segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O DRAMA DAS FAMÍLIAS UCRANIANAS

Caros Leitores:
A reportagem que se segue é triste e mostra a realidade do povo ucraniano. O drama vivido pelas famílias, cujas vítimas maiores desse drama são as crianças. Os relatos são emocionantes. Alguns levam às lágrimas. E assim vai se des-construindo uma humanidade, desprovida de amor, sem laços familiares, irrigada por traumas humanos que irão repercutir negativamente na vida adulta.
E os governantes? Esses estão preocupados com suas fortunas pessoais, produto de verdadeira rapinagem ao erário, e com a maldita ideologia comunista visando dominar o mundo.
Até quando?
 
O Cosaco. 
 
Amor à distância. A migração laboral muda abordagens dos ukrainianos na formação familiar.
 
 
Tyzhden (Semana), 27.08.2012
Valeria Burlakova e Alissa Tolstokorova


Partindo para o trabalho no estrangeiro, os ukrainianos testam a solidez de sua família. Pelo preço da aquisição de moradia pelos adquiridos euros, libras, dólares, rublos, pode oferecer-se a própria família, e pela oportunidade de vestir-se melhor ou estudar às custas dos pais, os filhos de migrantes laborais ("hastarbaiteriv") frequentemente pagam com os destinos destruídos, porque ficam sem atenção paterna nos períodos críticos de crescimento.

De acordo com estudos do Centro Internacional dos Direitos da Mulher "La Strada - Ukraina", 60% de nossos compatriotas da migração laboral sofrem consequências da desagregação familiar. Sobre esta questão, em particular, indicaram 73% residentes no Oeste do país e 58% e 59% - respectivamente na região Leste e Central.

Amor através do telefone público
"A ela nas áreas-dormitório de Varsóvia, a Ele cobrir Moscou com concreto. Mas o amor em telefones públicos está condenado a pouco tempo de vida..." canta "Bombox". Halyna, de Odessa, admite: ouvindo essa música não consegue segurar as lágrimas. Ela está se separando do marido, que há vários anos trabalha em São Petersburgo. "No início da crise de 2008, Dmytró ficou desempregado, - lembra a mulher. - Eu continuei no trabalho. Mas, será que é suficiente para dois o chamado salário médio? Seria suficiente, talvez para alimentação e aluguel de pequeno apartamento. Um bom lugar de trabalho em Odessa o programador Dmytró não conseguiu durante um ano, e ocasionais pequenos ganhos não salvavam a situação.

"Eu comecei a ficar nervosa, - reconhece Halyna, - gritava com ele. Certa vez chamei-o de fracassado. Foi difícil abandonar os velhos hábitos, saber que você não pode comprar cosméticos, ou pegar um táxi vez ou outra... Foi terrível ver o marido perder a confiança em si mesmo, e perceber que você também já não acredita nele".

Quando os amigos propuseram a Dmytró trabalhar na Rússia, ele concordou sem hesitar. "Eu apoiei - lembra Halyna . - Ele alugou em São Peterburgo um pequeno quarto". Mas a esposa não se atreveu a deixar a cidade habitada por amigos e pais idosos: "E a quem, lá, é necessária mais uma designer? Poderia somente trabalhar como arrumadeira".

Inicialmente encontravam-se pelo menos uma vez por mês. O trem leva muitas horas, o bilhete aéreo é caro. Com o tempo encontravam-se menos, diminui a comunicação na internet: "Então eu percebi que na rede social uma mesma mulher lhe mandava músicas ou escrevia algo frequentemente . Quase brincando perguntei: "Você dorme com ela?" Dmytró demorou um pouco, mas respondeu, que sim..."


Consequências da migração laboral
POSITIVAS

Melhora material sucesso familiar dos migrantes.................. 45%

Ingresso de valores ao país........................................................ 16%

Estabelecimento de novas relações sociais............................... 11%

Aumento de qualificação dos migrantes................................... 9%


NEGATIVAS

Desagregação familiar................................................................. 60%

Diminuição de pessoas no país.................................................... 55%

Perda de garantias sociais............................................................ 40%

Perda de tempo e saúde dos migrantes....................................... 37%

Aumento da quantidade de crianças abandonadas................... 22%

Perda do genoma da nação........................................................... 21%

Aumento de doenças socialmente perigosas (AIDS, tuberculose)..19%


Dmytró pediu muitas desculpas, mas a esposa não mais acredita, diz que não faz sentido salvar a família: "Não vejo nenhuma perspectiva. Lá ele está fazendo carreira, voltar "por enquanto" não quer. Eu vivo minha vida aqui, em casa". Filhos o casal não tem, em troca , lado a lado a problemas familiares, frequentemente a decisão de continuar juntos as pessoas assumem por causa deles.

