quinta-feira, 13 de setembro de 2012

PUTIN E O PROJETO EURASIANO

Paz fria: O polo governista de Putin desafia Europa
Tyzhden (Semana), 07.07.2012
Janusz Buhayski - membro sênior do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA).
 
 
O presidente Vladimir Putin anseia estabelecer a Rússia como um polo do governo em um mundo multipolar. Essa meta estratégica implica na necessidade de supervisão atenta às diferentes sub-regiões européias e euroasiáticas inclusive com Leste Europeu, áreas do Báltico e Mar Negro, o Cáucaso e a Ásia Central.

O desejo de Moscou, acima de tudo é dominar os territórios da ex-URSS. Ele espera que os EUA, UE e todos os grandes países da Europa Ocidental percebam sua posição dominante nestas áreas. Entretanto a condescendência submissa a Kremlin, não só desestabilizará e dividirá muitos vizinhos da Federação Russa, mas será um desafio para segurança de novos países-membros da UE e OTAN, com simultânea ameaça à unidade européia e cooperação transatlântica.

Ambições estratégicas de Moscou
A julgar pelas declarações e ações, os líderes russos personificam um ambicioso projeto para reviver a dominação regional da Federação Russa, minar a influência dos EUA no mundo, dividir OTAN, neutralizar a UE. Os planos globais de Moscou em relação ao Ocidente - reduzir a superioridade dos EUA através da transformação de 'unipolaridade" em "multipolaridade" em que Rússia teria mais peso. Apesar da perda do status de potência mundial ela pretende se tornar um polo euroasiático de poder.

As autoridades do Kremlin acreditam que o mundo deve ser organizado de acordo com a versão atualizada da "Concepção da Europa" do século XIX, onde as superpotências equilibram seus próprios interesses, e países menores giram em torno delas como satélites ou territórios dependentes. Essas pessoas oficiais definem a sua estratégia como "multipolaridade". O projeto neoimperialista russo já não conta com instrumentos da era soviética, tais como devoção ideológica, a força militar ou plantio do governos fantoches. A primeira tarefa torna-se a propagação da influência dominante através da política de segurança externa dos vizinhos mais próximos, de tal forma que eles apoiem os planos de Kremlin.

Embora os objetivos de Moscou são de fato, neoimperialistas, suas estratégias ainda são flexíveis. Ela aplica métodos específicos, tais como tentação, ameaça, incentivos e pressões lá, onde os seus interesses nacionais são tratados como tais que prevalecem sobre os vizinhos. O real interessee nacional da FR gira em torno da conservação de sua integridade territorial e preservação de intervenção militar estrangeira. Neste contexto, à segurança de Moscou, não ameaça diretamentee a adesão de países geograficamente próximos a OTAN. No entanto, sua condição de membros na Aliança enfraquece a capacidade de controlar a política de segurança e orientação internacional desses países.

Entre as principais tarefas do terceiro mandato de Putin é a reintegração das ex-repúblicas soviéticas baseadas no estreitamento de relações econômicas, cujo ponto culminante seria um pacto político e de segurança liderado pela Rússia. Exatamentee a concepção da união Eurasiana será a base dos esforços do presidente da FR direcionados na conquista da fama de agregar países pós-soviéticos. Moscou, evidentemente, teme que o território da antiga URSS ficará, para sempre dividido e flutuará entre as "esferas de influências européias ou asiáticas. Em substituição Putin aspira criar o bloco euroasiático como contrapeso a UE no ocidente e China no oriente, bem como um forte elemento de segurança como contrapeso a OTAN. Esses laços econômicos e militares gerarão estreita reciprocidade de política que tornarão a adesão dos vizinhos da Rússia a alianças alternativas menos prováveis.

