Pressão sobre Moscou para alterar a sua política sobre a Ucrânia
deve passar por sanções de grande alcance econômico. Russos dizem que
cooperação na luta contra o terrorismo e o crime organizado fica
comprometida.
A União Europeia (UE) acrescentou este sábado 15 pessoas e 18
entidades à sua lista de visados por sanções à Rússia, por causa da
Ucrânia. O número pode aumentar nos próximos dias. Mas pior é o que está
na forja: sanções de uma envergadura sem precedentes contra os setores
financeiro, energético e das indústrias de defesa.
Tudo somado, as medidas que estão a ser preparadas
mergulhariam a Rússia numa profunda recessão, segundo um estudo da
Comissão Européia a que o diário espanhol El País teve acesso.
Até
aqui, a UE não chegou a acordo sobre a adoção de sanções mais graves
do que as até agora aprovadas – congelamento de bens e proibição de
viajar no espaço da UE. Mas o queda, há dez dias, de um Boeing 777 no
Leste da Ucrânia, com 298 pessoas a bordo, presumivelmente abatido por
separatistas pró-russos – e o entendimento de que a resposta de Moscou é
insuficiente – estão a contribuir para uma aproximação de posições
sobre a necessidade de medidas mais duras.
Os embaixadores dos 28
países da união reúnem-se na terça-feira em Bruxelas para se
pronunciarem sobre um pacote de sanções que, segundo a AFP, limitaria o
acesso russo a mercados financeiros, armamento, tecnologias no domínio
energético e bens susceptíveis de "dupla utilização" – militar como
civil.
O jornal britânico Financial Times noticiou que o
pacote de sanções adicionais que está a ser preparado segue de perto um
documento anteriormente distribuído aos diplomatas europeus, o qual
previa, por exemplo, a proibição de compra de acções ou obrigações de
bancos russos e restrições à venda de equipamento e tecnologia
mencionadas pela agência noticiosa.
Os passos no sentido de um
endurecimento das sanções europeias estão já a ser dados. A Comissão
preparou um documento com propostas, cuja decisão final cabe aos estados
membros. O seu presidente, Durão Barroso, referiu-se às medidas
previstas como “eficazes, bem orientadas e equilibradas”.
O
presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, escreveu na
sexta-feira aos líderes dos governos da UE uma carta, citada pela AFP,
na qual defende uma decisão que, afirma, “terá consequências importantes
na economia russa e afectará moderadamente as economias europeias”. A
esperança de muitos governos da UE é que as sanções obriguem Moscou a
alterar a sua política para a Ucrânia, diminuindo a tensão na Europa.
As
sanções em preparação procuram compatibilizar a pressão sobre a Rússia
com a salvaguarda da coesão da UE e a preservação possível dos seus
interesses. É esse o entendimento a retirar da provável adoção do
princípio de não-retroatividade, que dará à França margem de manobra
para manter a venda à Rússia das fragatas Mistral que está a construir.
No campo energético, a restrição de venda de “tecnologias sensíveis” ao
setor petrolífero, e não ao do gás, destina-se a “garantir a segurança
energética da UE” – assume Van Rompuy.
No estudo citado pelo El País
calcula-se que a “nova geração” de sanções provocaria uma queda de 1,5
pontos percentuais do Produto Interno Bruto russo em 2014 e de 4,8 em
2015. O resultado, acrescenta o jornal, seria uma profunda recessão
porque o efeito das novas medidas somar-se-ia à fuga de capitais – a que
na sexta-feira o banco central russo voltou a tentar pôr termo, com uma
subida das taxas de juro para 8% – ou às fortes quebras da bolsa, que
desde o início do ano caiu 7%.
“Entusiasmo” terrorista
Com os nomes divulgados este sábado, a lista de visados pelo congelamento de bens e proibição de viajar no espaço europeu – sanções que a UE tem vindo a adoptar contra quem apoiou “ativamente a anexação da Criméia” ou a “desestabilização do Leste da Ucrânia” – tem agora 87 pessoas e 20 entidades, russas e ucranianas.
Com os nomes divulgados este sábado, a lista de visados pelo congelamento de bens e proibição de viajar no espaço europeu – sanções que a UE tem vindo a adoptar contra quem apoiou “ativamente a anexação da Criméia” ou a “desestabilização do Leste da Ucrânia” – tem agora 87 pessoas e 20 entidades, russas e ucranianas.
A lista passou a incluir os chefes
dos serviços de segurança, FSB, Nikolai Bortnikov; o chefe dos serviços
de informações externas, Mikhail Fradkov; o secretário do Conselho de
Segurança, Nikolai Patrouchev, antigo chefe do FSB; ou o presidente
tchecheno, Ramzan Kadirov. Dela fazem também parte líderes e grupos
separatistas pró-russos e empresas com sede na Crimeia.
A reacção
russa foi imediata e dura. O Ministério dos Negócios Estrangeiros acusou
a UE de pôr em perigo a cooperação no domínio da segurança e minar
desse modo a luta contra o terrorismo e o crime organizado. Um
comunicado citado pela Reuters menciona elementos dessa cooperação que
poderão ser postos em causa: “o combate à proliferação de armas de
destruição maciça, terrorismo, crime organizado e outros desafios e
perigos”. “Estamos certos de que essas decisões serão aceites com
entusiasmo pelo terrorismo global”, acrescenta.
Fonte: publico.pt
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