Grigory Yavlinskyi
Den (Dia), 12.04.2011
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Grigory Yavlinskyi |
"Este ano é o vigésimo aniversário da Rússia que surgiu após o colapso da União Soviética. A recusa pacífica do sistema totalitário foi uma conquista histórica de escala global. Então havia uma aparente vontade da sociedade para construir uma nova vida, a qual deveria basear-se no respeito à pessoa, princípios democráticos e livre concorrência econômica. Hoje nós compreendemos que esse potencial nunca foi concretizado. As esperanças não se justificaram" - escreveu em um seu artigo em svobodonews.ru Grigory Yavlinskyi. Propomos este artigo à sua atenção, com pequenas reduções.
O atual regime político russo, que surgiu depois de 1991 e formou-se durante última década, não construiu um Estado moderno. Como resultado - continua forte cisão entre o governo e a nação, entre Estado e população, que continuamente se aprofunda e se torna insuperável.
Isto não é falta temporária de confiança, é um problema sistêmico. A alta popularidade das primeiras pessoas - não é indicador de apoio popular. A colossal diferença de confiança a eles e ao restante das instituições do Estado demonstra a extrema inconstância, a fraqueza de toda estrutura estatal russa.
Duas vezes ao longo dos últimos 100 anos ocorria, inesperada e completamente, o colapso do Estado através do esquema - "Havia, havia e de repente não há". Motivo - nem fome, nem guerra ou repressões, mas profunda e no momento da derrocada inseparável cisão entre governo e povo.
O crescimento desta cisão é evidente hoje. Os sociólogos procuram indícios na oposição, o problema - é outro.
A nação russa não causa oposição ao Estado. Tudo é muito pior - se afasta dele. A nação não acredita no Estado. Não se interessa pelo Estado, teme-o, não espera nada de bom dele, considera-o um obstáculo e ameaça. A nação não quer aperfeiçoá-lo, ela foi convencida que em nada influi, e em geral no senso do governo ela não tem nenhum significado.
As pessoas regulam suas vidas fora do Estado. Nação, "que continua" considerando o Estado um estranho, é claro, não lhe é oposição. Em situações críticas para o Estado, como em 1917 e 1991, isto conduz ao seu desaparecimento.
O crescimento, em larga escala, do alcoolismo e toxicomania, o isolamento em um mundo virtual, o crime - tudo são formas de fuga da realidade sem perspectivas. Uma das conseqüências da cisão entre a nação e o governo é a criminalização rápida e profunda do Estado. Segundo o Presidente da Corte Constitucional, Valey Zorkin, a escalada do problema de hoje é tal, que "a questão é saber se a Rússia se preservará nos próximos dez anos".
O belicoso amoralismo e mentira abrangente que planta-se na comunidade, o retorno da propaganda oficial bruta conduziram ao cansaço espiritual da nação, para apatia política e social, "giro de cérebros", e disposição para emigração.
Os levantamentos junto à juventude russa mostram que 45% dos concluintes dos cursos superiores não excluem a possibilidade de sair do país, e de 18% a 24% - tem posições bem determinadas para sair do país. Estão decididos para sair 30% dos empresários. A saída em massa de cientistas talentosos, especialmente os jovens, para trabalhar no estrangeiro, compromete o potencial da ciência russa. O principal motivo para emigração - não são os baixos salários, mas a incapacidade de viver com dignidade. Para 79% dos potenciais emigrantes o motivo é o desejo de viver sob as regras da lei e direitos humanos. E para 69% - possibilidade de evitar as arbitrariedades do governo.
Tais sentimentos das pessoas tornaram-se novamente parte importante da consciência de massa e são manifestações vivas de uma ruptura final. São prenúncios de reação para reformas de choque injustas, desconhecimento completo dos interesses e perspectivas das pessoas, de seus direitos, dos roubos dos governantes transformados em política oficial, cruel "protecionismo da lei" e arbitrariedade.
Essa ruptura não pode ser eliminada de uma só vez, mesmo com uma eleição relativamente honesta, ou supressão súbita de censura. Tempo perdido.
Com o auxílio das eleições, os problemas somente podem ser resolvidos quando os princípios básicos e objetivos da vida da nação e do país são consensuais e é necessário escolher, como essas obrigações comuns de toda nação é melhor realizar e por quem.
