sábado, 10 de setembro de 2011

O CONFLITO ENTRE KYIV E MOSCOU

Presidente da Ukraina não quer ser "parente pobre"
Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 07.09.2011
Zinovia Voronovych

O conflito do gás entre Kyiv e Moscou se transforma em guerra econômica.

A "troca de gentilezas" entre Ukraina e Moscou cresceu para tons mais altos. Ultimato do lado russo não é novidade. Surpreende, antes, a posição radical do nosso governo: devido aos contratos de gás, Ukraina está disposta a abrir processo em tribunais internacionais, não vai entrar na União Aduaneira de acordo com as regras russas, não vai unir o "Naftogás" ao "Gazprom" (companhias de gás ukrainiana e russa). A reação do lado russo não se fez esperar: na fronteira ukrainiano-russa formam-se filas de caminhões - as mercadorias ukrainianas são verificadas várias vezes. Rússia ameaça fechar o mercado para aço ukrainiano, dizem eles, para proteger os produtos domésticos. Ainda no verão, a quase trinta empresas de laticínios ukrainianos proibiram exportar os seus produtos para Rússia. Alegaram que os produtos dessas empresas não satisfaziam aos padrões estabelecidos...



Na terça-feira, 06.09.11 começaram soltar o gás através do "Nord Stream", através do mar Báltico (águas territoriais da Rússia, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Alemanha) - gasoduto que irá transportar o gás para Europa contornando a Ukraina. O primeiro-ministro russo Vladimir Putin maldosamente disse que com o lançamento deste gasoduto, a Ukraina vai perder a posição exclusiva no trânsito do gás. "Nossos colegas ukrainianos adentraram no trem chamado "barato gás russo", e não sabem em que estação descer, e não sabem que podem entrar numa estação sem saída", declarou o presidente do "Gazprom" Alexey Miller.

Viktor Yanukovych não ficou em dívida. Em uma entrevista recente deu a entender, que com os ultimatos Rússia não vai conseguir nada. "Nós acreditamos, que o preço do gás para Ukraina está incorreto, que os acordos foram escritos como para inimigo. Nós não somos parentes pobres. Não queremos ser e não seremos nunca. Nós somos um país independente. Nós pagamos 100% do preço do gás sem precedentes. E de maneira alguma devem alegrar-se, que em 2009 acharam um modo de forçar Tymoshenko [1] para assinar este acordo. Quando para nós é incomoodo e nossos amigos se alegram, é um mau sinal" - disse Yanukovych, acrescentando que os documentos ao tribunal europeu já estão quase prontos, mas o lado ukrainiano ainda espera negociar sem julgamento. Sobre a questão da União Aduaneira Yanukovych disse que Ukraina não irá juntar-se agora - vai observar um ano ou dois como esta estrutura funciona. "Quando convidam - é sempre bom, estamos gratos pelo convite. Mas quando nos convidam como agora, nos surpreende muito" - disse o presidente.

Bem, parece que entre Ukraina e Rússia começou uma guerra econômica. Agora, ao governo ukrainiano somente podemos simpatizar, porque ele conseguiu cercar-se de inimigos. O governo briga com a oposição, por causa do processo da Yulia Tymoshenko, as relações com o Ocidente não são boas, e agora com a Rússia, que até recentemente era aliada do atual governo ukrainiano, agora "quebraram os potes" (expressão ukrainiana).

Comentários para Vysokyi Zamok
Volodymyr Omelchenko
Especialista do Centro Razumkov

O custo básico do gás para Ukraina é superior em US$ 120 ao preço da Alemanha. Com os acordos de Kharkiv o preço ainda supera em US$ 10-20 [2]. Mesmo se você reescrever o contrato e cancelar o acordo de Kharkiv o custo do gás não muda significativamente. A posição que hoje adotou o governo, é ditada pelo instinto de autopreservação. Kremlin não precisa de um presidente independente, nem de um governo independente e autônomo na Ukraina. Eles precisam de lacaios. Todas as conversas sobre amizade - para atrair Ukraina à União Aduaneira. Finalmente o nosso governo abriu os olhos para isso. Como reagirá Rússia - é difícil de prever. Pode-se esperar qualquer coisa, inclusive uma guerra comercial. Rússia não consegue se livrar de seus complexos imperiais. A situação é agravada ainda com a campanha eleitoral na Rússia - cada candidato quer demonstrar força.

Viktor Nebozhenko
Cientista político

Nosso governo não quer renunciar aos ativos líquidos, que deveriam ser transferidos para o lado russo após acordos de Kharkiv. Aqui bateu a foice na pedra... É surpreendente que o governo mantém lutas em todas as frentess, não só com a Rússia, mas também com o Ocidente (devido a prisão de oposicionistas), e com a oposição... Não posso explicar como isso aconteceu. Talvez coincidência. Penso, no centro do governo se formará um grupo que claramente decidirá o lado a seguir: Europa ou Rússia. E esse grupo formará a política.

[1] No final de 2008 Rússia e Ukraina não se acertaram quanto ao preço do gás. Nas duas primeiras semanas de 2009 Rússia cortou o gás para Europa em pleno inverno (o trânsito era somente pela Ukraina). Sob pressão da Europa, que congelava de frio, Tymoshenko assinou os acordos de gás com Putin, que foram considerados muito prejudiciais a Ukraina e pelos quais hoje ela é processada. Mas, há controvérsias. O procedimento do ex-presidente Yushchenko não é muito claro neste processo. Porém, o governo atual não o persegue, ele perdeu importância política.

[2] O acordo de Kharkiv (importante cidade ukrainiana), entre Ukraina e Federação Russa, assinado em 21.04.2010, pelo presidente da Ukraina V. Yanukovych, e o presidente da Rússia Dmitry Medvedev O acordo, segundo o qual o prazo da permanência da frota russa no Mar Negro, em Sebastopol, que tinha o prazo de permanência até 2017 vai até 2042, com prorrogação automática por mais cinco anos, a menos que qualquer das partes expresse objeção.

Em troca Ukraina receberia gás mais barato. Anteriormente este mesmo artigo cita o preço do gás para Ukraina e Alemanha e, como podemos verificar propriamente não há desconto.

Na Ukraina, a oposição, os ambientalistas, as autarquias e o público em geral ficou revoltado com este acordo. A maioria dos analistas considera-o contrário à Constituição.

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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