domingo, 18 de setembro de 2011

PORQUE SOMOS UCRANIAMOS - Parte 1

Istorychna Pravda (A Verdade Histórica), 22.06.2011
Viktor Yushchenko, ex-presidente (2005-2010)

Dedicado aos pais - oficial Andrii Yushchenko, soldado Omelian Omelchenko, Paulo Sabaldyriu (que com 63 anos sobreviveu à ocupação alemã) e a todos os participantes da Segunda Guerra Mundial, vivos e mortos.

Toda geração do pós guerra, que nasceu em URSS, veteranos e "filhos da guerra"[1], com certeza lembram a letra da canção: "22 de junho, exatamente às 4 horas, Kyiv era bombardeada, nos anunciaram, que a guerra começou..."

22 de junho deste ano completar-se-ão 70 anos desde o dia do ataque nazista hitlerista da Alemanha na comunista-totalitária e stalinista URSS. Como lembraremos esse dia?

Como sempre - brevemente destacaremos a traição, perfídia e o crime de Adolf Hitler, e depois explicaremos como tudo isso acabou para ele, para Wehrmacht (Forças Armadas do Terceiro Reich), Gestapo e toda Alemanha. O principal refrão, provavelmente serão as palavras da canção "...Afinal de contas, de Moscou para os mares frios, o Exército Vermelho é o mais forte..."

Talvez, para Rússia essa tese tenha algum significado. Para Ukraina - não!

Para nós o mais importante é a questão histórica: quem começou a guerra em 22 de junho de 1941? Não é no sentido - quem atacou primeiro, mas quem iniciou as ações militares, um contra outro na comum linha de frente.

Herodes - gêmeos: Stalin e Hitler.

Na verdade, os historiadores há muito tempo deram a resposta, mas isso continua a ser uma linha em fólios históricos, os quais a maioria dos cidadãos nunca viu. Realmente começaram a guerra (a Segunda Mundial e a Grande Patriótica [2], países amigos, que consolidaram sua união com tratados ratificados pelas mais altas autoridades.

Eles realizavam trocas ativas, permutavam delegações civis e militares de especialistas, nos acordos ocupavam as terras de seus vizinhos. O Comissariado do Povo dos Assuntos Internos (NKVD) da União Soviética e Gestapo (polícia secreta do Terceiro Reich) simplesmente se aparentaram, criando um serviço secreto comum.

Agiam eles com o motivo "O acordo geral sobre trabalho em conjunto, assistência mútua, cooperação conjunta, assinado por Beria e Muller, em 11 de novembro de 1938 em Moscou e em 20 de novembro de 1938, o "Acordo Geral" foi aprovado pelo Politburo, CC PCUS (Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética) e assinado por Stalin pelas costas do próprio Comitê Central e Conselho Superior da URSS.

Extraordinários êxitos essas organizações especiais atingiram em tecnologia de repressões em massa de cidadãos de seus países, na criação de métodos efetivos para destruição física das pessoas. O professor era NKVD e Gestapo um aluno capaz.

Assim, de conformidade com o "Acordo Geral..."cada lado considerava aceitável o limite e programa de esterilização e destruição de pessoas" pelo plano estabelecido e também na disposição de pessoas por etapa.

Genocídio, com auxílio dos campos de concentração dos Gulags, câmaras de gás e "dushohubka" [3] tornaram-se os principais instrumentos na introdução de idéias nacional-socialistas de Hitler e simplesmente socialistas de Stalin.

Foi, precisamente, o método de milhões de pessoas soviéticas diante da possibilidade do retorno das repressões da Tcheka (Comissão Extraordinária de toda Rússia) - OGPU (Comitê de Segurança do Estado) NKVD (Comissariado do Povo do Interior) MGB (Ministério de Segurança do Estado) KGB (Comitê de Segurança do Estado) e da fome tornou-se uma das principais razões para o colapso da multinacional União Soviética, e antes disso - a degradação do PCUS.

Enganam-se aqueles que julgam Stalin e Hitler praticamente débeis, esquizofrênicos, pessoas semialfabetizadas (embora surja a pergunta: pode uma pessoa mentalmente normal destruir milhões de seus compatriotas?).

Estas eram pessoas, que percorreram caminho difícil ao cume do poder. Elas viram e entenderam ainda desde a tenra juventude as necessidades e problemas de pessoas comuns, e depois acreditaram nas ídéias do socialismo e partiram em direção a projetada nova doutrina pelos fundadores.