Se a sociedade está fraturada, desmoralizada e humilhada, a eleição, mesmo relativamente honesta, não dá nada de bom. Os exemplos são muitos. Na Rússia o debate político, deliberadamente, foi colocado em nível baixíssimo. Os falsos apresentadores de programas político-sociais, que hoje estão presentes nos canais federais comportam-se no estilo de briga numa cozinha comunal, cada um gritando mais que o outro. ["O tipo mais comum de espaço para morar nas cidades soviéticas eram os apartamentos comunais (komunalkas). Um único apartamento era ocupado por várias famílias, que dividiam a cozinha, um lavabo e um banheiro, se tivessem sorte" (Orlando Figes em "Sussurros" - A Vida Privada na Rússia de Stalin, Rio de Janeiro, ano 2000, pág. 220 - O.K.]. A essência dos problemas é a castração, redução da oposição a um simples ponto de vista polarizado. A internet é uma alternativa em alguns assuntos, mas não em profundidade e estilo de "discussão". Eleições sob tais condições convertem-se em corridas de populistas e garganteadores.
Na Rússia de hoje não há condições para um debate genuíno com base nos programas partidários. Atualmente, apenas são possíveis discussões de pessoas isoladas, representantes de concepções de diversas tendências, profundidade e qualidade, entre as quais - nacionalismo, "conservadorismo esclarecido", ideologia nacional-bolchevique, stalinismo que abertamente segue a liderança do PCRF (Partido Comunista da Federação Russa), pseudoliberalismo radical do tipo bolchevique.
Reflexões e ulteriores estímulos desse caos na consciência da população tornaram aceita pela suprema autoridade a decisão sobre o simbólico estatal - a absoluta águia com duas cabeças coroadas, o hino de Stalin com velhas - novas palavras e "supostamente democrática", mercantil bandeira tricolor.
Aqueles que aprovavam estas decisões, provavelmente pensam que este conjunto de símbolos é um chamariz para união de todos ou, pelo menos, satisfação: uma vez que tanto o imperialista estatal, quanto o comunista e o democrata encontrarão aí algo do seu gosto. No entanto, a identidade nacional do Estado e a consciência nacional - não é como um quebra-cabeça para coletá-lo mecanicamente. Em um país com ausência da sensação de identidade, dilacerada e dividida consciência não se pode fazer nada - nem modernização, nem inovações, nem nada útil.
Com o povo traído e corrompida sua elite, somente podemos esperar pelo colapso final.
MENTIRA - FUNDAMENTO DO PAÍS
O principal problema político do nosso país não é o nível e a qualidade da democracia ou a proteção dos direitos e liberdades dos cidadãos, como geralmente se acredita, mas a ilimitada e total mentira como fundamento do Estado e política estatal.
E o motivo aqui não é simplesmente em qualidades pessoais das primeiras pessoas - Yeltsin, Putin ou Medvedev: já desde a Revolução Bolchevique de outubro de 1917 o Estado russo é construído na mentira. A mentira tornou-se um elemento indispensável do sistema estatal que tem mais de 93 anos, que é ilegítima e é obrigado a escondê-la em todos os sentidos.
Mentira - elemento orgânico do atual sistema estatal eclético, que deseja preservar sua relação histórica com o regime soviético e o falecido absolutismo com o mundo atual. Isto somente pode ser tentado executar através do caminho da contínua e abrangente mentira.
A raiz desse problema - na catástrofe, mas não geopolítica, e sim nacional. Quase 100 anos - período de vida de várias gerações - nós atravessamos baseados em total rompimento entre direitos e leis, desaparecimento da identidade nacional.
A raiz situa-se no fato de que o sistema público atual russo conduz no plano histórico seu início nos trágicos acontecimentos de 1917- 1920 - reviravolta estatal, tomada do poder por um grupo de elementos criminosos e sangrenta guerra civil. A própria negação do reconhecimento deste fato e a tentativa da construção da pretensa Rússia pós-soviética na sensação da continuidade e assimilação da mentira dos anteriores 75 anos, torna impossível, em princípio, o movimento para frente e conduz à degradação da consciência social. É o impasse. Para sair dele somente assegurando absoluta e minimalmente indispensável legitimidade da autoridade estatal, interrompida a quase um século, e sobre esta base restabelecer a lógica do desenvolvimento histórico do país.
