quinta-feira, 15 de setembro de 2011

ENTREVISTA COM LEV HREHOROVYCH LUKIANENKO

Lev Lukianenko: "Se você se preocupa somente consigo, sua função no mundo é pequenininha..."
Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 02.09.2011
Ivan Farion

Entrevista:

Lukianenko, o de bigode

- Lev Hrehorovych, onde você esteve no 20° ano da Independência? Como soou o som do seu brinde junto a mesa festiva no dia 24 de agosto, quando além do nascimento do Estado, comemorou seu próprio aniversário?
- Eu estava em Kyiv, próximo do monumento a Shevchenko, no turbilhão humano, onde reuniram-se para uma marcha Nacional milhares de representantes das forças democráticas.

E quanto ao brinde de comemoração. Ele soou para que os ukrainianos sejam mais atenciosos, se sintam mais cidadãos de um Estado democrático, dentro do qual, depende de cada um que governo teremos. Porque se o governo for ruim, a culpa será da nação. O que temos hoje? Alguns vendem seu voto por 50 UAH (US$ 6 - 7), ou pelo quilo de trigo, e depois durante cinco anos mordem os cotovelos...


- Em 1961 você vivenciou sentença de fuzilamento, pela qual esperou 72 dias. Como permaneceu esse tempo? Sobre o que pensou? Não lamentou então sua participação na política?
- A condenação à morte foi um "duro golpe". Mas a pessoa que toma o caminho da luta, deve estar pronta para isso. Naquele momento eu estava contrito porque iria morrer, no caminho do início da liberdade... Havia muitas idéias, e tudo poderia acabar de repente... Por outro lado, a idéia de liberdade nacional é tão cara a cada nação, que cada nação tem de sacrificar para ela seus filhos. Eu poderia ser tal vítima...

Aconteceu que permaneci vivo. E uma vez que o destino me deixou a vida - então penso, que foi para continuar a luta pela Ukraina. Enquanto Deus me der forças, vou trabalhar, para que o meu país seja verdadeiramente ukrainiano.

- Qual acontecimento patriótico da nossa extensa história lhe especialmente emocionou, impregnou a sua alma? Quem para você é autoridade moral?
- O herói pode ser uma pessoa importante ou não - tudo depende de seu sacrifício. Devemos pensar não só em nós, nossa família, mas também em nossa Pátria, estar preparado para tudo por ela. A pessoa deve entender, que seu próprio bem-estar e de sua família depende da situação em que se encontra Ukraina. Pensar somente em si mesmo é errado. Se você se aflige apenas por você, então o seu papel no mundo é muito pequeno.

Em espírito ukrainiano meu pai me criou desde a infância. Ele me ensinava fazer um bom trabalho para todos, começando pelo vizinho, inseriu em mim os fundamentos ukrainianos. Tudo o mais na minha vida foi derivado desses ensinamentos. Se você de todo seu coração amou a terra natal, então o objeto de seu amor precisa proteger. O rapaz protege a sua amada e deve estar pronto por ela em tudo, para que nada de mal lhe aconteça. Aqui tem algo de condição selvagem. O macho pela fêmea vai para morte, sem hesitar se o seu oponente é forte. Isso é algo natural, profundo, que deve gerir as pessoas. Se alguém cobiça o seu país, você deve transformar-se naquele destemido macho, que protege desesperadamente sua fêmea.


- Ukraina já foi reconhecida pelo mundo, ela é um participante ativo na vida internacional. Pode-se dizer, que todas as ameaças à sua soberania, à sua segurança já estão para trás. De que ameaças vizíveis ou invisíveis nós precisamos nos precaver?
- Os nossos perigos são enormes, eles não acabaram. O primeiro deles é o imperialismo russo. Na Ukraina age a poderosa 5ª coluna moscovita, que faz de tudo para prejudicar o nosso Estado soberano. Durante os vinte anos, a Rússia conduz uma guerra de informação contra Ukraina independente. Isso causou-nos enormes danos, porque semeou nas mentes dos ukrainianos a descrença nos benefícios do próprio Estado.
Outro perigo - globalismo. Com a ajuda dos entusiastas recursos da informação de massas ele cultiva nossa população no espírito cosmopolita. Faz de tudo para destruir nossas tradições, distanciar os jovens das gerações mais velhas, aniquilar sua herança, hábitos, educar a juventude sem valores espirituais, incutir-lhes o amor à vida fácil, não ensina a viver com os frutos do trabalho, mas auferir lucros através de diversas maquinações, falcatruas. Nós tivemos uma gloriosa história. Na luta pela liberdade da Ukraina caíram milhões de seus filhos. E o que nossa televisão falou sobre isso? Absolutamente nada!
- Muitos daqueles que 20 atrás trouxeram ao Parlamento a bandeira azul-amarela, e hoje estão fora do campo democrático, em conluio àqueles que promovem política anti-ukrainiana. Tais pessoas são chamadas de "Tushka" (carapaça). Por que acontece esta transformação?
- Porque essas pessoas tem alicerce espiritual fraco. Eles são materialistas. Para eles o dinheiro é mais importante, o cargo, as casas-palácios, hectares de terra alheia, outros benefícios. E nisso também é culpa da alheia para nós televisão que cultiva os benefícios materiais, não as metas nobres.

