HOLODOMOR
[MORTE PELA FOME]
Holodomor: genocídio de milhões
de ucranianos, modelo para as esquerdas progressistas inclusive as brasileiras?
Posted: 24 Nov 2019 12:30 AM PST
Escritor, jornalista, conferencista
de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs
Nos milhares de aldeias ucranianas,
desertas e em ruínas, perto de grandes cidades como Kharkiv, Kiev e Odessa,
ainda parece se ouvir os uivos da fome, escreveu o jornalista Jeffrey D. Stephaniuk, da agência
Euromaidanpress,
de quem extraímos as citações deste post.
Nessas aldeias ecoa, no silêncio, o
brado lancinante do Holodomor, o genocídio pela fome ordenado por Stalin
para extinguir os proprietários rurais e
todo um povo que não se vergava à utopia socialista.
Os camponeses e suas famílias não estão
mais ali para contar: morreram aos milhões ou fugiram até caírem exaustos numa
estação ferroviária onde ninguém os auxiliava.
Aqueles, como foi o caso de alguns
mestres de escola, que tentavam atender famílias e crianças que agonizavam
extenuadas foram presos pelos agentes comunistas e exilados na Sibéria – de
onde poucos voltaram – pelo crime de espalhar rumores a respeito de uma fome
que oficialmente não existia.
Não existia por decreto de Stalin, que
a tinha ordenado.
Comício da Frente Popular
francesa Léon Blum (Partido Socialista),
Maurice Thorez (Partido
Comunista), Roger Salengro (Partido Socialista).
Esquerdas ocidentais democráticas
e iluminadas foram cúmplices.
O
inexplicável silêncio no Ocidente cooperou para o genocídio
Mas, esta é a curiosidade macabra, o
decreto de silenciamento vigorou também no Ocidente, onde admiradores
declarados ou velados de Stalin manifestavam ceticismo diante dos relatos,
fotos e filmes que evidenciavam essas mortes atrozes de milhões.
Esse viés pró-Stalin se manifestava até
nos púlpitos religiosos, inclusive católicos.
Como pode ter isso acontecido? Como foi
possível que democratas, liberais, humanitários, líderes políticos cristãos e
até eclesiásticos insuspeitos de comunismo cooperassem tão eficazmente no
abafamento desse genocídio?
Aliás, em certo sentido, eles continuam
cooperando, silenciando ainda hoje os efeitos assassinos do flagelo comunista
contra os quais Nossa Senhora em Fátima quis advertir os homens.
Sobre essa espantosa cumplicidade ocidental e seus
efeitos no III milênio, veja o clarividente manifesto do Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira: Comunismo e anticomunismo na orla do
III milênio: uma análise da situação no mundo e no Brasil
O biógrafo Ian Hunter citou um alto
eclesiástico anglicano da Inglaterra que elogiava Stalin pela sua “determinação
e gentil generosidade”.
Malcolm Muggeridge, que passou oito
meses na URSS entre 1932-33, não encontrava palavras para descrever a fome na
Ucrânia resultante da coletivização das terras e a luta de classe contra os
proprietários, “por causa do indescritível horror e a magnitude” do fato.
À
Ucrânia poderiam se aplicar as Lamentações de Jeremias quando falam da fome em
Jerusalém no ano 586 a.C.
O
mais doloroso subproduto dessa desgraça foi o canibalismo que chorou o profeta:
“8.
Het. Agora, seus rostos ficaram mais sombrios do que a fuligem; pelas
ruas, são irreconhecíveis. A pele se lhes colou aos ossos, e qual madeira
ressecou-se.
9. Tet. As vítimas do gladio são
mais felizes do que as da fome, que lentamente se esgotam pela falta dos
produtos da terra.
10. Iod. Mãos de mulheres, cheias
de ternura, cozinharam os filhos, a fim de servirem de alimento” (Lamentações,
4, 8-10)
Geografia da grande fome
comunista de 1932-1933
Muggeridge estava convencido de que
“foi um dos mais monstruosos crimes da História, de tal maneira terrível que o
povo no futuro dificilmente poderá acreditar que algo assim aconteceu alguma
vez”.
Para muitos, a fome era um castigo que
mereciam por terem apoiado os comunistas nos anos precedentes. Muitos acharam
que os comunistas agiram como látego de Deus.