Nem o leninismo, nem o nacional bolchevismo de Stalin, nem a democracia formal, não se tornaram suficientemente sérios "esteios" para que o pseudopaís pudesse abandonar seus princípios fundamentais - mentiras e terror, para, pelo menos experimentasse não temer os cidadãos, mas obter seu apoio sem coersão.
O país entrou em um círculo vicioso: não desistindo das mentiras, é impossível implementar ao menos algumas reformas efetivas e a recusa da mentira ameaça o sistema como um todo.
Não resolvendo este problema, permanecendo no terreno da total mentira histórica, Rússia jamais poderá criar um estado funcional moderno, ou uma economia efetivamente concorrente. Tarefa que é preciso resolver - restabelecimento da legitimidade do governo, interrompida há quase um século, e a lógica do desenvolvimento histórico do país.
SISTEMA QUE NÃO SE REFORMA
Nos anos 90 o problema positivo do governo de legitimidade democrática não foi resolvido. A tentativa de reformar o sistema soviético através de alterações, tornar nominal (que nunca funcionou) a Constituição da RSSFR (República Socialista Soviética da Federação Russa) e atuante. E o sistema dos Conselhos combinar com o princípio da separação de poderes terminou com os acontecimentos de setembro-outubro de 1933. (Oposição entre duas forças políticas: Presidente da Rússia, Yeltsin, Conselho de Ministros, Prefeito de Moscou, lideres regionais e parte de deputados do Parlamento contra uma grande quantidade de deputados do Parlamento e deputados locais, Vice-Presidente da Rússia e alguns representantes do legislativo. A crise constitucional terminou com derramamento de sangue, inclusive de alguns civis, no centro de Moscou, em 3-4 de outubro de 1943 - O.K.).
A Constituição de 1993 foi elaborada pela necessidade urgente, não houve discussão pública, e as circunstâncias de um referendo sobre a sua aprovação e contagem de votos obtidos até agora levantam sérias dúvidas sobre a sua aprovação.
A legitimidade do sistema político dos anos 90 estava deteriorada por estas circunstâncias, e também porque a democracia permaneceu como imitação, a qual não coincide com antidemocracia oligarca "recheio" governamental. Para a velha mentira anexou-se nova - mito da inevitabilidade desse caráter de reformas, como que Yeltsin e Haidar, em 1992 salvaram o país da fome.
Nos anos da "maior liberalidade" os membros da família czarista obstinadamente não são reconhecidos como vítimas de repressões políticas, e a estação de metrô "Voykovska" assim chamada em homenagem ao homem que participou do assassinato a sangue frio da família real, que incluía um menino de doze anos e quatro meninas, não mudou seu nome, e muitos materiais de arquivo continuam fechados, comemora-se o "Dia do chequista" e assim por diante. Tudo isso - não são apenas palavras e páginas do calendário, mas uma cadeia de associações, relações lógicas, normas de pensamento que une o sistema atual com seu antecessor soviético. Como resultado conservou-se e até reforçou-se o estilo de vida, no qual a mentira e insinceridade permanecem entre os elementos que formam o sistema. Em política ocorreu e fortaleceu-se a supremacia cínica de "conveniência política", corrupção, eleições guiadas e guerras da mídia.
Quanto mais o tempo passa, o problema mais ponderável que se apresenta é a absoluta contradição e imaginação eclética dos novos governantes russos sobre o legado histórico que reside em sua base. O Estado que arruinou sua reforma econômica, que é responsável pela queda acentuada nos padrões de vida da grande maioria da população, começa flertar com componentes de consciência nacionalista de "Estado" no qual os elementos de czares - imperialistas quimericamente reconciliam-se com soviet - imperialismos.
Não é casualmente que o emblema da nova República Russa compõe-se de águia imperial com duas cabeças coroadas. De acordo com o significado Rússia, no final do século XX - início de XXI é herdeira mítico-idealista da "Rússia, que nós perdemos", Rússia, monarquia absoluta, que naturalmente saiu da cena política, "doce-rosquinha" imagem barata do passado.
Este ideal não se fixou, mas preparou o caminho para outro ideal utópico soviético. A águia imperial "arrastou" para si o canhestro hino soviético, o qual muito combina com esta águia. Aproximadamente, do mesmo modo que os sistemas oligarcas de Putin e Yeltsin.