Para trabalhar no estrangeiro partem muitas ukrainianas, que posteriormente também encontram um novo amor. "No início dos anos pós-soviéticos as ondas migratórias constituiam-se em sua maioria de homens - enfatiza Alissa Tolstokorova, especialista em questões de gênero, que investiga as questões de migração e famílias transnacionais. - No entanto, recentemente, as mulheres viajam cada vez mais,  sozinhas, deixando em casa os maridos com as crianças". A adaptação ao novo ambiente, a outro estilo de vida e se acostumar com o novo status social (geralmente inferior) é difícil, independentemente do sexo. No entanto é muito mais difícil às mulheres que, segundo a Organização Internacional de Migração, constituem 33% dos migrantes laborais da Ukraina. Segundo dados parlamentares de 2006 eram 5 milhões, mas há outros dados bem mais modestos.

Crianças abandonadas
"O isolamento da família pode ter graves consequências psicológicas, porquanto gera uma sensação de instabilidade constante, abandono, mágoa, solidão e leva à alienação emocional, aumentando o efeito de choque cultural às migrantes", diz Alissa. Ela cita os dados de uma pesquisa sobre os trabalhadores ukrainianos, realizado pelo Instituto Ukrainiano de Pesquisa Social, pelo qual durante a ausência dos pais (ou um deles) as crianças permanecem em casa com a mãe (44%), com a avó (35%), com o pai (14%), com a irmã (14%), com o irmão (12%), com o avô (10%), com a tia ou tio (5%). Mas não são poucas as crianças que se encontram sem a supervisão dos pais e sem a atenção do Estado. (Vide gráfico a seguir)
 
 
 
"A esposa do meu amigo foi trabalhar na Itália, - diz Olha de Kyiv. - Deixou com o marido dois filhos. Ele, ocasionalmente, foi fotografado com uma famosa apresentadora da TV. Seu filho menor viu a foto e perguntou: "Papai, esta é minha mãe?" A história desta família acabou melancolicamente - ela desfez-se, mas o marido não devolveu as crianças  à mulher. Então as mulheres laborais, às vezes, perdem não somente o seu estatuto de esposas, mas também de mães.
As migrantes frequentemente são forçadas a aceitar que a seus filhos surjam relações mais estreitas com estranhos, apesar de suas frequentes viagens à casa, conversas ao telefone, cartas e encomendas com vídeos sobre suas vidas - diz Alissa Tolstoforova. - "Às vezes os pequenos, que permanecem sob a supervisão de tutoras, começam a tratá-las como verdadeiras mães e até mesmo esquecem as biológicas". A eles é particularmente difícil de entender os problemas financeiros e a motivação de seus pais, por isso se sentem traídos, abandonados e, às vezes se recusam a manter relações com eles. Não é para melhor que mudam eles, e a sua visão de mundo, porque eles, por um bom tempo não vêem a própria mãe e o pai.
É bem ilustrativa a situação que se formou na família da mãe Nádia, que viajou para trabalhar, a fim de conseguir dinheiro necessário ao pagamento dos estudos universitários do filho. No início ela trabalhou como empregada doméstica na Grécia, depois na Itália como cuidadora. A sua filha de dez anos ficou aos cuidados de sua mãe, enquanto o filho estudava em Kyiv. Infelizmente a avó idosa morreu logo após a viagem da Nádia, ficando a neta sem cuidados. A única saída para Nádia foi pedir à antiga vizinha do prédio, para que ela olhasse pela filha: "Você não tem idéia o quanto isso me custou! No início eu chorava a noite inteira, sem parar. Minha menininha me enviava cartas tão tristes, tão comoventes! Certa vez ela me escreveu: Mãezinha! Queridinha! Por favor, volte em breve! Por favor, eu lhe peço muito! Eu estou com muitas saudades de você e choro todos os dias, mas quem tem algo com isso? Eles pisam sobre minhas lágrimas!" E, na carta havia um pedacinho de papel com um desenho pintado com suas lágrimas, e sobre o desenho via-se claramente a marca de um pé. Alguém pisou neste papel... E o que eu poderia fazer? Eu não podia voltar sem dinheiro, porque era necessário pagar o estudo do filho e precisava ganhar algum dinheiro para as despesas gerais. Como eu poderia explicar isso à minha filha? Ela não compreenderia. Ela me disse no telefone, que eu a traí e se recusava falar comigo quando eu ligava".
 
