sábado, 10 de março de 2012

UNIÃO EURASIANA: Ressuscitando a antiga URSS

Caro Leitor:

Comporta uma explicação preliminar sobre o artigo e sobre o entrevistado.

O entrevistado, Alexandre Dugin (lê-se Dúguin), nasceu em 7 de janeiro de 1962 em Moscou em uma família de militares. Seu pai era oficial da KGB e sua mãe médica.

Líder do Movimento Eurasiano Internacional e diretor do Centro de Pesquisas Conservadoras da Faculdade de Sociologia da Universidade Estatal de Moscou. É também o guru intelectual de Vladimir Putin. Sua principal função junto a Putin e ressuscitar o domínio comunista compondo uma nova URSS porém com a alcunha de União Eurasiana. Uma questão semântica. Esclarecendo: Trata-se do "novo" comunismo, agora em escala mundial jamais visto e imaginado na história da humanidade. Um projeto satânico de dominação e totalitarismo mascarado sob o falso argumento de formação de um novo bloco econômico. Na verdade trata-se de um projeto insidioso visando a instituição de um governo mundial único. Leviatã que se levanta, porém, mais forte e poderoso para brigar pelo butim com a ONU que possui projeto semelhante e almeja ser a única a dominar o mundo. Será uma batalha de gigantes. Pobre humanidade!!!
Duguin utiliza-se de uma linguagem hermética, quase que cifrada, que só pode ser plenamente entendida e compreendida por estudiosos do assunto, especialistas e engajados.

O Cossaco

 
Alexander Dugin: União Eurasiana - pólo fundamental em um mundo multipolar
Pesquisa: Internet

Para realizar a idéia da União Eurasiana é indispensável rever todo o sistema internacional existente, porque a União só é possível conforme a Teoria do mundo multipolar.

No dia 4 de outubro, no jornal "Izvestia", foi publicado o artigo programático do primeiro-ministro russo Vladimir Putin sobre a criação da União Eurasiana. Como emana das teses propostas por Putin a União Eurasiana, pela analogia com a União Européia será o único espaço econômico em que as barreiras migratórias e de fronteiras serão removidas e, portanto, qualquer cidadão de um país da União vai sentir os privilégios. O filósofo e ideólogo Eurasiano Alexander Dugin chamou "absolutamente correto" o artigo de Putin "Novo projeto integracional para Eurasia - futuro, que nasce hoje", vendo no programa provavelmente do futuro presidente da Rússia o reflexo de suas idéias, que ele constantemente promovia durante muitos anos.

O Portal "Eurasia" publica a entrevista com Alexander Dugin, na qual o ideólogo mais detalhadamente se fixa em alguns aspectos da futura União Eurasiana.

"Rússia - um continente separado, civilização inteiramente original. Pode-se chamá-la 'outra Europa', mas então esta Europa será preciso ou esquecê-la, ou conquistá-la".


- Até que ponto EurAsEC (Comunidade Econômica Eurasiana) poderia tornar-se o primeiro núcleo de uma nova união política? Que formas poderia ou teria que aceitar se criada esta União?


- EurAsEC e União Aduaneira podem ser consideradas como base econômica da União Eurasiana. A composição de países incluídos nestas estruturas de integração, são o núcleo da União Eurasiana. Mas o projeto da União Eurasiana é um projeto precisamente de integração política. O que ele poderia ser? Esta é uma questão em aberto. Nursultan Nazarbayev (Cazaquistão) propõe repetir o modelo da União Européia, ele até já escreveu a Constituição da União Eurasiana, totalmente copiada da UE. Portanto, sua pergunta coloca outra pergunta: o que é a União Européia, a qual empreende-se pelo princípio - confederação, Estado nacional, ou uma nova forma de organização do espaço político - por exemplo, "Estado pós-moderno", como propôs Robert Cooper.

Eu considero que para União Eurasiana é necessária uma teoria política especial - Teoria de mundo multipolar. Nela os sujeitos, atores devem destacar-se. Não Estados tradicionais modernos (no espírito do sistema de Westfália) mas a civilização. Civilização como união. Para isso é necessário rever todo o sistema internacional existente. Isto é, a União Eurasiana deve tornar-se um novo sistema político, ter determinadas características de estado confederado, com base na subsidiariedade e larga autonomia das regiões, mas, concomitantemente determinadas características de centralismo estratégico inerente aos impérioos de aspiração clássica.

Idéia da União Eurasiana é idéia alternativa pós-moderna, distinta de Estado dominante moderno e de impérios pré-modernos. A principal diferença de impérios pré-modernos consiste que, o princípio de organização política de sistema internacional com atributo civilizacional torna-se contrução racional, reflete-se e descreve-se em termos técnicos. Existe a civilização como inércia, e existe como projeto. A União Eurasiana propões como projeto. Esta é a meta energicamente projetada.

