quinta-feira, 18 de setembro de 2014

UCRÂNIA SELA ACORDO COM A UNIÃO EUROPÉIA

Ucrânia e UE selam acordo de associação, Kiev dá mais autonomia ao Leste


Apesar da ratificação do acordo com Bruxelas, a entrada em vigor de uma das suas cláusulas mais importantes – a do comércio livre – foi adiada de Novembro deste ano para Janeiro de 2016.
 
Petro Poroshenko - Presidente da Ucrânia mostra o acordo com a UE
 
O Parlamento ucraniano ratificou nesta terça-feira o Acordo de Associação com a União Européia, numa cerimônia "histórica e sem precedentes" realizada em simultâneo com a votação no Parlamento Europeu (PE).
O momento era histórico e o Presidente da Ucrânia não poupou nas palavras. "Quem está disposto a morrer pela Europa?", perguntou Petro Poroshenko no seu discurso perante os deputados do Parlamento ucraniano, transmitido em direto e acompanhado pelos eurodeputados em Estrasburgo.
A cerimônia estava marcada para as 10h GMT (11h em Portugal continental) e o presidente do PE, Martin Schulz, não se atrasou um minuto.
"Dois parlamentos a votar em simultâneo é um procedimento histórico e sem precedentes, algo que nos deve deixar orgulhosos", disse Schulz, recebendo os aplausos de muitos dos 697 eurodeputados presentes no momento da votação.
As palavras de Martin Schulz em Estrasburgo e de Petro Poroshenko em Kiev não ocuparam mais de 20 minutos, e a votação final nos dois parlamentos acabou por falar mais alto do que qualquer discurso. Na Ucrânia, os 355 deputados presentes votaram a favor da ratificação do acordo; em França, 535 disseram "sim", 127 disseram "não" e 35 disseram que não queriam dizer nem uma coisa nem outra.
O ambiente em ambos os parlamentos foi de festa, com Martin Schulz a ser várias vezes interrompido com aplausos, tanto em Estrasburgo como em Kiev. "O Parlamento Europeu sempre defendeu a integridade e a soberania da Ucrânia e continuará a agir da mesma forma", disse.
Do outro lado o Presidente ucraniano dramatizava o discurso e lembrava as dezenas de pessoas que morreram durante os protestos na Praça da Independência, em Kiev, e as várias centenas que foram mortas durante a guerra no Leste do país, enquanto lutavam nas fileiras do Exército ucraniano: "Nenhuma nação pagou um preço tão elevado para se tornar européia." De acordo com os números das Nações Unidas, desde o início da guerra, em Abril, morreram cerca de 2700 pessoas e centenas de milhares procuraram refúgio em outras zonas da Ucrânia e na Rússia.
O grito que serviu de ponto final à intervenção de Petro Poroshenko reforçou a mesma idéia: "Glória à Ucrânia. Glória à União Européia."
O Acordo de Associação assinado nesta terça-feira obriga a Ucrânia a aprovar um conjunto de reformas que ponha o país no caminho certo para a adesão e foi em tom de aviso que o Presidente ucraniano se dirigiu aos deputados. "A União Européia só quer uma coisa: reformas. A situação atual não pode servir de desculpa para não agirmos. Vamos fazer tudo em conjunto – Presidente, Governo, Parlamento", disse Poroshenko, numa referência às divisões em Kiev sobre a melhor forma de pôr fim à guerra no Leste e recuperar o país.
Comércio livre adiado
Apesar da ratificação do acordo, a entrada em vigor de uma das suas cláusulas mais importantes foi adiada de Novembro deste ano para Janeiro de 2016. A decisão de adiar o acordo de comércio livre entre a Ucrânia e os países da União Européia foi tomada em conjunto com a Rússia, no final da semana passada.
Na base deste adiamento está o argumento de Moscou de que o seu mercado seria inundado por produtos baratos provenientes da União Européia e exportados depois pela Ucrânia.
O adiamento desta importante parte do Acordo de Associação foi entendido em Kiev como uma vitória da Rússia e levou à demissão do vice-ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Danilo Lubkivski. Também a oposição ao Presidente Petro Poroshenko fez saber que irá discutir este assunto na campanha para as eleições antecipadas de Outubro.
Em linha com o que tinha prometido quando se candidatou à Presidência, o chefe de Estado ucraniano anunciou a dissolução do Parlamento em finais de Agosto, marcando eleições antecipadas para Outubro – Petro Poroshenko considera que a atual composição do Parlamento, que vem dos tempos do Presidente Viktor Yanukovych, está a bloquear a aprovação de leis que ele considera essenciais para o desenvolvimento do país.
A recusa do antigo Presidente Viktor Yanukovych em assinar o Acordo de Associação com a União Européia, em Novembro do ano passado, esteve na base das primeiras manifestações em Kiev, que levariam à sua deposição, em Fevereiro, e à ocupação de edifícios governamentais por milícias pró-russas nas províncias de Donetsk e Lugansk, em Abril.

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