quarta-feira, 24 de julho de 2013

HISTORIADOR BRITÂNICO COMENTA A TRAGÉDIA DE VOLYN

Historiador britânico e acontecimentos na Ukraina

Tyzhden ua. (Semana Ukrainiana), 16.07.2013
Katyryna Snisarenko

O historiador britânico Norman Davis acredita que a compreensão da tragédia de Volyn
 exige uma abordagem histórica mais complexa.

Segundo o professor Davis (Foto), o debate sobre o reconhecimento ou não dos eventos de Volyn como genocídio é desnecessário.

"Eu considero que está situação é necessário analisar simultaneamente a partir de múltiplas visões: o extermínio em Volyn e Halychyna (Galícia). Pois os massacres em massa abarcaram não apenas Volyn e são parte de um problema maior. Não é verdade, que as vítimas de assassinato e aniquilação foram apenas poloneses. Precisa também unir o que foi feito em Volyn e Galícia Oriental, com o que aconteceu depois da guerra, isto é, a operação "Wisla", - limpeza étnica que o governo polonês realizava contra ukrainianos inocentes", - diz o historiador. (Brevemente tradução sobre a operação "Wisla" - OK) Ele ainda acrescentou, que não se pode permitir, para que um lado se considere como única vítima e seguir em frente para introdução do termo "genocídio".

"Obviamente, os poloneses foram vítimas. Isso é mais do que a destruição, é a limpeza étnica, cuja meta era ocupar as terras da Ukraina Ocidental pelos ukrainianos. No início da Segunda Guerra Mundial estas terras eram multinacionais - havia poloneses, havia ukrainianos, havia judeus. Cada um desses grupos experimentou horrores. Não se pode destacar um desses grupos e falar apenas sobre suas ofensas", - explicou Davis.

O professor britânico também observou aos jornalistas poloneses que o Exército Insurgente Ukrainiano não matava somente poloneses. (Era a tentativa de reconquistar as terras historicamente ukrainianas para os ukrainianos - OK).

"UPA (Exército Insurgente Ukrainiano) teve páginas brilhantes em sua história. Não reconhecia nem Hitler nem Stalin e tentou lutar contra cada uma das duas frentes. A guerra aguçou a violência em ambos os lados. Como nem todos os ukrainianos, assim nem todos os soldados do "UPA" são responsáveis pelos crimes. E, não só os poloneses são vítimas", - considera o historiador britânico.

Dados históricos sobre o assunto - pesquisa Internet

A ofensiva político-militar às terras ukrainianas começou nos anos 1330 - 1340 quando o grão-duque da Lituânia Liubard conquistou Volyn (parte de território ukrainiano). A distribuição das terras do principado de Galícia - Volyn entre os dois estados estrangeiros foi concluída no transcorrer da guerra lituano-polonesa de 1351 - 1352, quando Galícia passou a ser governada pelo rei polonês (mais tarde também as terras ocidentais de Volyn, Kholm e Belz.
Não houve resistência ao governo lituano que não quebrou as tradições sociais, políticas,  econômicas e espirituais. Mais ainda, os lituanos assimilavam as tradições culturais e religiosas ukrainianas.

Devido à necessidade de resistir aos cavaleiros alemães e  Golden Horde Khans (Horda de Ouro) e à oposição interna, os governos lituanos e poloneses criaram a união. E, não demorou muito ao elemento lituâno-católico começar a dominar.  No final do século XV e início do século XVI, nas terras ukrainianas houveram várias revoltas.

Nos anos 1500 - 1503 Moscou lançou ofensiva nas terras ukrainianas de Smolensk e Chernihov-Siver alegando proteger a fé ortodoxa contra a imposição do catolicismo. Moscou apoderou-se dessas terras, não desistindo, entretanto, de conquistar mais terras rutenas (assim antigamente eram denominadas as terras ukrainianas).

Lituânia, exaurida nas guerras contra Moscou e intervenções tártaras pediu ajuda à Polônia. Os poloneses ajudariam com dinheiro mas, principalmente,  que todas as terras lituanas passassem para Polônia. Lituânia resistiu a constituição de um único governo porém, a pequena e média nobreza apoiou. Após muitas discussões, em 01.07.1569 foi estabelecida a União de Lublin e, como resultado formou-se a "Rzecpospolita" (Commonwealth polonês) com um único rei, parlamento, dinheiro, impostos e uma política externa comum.

A mais numerosa e agressiva nobreza polonesa eliminou gradualmente os lituanos da Ukraina. Ela definiu as mais ricas terras ukrainianas como o objetivo principal de sua expansão. No último plano surgiam outros países que afetariam Ukraina. Eram o reino de Moscou, que cresceu rapidamente, e o Canato da Criméia associado com o todo poderoso Império Otomano. 
A dominação estrangeira, principalmente a polonesa, levou a um novo fenômeno - a assimilação cultural da elite ukrainiana com a elite polonesa. Identificando as suas próprias aspirações com as necessidades do Estado, a nobreza ukrainiana perdeu a capacidade de proteger os interesses locais.

Terras ukrainianas sob o domínio da "Rzeczpospolita"

O sudoeste e sul de Halychyna, Transcarpathia, Bukovyna, Pokuttia, Volyn, norte de Podillia e Ukraina Central, todas estas terras após a União de Lublin passaram a fazer parte da "Rzeczpospolita". Com o transcorrer do tempo mais regiões foram acrescentadas.