- Muitos no Ocidente temem que a União Eurasiana pode tornar-se novamente uma repetição do velho russo-soviético império. O que, no seu pensamento, haverá nela de novo?
- Esta é uma pergunta correta. Sim. A aliança Eurasiana será o renascimento do russo-soviético império, mas na medida que a UE é renascimento do Império Carolíngio de Carlos Magno. As principais diferenças, no caso da Eurasia, da Rússia czarista e da União Soviética estão no fato, que ela não será um estado monárquico-ortodoxo e também não será um estado marxista. As diferenças ideológicas, políticas e legais, portanto são tão grandes, que os europeus, que tem medo, podem ser considerados impolidos em ciências políticas ou simplesmente atlantistas pró-americanos envolvidos em grosseira propaganda políticaa.

- A experiência da UE, fundada com base no puro monetarismo, revelou-se fracassada. O senhor afirma que a União Eurasiana deve ser construida em outros fundamentos, para se proteger de erros semelhantes? Se assim for, quais são esses princípios?
- Também é uma boa pergunta. No exemplo da crise da União Européia, nós vemos que para haver uma forte integração, a economia não é suficiente. Se não houver um projeto político global, se não tem uma geopolítica expressiva, criar algo promissor é impossível. E, a construção da União Eurasiana não deve ser considerada. Portanto deve-se começar com a construção da Teoria do mundo multipolar, não com etapas técnicas de integração econômica.

O Eurasinismo está na idéia subjacente da União Eurasiana. Esta é uma política filosófica particular - não nacionalista, não comunista, não manárquica, não nostálgica, não revisionista, mas também não liberal. É mais precisamente descrita em termos de Quarta Teoria Política (não é liberalismo, não é comunismo, não é fascismo). A ideologia Eurasiana, Quarta Teoria Política, Teoria do mundo multipolar, e também, concomitantemente a direções geopolíticas, filosóficas, sociológicas, e também teorias da esfera de relações internacionais, antropologia, etnologia, que hoje desenvolvem-se na Rússia, nos melhores institutos acadêmicos - particularmente no MSU (Universidade Estadual de Moscou - Lomonosou).

Tudo isso compõe o novo fundamento para integração, onde as ferramentas clássicas de ciências políticas estão ao lado de ciências inovadoras, em parte, pós-modernas e construtivistas (críticas quanto a democracia liberal, hegemonia americana e globalização individualista), e em parte, vistos sob nova ótica os princípios do tradicionalismo e conservadorismo revolucionário.

A atitude dos Estados Unidos para com União Eurasiana sob qualquer administração será radicalmente e abertamente hostil. A criação da União Eurasiana é diretamente contrária à estratégia de segurança adotada pelos Estados Unidos.

- Como principal representante do eurasionismo, que horizontes o senhor vê nesta União? Quais serão as futuras relações com a Europa Ocidental de um lado e China do outro?
- A União Eurasiana somente é possível em novos acordos radicais do sistema internacional. Nem no mundo global ("sem polaridade" - por Richard Haas), nem na hegemonia unipoloar americana (Robert Dzhilpin) a União Eurasiana pode existir. Se o mundo multipolar for construido, então Europa e China estarão nele como pólos independentes. A tarefa da União Eurasiana como mais um, e também pólo independente - construir com eles relações de parceria comum, e evitar situações em que Europa e China poderiam tornar-se aliados estratégicos dos Estados Unidos. Europa e China - são duas civilizações absolutamente distintas da União Eurasiana. Com elas é possível e necessário ter amizade, mas os sistemas de valores são a tal ponto diferentes, que deve prevalecer não a síntese, mas o diálogo.

- O senhor escreveu que a Eurasia localiza-se entre a estepe e a floresta. Nós, italianos apresentamo-nos como o que está entre a mancha do Mediterrâneo Central e floresta centro-européia. Naturalmente, são duas realidades geopolíticas diferentes, mas elas não poderiam encontrar-se?

- Eu acabo de terminar um livro muito importante, "A Geopolítica da Rússia". Até agora ninguém escreveu nada parecido. Quando eu estava trabalhando no livro, percebi que completa e precisa "história geopolítica da Europa" simplesmente não existe, ninguém escreveu. Carlo Terrachano, Francis Tyual, Yves Lacoste e outros geopolíticos europeus fizeram muito, mas serviço generalizado sobre estrutura geopolítica de toda história da Europa - desde as guerras do Peleponeso e guerras Púnicas até a nossa época não tem. Mas, poderia haver e deveria haver. Nela haveira a identidade geopolítica e seria compreendida no contexto geral.

Não se pode comparar geopolítica da Itália com a geopolítica da Rússia. Tanto a terra, como a floresta ou o mar executam diferentes funções, têm carga conceitual diferente. Itália - o pólo mais importante da Europa - a partir de Roma até os tempos atuais, de diferentes qualidades, com diferentes funções em diferentes fases. Isto requer uma compreensão detalhada, sistematização, antes de falar sobre os paralelos com a geopolítica de outras regiões. É mais correto comparar a Rússia com Europa como um todo ao invés de um determinado país europeu. Rússia - um continente separado, civilização com todas as características originais. Podemoos denominá-la "outra Europa", mas então "esta Europa" terá que ser esquecida, ou vencida.