- Qual a razão que nos 20 anos da independência não se ouve nenhum coro de veteranos unidos no movimento de libertação nacional. Eles preferem cada um por si?
- A minha resposta será um pouquinho diferente para esta pergunta. Em 1991 nós proclamamos a independência. E quando em fevereiro-março começou a reforma da economia ukrainiana, descobriu-se que entre os líderes do Movimento Popular havia muitos agentes soviéticos, antigos traídores, kadebistas. O Movimento transformaram em uma organização comprometedora. Ele não se tornou uma alternativa ao poder, que começou a demonstrar sua essência anti-ukrainiana, mas começou a se adaptar a este poder. Ukraina se tornou unipolar - possuía um mau governo e não havia uma oposição séria. Alguns partidos responsáveis eram extremamente pequenos para influenciar nos acontecimentos. Se o Movimento Popular de então realizasse uma oposição séria, haveria uma esperança, que cedo ou tarde o governo virá para as mãos de forças ukrainianas, e nossas vidas organizar-se-ão de modo diferente. A ausência de oposição forte atingiu duramente os sentimentos do povo, que foi tomado pelo desânimo, desespero, abatimento espiritual. As consequências colhemos agora.

- Na população há muitas discussões sobre patriotismo. Dizem que não pode ser patriota a pessoa que não sabe a língua ukrainiana. E apontam para os nossos compatriotas do leste e sudeste... (Estas regiões caíram sob o domínio russo em 1654 - O.K.).

- Na realidade precisamos olhar com olhos bem abertos. Na Ukraina vivem muitas pessoas que não sabem a língua ukrainiana, mas que são patriotas ukrainianos sinceros. Eles fazem muitas boas ações para Ukraina - seja no trabalho, na ciência ou no esporte. E claro, eles até podem ser repreendidos por falta de conhecimento do idioma pátrio. Mas é precisoo lembrar, que eles são o resultado de nossa vida anterior, história prévia do desenvolvimento da Ukraina. E isto deve ser visto objetivamente. Se essas pessoas convivem constantemente em ambientes de língua russa, é difícil aprender a língua ukrainiana. Precisamos ser compreensívos com esta situação. Outra situação quando se trata do uso da língua nas escolas, repartições públicas, etc. A língua ukrainiana deve ocupar na Ukraina o mesmo lugar que a francesa - na França, alemã - na Alemanha, russa - na Rússia. Finalmente... Nem sempre os que se comunicam bem em ukrainiano, são patriotas ukrainianos. Vejamos os comunistas Semonenko, Holub, ministro Tabachnyk...

Mini - retrato de Levko Lukianenko

Ele é tido como um dos fundadores da democracia ukrainiana, exemplo de patriota ukrainiano.

Nasceu em 24.08.1928 na região de Chernihov, em família de camponeses. Acreditando nos ideais do regime soviético, entrou para o Komsomol, o Partido Comunista Jovem. Estudou na Faculdade de Direito - Universidade de Moscou. Em 1958 foi trabalhar como propagandista do Partido Comunista da União Soviética, no distrito de Radekhivskyi, na região de Lviv. E aqui, na prática, viu o que era o sistema repressivo soviético. Criou um partido político clandestino: União Ukrainiana de Trabalhadores e Camponeses". Mais tarde muda-se para "Hlyniany", próximo de "Zlochyv" e trabalha como advogado. Reune-se com Ivan Kandeba, outros dissidentes, e trabalha num programa de construção da independência da Ukraina. Em 1961, ele e seus colaboradores são presos. Por "atividades antissoviéticas", "arruinar o sistema estatal" o Tribunal Regional de Lviv condenou-o à pena de morte pelo fuzilamento. Mas, depois da apelação esta pena foi substituída por 15 anos de prisão. Cumpriu a pena nos campos de regime brutal na Rapública de Mordóvia, Federação Russa, na prisão de Volodymyr. É membro do Ukrainian Helsinki Group (UHG) ou Grupo Cívico Ukrainiano, que promove a implantação dos Acordos de Helsinki (direitos humanos).

Em 1977 foi preso novamente. Anunciou greve de fome, recusou a cidadania soviética. Foi condenado a 10 anos de prisão e mais 5 anos de exílio. Em 1988, nos tempos de degelo de Gorbachev, foi perdoado e libertado da prisão. Em 1990 foi eleito deputado do Parlamento. Foi eleito para quatro legislaturas e em 2007 não quis mais candidatar-se devido a idade avançada.

Em 1991 candidatou-se para presidente, ficou em 3º lugar - depois de Leonid Kravhuk e Viacheslav Chornovil. É autor do Ato da Independência da Ukraina. Foi presidente do Partido  Republicano. Foi embaixador Extraordinário e Plenipotenciário no Canadá. É doutor honorário de direito na Universidade de Alberta. Fala inglês, alemão e polonês. Em 2005 recebeu o título de "Herói da Ukraina". Vive na aldeia "Khotov" próximo de Kyiv. Quando pode dedica-se à fruticultura.

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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