem daqueles demônios de pedra ou aço, enquanto as forças policiais mudavam de posição e acompanhavam o movimento patriótico.
A terceira fase foi a da descomunistização oficial, iniciada em maio de 2015. Além dos “Lenines”, todos os símbolos comunistasnomes de cidades e de ruas, estátuas de outros líderes comunistas – foram sendo suprimidos e, sempre que possível, recuperados os antigos nomes.


Pichada e abandonada em Slovyansk
O mapa dos “Lenines” execrados recobre todo o território ucraniano.
Um jovem de Kharkiv, segunda maior cidade do país, descreve o que sentiam inúmeros corações: “Eu me tornei homem naquela tarde, fazendo cair a Lenine”.
Nas cidades do Leste, os separatistas pagos por Moscou ainda se reúnem ao pé de sua estátua.
Para os habitantes de Kharkiv, derrubar o símbolo do mal foi uma questão de guerra ou de paz. Para os jovens, foi como arrancar as próprias raízes do mal, destruindo seu insolente monumento como condição para uma ordem pacífica.
Os restos das estátuas – recobertos de grafites, com as cores ucranianas e increpações a Putin, com quem eles são identificados – acabaram em barracões, lixões públicos, galpões abandonados, ou com algum nostálgico marxista.
No momento da revolução libertadora, os ucranianos se regozijaram liquidando o símbolo de todos os horrores, a encarnação da política estrangeira putinista.
Hoje é lixo, e o álbum retrata isso.