Por que Ukraina é mais pobre que
Malásia
Tyzhden (Semana), 27.04.2012
Bohdan Tsiupen entrevista Paulo Sheremeta
Um dos participantes da Oitava Cúpula Ukrainiana de
Investimentos, realizada em abril, em Londres, o consultor de negócios de "Blue
Ocean Strategy Network" Paulo Sheremeta em entrevista a "Semana" expressou sua
opinião sobre as causas do declínio do interesse dos investidores na Ukraina.
Senhor Sheremeta trabalhou vários anos como conselheiro do governo da Malásia,
portanto, compara a experiência deste país asiático que está se desenvolvendo
rapidamente, com a Ukraina.
- No ano passado, quando eu ainda trabalhava
em Malásia, onde com o Instituto de Estratégias do Oceano Azul éramos
consultores do governo, ao mesmo tempo em Londres, em maio de 2011 aconteciam
duas cúpulas: da Ukraina e da Malásia. Da Malásia, como é fácil de prever foi,
pessoalmente, o primeiro-ministro. Da Ukraina devia comparecer Iryna Akimova,
que encontrava-se "demasiadamente ocupada e não veio". O mais alto representante
da Ukraina na conferência foi Vladislau Kaskiv. Estes são países comparativos.
Estes não são Índia e China. Malásia e Ukraina - aproximadamente tem as mesmas
necessidades. Mas na Cúpula da Malásia, deste país, veio o primeiro-ministro, o
qual ativamente convidava os investidores ao seu país e, à ukrainiana Kyiv
delegava Vladislav Kaskiv, cujo tom do discurso reduzia-se a: "em princípio,
faremos nós mesmos". Na última cimeira ukrainiana soou algo parecido. Eu
trabalhei em Malásia, a qual tinha um grande orçamento para atrair investidores
estrangeiros. Eu sei quem trabalhou por aquele país. Foram os melhores
"vendedores". Para representar o país nos diversos fóruns, para que ela
parecesse agradável. É uma questão de marca, que é uma questão de esforços
concretos. Isto é uma questão de mais altos funcionários do país, que nas
cúpulas ukrainianas simplesmente não vemos.
Semana: - Por que o
governo de um país como Malásia compreende e pode atrair mais de um terço a mais
de investimentos estrangeiros diretos do que Ukraina?
- Se
disser com uma frase: a diferença entre países ricos e pobres consiste em como
percebem o poder os governantes. Essa frase é de alguém: "Em países bem
sucedidos os governantes percebem o poder como responsabilidade, e nós países
sem sucesso, os governantes percebem o poder como recompensa". E aí está o
abismo.
Semana: - O slogan de Yanukovych para estas eleições é
apresentar Ukraina como um dos 20 países industrializados. Os slogans e
programas existem também na Ukraina...
- A este objetivo está
sujeita toda atividade do governo da Malásia. Cada ministro no âmbito do
programa tem os seus próprios indicadores de sucesso, que levam todo o país para
esta finalidade. Se o ministro não realiza os indicadores, então surge a
pergunta sobre um novo ministro. O primeiro-ministro constantemente enfatiza que
é uma honra para sua geração carregar a sua batuta até o final. Este é o
espírito que paira no país.
Semana: - O que fortalece este
espírito:
- Um fato - a par Singapura. Isto, é também, o que eu
não sinto até agora na Ukraina em um nível profundo - senso de competição.
Singapura fazia parte da Malásia. Este é um país muito bem sucedido, a muito
reconhecido como desenvolvido. Malásia diz: se eles podem, por que nós não
podemos? Em Singapura na ilha não há nada. Malásia tem tudo: petróleo, gás,
minérios, praias, recifes de coral, plantações de borracha, palmeiras... E
população bem maior. Por que nós não podemos atingir isto? Os ukrainianos devem
ter esse humor tigrino. Em abril eu participei de uma mesa redonda "Iniciativas
1° de dezembro" e novamente ouvi o "Choro de Yaroslavna (Referência a poema
heróico do final do século XII que narra a história da princesa Yaroslavna,
esposa do Príncipe Igor que, à espera de seu amado, chorando apela ao vento, ao
rio Dnieper e ao sol pela volta dele - OK). Eu me perguntei: quando formava-se o
Movimento Popular na Ukraina, com sucesso ou não - é outra questão, mas o clima
era diferente? Ele era diferente. Havia o sentimento de que venceremos, que
faremos, que conquistaremos independência e faremos este país desenvolvido.
Enquanto nós não restaurarmos dentro de nós essa disposição e esse estado de
espírito, praticamente não haverá nada. Isto é uma questão politicamente
sensível sobre a qual é preciso falar com cuidado, mas Ukraina Ocidental fazia
parte da Áustria-Hungria cujo PIB agora, por pessoa, é de 15 mil dólares? A
parte oriental entrava no Império Russo, cujo PIB atualmente, é
significativamente inferior a 15 mil dólares. Espere! Por que nós criamos este
país? Nós o criamos para que os ukrainianos pudessem viver melhor que
antigamente nos impérios, mas recebemos um país independente no qual se vive
pior?