Durante o movimento de libertação nacional, liderado pelo Hetman Bohdan Khmelnytskyi, nos anos trinta do século XVII, houve várias modificações na posse das terras ukrainianas.
Depois da terceira e última divisão, em 1793-1975 algumas terras ukrainianas passaram para o domínio Austro-Hungria e Império Russo.

Na primeira metade do século XX parte das terras ukrainianas pertenceram à República Popular da Ukraina Ocidental e também a assim chamada Polônia inter-guerras, Romênia e Eslováquia (Como vemos o rico território ukrainiano sempre foi cobiçado por todos e dividido tal como colcha de retalhos entre seus vizinhos. Como é que poderia subsistir? E, pior que a acusação externa é a acusação de ukrainianos russificados, que não é necessário dizer, a favor de quem trabalham - OK).

Segundo o Tratado de Paz de Riga, 1921, celebrado entre URSS e Polônia, Ukraina Ocidental foi anexada à Polônia. O termo "Ukraina Ocidental" foi firmemente estabelecido no âmbito desta parte da Ukraina.

Domínio polonês - sob a bandeira de Bohdan Khmelnytskyi

Fortalecidos nas lutas, os cossacos, cuja ajuda inúmeras vezes servia ao rei polonês, desejavam novos direitos. Mas, ao invés dos esperados privilégios, os cossacos sentiram uma brutal ofensiva do governo polonês. O rei aspirava diminuir a quantidade do exército cossaco. E eles só podiam habitar nos locais determinados pelo governo polonês. As pressões de todo tipo foram aumentando e, no início dos anos 30 do século XVII desencadearam-se insurreições mas, apesar do apoio da população, não atingiram sua meta: os ukrainianos continuaram subjugados e privados de direitos em sua própria terra.

Causas da guerra de libertação do povo ukrainiano - 1648:

- Pressão sobre cossacos e citadinos, desigualdade na situação jurídica e política da nobreza ortodoxa ukrainiana, limitação de seus interesses pela nobreza e magnatas poloneses;
- introdução do imposto obrigatório para manutenção das igrejas católicas. Confisco dos bens das igrejas ortodoxas;
- confisco de terras; 
- opressão nacional - limitação dos ukrainianos ao direito de trabalho nos órgãos governamentais, inclusive nas cidades do interior;
- aumento de impostos e do trabalho de camponeses em proveito do Estado, isto é, escravidão;
- dependência crescente do camponês, da aristocracia polonesa e de grandes magnatas;
- anarquia feudal e desenfreada tirania da nobreza;
- exploração pelos judeus arrendatários.

Por isso, quando em 1648 novamente inflamou-se nova insurgência contra o domínio polonês, todos a apoiaram: aldeões, pobreza citadina, clero, citadinos abastados, pequena nobreza. Esta insurreição transformou-se em guerra nacional que durou dez anos. Esta guerra, denominada "Nacional-libertadora" teve o comando do Hetman Bohdan Khmelnytskyi.

No início os ukrainianos obtiveram algumas vitórias, com o tempo os poloneses começaram a se impor. Khmelnytskyi pediu ajuda a Moscou. O encontro com os representantes do "czar" aconteceu em Pereiaslav, em 1654. E, ainda neste ano foi assinado o acordo em Moscou. Este documento previa direitos e relações mutuamente vantajosas para os dois países e não previa limitação da independência da Ukraina. No entanto o "czar" não tencionava seguir o acordo. A ofensiva moscovita contra o Estado ukrainiano visivelmente fortaleceu-se após a morte de Khmelnytskyi (1657). Também surgiram brigas internas entre cossacos, alimentadas pelos povos vizinhos interessados no território ukrainiano, levando à cisão da Ukraina cossaca. Cisão definitivamente firmada em 1667 entre Polônia e Moskóvia (primeiro nome da Rússia - OK). Assim, as terras do lado esquerdo do rio Dnipró, incluíndo Kyiv, ficaram pertencendo a Moscóvia que, até então era terra cossaca livre. O domínio foi progressivo. Grande parte dos cossacos refugiaram-se na região do Don que localizava-se num território autônomo e que hoje compreende parte das províncias ukrainianas de Luhansk e Donetsk, e da parte principal de Rostov, Volgograd, Voronezh e da República Kalmykia da Federação Russa.  
As terras do lado direito do Dnipró continuaram no domínio polonês até a Segunda Guerra Mundial, quando passaram para União Soviética.

No dia 24.08.1991 Ukraina declarou sua independência da União Soviética mas muitos de seus cidadãos não almejam um governo democrático para todos. Em tão pouco tempo conseguiram amealhar grandes riquezas a custa da maioria do povo que vive com grande dificuldade econômica. Comportam-se em relação aos seus irmãos do mesmo modo que comportavam-se os governos e a nobreza estrangeira durante os séculos passados. Mas há um pensamento ukrainiano que diz: Ukraina não morreu, e não morrerá jamais! E, realmente, povo que sobreviveu a tantos anos de diversos males: pobreza, escravidão, degredos, perseguições e prisões políticas, assassinatos, separação de familiares, fome artificial, etc., é um povo forte.
E um dia este pensamento será vitorioso!


Pesquisa e tradução: Oksana Kowaltschuk

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