Projeto Eurasiano
Para implementar as ambições eurasianas Moscou deve reunir em torno de si um grupo de países, leais ou dispostos a servir aos seus interesses. Algumas tendências globais nos últimos anos contribuem para o processo. Em primeiro lugar, trata-se de um resultado secundário de "excesso de carga" nas relações com a Rússia que conduz a administração Obama a partir de 2009: Washington limitou, enquanto não rejeitou completamente, a sua campanha de expansão da OTAN, direcionada na integração dos países pós-soviéticos. Então eles se tornaram mais abertos e mais vulneráveis à pressão e medidas unificadoras de Moscou. Além disso, Bielorrússia, Moldávia e Ukraina não pertencem à esfera de interesses prioritários do governo americano.
Em segundo lugar, problemas financeiros e turbulências políticas internas na UE desviaram a atenção de Bruxelas da cooperação com as antigas repúblicas soviéticas. Isto, por sua vez, diminuiu a realização da Parceria Oriental - iniciativa lançada em maio de 2009, que visava a harmonização dos Estados europeus pós soviéticos aos padrões da UE. Ao mesmo tempo, os líderes russos chegaram a conclusão, que UE encontra-se em sérias dificuldades, e por isso, pelo menos durante alguns anos, preocupar-se-á com problemas internos, se não entrar em colapso.
 Em terceiro lugar, na UE estão desapontados com muitos países pós-soviéticos. Esses países não tem planos de ação ou compromissos reais indispensáveis para total integração com o Ocidente, ao contrário dos países da Europa Central, que os elaboraram depois da libertação da influência de Moscou no início de 1990, ou dos Balcâs Ocidentais que têm acordos com a União Européia na estabilização e associação. Pelo contrário, no caso da Bielorrússia e Ukraina temos fortes divergências com vários países europeus por causa da regressão política e simuladas reformas econômicas.
 Em quarto, a volta de Putin ao Kremlin reavivou as ambições neoimperialistas russas através de grandes projetos geoestratégicos, entre os quais a criação da União Euroasiática. A vantagem adicional da enérgica política exterior de Moscou é que ela ajuda no desvio da atenção da comunidade mundial dos problemas internos da FR (em particular, e com a oposição). A nova presidência de Putin foi apresentada como uma necessidade vital para a segurança nacional russa por duas razões. Isto, dizem eles, protegerá a FR da turbulência devastadora dos protestos públicos, e contribuirá para a reestruturação da Eurásia sob sua liderança, eliminando influências indesejáveis do Ocidente, que propositadamente criam desafios à segurança da Rússia.
 As ambições da FR em relação aos vizinhos, incluindo a Ukraina, são dobradas: submissão da política externa aos interesses de Kremlin e integração em organização de segurança e economia pró-Moscou. As mais distorcidas por Moscou, multinacionais iniciativas de fortalecidas integraçoes e centralização incluem a Comunidade de Estados Independentes (CIS), da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO), a Comunidade Econômica Eurasiana (EurAsEC), a União Aduaneira (UA), Espaço Econômico Único (CES) e a planejada União Eurasiana (EuraC).
 CSTO (Organização do Tratado de Segurança Coletiva) - uma aliança político-militar composta por Bielorrússia, Armênia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão - criada contra as ambições da OTAN em territórios da Eurásia. Hoje persiste a revisão dos princípios básicos da organização. O estatuto atual exige.
 EurAsEC criaram unanimidade nas decisões, mas, de acordo com as alterações previstas, terão o direito de votar apenas os países diretamente interessados na aceitação do ítem proposto. Deste modo, qualquer oposição à política da FR (vejamos um exemplo, no caso, quando a FR considerar necessário realizar uma ação armada no território de seu vizinho) torna-se impossível .
 EurAsEC criaram em outubro de 2000 na cúpula em Astana e Kremlin o olham como primeiro passo para a União Euroasiática. Essa organização inclui Bielorrússia, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão Tajiquistão e Uzbequistão. Em julho de 2011, Moscou, Minsk e Astana lançaram a União Aduaneira para eliminar todas as barreiras comerciais entre os três países. Em outubro de 2011 Putin reuniu os primeiros ministros da Bielorrússia, Armênia, Cazaquistão, Quirguistão Moldávia, Tajiquistão e Ukraina em São Petersburgo e anunciou o acordo desses países na criação de zona de livre comércio. Isso aconteceu depois de longos anos de negociações infrutíferas. Em primeiro de janeiro de 2012 assinaram um acordo formal sobre a criação de EEE (Espaço Econômico Europeu): mercado comum indivisível que envolve três países da União Aduaneira e está aberto para o resto de países pós-soviéticos. Antes da entrada na EEE os líderes da Bielorrússia, Rússia e Cazaquistão também assinaram a Declaração à integração econômica Eurasiana. O presidente Dmitry Medvedev convidou todos os membros da EurAsES para aderir ao EEE, particularmentee seus três observadores: Armênia, Moldávia e Ukraina.
 Às entidades empresariais dos três países do Espaço Econômico Comum é garantida a liberdade de circulação de mercadorias, serviços, capital e trabalho. Até agora o governo Yanukovych resistiu a esta tentação, temendo a limitação de influência dos oligarcas ukrainianos. Todos estes planos previam a introdução de único sistema de valores semelhante a euro. O estabelecimento da União Eurasiana foi considerado como objetivo final da integração econômica. Previa-se o regime de livre comércio, única alfândega e rgulaçãoo sem tarifas, acesso universal aos mercados domésticos, um único sistema de transportes, mercado energético comum e moeda única. A cúpula de EurAsEC de Moscou, realizada em 19 de março de 2012 delineou uma estratégia ampla de integração com o entendimento de que a comunidade se tornará uma verdadeira união econômica em 2015. Tais medidas de integração, é claro, serão reforçadas com uma aliança política mais estreita.
 As primeiras duas semanas de seu novo período presidencial Putin foi o hospedeiro da cimeira informal da CIS (Comunidade de Estados Independentes), para a qual convergiram representantes da maioria das ex-repúblicas soviéticas. Foi realizada uma sessão extraordinária da CSTO. Em ambos os casos a base das iniciativas revelou-se a idéia de União da Eurasia. De acordo com o entendimento de Putin, esta deve ser "potente, supranacional união, capaz de se tornar um dos polos de poder no mundo atual e servir como uma ponte efetiva entre a Europa e a dinâmica Ásia-Pacífico região". Putin considera que esta organização deve ser construída sobre o legado da URSS: "infraestrutura, sistema de especialização regional de produção desenvolvido, e espaço comum de idioma, ciência e cultura".
