segunda-feira, 9 de maio de 2011

ESTADO RICO, COMUNIDADE POBRE

Tyzhdyn (Semana) - Edição de 20.04.2011

Por Oleksandr Kramar


Exatamente assim pode-se caracterizar o modelo que hoje reina na Rússia o qual, infelizmente, nos últimos tempos é introduzido pelo governo atual também na Ukraina.

Desempregado dormindo ao relento
  Segundo os dados do anuário Quality of Life Index, publicados pelo jornal irlandês International Living, a posição quanto a qualidade de vida, no âmbito mundial, Ukraina, no transcorrer do ano, de 68° lugar passou para o 73°, colocando-se ao lado de Namíbia (72°, Botswana (74°) e Trinidad Tobago (75°). O curioso é que a Rússia, tendo um potencial muito maior, não ocupa lugar de destaque.

Oligarquia x militarização

Bilhões, auferidos pelos cidadãos russos, não podem ser usufruídos por eles porquanto estão concentrados nas mãos de um segmento restrito da oligarquia e do Estado, que tem seus próprios planos para sua aplicação. Eles se acumulam em contas no exterior, investem-se em economia além-fronteira, compram imóveis em lugares da elite no mundo, e mesmo na Rússia. Tudo isso, ao invés de aplicar capitais no desenvolvimento da produção de bens e serviços, tão necessários a grande coletividade russa.

De acordo com as condições na Federação Russa e seu paradigma sócio-econômico de desenvolvimento, investir no setor produtivo não é prático.

O fato que acima de 100 bilhões de superávit Rússia obtém no seu comércio exterior parece se destacar positivamente em relação a Ukraina, mas não evidencia o sucesso do país e sim a sua estagnação de consumo. Esta, por sua vez, é um resultado direto da distribuição desigual da renda nacional recebida: grandes camadas da população simplesmente não têm poder aquisitivo suficiente para adquirir bens potencialmente produzidos para o mercado interno.

Os oligarcas comparticipam apenas com o Estado. No entanto, em circunstâncias autoritárias mesmo aqueles recursos financeiros que ingressam no orçamento, não são gastos no interesse da maioria da sociedade, mas no acúmulo de armamento e no envolvimento do país na seguinte oposição militar com a OTAN. Este é o pagamento do povo russo pelo apoio passivo a ideologia revanchista e ilusória dos dirigentes da grande Rússia.

A estabilidade autoritária da Rússia de Putin estimulou a expansão negativa de emoções de seus cidadãos aquecendo seu ego de pertencer a um grande Estado e à construção da imagem do inimigo. É um caminho conveniente para desviar a atenção dos russos comuns de que eles, realmente não participam da distribuição da riqueza nacional. A ilusão de um rico, forte e estável Estado, serve para distraí-los de sua própria pobreza real.

Medvedev(E) x Putin(D)
São motivos provenientes de política interna que em todos os anos do regime Putin - Medvedev estiveram preponderantes no desenrolar da paródia de uma segunda guerra fria. Participar de um confronto militar e político com a OTAN é completamente contra as perspectivas do ponto de vista do futuro Estado russo e, principalmente da sociedade. Porém, pode além de garantir apoio ao governo e assegurar a imagem do inimigo externo tradicional, em determinado momento enfraquecer as conseqüências negativas do esgotamento progressivo dos recursos petrolíferos.

Digna substituição para eles, na Rússia já procuram em outro ramo, cujo potencial ainda está longe de uso totalmente aproveitado - no complexo militar - industrial. Sim, exatamente a militarização, que está sendo associada com a necessidade de proteção do ambiente da "hostilidade", pode fornecer, em determinado tempo, um segundo fôlego à economia russa e européia. Tanto o regime stalinista, quanto hitlerista, com o auxílio da militarização alcançada nos anos trinta do século passado precederam, comparativamente com os países democráticos, tempos de crescimento econômico.

Não importa que esse crescimento possa ser de curta duração, como foi visto depois que ir para o trabalho em tanques ou alimentar-se com cartuchos não pode ser. Apesar de, a experiência ser muito mais forte Na União Soviética que na Rússia atual, foi demonstrada sua incapacidade econômica para resistir a oponente mais fraco que a atual OTAN. Sobre este assunto falaremos depois.

