Ucrânia acusa Rússia de reforçar separatistas antes do cessar-fogo
Moscou diz que é a retórica de Kiev que põe em perigo o fim dos combates. Batalhões de voluntários ucranianos prometem continuar a atacar rebeldes.
A cidade de Debaltseve está cercada pelos combatentes pró-russos ANDREY BORODULIN/AFP
A esperança de que o Exército
ucraniano e os separatistas pró-russos baixem as armas este fim-de-semana
vai-se esfumando à medida que se aproxima a hora marcada para o início do
cessar-fogo. O Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, acusou diretamente a Rússia
de ter intensificado os bombardeamentos contra a cidade de Debaltseve, e vários
batalhões de voluntários fiéis ao Governo de Kiev garantem que vão continuar a
lutar contra os rebeldes.
"Depois
do que acordámos em Minsk, não se trata já de um ataque contra a população
civil da Ucrânia nem contra os militares ucranianos. É um ataque contra os
acordos de Minsk", disse o Presidente ucraniano, referindo-se aos resultados da reunião de cúpula que decorreu entre quarta e
quinta-feira na capital da Bielorrússia, promovida pela chanceler alemã, Angela
Merkel, e pelo Presidente francês, François Hollande.
"Sem qualquer
explicação, a Rússia intensificou de forma significativa a sua operação
ofensiva depois de Minsk. O acordo de Minsk continua a estar em perigo",
afirmou Petro Poroshenko.
A resposta de Moscou chegou
através de um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros. No documento,
as autoridades russas dizem-se "preocupadas" com o que consideram ser
a tentativa de Kiev e do Ocidente de "deformarem" os pontos do acordo
alcançado na quinta-feira, que inclui um cessar-fogo incondicional a partir das
0h00 de domingo na capital ucraniana.
Para Moscou, os separatistas
das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk "mostraram uma atitude
responsável para com os seus compromissos", mas "as declarações dos
políticos ucranianos em Kiev suscitam desconfiança". "Reafirmamos a
principal mensagem dos acordos de Minsk de pôr fim aos combates, de retirar o
armamento pesado e de dar início a uma verdadeira reforma constitucional na
Ucrânia", lê-se no comunicado.
No final de 16 horas de
negociações, os líderes da Alemanha, de França, da Rússia e da Ucrânia deram o
seu aval a um documento com 13 pontos que prevê, para além de um cessar-fogo,
medidas como a realização de eleições e a concessão de uma maior autonomia às
províncias separatistas ao longo dos próximos meses.
Para além dos obstáculos ao
consenso sobre o futuro estatuto político das províncias de Donetsk e Lugansk
(a Ucrânia apenas admite uma maior descentralização e os separatistas exigem a
independência, por exemplo), o acordo promovido por Angela Merkel e François
Hollande nada diz sobre a situação particular do cerco a Debaltseve.
Situada a meio caminho entre as cidades de Donetsk e Lugansk (ambas controladas pelos separatistas
pró-russos), Debaltseve está ainda sob controlo das forças governamentais
ucranianas, mas tem sido devastada por bombardeamentos constantes.
De acordo com a agência
Reuters, Debaltseve é alvo da artilharia dos rebeldes pró-russos "quase
todos os minutos". O repórter da agência disse ter visto uma coluna de
veículos militares com peças de artilharia e tanques a passar por um posto de
controlo dos separatistas, a cerca de dez quilômetros de Debaltseve. Um dos
combatentes, que falou à Reuters sob a condição de anonimato, disse que as suas
forças estavam a ser apoiadas por "convidados que vieram da Rússia".
"Os separatistas estão a
destruir Debaltseve. O bombardeamento de áreas residenciais e de edifícios
civis continua. A cidade está a arder", disse o chefe da polícia da região
de Donetsk, Viacheslav Abroskin, citado pela BBC.
O vice-ministro da Defesa da
Ucrânia, Petro Mekhed, acusou os separatistas de quererem "içar a sua
bandeira" em Debaltseve antes do início do cessar-fogo.
Mais a Sul, perto de
Mariupol, há também relatos de combates entre batalhões de voluntários ao
serviço do Exército ucraniano e combatentes separatistas.
À intensificação do ataque
dos rebeldes pró-russos contra Debaltseve soma-se a promessa da violação do
cessar-fogo por parte de voluntários ucranianos, como os membros do batalhão neonazi de Azov, que
defende a cidade de Mariupol, e os ultranacionalistas do Setor Direito.
Dmitro Iarosh, líder do grupo
paramilitar que desempenhou um importante papel nas manifestações que
levaram à queda do antigo Presidente ucraniano Viktor Ianukovich, disse que
qualquer acordo com "os terroristas pró-russos" é
"inconstitucional" e defendeu "o direito de continuar a realizar
operações militares".
A guerra no Leste da Ucrânia
começou em Abril do ano passado, semanas depois da anexação da península da Crimeia pela Rússia,
com a ocupação de edifícios governamentais por combatentes pró-russos. A NATO [OTAN],
os Estados Unidos e a União Europeia acusam o Presidente Vladimir Putin de ter
fomentado o conflito e de apoiar militarmente os separatistas, uma acusação que
Moscou sempre negou.
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