Além disso, durante os anos noventa o problema não superado da legitimidade da ruptura foi agravado com total reforma de confisco, em larga escala de títulos na privatização especulativa governamental, que envolveu toda população do país, e ilegitimidade de grandes propriedades privadas, distribuídas através de esquemas corruptos por meio dos assim chamados leilões de títulos.
Assim a liberdade de imprensa não chegou, porque sem a mentira como sistema de governo que emergiu após o colapso da União Soviética, ela não pode viver.
Agora, é claro, a nova ordem política, constituída de acordo com a Constituição de 1993 e com base nas reformas dos anos noventa, nos últimos dez anos consolidou-se como governo de nomenclatura do tipo soviético em novos acordos econômicos, algo provincial e caseiro, algo como "capitalismo ou democracia com disciplina florescendo".
Este sistema como é constituído na mentira, medo, corrupção, que com o tempo somente crescem visto que não foi realizada nenhuma das condições de construção do Estado atual.
- A instituição legítima da propriedade privada, que se destina para massas , não foi criada;
- A igualdade dos cidadãos perante a lei é ausente;
- Em vez da justiça e arbitragem - imitação que encobre o domínio do "direitos do forte";
- O poder não é função social, mas sim um instrumento de enriquecimento pessoal e grupal.
Na verdade, ao invés do governo o que temos hoje é um invólucro do sistema com capacidade apenas para imitar as atividades do Estado. A tarefa de assegurar a defesa dos cidadãos, a capacidade defensiva do país, a união do multi-étnico país com vastíssimo território, o desenvolvimento econômico e social em tais circunstâncias não pode ser resolvido em princípio. O principal problema consiste no fato que nestas condições não pode compor-se, funcionar e desenvolver-se por inteiro, viável sociedade russa.
Penso que a situação, que se formou até o ano de 2011, está ameaçando a própria existência da Rússia.
O governo perde até mesmo os restos de legitimidade democrática formal, sistematicamente falsificando as eleições. Pelo maior partido político do governo "Rússia Unida", as pessoas votam não porque apóiam. Mesmo decepcionadas acham que é preciso, querem aproveitar a chance de escolher. No entanto, o comparecimento diminui.
O papel da Constituição reduz-se sistematicamente com grosseiras interferências em seu texto, tais como a abolição das eleições diretas para governadores ou a prorrogação dos prazos dos plenos poderes do presidente e parlamento.
As novas tentativas de substituir o vácuo com messiânicas Estado-imperialistas idéias, ainda que de forma modernizada (Moscou reivindica o papel de centro financeiro mundial) revelam-se sem esperança, e isso é óbvio. Mentira e propaganda permanecem como fator fundamental. O pensamento político congelou no nível do início do século passado. Não há nenhuma condenação do terrorismo estatal, seguidamente fazem-se tentativas para lhe encontrar alguma justificativa. A estrutura de pensamento da política externa dificulta o desenvolvimento de projetos inovadores, como a defesa russo-européia PRO (sistema antimísseis). A maioria da "elite" discutindo este tema, não pensa no futuro, pensa no passado.
A principal causa da situação que ameaça com catástrofe nacional - caráter e particularidade do sistema político - a nomenclatura burocrática que substituiu a elite política e empresarial, que concentrou em únicas mãos o poder e os bens, tende a realizar apenas uma função do governo - a segurança.
Caminho para segurança - não é caminho para estabilidade, é caminho para deterioração ou desestabilização.
Sua fraqueza - ausência de um conceito claro do Estado, compreensão das perspectivas de desenvolvimento do país, e portanto - a capacidade de propor um plano de modernização à sociedade, que mereça sua confiança e interesse.
