sábado, 26 de julho de 2014

UE prepara sanções sem precedentes que podem mergulhar a Rússia na recessão


Pressão sobre Moscou para alterar a sua política sobre a Ucrânia deve passar por sanções de grande alcance econômico. Russos dizem que cooperação na luta contra o terrorismo e o crime organizado fica comprometida.
 
A União Europeia (UE) acrescentou este sábado 15 pessoas e 18 entidades à sua lista de visados por sanções à Rússia, por causa da Ucrânia. O número pode aumentar nos próximos dias. Mas pior é o que está na forja: sanções de uma envergadura sem precedentes contra os setores financeiro, energético e das indústrias de defesa.
Tudo somado, as medidas que estão a ser preparadas mergulhariam a Rússia numa profunda recessão, segundo um estudo da Comissão Européia a que o diário espanhol El País teve acesso.
Até aqui, a UE não chegou a acordo sobre a adoção de sanções mais graves do que as até agora aprovadas – congelamento de bens e proibição de viajar no espaço da UE. Mas o queda, há dez dias, de um Boeing 777 no Leste da Ucrânia, com 298 pessoas a bordo, presumivelmente abatido por separatistas pró-russos – e o entendimento de que a resposta de Moscou é insuficiente – estão a contribuir para uma aproximação de posições sobre a necessidade de medidas mais duras.
Os embaixadores dos 28 países da união reúnem-se na terça-feira em Bruxelas para se pronunciarem sobre um pacote de sanções que, segundo a AFP, limitaria o acesso russo a mercados financeiros, armamento, tecnologias no domínio energético e bens susceptíveis de "dupla utilização" – militar como civil.
O jornal britânico Financial Times noticiou que o pacote de sanções adicionais que está a ser preparado segue de perto um documento anteriormente distribuído aos diplomatas europeus, o qual previa, por exemplo, a proibição de compra de acções ou obrigações de bancos russos e restrições à venda de equipamento e tecnologia mencionadas pela agência noticiosa.
Os passos no sentido de um endurecimento das sanções europeias estão já a ser dados. A Comissão preparou um documento com propostas, cuja decisão final cabe aos estados membros. O seu presidente, Durão Barroso, referiu-se às medidas previstas como “eficazes, bem orientadas e equilibradas”.   
O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, escreveu na sexta-feira aos líderes dos governos da UE uma carta, citada pela AFP, na qual defende uma decisão que, afirma, “terá consequências importantes na economia russa e afectará moderadamente as economias europeias”. A esperança de muitos governos da UE é que as sanções obriguem Moscou a alterar a sua política para a Ucrânia, diminuindo a tensão na Europa.
As sanções em preparação procuram compatibilizar a pressão sobre a Rússia com a salvaguarda da coesão da UE e a preservação possível dos seus interesses. É esse o entendimento a retirar da provável adoção do princípio de não-retroatividade, que dará à França margem de manobra para manter a venda à Rússia das fragatas Mistral que está a construir. No campo energético, a restrição de venda de “tecnologias sensíveis” ao setor petrolífero, e não ao do gás, destina-se a “garantir a segurança energética da UE” – assume Van Rompuy.
No estudo citado pelo El País calcula-se que a “nova geração” de sanções provocaria uma queda de 1,5 pontos percentuais do Produto Interno Bruto russo em 2014 e de 4,8 em 2015. O resultado, acrescenta o jornal, seria uma profunda recessão porque o efeito das novas medidas somar-se-ia à fuga de capitais – a que na sexta-feira o banco central russo voltou a tentar pôr termo, com uma subida das taxas de juro para 8% – ou às fortes quebras da bolsa, que desde o início do ano caiu 7%.
 
“Entusiasmo” terrorista
Com os nomes divulgados este sábado, a lista de visados pelo congelamento de bens e proibição de viajar no espaço europeu – sanções que a UE tem vindo a adoptar contra quem apoiou “ativamente a anexação da Criméia” ou a “desestabilização do Leste da Ucrânia” – tem agora 87 pessoas e 20 entidades, russas e ucranianas.
A lista passou a incluir os chefes dos serviços de segurança, FSB, Nikolai Bortnikov; o chefe dos serviços de informações externas, Mikhail Fradkov; o secretário do Conselho de Segurança, Nikolai Patrouchev, antigo chefe do FSB; ou o presidente tchecheno, Ramzan Kadirov. Dela fazem também parte líderes e grupos separatistas pró-russos e empresas com sede na Crimeia.
A reacção russa foi imediata e dura. O Ministério dos Negócios Estrangeiros acusou a UE de pôr em perigo a cooperação no domínio da segurança e minar desse modo a luta contra o terrorismo e o crime organizado. Um comunicado citado pela Reuters menciona elementos dessa cooperação que poderão ser postos em causa: “o combate à proliferação de armas de destruição maciça, terrorismo, crime organizado e outros desafios e perigos”. “Estamos certos de que essas decisões serão aceites com entusiasmo pelo terrorismo global”, acrescenta.
 
Fonte: publico.pt

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