 Afastamento europeu
 A discussão sobre o quanto serão auspiciosos os planos de reintegração de Moscou, determinar-se-á na prática. No entanto, o alcance destes objetivos involuntariamente prejudica a segurança e a soberania dos vizinhos da Rússia. A pressão de funcionários russos prejudica a possibilidade destes países realizar plenamente sua independência, escolhendo livremente suas alianças internacionais. Pode-se tembém esperar que uma abordagem mais agressiva para a integração dos países pós-soviéticos refletirá numa política impaciente aos países da Europa Central e Oriental baseada na intervenção econômica, dependência energética e neutralização política. Qualquer progresso alcançado na integração de países pós-soviéticos com a Eurasia, econômica, política e do sistema de segurança incentivará Moscou para continuar sua política obssessiva em relação aos seus antigos satélites do centro e leste europeu, agora novos membros da União Européia.
Os líderes russos consideram a UE não como uma força estratégica de base, mas apenas como um valoroso instrumento duplicado: máquina econômica da qual Rússia sorverá investimentos, tecnologia e produtos, e como parceiros dos Estados Unidos aos quais ela pode contribuir em desligar-se e depois maximizar a sua própria influência reduzindo a influência americana na Europa. A política da Rússia quanto a UE é construída em torno de três abordagens. Primeiro, ela procura relações diretas com as instituições da Ue como um parceiro igual, não como um candidato ou como país-participante, porque deste modo sua influência seria fraca. Segundo, Moscou concentra-se em forjar relações bilaterais políticas, de negócios e energéticos com os maiores países da UE, tais como Alemanha, França, Itália, cujos governos revelam-se mais receptivos. Esta aproximação também enfraquece a manifestação da aprovação da coerente e única política da UE.
 Terceiro. A UE veem como um concorrente potencial da Rússia, em seu "exterior próximo", porquanto ele pode atrair alguns países pós-soviéticos longe da órbita de influência de Moscou. Por exemplo, na região do Mar Negro Moscou não está interessada em projetos de vizinhança comuns sob os auspícios de Bruxelas, porque deseja apoiar a exclusiva zona de influência, e critica o programa de Parceria Oriental da UE como um mecanismo para minar as alianças russas. Devido a sua ênfase aos direitos humanos e pluralismo, e também a UE coloca ameaça ao modelo de controlada democracia e até a longa sobrevivência da FR estruturada não democraticamente. Além disso, os padrões comerciais da UE, são orientados à transparência, concorências e responsabilidade, comprometem o modelo de negócios da Rússia que baseiam-se em três pilares: opacidade, monopólio e sigilo.
 Conseguindo posições de monopólio no trânsito e fornecimento de gás natural e petróleo à Europa, Moscou aspira melhorar a sua influência dentro dos limites da UE. A discussão entre os partidários de apoiado pela UE gasoduto Nabucco (parte do projeto "Corredor Meridional de Gás) e patrocinado pela Rússia gasoduto "South Stream" é uma indicação clara da luta pela segurança energética na Europa. Apesar de cada vez mais criticada a viabilidade do "South Stream", o Kremlin continua a utilizar diferentes táticas para frustrar a execução do Nabucco, ou diminuir o seu valor, ou bloqueando países fornecedores do gás nos contratos de fornecimento de longo prazo, ou minando a estabilidade no sul do Cáucaso para criar obstáculos a investidores estrangeiros, ou propondo acordos favoráveis para potenciais países de trânsito.
 Para Ue a próxima década será de séria provação, porquanto ela não conseguiu garantir suas posições de superpotência mundial e sua atividade econômica sofreu graves deformações com consideráveis endividamentos de governos de vários países da UE e persistentes dúvidas sobre o futuro da união monetária. Muitos analistas concluem que, devido a hegemonia global dos Estados Unidos, a UE entrou no cenário mundial como uma força ponderável. O guarda-chuva de segurança de EUA permitiu que UE se concentra-se no desenvolvimento econômico e integração política, sem aumentar o poder militar. No entanto, assim que a influência dos EUA diminuir, a UE começará participar fortemente da corrida armamentista global, mas sem "poder duro" e enfraquecimento constante de ferramentas macias".
 As autoridades russas estão bem conscientes da vulnerabilidade de Bruxelas e aproveitarão diversas possibilidades para enfraquecer as relações transatlânticas, ajustando relações com países membros da UE em separado. Ela inspira-se com a diminuição da atenção do presidente Obama para com a Europa, como prioridade estratégica e rupturas políticas internas na UE. As fraquezas do Ocidente, contradições e indecisões incentivava e desenvolvia Moscou, porque isto ajuda diretamente aos "putinistas" no desenvolvimento no projeto eurasiano com o centro russo como pólo de poder.
 Programa do Putin
 Citações dos trabalhos eleitorais de Vladimir Putin em 2012:
 "Nossos problemas nacionais e migratórios estão diretamente relacionados com a destruição da URSS e, de fato, historicamente - grande Rússia, que surgiu, basicamente no século XVIII. Uma vez que, inevitavelmente, seguiram-se degradações das instituições públicas, sociais e econômicas. Com uma enorme lacuna de desenvolvimento no espaço pós-soviético.
A auto-determinação do povo russo - uma civilização poliétnica, consolidada com o núcleo cultural russo. E essa escolha o povo russo confirmava vez após vez - e não nos plebiscitos e referendos, mas com sangue. Com toda sua história milenar." (Isso é o que os russos dizem, mas não é o que as nações, total ou parcialmente submetidas ao jugo russo pela violenta e bárbara dominação sentem - OK).
(Sim, com sangue. Enquanto o povo era escravizado pelos czares, os cossacos ukrainianos eram obrigados lutar ao lado dos russos na conquista de mais terras para os czares. E mesmo durante a II Grande Guerra, enquanto os jovens ukrainianos lutavam contra os alemães, Stalin provocou uma recorrente fome na Ukraina retirando os produtos alimentícios e enviando-os à países da Europa Ocidental para atraí-los à sua causa - OK).
 