Instabilidade político-social na Ukraina

Situação diametralmente oposta formava-se na Ukraina até pouco tempo. Mesmo sendo baixo o nível de rendimentos de cidadãos comuns na Ukraina, o tempo de seu crescimento durante os anos 2000-2008 ultrapassava os indicadores correspondentes da Federação Russa, embora a taxa de crescimento do PIB se mostrasse analóga ao país vizinho. As indústrias orientadas para satisfação da procura interna (alimentícia, madeireira, construção de máquinas), desenvolviam-se com maior avanço na Ukraina em relação ao ritmo da Rússia.

Assim, a renda nacional em nosso país "pobre" distribuía-se mais equitativamente que na "rica" Rússia. O motivo consistia no fato que a "instabilidade política" na Ukraina democrática forçava a elite política expandir a orientação social de políticas públicas, para continuar sua vida política. Compromissos que a elite política assumia perante as eleições anteriores, embora não completamente, mas precisava executar. Isto é especialmente visível agora, em vista do baixo coeficiente do desempenho atual "estável" do governo atual ucrainiano.

Em resumo, apesar de a "média" dos indicadores de renda na Rússia, na véspera da crise econômica mundial foi superior a média dos ucrainianos, e nossos trabalhadores dominavam todos os tradicionais lucros para empregados não qualificados em postos de trabalho no país vizinho, o nível de proteção social dos grupos mais vulneráveis da população na "pobre" Ukraina foi maior. Por exemplo, o salário mínimo de 2008 na Rússia foi de apenas 2.300 rublos (460 Hryvniakh - equivalente em moeda ukrainiana), quando na Ukraina era 515 hrn. A pensão mínima na Rússia - 1260 rublos (equivalente a 252 hrn), enquanto na Ukraina - 470 hrn. Para compreender o real valor destes indicadores, precisa lembrar que o custo de vida oficial na Rússia, naquele tempo, para os capacitados ao trabalho era de 4.330 rublos (868 hrn), e para os aposentados - 3.190 rublos (638 hrn).

Revela-se que, "constante instabilidade política" na Ukraina tinha incontestáveis vantagens sociais sobre a pressão autoritária estabelecida pela  "estabilidade russa". Contudo na Ukraina não havia possibilidade de manter o padrão social, como na Rússia, mas havia incentivos para fazê-lo, o qual não há na Rússia, e o mesmo hoje é destruído pelo regime do Yanukovych também na Ukraina - o princípio democrático pelo poder das forças políticas.

Yanukovych, em "mesinha" de quem procura dinheiro?

Victor Yanukovitch - Presidente da Ucrânia
Alguns dias antes das eleições presidenciais, Yanujovych, com originalidade respondeu a pergunta dos "enfadonhos" jornalistas sobre onde ele planeja conseguir dinheiro para realização de todas as suas promessas: "Na mesinha de cabeceira!" Desde então um ano se passou e todo o país pôde observar claramente, em cuja mesinha o presidente procura o dinheiro necessário às pessoas, e também que significância tem o termo "pessoas" para ele.

O fato é que a equipe atual do governo nunca escondeu sua admiração pelo modelo sócio-político e sócio-econômico que emergiu na Rússia nos últimos anos. Ao atual chefe de Estado sempre impressionou a pompa das instituições governamentais e o estilo de vida da elite de Kremlin, as marcas externas do "florescente", "forte" e "estável" país. Impressionavam todos esses  atributos também a uma boa parte da sociedade ukrainiana, que apoiou o atual presidente nas  últimas eleições.

A única diferença, é que ao contrário de Yanukovych e seu círculo íntimo, milhões de adeptos não percebiam, ou não queriam perceber o que se esconde por trás dos bastidores da prosperidade do país vizinho. Eles não entenderam que serão implementados os princípios da divisão da renda nacional, e o seu tamanho, orientado ao extensivo consumo nos recursos do regime, continuará o mesmo.

Como resultado, o dinheiro já está sendo procurado nas "gavetas das mesinhas" pela maioria absoluta do povo ukrainiano. Até o momento, com a utilização de métodos mais ou menos civilizados, como: aumento nos preços com simultâneo congelamento de salários, aumento da idade de aposentadoria, limitação das leis trabalhistas, aumento da carga tributária sobre os cidadãos independentes. No entanto as condições para condução de grandes negócios, especialmente de oligarcas próximos ao governo e também para uma vida elegante aos próximos do poder, já foram criadas. Aqui não há nenhuma surpresa, porque esta é uma seqüência lógica da introdução na Ukraina do modelo sócio-econômico da Rússia "país rico - cidadãos pobres".


Tradução: Oksana Kowaltschuk
Fotoformatação: A.Oliynik

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