Miron Dolot descreve em outro livro o
povo clamando a Deus contra o furor de Satanás que se abatia sobre ele.
Prelúdio
da descristianização do “período pós-conciliar”?
A
transição para o ateísmo nas cidades e no campo tinha se iniciado anos antes. As
cruzes haviam sido derrubadas e em seu lugar ondeavam bandeiras vermelhas. Os
altares foram removidos dos santuários.
Outrora, nas casas, aos pés de um ícone
os camponeses colocavam um pão “como símbolo da generosidade de Deus”, escreve
Miron Dolot em “Execution By Hunger”.
Mas, sob o socialismo, instalou-se o
desespero nas casas, onde se morria silenciosamente de fome. Foi uma brutal
transformação dos meios de produção, que passaram das mãos de particulares para
as do Estado por ordem de Stalin.
Antes da fome, as aldeias começaram
a se proclamar ateias e banir os clérigos. Pilhas de Bíblias e de ícones foram
queimadas em público. O Natal passou a ser um dia de trabalho e os sinos
foram fundidos para favorecer a industrialização.
Até que chegou a fome.
As cerimônias religiosas cessaram. O
Natal de 1933 foi o primeiro a não ser mais celebrado. Depois não houve festa
de Páscoa na primavera. Não havia mais locais de culto e nem mesmo clero.
Por volta de 1933, o sistema de
espionagem da polícia secreta e das ligas da juventude comunista havia
desintegrado o senso da comunidade. O povo se trancava nas casas para aguardar
a morte.
Os recintos sagrados vinham sendo
transformados em teatros ou museus do ateísmo. Nas aldeias, as igrejas viraram
locais de reunião do Partido Comunista. Os ícones e as pinturas mais veneradas
foram substituídos por imagens do Partido Comunista e de seus líderes.
As orações foram substituídas por
cânticos de ódio,
e nos estandartes expostos nas igrejas lia-se: “a religião é o ópio do povo”.
E, ainda, “é impossível construir um assentamento coletivo onde há uma igreja”,
ou “em vez dos sinos, gozemos o ruído dos tratores”.
As igrejas convertidas em depósitos ficavam, durante os tempos da fome,
cheias de grãos protegidos por guardas armados, numa blasfema paródia do
morticínio de massa: outrora elas eram a casa do Santíssimo Sacramento,
visível na Santa Eucaristia, que alimentava espiritualmente os fiéis que
comungavam.
Ironicamente, o trigo, produzido com as
próprias mãos e com o qual se confeccionava a hóstia que seria oferecida a Deus
no sacrifício incruento da Missa, havia sido confiscado e guardado nos templos
por agentes marxistas, para que os camponeses morressem sem alimento.
Ateização
por meio da reforma agrária
Enterro dos restos das vítimas
pela fome e repressão de 1946-47
achados na estação 'Pidzamche' em
Lviv
O
trigo seguia depois para as cidades, e também para o exterior, onde líderes
marxistas e não-marxistas comemoravam o sucesso produtivo da reforma agrária
socialista.
Até o Holodomor, a família
camponesa ucraniana típica concebia grande número de filhos. Ela passou a ser
acusada de “inimigo de classe” por gerar tantos súditos.
As crianças que sobreviveram ficaram
órfãs, pois os pais haviam se sacrificado por elas. Mas acabaram se alistando
em gangues que pilhavam as cidades. Como o comunismo desejava formar um tipo
humano novo, quis transformá-las no homem soviético.
Myroslav Shkandrij, em Fiction by
formula: the worker in early Soviet Ukrainian prose, descreve o novo tipo
humano como “um ser reduzido pelo Partido a um estado de desorganização e desmoralização”,
que poderia ser modelado como massa para gerar um homem conforme aos ideais
socialistas.
O Cristianismo ensina que o homem foi
feito à imagem e semelhança de Deus e foi redimido por Cristo. A coletivização
socialista da agricultura visou destruir essa ideia, corporificada no
proprietário.
Por isso, os antigos proprietários –
inclusive os menores – foram violentamente excomungados do mundo novo do
socialismo, sem ter um lugar na Terra aonde ir.
O dono da terra passou a ser
apresentado como um opressor do proletariado pobre e marginalizado.