- A crise da União Européia pode abrir novos espaços para a recém-nascida União Eurasiana?"
- Talvez. O fato é que a Europa Oriental está decepcionada com a União Européia. Grecia está pronta para cair fora. Turquia se recusa a pensar seriamente na sua admissão. Por isso, na Europa Oriental forma-se um vácuo civilizacional. Eu penso, que logo, logo deve-se formar um projeto de Grande Europa Oriental, como zona geopolítica independente - intermediária entre Europa Ocidental e Eurasia. A Grande Europa Oriental que incluiria paises ortodoxos (Grécia, Bulgária, Romênia, Servia, Macedônia, Montenegro), países eslavos (Polônia, República Checa, Eslováquia, Croácia, Eslovênia) e fino-úgricas raízes, Hungria e Turquia no sul - potenciais cooperadores da União Eurasiana. É pouco provável que esta área será verdadeiramente integrada à Eurasiaa, mas a identidade civilizacional da Grande Europa Oriental será algo intermediário entre Eurasia e Europa Ocidental, 50% a 50%.

Agora, para Washington. Como o senhor pensa, reagirá a atual administração dos EUA à criação da União Eurasiana? E de que perspectivas, nas futuras mudanças da equipe da Casa Branca, poderiam ser as relações entre Rússia e Estados Unidos?
- A atitude dos EUA à União Eurasiana sob qualquer administração será radical e abertamente hostil. A criação da União Eurasiana contradiz diretamente à estratégia de segurança nacional aceita pelos EUA, voltada para meta oposta - não permissão do surgimento no território Eurasiano desenvolvimento político, econômico e estratégico-militar capaz de reduzir o controle sobre esta zona pelos EUA. Isto está escrito no "Manual de Planejamento de Defesa" de Paul Volfovittsa (1992). E depois, repetido exatamente nos documentos básicos de perspectivas estratégicas dos EUA.

A criação da União Eurasiana significa desvantagem da hegemonia americana e transição para a construção de um mundo multipolar. Neste mundo multipolar, os EUA podem continuar a ser uma grande potência, mas não de escala global, mas de escala regional. A isto, em Washington parece ninguém está pronto. Significa, que haverá uma verdadeira luta do atlantismo contra eurasionismo (a qual não deixa de existir nem por um minuto). Grande Guerra doos Continentes.

- E finalmente, como influenciará a criação da União Eurasiana no novo equilíbrio das forças geopolíticas e geoeconômicas no mundo?
- União Eurasiana - pólo fundamental em um mundo multipolar. Como no estratégico e político, também no senso econômico. Obviamente, que hoje o lado mais forte da Eurasia é a energética e recursos naturais. Grande importância tem as armas nucleares e imenso território. Tudo isso cria um potencial geoeconômico significativo. Mas, ao mesmo tempo, a União Eurasiana não tem acesso suficiente a alta tecnologia, potencial industrialização, dinâmica de desenvolvimento tecnológico, mercado consumidor em escala suficiente. Isso o torna dependente da Europa e Asia. Mas não dos EUA.

Portanto o sucesso do estabelecimento da União Eurasiana é indispensável à parceria eurasiana-européia e eurasiano-chinesa. "Europa Unida de Lisboa a Vladivostok" (como escreveu V. Putin) e o eixo Moscou-Pequim. Além disso, para União Eurasiana tem grande importância a parceria com o mundo islâmico, América Latina e os países do Oceano Pacífico e África. Tudo isso são pólos potenciais do mundo multipolar.

Cada um tem vantagens e desvantagens, deficiências de um ou outro recurso. Juntos, com base no diálogo civilizado somos capazes de construir um mundo equilibrado e com justiça. Serão nele excluídos os conflitos? Não. Eles são sempre possíveis. No entanto, há sempre maneiras de evitá-los, ao invés da guerra, e dos choques de civilizações passar para um diálogo pacífico. No choque de civilizações não há nenhuma fatalidade.

A globalização e a Pax Americana nos dão exemplos de crimes de sangue, intervenções, assassinatos em massa (Sérvia, Iraque, Afeganistão, Líbia). A escolha não deve ser: guerra ou paz? E sim: que guerra e que paz? Guerra e paz entre quem e por quem, em nome de quê e em que condições? E também como construir um mundo mais justo (multipolar) e estável, e da guerra passar ao diálogo?

Não na base de total identidade e imposição forçada da democracia - como consideram os liberais em relações internacionais, mas com base no reconhecimento dos direitos do outro (outra civilização) ser diferente, distinta, não semelhante, mas que não merece "punição" e "destruição" por isso.

Precisamos aprender a construir um sistema internacional baseado numa ampla e pensada antropologia social e cultural, e não na base do ocidental americano-europeu racismo cultural, liberal-colonialismo e universalismo totalitário, valores puramente ocidentais(individualismo, mercantilismo, capitalismo).

Entrevista concedida a Daniele Ladzeri (Itália)


Tradução: Oksana Kowaltschuk

Foto formatação: AOliynik

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