 
 
Com a ida dos pais ao exterior muda o ambiente social da criança, hábitos e valores, - diz a socióloga Inna Schwab em seu artigo "Problemas dos filhos de trabalhadores migrantes: resultados da análise situacional". - Até esse dia para eles o mais importante era a sua posição na sociedade, a residência da família, estudo em uma escola de prestígio e alto aproveitamento escolar". Após a partida - roupas da moda, saber "viver bem", viajar para o exterior, e de maneira alguma boas notas, as quais geralmente se deterioram devido à falta de controle dos pais.
O caráter transnacional da vida familiar pode parecer enganoso, escondendo a realidade indesejável que as mulheres nem mesmo imaginam, continuando a nutrir a fé no relacionamento familiar. Entrevistas com as migrantes e com peritos ukrainianos deram muitos exemplos de como, depois da volta para casa as mulheres tomaram conhecimento de que seu casamento se desfez há muito tempo, os maridos encontraram outras mulheres, sobre o que as migrantes nem imaginavam. Não raramente, enquanto trabalhavam no exterior, perderam não apenas o estatuto de esposa, mas também foram fraudadass de seus direitos maternos.
Casos semelhantes podem acontecer em casamentos mistos após o retorno das mulheres. "Uma mulher voltou da Itália com um bebê nos braços. Ela se casou com um italiano e teve um filho lá, mas o relacionamento não deu certo e eles decidiram que ela voltaria para Ukraina com o bebê. O marido não manteve com eles nenhum relacionamento durante dois anos. E, de repente, ela recebeu documentos do tribunal italiano, que seu ex-marido a privava de direitos parentais. Para ela isto foi uma grande surpresa, porque ele nunca escrevia, não mandava dinheiro, não ajudava, apesar de que a criança necessitou de vários tratamentos. E foi um grande choque porque nunca recebeu nenhuma chamada do tribunal, quaisquer explicação. Ela disse: Se ele quer ver a criança - por favor, venha, eu não proibo. A criança tem pai, e se ele quer visitar o filho - ótimo! É muito bom, mas não como ele quer: entregar-lhe o filho depois de, durante dois anos, ele nem querer saber do menino".
Claro, nem todos vão para fora do país individualmente. Existe a prática do casal, especialmente para execução de trabalhos caseiros. Como dizem os próprios trabalhadores, este é o único modo de salvar a família. Apesar de que as crianças não são aceitas, por isso, frequentemente, são deixadas sob a guarda de parentes ou vizinhos (e os adolescentes, em geral, sem nenhuma supervisão de adultos). E há casais que se atrevem levar também as crianças, que residem com seus pais que, por exemplo que trabalham na construção e, não frequentam escolas. No entanto, neste caso os pais não vêem problemas. "O atestado, quando voltarmos compraremos, e os filhos, provavelmente também vão viajar para o trabalho, a eles a escola não é necessária, diz uma migrante de Transcarpathia. (O atestado compraremos - veja o nível de corrupção e a que ponto de desesperança leva os cidadãos de seu país, o governo que trabalha apenas para seu próprio enriquecimento e de seus apaniguados! - OK).
Segundo os dados da OIM Ukraina (Organização Internacional para as Migrações - Ukraina) 56% dos ukrainianos vão ao exterior para receber melhores salários, padrões de vida mais elevada. E, às vezes isso leva à perda da família ou prejuízo irremediável ao futuro destino das crianças: abandonando seu país, nem todos se apercebem desta possibilidade.
Em geral,os sociólogos consideram que, em última análise, é exatamente esta situação que significativamente modificou a abordagem dos ukrainianos para a formação da família: cresceu a proporção de bebês nascidos fora do casamento (cada quinto filho - um número quase duas vezes maior do que no início da independência da Ukraina), e da idade em que as mulheres querem dar à luz, cada vez mais as famílias têm apenas um filho.

Tradução: Oksana Kowaltschuk
Foto formação: AOliynik

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