Agência das Nações Unidas para os Refugiados alerta para o êxodo
provocado pelo conflito, que pode deixar quase um milhão de desalojados.
Uma mulher em fuga depois de deixar a sua casa em Grabovo BULENT KILIC/AFP
Os combates entre as forças do Exército nacional ucraniano e os
rebeldes separatistas pró-russos intensificaram-se esta terça-feira na
região Leste do país, fazendo antecipar uma nova vaga de refugiados. A
insurreição separatista, que dura há mais de quatro meses, já levou
cerca de 730 mil pessoas a abandonar a Ucrânia e procurar abrigo do
outro lado da fronteira, em território russo — onde continua concentrado
um largo contigente de tropas de Moscou em exercícios militares.
Os
números relativos aos desalojados pelo conflito na Ucrânia foram
avançados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
(ACNUR), que manifestou a sua preocupação com o êxodo populacional e com
as condições que estes refugiados estão a enfrentar e nas quais estão a
sobreviver. “As pessoas que estão a cruzar a fronteira não são
turistas, são famílias em fuga. Grande parte passa a fronteira a pé, com
poucos pertences em sacos plásticos. Estão totalmente desprotegidos e
desamparados”, salientou Vincent Cochetel, o diretor para a Europa
daquela agência internacional.
Os
serviços de imigração russos confirmaram a entrega de 168 mil pedidos
para a autorização de residência de cidadãos ucranianos desde o início
do ano. Mas além dos ucranianos que escolheram fugir para a Rússia, os
responsáveis da ONU referiram a existência de mais 117 mil pessoas que
abandonaram as suas residências nas zonas de Donetsk e Lugansk em
direção a outras cidades ucranianas: um movimento migratório interno
que cresce diariamente, com pelo menos mais 1200 refugiados a fugir do
teatro de guerra a cada 24 horas.
Desde
Abril, a rebelião separatista provocou a morte de mais de 1100 pessoas:
soldados ucranianos, combatentes pró-russos e civis, atualizou o
comissariado da ONU para os Direitos Humanos.
Os
confrontos entre as tropas nacionais e os rebeldes separatistas
prosseguiram esta terça-feira com ataques aéreos e ofensivas terrestres.
Segundo informou o Governo de Kiev, o Exército teve 26 enfrentamentos
diretos com as forças pró-russas em 24 horas — que causaram a morte de
três soldados e 46 feridos — e realizou várias missões aéreas que
atingiram posições rebeldes e armazéns de equipamento militar.
O
Governo ucraniano denunciou ainda como uma “provocação” a realização de
exercícios bélicos pelo Exército da Rússia na região de fronteira. Num
comunicado conjunto do ministério da Defesa e dos Negócios Estrangeiros,
Kiev exprimiu o seu “alarme” pela presença de um largo contingente
militar, que inclui pelo menos uma centena de aviões de combate, junto à
fronteira, e exigiu a imediata retirada das forças russas. “A Ucrânia
considera que o prolongamento destas manobras sem precedentes junto à
fronteira constitui uma provocação”, sublinhou o porta-voz do ministério
da Defesa, Andrii Lisenko.
Fontes
militares citadas pela Reuters acusaram a Força Aérea russa de violação
do espaço aéreo da Ucrânia, referindo a presença de drones e aviões de
guerra do país vizinho no seu território. As mesmas fontes explicaram
ainda que os combates tinham forçado 311 soldados e agentes
alfandegários ucranianos a cruzar a fronteira para o lado da Rússia na
segunda-feira: ontem, no regresso ao país, os homens (que estavam
desarmados) foram recebidos a tiro pelos separatistas, que controlam a
cidade de Horlivka, a cerca de 100 quilômetros da fronteira.
Apesar
da resistência dos rebeldes, o Exército da Ucrânia reclamou ganhos
importantes no terreno. As tropas nacionais encontram-se agora em
posição de avançar para as cidades de Donetsk e Lugansk, disse Andri
Lisenko, prometendo "libertar essas cidades” de separatistas. A BBC
reporta fortes combates, com tiroteios e explosões na área suburbana de
Donetsk, que está parcialmente às escuras depois de várias subestações
elétricas terem sido atingidas por morteiros. Segundo fontes
municipais, as hostilidades, que começaram por volta das 17h locais, já
provocaram a morte de dois civis.
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