02 de maio de 2014 • 08h20
• atualizado às 08h21
Apoiando-se em sua bengala, Nikolai parou perto do prédio
da administração municipal em Konstantinovka, balançando a cabeça em
desaprovação.
Munidos de modernos rifles russos, eles dizem ser ucranianos, mas cantam canções soviéticas enquanto vigiam prédios ocupados
Homens mascarados vestindo uniformes de camuflagem
haviam ocupado o prédio e estavam vigiando a entrada. Enquanto isso,
cantarolando uma canção pop cuja letra fala sobre a antiga União
Soviética, militantes pró-Rússia construíam barreiras com blocos de
concreto e sacos de areia.
Na antiga URSS, Nikolai havia trabalhado para a
inteligência militar soviética. Ele está convencido de que os homens
armados que ele observa agora são russos.
"Fui falar com eles", contou. Tinham rifles automáticos
russos de última linha. "Não acredito que vocês sejam ucranianos. Vocês
são da Rússia, da Inteligência Militar. Não vão me enganar, também sou
desse sistema".
"'Ah, ninguém engana um lobo velho, não é?" - respondeu um deles.
Nikolai disse não ter dúvidas. "Tenho certeza de que
foram mandados para cá e estão sendo pagos para semear revoltas e
calamidades".
'Invenção' Ucrânia
Perguntei a um dos "homens de verde" armados de onde ele vinha.
"Ucrânia",
ele respondeu. Depois, sorriu. "Na verdade, não existe uma
nacionalidade ucraniana. Isso é uma invenção do Império Austro-Húngaro.
Somos russos e essa terra não é Ucrânia, é Nova Rússia. E vamos
defendê-la".
A 30 km dali, em Kramatorsk, militantes pró-Rússia
também ocuparam o prédio da administração local. Dentro, encontrei Vadim
Ilovaisky.
Ele se apresentou como o novo "comandante militar" da cidade.
Estava sentado, vestindo uniforme, no escritório do
vice-prefeito, estudando mapas da região (o vice-prefeito, ele informou,
estava adoentado). O comandante militar apontou para um aquário no
canto da sala e me garantiu que estava cuidando bem dos peixes do
vice-prefeito.
Perguntei a Vadim de onde ele vinha. "Sou cossaco" (povo
nativo das estepes das regiões do sudeste da Europa, principalmente da
Ucrânia e do sul da Rússia), respondeu. "Meu avô e meu bisavô eram de
Stavropol" (sul da Rússia).
"Na minha vida civil, sou um consultor de relações
públicas. Mas como comandante cossaco, participei da campanha na
Crimeia. Sou um cidadão da Ucrânia".
Quando perguntei onde ele mora agora, foi evasivo. "Minha casa é o prédio onde estou sentado agora".
'Conversas gravadas'
Assim como
Nikolai, o veterano da inteligência militar russa que encontrei em
Konstantinovka, o Ocidente também está convencido de que existe um
vínculo direto entre Moscou e a milícia pró-Rússia que vem ocupando
prédios governamentais e delegacias de polícia, com impunidade, no leste
da Ucrânia.
Segundo o site americano de notícias Daily Beast, em uma
reunião recente, a portas fechadas, nos Estados Unidos, o secretário de
Estado John Kerry revelou que os Estados Unidos haviam obtido
"conversas gravadas de agentes da inteligência (na Ucrânia) recebendo
ordens de Moscou"
Washington já tinha acusado a Rússia de continuar "a
financiar, coordenar e alimentar um forte movimento separatista" na
Ucrânia.
O governo ucraniano alega que o líder dos militantes
pró-Rússia no leste da Ucrânia - Igor Strelkov - é um militar russo.
Kiev diz que seu nome verdadeiro é Igor Girkin e que ele é de Moscou.
Ele é um entre 15 indivíduos que estão sendo alvo de
sanções anunciadas nesta semana pela União Europeia. E foi identificado
como "funcionário" do principal órgão de inteligência das Forças Armadas
da Federação Russa (GRU).
Fonte:
http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/quem-sao-os-homens-de-verde-que-assustam-a-ucrania,7e9dc64cd3cb5410VgnCLD200000b0bf46d0RCRD.html