Semana: - O senhor fala sobre espiritualidade e outras
coisas que não podem ser medidas e implementadas com uma decisão: avante,
levantemos o espírito!
- E mais ainda, você sente isso. Você
chega em qualquer país ou cidade, entra na sala e sente - esta é uma cidade
viva, energética ou pessimista.
Semana: Ukraina precisa alcançar
um determinado limite, vivenciar uma catarse? Como mudar o
espírito?
- Eu acredito que Ukraina entrou em uma certa apatia
após a Revolução Laranja. Depois aconteceu um fato semelhante com os partidários
do atual governo, no qual os apoiantes tinham grandes esperanças em 2010. Mas
estou convencido de que o país vai sair desta situação. Porque esta situação não
é natural para o ser humano. Também não é uma condição natural para
sociedade.
Semana: - Pode-se esperar um espírito conjunto de
pessoas que falam línguas difrentes, pessoas que vêem o seu lugar no mundo de
forma diferente - na Europa, fora da Europa, com Rússia. Isto não é evidência
de maior profundidade?
- Sim. Mas, todas estas manifestações eu perceberia com horror, se
não tivesse estado em Malásia. Lá havia um sentimento análogo: nós somos pobres,
infelizes, esfrangalhados, desintegrados. 65% dos malaios - muçulmanos, 35% -
chineses, 10% indianos. Língua comum - inglesa. Língua oficial - malaia, mas a
linguagem realmente comum em muitas esferas - inglês. Casamentos mistos lá quase
não há. Se a pessoa não muda a religião, o que é complicado, casamentos mistos
não pode haver. Com a desagragação do Império Britânico havia tristes previsões
tanto quanto a India, quanto a Malásia. Diziam, que tais países não
sobreviveriam. Índia dividiu-se - saiu Bangladesh e Paquistão. Malásia, apesar
dos problemas não desintegrou-se. Por quê? Porque há este objetivo. Note na
língua eslava as palavras: propósito e integridade - mesma raiz. Eu, como pessoa
sou íntegro quando tenho um propósito. Quando não há propósito, há
desintegração.
Semana: - O propósito pode ser encontrado. Todos querem
viver bem, desejam o melhor para seus filhos. O que divide é a visão para o
alcance da meta. Na Ukraina atualmente é a visão do desenvolvimento do modelo
europeu, e tem o pensamento da necessidade de voltar a Moscou, o que
supostamente ajudará com gás mais barato, o que é mais cruel, mas mais
compreensível à parte da sociedade é o mundo sob slogans da assim chamada
fraternidade. O senhor concorda, que o problema está nesta dualidade?
(Os russos acenam com igualdade aos ukrainianos, referem-se ao "povo
irmão", usam e abusam dessa expressão mas, na realidade, esse tratamento não se
baseia em nenhum ato sólido e, ao longo da história serviu apenas como uma
expressão cínica e enganosa - OK).
- Não. Eu penso que não. Em primeiro lugar, podemos encontrar um
denominador comum - ele é facilmente pesquisado. Mas a tarefa principal é
encontrar o maior denominador comum. Estas são as tarefas que fazemos juntos.
Elas nos unem. O maior denominador comum consiste em que, um lado não
obrigatoriamente faz o mesmo que o outro lado, mas eles, pelo menos, não se
provocam. Deixemos de lado tudo o que irrita e ficaremos com o nosso maior
denominador comum! Assim trabalham os parceiros nos negócios. É claro, que isto
é trabalho da elite, trabalho do governo, o qual deve ser responsável.
Semana: - Domina na Ukraina a ideologia: "pegar rapidamente
o máximo e fugir o mais longe" - é também problema do pêndulo? Isso não vai
passar? Aonde irão as pessoas, as quais obtendo poder na Ukraina pensam que seu
dinheiro ficará na Suiça, seus filhos estudarão na Inglaterra, e protetores - na
Rússia?
- Eu sei a direção. Eu não sei os termos. Há três componentes: a
direção, os termos e o que fazer. Eu sei a direção e sei o que fazer. E isto é
suficiente. Os termos não me preocupam muito. Por quê? Porque eu considero como
um problema de 2004 as expectativas demasiado elevadas. Um dos componentes da
filosofia budista, que eu trouxe da Ásia - é minimizar as expectativas. A chuva
de Londres não decepciona, mas se você esperou apenas sol, então há motivos para
decepção. A direção será, sem dúvida, para o lado certo, porque a sociedade
ukrainiana não é, fundamentalmente doente. Ela é, como tantas outras. Olhe, em
Mianmar libertaram presos políticos! Eu estou convencido que o que está
acontecendo na Ukraina - fenômeno temporário. Eu não sei daqui a quantos anos,
mas um dia a história vai considerar que isto foi uma exceção para o
desenvolvimento normal.
Tradução: Oksana Kowaltschuk