Bastião dos separatistas está totalmente cercado pelo exército
ucraniano e é alvo de bombardeamentos diários. Ambos os lados impõem
condições para declarar um cessar-fogo.
É debaixo de terra que se está mais seguro em Donetsk nas últimas
semanas. A cidade no coração da região do Donbass, no Leste da Ucrânia,
tem sido bombardeada diariamente à medida que o exército ucraniano
aperta ao cerco aos separatistas pró-russos que a controlam. Já se fala
em crise humanitária, mas até o sofrimento das populações está a ser
utilizado como arma no conflito ucraniano.
De uma cidade com
cerca de um milhão de habitantes terão fugido 300 mil pessoas nos
últimos meses, desde que começaram as batalhas entre o exército leal a
Kiev e as milícias separatistas pró-russas. Nos últimos dias é em Donetsk que se têm concentrado as hostilidades e os correspondentes descrevem uma cidade vazia e uma população assustada e farta de guerra.
“Temos
medo do exército ucraniano, que está a disparar contra a cidade, e dos
rebeldes (…) que roubam e matam civis”, dizia à BBC Dmitry Andronov,
residente em Donetsk.
A ofensiva “anti-terrorista” do exército,
como é designada pelo governo de Kiev, tem vindo a ganhar terreno nas
últimas semanas e com a conquista da cidade de Krasniy Luch – localizada
entre Lugansk e Donetsk, os dois bastiões separatistas, - conseguiu
isolar as posições rebeldes. Neste momento, as milícias estão confinadas
a estas duas cidades, totalmente cercadas pelo exército.
A
situação de Donetsk piorou consideravelmente nos últimos dois dias, com
bombardeios sucessivos. No domingo, uma maternidade no centro da
cidade foi atingida por uma explosão. As pacientes e os recém-nascidos
foram levados para uma cave, onde até se deu um parto, presenciado por
uma jornalista da AFP. No sábado, uma pessoa morreu e dezoito ficaram
feridas depois de um míssil ter atingido um bloco de apartamentos,
revelou o porta-voz do conselho da cidade, Maxim Rovinsky, acrescentando
que a situação “está a piorar de hora para hora”. Desde meados de Abril
que o conflito no Leste da Ucrânia já provocou mais de 1500 mortos.
O
agravamento dos confrontos levou mesmo os rebeldes a mostrar
disponibilidade para declararem um cessar-fogo, em virtude da
“catástrofe humanitária no Donbass”, nas palavras do líder da
auto-proclamada República Popular de Donetsk, Aleksandr Zakharchenko.
Como
tem sido comum no conflito na Ucrânia, também aqui há novo impasse, com
ambas as partes sem disposição de ceder um milímetro que seja. O
porta-voz do exército, Andrei Lysenko, defendeu que o cessar-fogo
implica “medidas práticas e não palavras” e exigiu que os rebeldes
“mostrem bandeiras brancas e deponham as armas”. Como resposta, os
líderes rebeldes recuaram e afirmaram que “enquanto o exército ucraniano
continuar a ação militar, não poderá haver cessar-fogo”.
A troca
de argumentos é replicada ao nível internacional. O presidente
ucraniano, Petro Poroshenko, mostrou-se disponível para aceitar ajuda
humanitária para o Leste do país, mas colocou uma série de condições. A
missão terá de ser “internacional, sem qualquer escolta militar” e terá
de “passar pelos postos fronteiriços controlados pelas forças
ucranianas”, expôs o governante, depois de uma conversa telefônica com a
chanceler alemã, Angela Merkel.
A Rússia levou na última semana ao Conselho de Segurança da ONU uma proposta para conduzir uma missão humanitária no Leste da Ucrânia.
Washington recusou de imediato o projeto, justificando com os receios
de que a medida fosse uma forma encoberta de invasão do território
ucraniano e deixou o aviso de que qualquer incursão russa será
considerada “injustificada, ilegal e inaceitável”.
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