Politicamente é indiferente, quem será indicado e formalizado presidente: Putin, Medvedev ou um terceiro. O principal, é que o sistema permanecerá inalterado - ilegítimo, política e economicamente ineficaz, vexatório e arbitrário para seus cidadãos. Sistema político russo - uma imitação de um Estado atual, "aldeia de Potemkin" (Mito histórico. Havia assentamentos nas margens do rio Dnieper. Potemkin teria maquiado as casas para que a miséria do povo local não ferisse os olhos da imperatriz em sua viagem para Criméia -O.K.) que compõe-se de pseudo-institutos, procedimentos que constantemente e grosseiramente são falsificados. Na vida da comunidade a credibilidade está ausente, foi substituída com intermináveis "simulacros". Ao invés de diversidade de pensamentos e estilos - tandem; ao invés da modernização - Skolkovo (escola de negócios da Rússia - O.K.), jogos e campeonatos; ao invés do multipartidarismo - projetos tediosos do Kremlin e "rua" aos protestos o que propositalmente priva de novas idéias e substitui o diálogo entre o governo e os cidadãos sobre as questões atuais como liberdades civis, corrupção, arbitrariedade judicial para assuntos menores como administração da guerra das milícias com os protestos de "heróis" profissionais. Como resultado verdadeiro, real é apenas o roubo e ruptura entre o glamour da rica elite da nomenclatura governamental e os privados de direito simples mortais. Então a quem vai agradar?
O triunfo dos simulacros faz a pergunta sobre o futuro do país maximamente fundamentada. O desequilíbrio na política, nas leis, na condição social dos cidadãos, na indústria e infra-estrutura, ao longo do tempo podem levar a conseqüências tais que superem significativamente o abalo de 1991. É absolutamente indispensável uma mudança qualitativa, de princípios, desse sistema.
Historicamente são infrutíferas as tentativas realizadas nas concepções "país de matérias-primas", "democracia soberana" que se fundamentam nas riquezas de seu subsolo e na procura global por recursos. O preponderante e unilateral desenvolvimento econômico das matérias primas, conhecida a partir da recusa em reconhecer a inviolabilidade da propriedade privada, imposto federal com chantagem, ameaça e violência, a incapacidade de resolver problemas de produções atuais modernas, não só dificulta o progresso econômico na Rússia, mas também prejudica o seu futuro. Conservando essas falhas antigas e novas, adquiridas ao longo dos últimos 20 anos, Rússia torna-se economicamente vulnerável, e em termos de capacidade e eficiência do governo - país fraco.
É inteiramente possível a proposição de um programa profissional de reformas econômicas direcionadas para criar uma economia de mercado moderna, diversificada, inovadora e de alta concorrência, que permita, em um período de tempo limitado, fazer da Rússia um dos países economicamente desenvolvidos, decididamente aumentar o nível e qualidade de vida no país, reverter as negativas tendências demográficas.
No entanto, os acontecimentos dos últimos 15 anos tem demonstrado, de forma convincente que, no atual regime político russo, tendo por base sua injusta natureza e falta de controle, a modernização, em princípio é impossível, como também é impossível a criação de verdadeiramente competitiva economia de mercado.
O sistema atual é impossível reformar. Inúmeros programas para sua melhoria, em especial a Estratégia "Rússia 2020" elaborada pelo Instituto de desenvolvimento atual "Estratégia 2012" e alguns outros contêm substanciais considerações táticas, mas estrategicamente nesse sentido somente lembram os esforços para melhorar o mecanismo das unidades de produção agrícola na União Soviética em 1960-1980. É importante compreender que, em primeiro lugar, as decisões pela metade desempenharão mal ou nem trabalharão, somente criarão comprometimentos contra si próprias, e em segundo, é impossível, chegando à segunda década do século XXI, voltar para o início de 1990 para fazer "segunda tentativa" do desenvolvimento que não ocorreu.
LEGITIMIDADE
Neste tipo de sistema de governo seus líderes não são na verdade legítimos. A legitimidade no governo assegura-se com procedimentos, reconhecimento histórico nacional e reais aquisições. A legitimidade da monarquia russa estava associada com a crença no procedimento da unção do rei. A autoridade soviética, desde o início é completamente ilegítima. Em seguida, parcialmente aceita pela nação, enquanto associava-se com numerosos feitos e alcances de construtivismo pelos cidadãos soviéticos, executados principalmente não graças, mas contrariamente ao sistema, o que impediu o colapso do sistema antecipar-se no tempo.
No sistema atual, na realidade não existem procedimentos legais e pouca construção em seu próprio ativo histórico, que poderia assegurar-lhe o esperado reconhecimento nacional. Como mérito pode-se colocar, talvez que, tendo possibilidade de maior poder destrutivo e repressivo, seus líderes não o usarem. Mas não é o suficiente para, historicamente, justificar o sistema. Este sistema que já por muitos anos não encontrou a plenitude de sua legitimação histórica, novamente agora exige mudanças fundamentais.