Lendo Engels, eles abraçaram seriamente suas afirmações, que para construção do socialismo em um país, é necessário destruir os parasitas e as "classes parasitárias", e no mundo - "pequenas nações e povos". Em Hitler e Stalin havia muitas opiniões diferentes, mas nos métodos de construção do socialismo podemos considerá-los unânimes, herodes-gêmeos.

1939: desfile da vitória em Brest [4] stalinistas e nazistas juntos (Video).



Os preparativos para a campanha militar, Stalin e Hitler começaram no final de 1938, combinando seus serviços de inteligência - o NKVD e a Gestapo, e em setembro de 1939 começou a campanha em si, desatando a Segunda Guerra Mundial com a ocupação e divisão da Polônia.

Mesmo então era importante lembrar: não é simples ter uma questão com tais "vizinhos". Em nossos dias, no que se transformaram as relações "vizinhas" para Georgia é de conhecimento geral: agressão militar da Rússia, com anexação de 20% de seu território.

Também Ukraina tem exemplos para tirar conclusões - lembremos aquele Conselho de Pereiaslav [5], acordo de Kharkiv [6]. Portanto, nossa nação deve ter amigos confiáveis e poderosos no mundo, e o mais rapidamente tornar-se membro pleno da OTAN e da União Européia.

"Eu necessito terra para os alemães! Eu preciso da Ukraina!"

A guerra começou, e logo ficou evidente no que consistia o plano de Hitler. Geralmente Fuehrer gostava de falar aos generais sobre seus planos. "Eu não necessito de colônias! Eu preciso de terra para os alemães! Eu preciso da Ukraina!"

Os planos de Stalin não estavam distantes das intenções de Hitler. "O fogo da revolução mundial! - é o mesmo que a "ordem mundial" de Hitler.

Mas havia também diferenças entre suas ações. Por exemplo, após a Wehrmacht partir para o leste, seguida pelo Gestapo, seguiram atrás 250 firmas agrícolas com técnica e sementes. Atrás do Exército Vermelho vinha a NKVD-SMERSH (militares do serviço de inteligência), unidades militares para combates ou tarefas especiais, organizadores partidários e destacamentos com produtos alimentícios.

Os alemães não escondiam que necessitavam da Ukraina, Don, Kuban, províncias produtoras de pão do Norte do Cáucaso - e em Moscou conheciam estes planos. Na frente sul - sudeste foram concentrados em dois escalões dez exércitos, num total de 110 divisões das 229 que formavam o Exército Vermelho.

Parecia que Wehrmacht estava condenada ainda na parte sudoeste da URSS européia. Mas no final de junho de 1941 Stalin cometeu um grande erro militar, ou melhor crime - desviou quatro exércitos de reserva para defesa de Moscou, ficando na Ukraina somente 49 divisões, que entraram em ação 22 de junho.

Como resultado dessa estratégia, os alemães atravessaram Ukraina em marcha vitoriosa e em outubro de 1941 atingiram a fronteira leste com a Rússia, e em poucoos dias submeteram Rostov-on-Don (cidade às margens do rio Don - 1094 km de Moscou - O.K.).

A nação ukrainiana encontrou-se sob ocupação alemã. Dezenas de milhões de pessoas não entendiam o que estava acontecendo. Em sua memória ainda estavam frescas as lembranças sobre coletivização, fome dos anos 1932 - 1933, repressões em massa de 1936 - 1937 - 1938, que feriram cada uma das famílias ukrainianas, se não com a morte, com a separação com entes queridos.

Mas o golpe, psicologicamente mais terrível para as pessoas causou a retirada em pânico do Exército Vermelho da Ukraina. Colunas sem fim de militares aprisionados (uma grande porcentagem desses soldados eram ukrainianos - O.K.), centenas de campos, onde diretamente sob o céu morriam de fome e frio milhões de soldados soviéticos.

A esperança pela cultura alemã rapidamente se dissipou. Babyn Yar [7] e semelhantes barrancos por toda Ukraina, onde fortes homens alemães matavam idosos, mulheres e crianças, previamente despindo-os, forcas nas ruas das cidades e aldeias, jovens levados a força para trabalhar na Alemanha, (Minha mãe Vera [hoje com 87 anos] e minha tia Olga [já falecida] estavam entre esses jovens. A.Oliynik)  rapidamente abriram os olhos da nação ukrainiana para o nacional-socialismo de Hitler, o qual não era melhor que o socialismo de Stalin.

Recordações dos leitores de "A Verdade Ukrainiana" sobre ocupação alemã

Mas a vida é bela, justamente porque obriga as pessoas lutar pela sua continuação, em qualquer situação, até o último suspiro.

