quinta-feira, 15 de março de 2012

PRESOS POLÍTICOS OU CONDENADOS À MORTE?

Últimas notícias da Tymoshenko
Ukrainsla Pravda (Verdade Ukrainiana), 29.02.2012

Oleksandr Turchynov, vice-presidente do partido, foi à Colônia conversar com Tymoshenko, tendo providenciado a permissão para o encontro. Não conseguiu porque a prisão exigia que o encontro acontecesse na sala destinada a este fim, mas Tymoshenko não conseguia locomover-se até esta sala. Não recebeu auxílio e não permitiram que o encontro acontecesse na cela. Turchynov permaneceu na Colônia das 11 às 15 horas. (Isto é de proposital, ordem superior, para evitar que Tymoshenko, como líder do partido e política experiente dê orientações a Turchynov. - OK).

Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 03.03.2012

O serviço prisional do Estado não permitiu a Vice-Presidente do Parlamento da OSCE Valbuzi Habsburk Douglas e outros quatro representantes de várias instituições européias visitar Y. Tymoshenko na Colônia Kachanivka.

Apesar da negativa a visita européia veio a Kachanivka, mas voltou de mãos vazias. Apelaram para liderança do presídio para conversar com Tymoshenko ao menos pelo celular, mas a administração recusou. Também apelaram para remover da cela o sistema de vídeo, mas foi inútil. O administrador da Colônia Ivan Pervushkin disse-lhes que não podia influenciar na situação.

Os europeus queixaram-se que o aviso de que não teriam licença para visitar Tymoshenko,  somente foi recebido às 11 horas, quando já se encontravam na cidade de Kharkiv. Eles pensam que as ações do governo ukrainiano são dirigidas para esconder da comunidade internacional as condições de habitação e de saúde da Tymoshenko.

De acordo com o Código Penal da Ukraina, primeiro parágrafo, artigo 110, o condenado à prisão terá direito a visita de estrangeiros e representantes de delegações não oficiais de até 4 horas.

Filha da Tymoshenko: mamãe já por várias vezes perdeu a consciência.
Isto Evhenia declarou ao jornal alemão Die Welt. "Ela recebe analgésicos muito fortes, frequentemente, e tem pressão muito baixa. As injeções e medicamentos que lhe dão, a família não conhece.

Evhenia teme que sua mãe, na prisão, pode estar sendo, lentamente, envenenada como acontecia no tempo da União Soviética.

Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 08.03.2012

Os amigos do partido trouxeram para Y. Tymoshenko, em comemoração ao Dia da Mulher uma torta e um ramalhete com mais de 100 tulipas mas o dirigente da penitenciária disse que o presente não poderia ser entregue no dia 8 devido a folga de funcionários. Assim Tymoshenko receberá na segunda-feira a torta estragada e flores murchas.

Visitarão e conviverão com Tymoshenko por 3 dias sua mãe e sua filha. De acordo com a lei, cada aprisionado tem direito a conviver 3 dias, exclusivamente com familiares, a cada três meses de aprisionamento.

Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 09.03.2012

Tymoshenko e filha (a mãe não pôde vir porque não está bem) passam os três dias (9-10-11 de março) numa acomodação destinada a este tipo de encontro. Nesta prisão há sete acomodações deste tipo e mais duas melhores. Tymoshenko e filha estão numa das duas. Elas possuem micro-ondas, chaleira elétrica, geladeira e televisão. O preço de cada cama é de 70 UAH, no caso 140 por dia (18 USD). Tymoshenko não conseguiu vir até a acomodação especial sozinha. O pessoal da prisão precisou ajudá-la. Por que não ajudaram quando ela teve encontro autorizado com o vice-presidente de seu partido, pergunta o advogado.

Os médicos alemães e ukrainianos concordaram que Tymoshenko está doente e precisa de tratamento imediato.
A tal conclusão chegaram os médicos alemães e ukrainianos do Ministério da Saúde e do Serviço Penitenciário do Estado. Compareceram também a esta reunião médica o Procurador Geral V. Pshonka, a representantee do Ministério da Proteção da Saúde Raisa Bohatyriovaa e o vice-presidente do Ministério de Assuntos do Exterior Ruslan Demchenko.

O Procurador Geral disse que, se houver necessidade, Tymoshenko receberá tratamento além da Colônia.

Os médicos alemães afirmaram que o tratamento não pode ser realizado na prisão devido a sua complexidade.