A ilegitimidade do atual governo russo e do seu sistema político autoritário, que imita democracia, realmente significa que ele pode ser examinado não como um significativo interesse do povo e seus representantes, mas como um sistema que protege os interesses políticos e materiais das pessoas dos círculos próximos ao governo.
Entretanto, fundamentalmente falando contra todas as formas de violência, é necessário dialogar com este governo, por exemplo, na forma de mesa redonda, isto é, buscar compromissos e decisões intermediárias.
Mas, a par de tudo isto a meta principal deve ser uma mudança radical do sistema político - criação na Rússia de um Estado de direito, com base em padrões internacionais de direitos humanos, liberdades e justas eleições, independência da justiça e rigorosa observação de direitos de propriedade privada.
O desafio consiste em conseguir tudo isso através de um caminho pacífico e construtivo não humilhando a dignidade de nenhuma pessoa. É necessário fazer todo o possível para resolver a situação, não ultrapassando o limiar da paz civil e realizando um caminho evolutivo. Estratégias e táticas da mesa redonda, composição de seus participantes, e tudo mais relacionado a isso, é assunto para outra conversa.
Mas um dos principais objetivos de tal diálogo - a aprovação, a nível de lei maior, da reconstituição do Estado russo, destruído com a reviravolta de 1917 e da aceleração da Assembléia Constituinte em 6 de janeiro de 1918, como ponto de referência legal. É indispensável continuar e completar a transformação política, iniciada na primavera de 1917 e interrompida com a reviravolta antiestado.
A Assembléia Constituinte pode ser um evento fundamental na construção do Estado moderno.
Precisamente uma Assembléia Constituinte é capaz de restaurar o verdadeiro Estado russo. O desafio consiste em que, cada cidadão (com exceção dos irrecuperáveis marginas) se sintam envolvidos neste trabalho, quer diretamente quer através de seus representantes - não fictícios, como aqueles que agora se sentam na DUMA (Assembléia Nacional da Rússia) e na Câmara Pública, mas reais e legítimos.
Não há a menor dúvida de que a Assembléia Constituinte de 1917 decidiria exatamente esta tarefa. Reflexões sobre Assembléia Constituinte não é a primeira declaração pública sobre este tema. Mas, exatamente agora é necessário o passo direcionado na proposição para uma discussão ampla e aberta da população sobre estas questões. É importante compreender que: banalização da idéia russa da Assembléia Constituinte do século XXI - é a perda definitiva de chance de desenvolvimento, caminho direto para a estagnação continuada, decadência e finalmente, de uma forma ou outra, desagregação.
Entende-se que a preparação da Assembléia Constituinte será muito complexa e demorada. É indispensável grande compreensão da situação russa, que formou-se neste momento, seu lugar geopolítico no mundo, então a ampla discussão dos problemas do Estado e peculiaridades do sistema econômico russo. Repetir, mecanicamente, a experiência de 1917-1918 é impossível, e tentativas de práticas analógicas, são descabidas. Mas, passar sem um sério e institucional retorno, será possível?
O avanço pacífico para Assembléia Constituinte deve ser um tal processo político que por si mesmo possa legitimar de fato, em parte o governo russo, mesmo permanecendo nos limites da Constituição atual.
Teoricamente isto é possível, mas para isso, na base da atual Constituição devem ser aprovadas normas democráticas radicais orientadas, assegurando igualdade para todos perante a lei, independência da justiça, limites de poder executivo, separação decisiva dos negócios e governo, liquidação dos irresponsáveis sistemas burocráticos aparentemente estáveis, corrupção e inatividade, estabilidade de aparência, superestruturas da nomenclatura política, desenvolvimento do controle parlamentar e cidadão, suspensão da formação política do "sistema governamental segundo entendimento", formação de curso geopolítico claro, negação completa da política, autoisolamento e sobrevivência do Estado por conta da união do atraso com recursos militares. Em outras palavras, o governo russo deve obter uma reputação de qualidade diferente e criar condições para sua legitimidade no nível de reputação.
Na verdade para isso acontecer no curto prazo, poucos acreditam. No entanto, a rejeição de tal processo aproximará no futuro de modificações radicais e, antes de tudo, destruídoras. Exatamente por isso, e apesar de tudo, devemos trabalhar ativamente na realização de opções não violentas e construtivas.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Fotoformatação: A. Oliynik