O fazendeiro estava do lado errado da
equação marxista por se encontrar espiritual e juridicamente relacionado com a
terra através da propriedade privada.
Todos os crimes da reforma agrária
faziam sentido porque impulsionavam a transição do capitalismo para o socialismo e
o comunismo.
Aldeias inteiras foram condenadas à
morte pela fome por se negarem a entrar nessa evolução progressista.
Deve-se sublinhar que nas regiões –
maioritárias, aliás – atingidas pelo flagelo russo-marxista do Holodomor,
predominava a religião dita “ortodoxa”, um cisma do catolicismo.
O clero “ortodoxo”, em vez de pregar
contra o monstro marxista, “virou a casaca” e se tornou um vil colaborador do
carrasco socialista.
O grande clamor aos Céus pedindo a vingança divina
O heroico metropolita
greco-católico de Lviv, Andrei Sheptytsky,
impulsionou o vibrante apelo.
O
único grande clamor pela nação chacinada proveio da parte ocidental da Ucrânia,
onde predominavam os católicos, cujos bispos lançaram um lancinante apelo ao
mundo.
Em
julho de 1933, a hierarquia católica ucraniana de Halychyna [Galícia, ocidente
da Ucrânia] fez esse apelo.
Ele
foi publicado primeiro no jornal “Pravda” (“A Verdade”) XII nº
30, do dia 30 de julho de 1933. Ele foi reproduzido posteriormente no livro do
bispo Ivan Buchko First Victims of Communism: White Book on the Religious
Persecution in Ukraine, publicado em Roma, em 1953.
O
apelo dos bispos católicos ucranianos descreve as atrocidades que aconteciam no
leste de seu país sob a bota bolchevista.
“Agora
vemos as consequências do regime comunista: a cada dia elas se tornam mais
aterradoras. A visão desses crimes horroriza a natureza humana e gela o
sangue. (...)
“Protestamos
diante do mundo inteiro contra a perseguição de crianças, pobres, doentes e
inocentes. Por outro lado, citamos os perseguidores diante do Tribunal de
Deus Todo-poderoso.
“O
sangue dos trabalhadores famintos e escravizados tinge a terra da Ucrânia e
clama aos Céus pedindo vingança, e o pranto das vítimas consumidas pela forme
chega até Deus no Céu.
“Imploramos
aos cristãos de todo o mundo, a todos aqueles que acreditam em Deus, e
especialmente aos nossos compatriotas, a se unirem ao nosso protesto para
tornar nossa grave denúncia conhecida até nos cantos mais remotos da terra.
“Pedimos
às emissoras de rádio retransmitir nossa voz pelo mundo todo; talvez ela chegue
até os empobrecidos e desolados lares que gemem na fome sob a perseguição.
“Então,
pelo menos tendo conhecimento de que estão sendo lembrados, de que há pessoas
que têm piedade de seus irmãos em terras remotas, eles se sintam confortados
pelas suas orações e encontrem uma consolação em meio a indizíveis sofrimentos
e à morte iminente.
“Para
todos vós, sofredores, famintos, moribundos, nós imploramos a Nosso Senhor
Misericordioso e Nosso Salvador Jesus Cristo:
“Aceitai
esses sofrimentos em reparação por vossos pecados e pelos pecados do mundo,
repetindo com Nosso Senhor: ‘Pai nosso que estas no Céu. Que vossa vontade seja
feita’.
“Aceitar
voluntariamente a morte pelas mãos de Deus é um oferecimento que, unido ao
sacrifício de Cristo, vos conduzirá ao Paraíso e atrairá a salvação para todo o
povo. Depositemos nossas esperanças no Senhor.
“Dado
em Lviv, na festa de Santa Olga, julho de 1933.”
Assinam:
o metropolita Andrés Sheptytskyi; Dom Gregório Khomyshyn, bispo de Stanyslaviv;
Dom Josafá Kotsylovskyi, bispo de Peremyshy; Dom Gregório Lakota, bispo
auxiliar de Peremyshyl; Dom Niceta Budka, bispo titular de Patara; Dom João
Buchko, bispo auxiliar de Lviv, e Dom João Latyshevskyi, bispo auxiliar de
Stanyslaviv.
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