X-X-X
Yurii Lutsenko: "Se escolher entre prisão e perda da dignidade, eu escolho prisão".
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 06.03.2012
Serhii Lyshchenko
Hoje, Lutsenko se comunica com o mundo exterior por correspondência.
Suas primeiras mensagens à liberdade avaliou Yurii Andrukhovych. "...Lutsenko revelou-se gigante do jornalismo. A prisão revelou nele o talento literário", - disse o escritor sobre o seu xará. Publicamos excertos da entrevista que Yurii Lutsenko deu por escrito.
"Para mim é claro, que na atual situação política eu não receberei, na Ukraina, um julgamento justo e objetivo. Mas, para provar a minha inocência eu vou lutar também perante o Tribunal de Recurso".
 "A mim já transmitiram que na Colônia em Mensk já me esperam os que foram aprisionados por violar as normas do Ministério de Segurança Interna. Mas as "lamentações" - não estão nas minhas regras". (Lutsenko, quando Ministro dos Assuntos do Interior, procurou acabar com as torturas que havia nas prisões por parte da milícia. Na Colônia de Mensk, para onde o governo cogita mandar Lutsenko, é onde está a maioria desses milicianos presos. Preocupa a possibilidade de vingança. - OK).
 "Nenhum contato com a Procuradoria Geral nem eu nem a minha defesa teve. A declaração falsa do Procurador que eu, parcialmente, admiti minha culpa, foi uma espécie de proposta para me dobrar para período condicional. Tais negócios são inaceitáveis para mim. Se a escolha é entre prisão e perda da dignidade, eu escolho prisão. Em meu último discurso eu me expressei claramente".
 "Quando lhe propõem beijar o governo abaixo das costas pela "decisão humanitária" outra resposta de atrás das grades eu não encontrei. Eu aprendi perdoar os tolos e covardes. Mas perdoar os agressivamente entusiasmados vilões eu ainda não aprendi". (Resposta a por quê ele cuspiu em um dos procuradores - OK).
 "Eu considero, que o veredicto é politicamente motivado e não com base em testemunhos, de peritos e documentos do caso".
 "Durante dois dias procurei ouvir a mim mesmo: que mudanças no status de criminoso com confisco de bens, perda da condição de funcionário público e 4 anos de aprisionamento? Com 99% de inevitabilidade de um tal resultado do "tribunal" eu ouço um agudo senso de injustiça, na verdade - ofensa. Surge um desejo de mandar tudo aos diabos. Ser apenas um ícone de "vítima da repressão política" - não quero, e ser um político pleno, nestas circunstâncias - quase impossível. Como escreve Adam Michnik (polonês, ativista social, dissidente, jornalista - OK), "não há lugar para política normal, onde governa violência anormal". Mas a solidão, afastamento da sociedade - seria o reconhecimento da derrota, até mesmo traição. Então eu tenho que continuar a defender os ideais do Maidan (referência à Revolução Laranja da qual destacou-se como líder - OK). Até mesmo à força. Porque a História repete-se infinitamente, constantemente. Alguém defende Termópilas, alguém vai para fogueira e alguém diz: "E sempre ela gira".
 "Em qualquer caso declaro, que nenhuma declaração sobre pedido de perdão, que tanto excita a máfia do Mezhyhiria (residência do presidente), eu não vou escrever".
 "Para mim conta-se uma pequena contribuição no Banco de Poupança e 1/5 do apartamento paterno de 4 quartos em Rivne. Então, meu irmão Serhii precisa preparar-se para conviver com o promotor na cozinha. (Quando em ukrainiano diz "4 kimnat", segundo dicionário a palavra "kimnata", pode ser: quarto, aposento, peça, sala de visitass, sala de jantar, peça assoalhada. Não disponho de explicação segura, porém é provável que na maioria das vezes trata-se de qualquer aposento porque, mesmo para classe média, a aquisição de moradia própria é muito cara. Apartamento de 4 quartos, como nós conhecemos, seria um grande luxo. - OK). Também o automóvel Toyota em nome da esposa. O que será confiscado - não sei. Veremos".
 "Último livro lido foi "À procura da liberdade" de Adam Michnik. Foi muito útil antes e durante o veredicto. De 144 livros lidos, nos últimos 14 meses, é difícil destacar o melhor. Entre os livros de literatura gostei muito de Ken Kesey (americano) em "Às vezes loucura maior", K.
Ishiguro (britânico) em "Não me deixe ir", Samuel Beckett (irlandês) em "Molloy", de Volodymyr Lys (ukrainiano) em "Century James" ("Stolittia Yakova") e I. Mak'yuenk (britânico) em "Amsterdam".
 "Entre as publicações científicas recebi muito da "História da Filosofia Ocidental" de B Russell (inglês), "As discussões com Masaryk de K. Capek (checo) e "História de Deus" de K. Armstrong (inglês)".
 "Concordo plenamente com Oscar Wilde (também foi preso por 4 anos) que "os maiores eventos do mundo - aqueles que ocorrem nos cérebros do homem". A partir desta perspectiva, o maior impacto sobre mim teve o livro de Z. Bauman, sociólogo inglês de nacionalidade polonesa, "A Sociedade Individualizada". Ler esta obra ficam claros muitos motivos e consequências de revoluções radicais da civilização, que realizam-se diante de nossos olhos. E o mais importante - ali há alimento para reflexão sobre o significado da vida humana e da sociedade".
 "Uma pessoa com 47 anos sempre tem o que lamentar e pedir desculpas. Eu fiz isso várias vezes e publicamente, porque penso que o reconhecimento de próprios erros é atributo de uma pessoa normal. Mas acho que pedir desculpas estando atrás das grades é um pouco forçado, ou pior - despedida. E eu não me apresso para debaixo da lápide, então falaremos sobre isso numa outra ocasião, em liberdade".
"Condições de detenção: câmara de 9 m2 para 3 pessoas, passeio diário. Leio, escrevo, estudo história, filosofia. Também estudo a já um pouco a esquecida física".
"Alguns problemas com a saúde, mas o pior é com as emoções devido ao afastamento da família e quase sinto, fisicamente, como o tempo escoa por entre os dedos, tempo perdido com minha família".
"Na TV assisto apenas as notícias e "Voz do país". Tenho possibilidade de receber livros e jornais".
"A esposa que tem o status de defensora pode vir todos os dias, os filhos uma vez ao mês".
"Os próximos dois anos e nove meses preciso planejar como todos. Vou ler bons livros, escrever cartas honestas e planejar o futuro".
"Vou apoiar a família e os amigos, contar os dias ao encontro. Vou rir com ousadia sobre os inimigos, - porque o riso vence o mal".
"Vou ajudar a oposição com meu ponto de vista, vou tentar influenciar a opinião pública".
"Em suma - eu não vou desistir e vou lutar por mim e pela Ukraina. Prisão - lugar feio, mas tentarei também aqui, não só acreditar no inverossímil, mas fazer o impossível".
Tradução: Oksana Kowaltschuk

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