O MUNDO SEMPRE SOUBE DA FOME PROVOCADA (HOLODOMOR) NA UCRÂNIA, INCLUSIVE QUANDO ESTAVA ACONTENCENDO E CALOU-SE! POR QUE? (O Cossaco).
("Rússia: questionamento nacional", "Gazeta independente", 01.03.2012)
 "Percebemos que temos uma experiência histórica, a qual ninguém tem. Nós temos um forte suporte na mentalidade, na cultura, na identidade, que os outros não tem.
 Nós vamos reforçar o nosso "estado histórico" que herdamos de nossos antepassados. Estado-civilização que pode resolver organicamente o problema de integração de diferentes etnias e credos.
 Vivemos juntos há séculos. Juntos vencemos a mais terrível guerra (Mas, ainda na véspera do Dia da Vitória, deste ano, Putin disse que Rússia teria vencido sem participação ukrainiana, com o que ofendeu os ex-combatentes ukrainianos - OK). E juntos vamos viver. E àqueles que querem, ou tentam dividir-nos, posso dizer uma coisa - não conseguirão"...
 É exatamente por este prisma que percebemos alguns aspectos do comportamento dos EUA e da OTAN, os quais não se encaixam na lógica do desenvolvimento atual, baseiam-se em estereótipos do pensamento bloqueado. Todos compreendem o que eu tenho na mente. Esta propagação da OTAN, que inclui a colocação de novos objetos de infraestrutura militar e planos de aliança (de autoria americana) com a criação do sistema PRO (defesa contra mísseis balísticos) na Europa. Não tocaria neste assunto, se esses jogos não se realizassem contra a estabilidade mundial".
("Rússia e o mundo em mudança", "Gazeta russa - Domingo", Nº 5718(45), 27.02.2012).
 
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Foto formatação: AOliynik

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