Nos territórios ocupados pelos alemães permaneceram (pelos dados de Stalin) 70 milhões de pessoas soviéticas. Para viver - precisa comer, para comer - precisa trabalhar, para trabalhar sob ocupação - precisa, pelo menos, não brigar com as autoridades alemãs. As crianças não perguntam aos pais, aonde foi que conseguiram pão e leite.

Comer queria não só a população: queriam também os guerrilheiros, os insurgentes, os sabotadores soviéticos, os agentes secretos e milhões de prisioneiros militares soviéticos nos campos de concentração.

No processo de Nuremberg o lado soviético forneceu um documento de Alfred Rosenberg que citava 3,9 milhões de soldados soviéticos capturados no início da guerra. Destes, até fevereiro de 1942 permaneceram vivos 1,1 milhões. Outros morreram de frio, fome, doenças, por permanecerem diretamente sob o céu, na chuva e nas geadas.

1945: Tribunal para os alemães em Nuremberg (vídeo)



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[1] "Filho da guerra" - é o cidadão da Ukraina que até 02.09.1945 (término da II Grande Guerra Mundial tinha menos de 18 anos. Os filhos da guerra gozam, de certa ajuda do Estado, e privilégios.

[2] Os russos denominam a Segunda Guerra Mundial de "A Grande Guerra Patriótica". Que Guerra Patriótica essa poderia ser aos povos subjugados, como os ukrainianos, que foram obrigados a lutar e morrer pelo país que os subjugava. Recentemente Putin declarou cinicamente, que Rússia teria sido vencedora sozinha, mesmo sem a ajuda dos ukrainianos.

[3] "dushohubka" - equipamento usado pelos usurpadores alemães para destruição em massa de prisioneiros de guerra soviéticos e população cívil dos territórios ocupados da União Soviética e Europa Oriental, através de envenenamento de monoxido de carbono ou escape de gás.

[4] O exército vermelho invadiu a Polônia pela fronteira leste no dia 17.09.1939. No dia 27.09.1939 Varsóvia caiu em poder dos alemães.
Dias depois alemães e soviéticos comemoravam na cidade de Brest-Litviski o resultado de sua parceria.

[5] O território ukrainiano, devido a fertilidade de seu solo e localização geográfica que favorecia a passagem de povos asiáticos à Europa, sempre foi muito cobiçado e disputado. No século XVII Ukraina lutava contra tentativa de ocupação polonesa. A guerra prolongada exauriu as forças ukrainianas, comandadas por Bohdan Khmylnytskyi, o que o levou a pedir auxílio a Moscou. O acordo assinado em Peryiaslav, em 1654 logo foi rompido por Moscou e, em 1659 outro acordo foi exigido por Moscou, que liquidou com a independência ukrainiana. Desde então, as terras ukrainianas localizadas a Leste do rio Dnipró (Livoberegia) e Sudeste ficaram sob o domínio russo. Daí a russificação da nação ukrainiana, 347 anos de domínio da maior parte do seu território.

[6] O acordo de Kharkiv, assinado em abril de 2010, entre Rússia e Ukraina prorrogou a permanência da frota russa do Mar Negro, no território ukrainiano até o ano de 2042. Este acordo foi pura e simplesmente "doação" do atual presidente ukrainiano Viktor Yanukovych pela promessa russa de baratear o gás que Ukraina compra da Rússia. Rússia não barateou o gás. Yanukovych trabalhou em favor da Rússia, ele não podia esperar nada da Rússia porque o exemplo da Bielorrussia esta bem próximo, quanto mais Bielorrussia cede, mais Moscou exige. A meta de Moscou é subjugar alguns países, senão todos, da ex-União Soviética e formar o imperio sob o seu comando.

[7] A tragédia de Babyn Yar. Babyn Yar é nome de um extenso barranco que existia em Kyiv e que foi utilizado pelos nazistas como túmulo de judeus de Kyiv, que eram levados para ali e mortos. Mais tarde os comunistas russos também usaram este local para o mesmo fim, contra pessoas que se opunham ao regime. Calcula-se que ali foram mortas mais de 220 mil pessoas. Para saber mais leia o artigo "Babyn Yar" neste mesmo blog, em edições antigas. (Clique no link)
http://noticiasdaucrania.blogspot.com/2011/04/babyn-yar-resgatando-historia.html

Continua (...)

Tradução: Oksana Kowaltschuk
Video formatação: AOliynik

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