Kiev denuncia entrada de mais tropas russas para tomar Mariupol
Merkel e Hollande insistem num cessar-fogo que parece cada vez mais longe, à medida que os combates alastram a vários locais.
O cessar-fogo assinado em
Minsk continua a ser ignorado no Leste da Ucrânia por ambos os lados do
conflito. A tomada de Mariupol pode ser a próxima batalha, avisa o exército
ucraniano.
É na
cidade portuária na costa do mar de Azov que as atenções se concentram. As
autoridades ucranianas dizem que um novo contingente militar russo atravessou a
fronteira na direção de Mariupol, uma cidade portuária de 500 mil habitantes,
com o objetivo claro de apoiar a investida rebelde. Mais de 20 tanques, dez
sistemas de mísseis e vários caminhões com soldados rumaram em direção a Novoazovsk
– a cerca de 40 quilometros de Mariupol – depois de terem atravessado a
fronteira russa, disse o porta-voz do exército, Andrei Lisenko.
“Nos últimos dias, apesar do
acordo de Minsk, equipamento militar e munições foram vistos a atravessar da
Rússia para a Ucrânia”, afirmou o responsável, citado pela Reuters. As
acusações – suportadas pela NATO, pela
União Europeia e pelos EUA – de que Moscou terá enviado unidades do seu
exército regular para combater na Ucrânia têm sido uma constante desde o início
do conflito, algo que sempre foi contestado pelo Kremlin.
Já nesta quinta-feira tinha
havido notícia de bombardeamentos
sobre posições ucranianas em Shirokine, também na costa do mar Azov. A tomada
de Mariupol tem um elevado significado estratégico, dado que é a principal
cidade sob controle de Kiev nas duas regiões com presença separatista e por
permitir a criação de uma ligação terrestre à península da Crimeia, anexada em
Março pela Rússia.
A Europa – em especial a
França e a Alemanha, mediadores do acordo da semana passada – continua a
defender que “Minsk 2” continua vivo e insiste na sua implementação. O mantra
foi repetido nesta sexta-feira depois de um encontro bilateral em Paris entre o
Presidente francês e a chanceler alemã. "Estamos convencidos de que os acordos
de Minsk se devem aplicar. Todos os acordos de Minsk e nada para além dos
acordos de Minsk", disse François Hollande. É necessário "fazer tudo
para que o banho de sangue não continue", defendeu Angela Merkel. Para
terça-feira está marcado um encontro entre os chefes da diplomacia dos quatro
países envolvidos nas negociações (Alemanha, França, Rússia e Ucrânia), em que
será discutida a "efetividade" dos acordos.
O presidente do Conselho
Europeu, Donald Tusk, anunciou entretanto que vai consultar os dirigentes
europeus sobre “as próximas medidas” da UE, em resposta às violações ao
cessar-fogo. Eventuais medidas terão como objetivo “aumentar o custo da
agressão contra o Leste da Ucrânia”, disse, em comunicado. “Houve mais de 300
violações do cessar-fogo. As pessoas continuam a morrer. Chegámos a um estado
em que os esforços diplomáticos são inúteis, se não forem acompanhados de ações
suplementares.”
O Departamento de Estado
norte-americano falou também esta sexta-feira em “custos adicionais” para o
Governo de Moscou, “se a Rússia e os separatistas falharem a aplicação do
acordo, pondo fim à violência”, disse a porta-voz Jen Psaki.
No terreno, as notícias não
podiam ser mais diferentes daquilo que se esperaria de um cessar-fogo. As
autoridades ucranianas deram conta de mais de 300 ataques das forças rebeldes,
sobretudo nas zonas de Donetsk e Mariupol. “O número de ataques mostra que os
terroristas não querem silenciar completamente as suas armas”, disse à Reuters
o porta-voz Anatoli Stelmach.
Numa lógica de parada e
resposta, as forças pró-russas também denunciaram ataques do exército
ucraniano. Na quinta-feira, uma mulher civil foi morta depois de um
bombardeamento a uma zona residencial de Donetsk, de acordo com o serviço de
imprensa das autoridades separatistas.
Em Debaltseve, a cidade de
onde o exército ucraniano se retirou
esta semana, também persistem os combates, segundo declarações prestadas à
Reuters. Na quinta-feira, os dirigentes separatistas tinham anunciado o
controlo deste importante nó ferroviário que liga as duas principais cidades do
Leste, mas revelaram a existência de “bolsas de resistência”, indicando que os
confrontos naquela área ainda iriam continuar. Durante a retirada, foram
capturados mais de 90 soldados ucranianos, 82 estão desaparecidos e foram
mortos pelo menos 13, segundo dados do exército.
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