quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

NOVO DESAFIO DO KREMLIN

Novo desafio do Kremlin. Rússia de Putin tenta tirar vantagem do enfraquecimento da posição do Ocidente na Europa Central e Oriental
Tyzhden (Semana), 01.11.2012
Janusz Bugajski (1)

Durante o novo mandato presidencial de Vladimir Putin sua abordagem agressiva pela reintegração dos estados pós-soviéticos acompanhará a política insistente aos países da Europa Central e Oriental.
Graças à crise da zona do euro e reorientação de Washington à região Ásia-Pacífico, Moscou está conduzindo uma política ativa de interferência em assuntos internos de seus antigos satélites.

Velhos amigos e novos aliados

A Rússia quer expandir sua influência em duas principais regiões da Europa Central e Oriental incluindo os países bálticos e problemáticos Balcãs Ocidentais. Os políticos russos dirigem seus esforços principais para influenciar na aceitação de decisões políticas desses países através de uma combinação de pressão diplomática, dos contatos pessoais, profissionais, econômicos e "pão de mel" (quaisquer agrados: negociatas, empregos, etc). Alguns países da Europa Centro-Oriental também fornecem a Rússia um canal de penetração na UE e OTAN através da economia, política e serviço secreto.

As notificações regulares da Hungria, Eslovaquia, Bulgária e outros países da Europa Centro-Oriental mostram que antigas redes de "velhos amigos" continuam trabalhando - preferencialmente na base de finanças ou de laços pessoais de amizade, que de quaisquer crenças ideológicas ou políticas. Alguns partidos pós-comunistas, socialistas e social-democrátas nos países das regiões, nos quais concentram-se muitos antigos "camaradas", criaram oportunidades favoráveis para infiltração russa. Eslováquia e Bulgária são exemplos marcantes de países, onde os partidos da esquerda eram mais abertos às iniciativas de negócios russos.

No entanto, os governos de centro-direita, e políticos, também podem revelar-se suscetíveis aos avanços de Moscou, especialmente com vantagens para eles, através de arranjos energéticos e acordos como, por exemplo, a inclusão no projeto da construção do gasoduto "South Stream". Ou na República Checa o consórcio russo insistentemente faz lobby de seus interesses para vencer o concurso para construção de novos reatores de energia nuclear de Teleminsk, apesar de os observadores checos estarem extremamente preocupados com questões de segurança relacionadas com o envolvimento de Moscou neste projeto.
Simultâneamente membros da UE, que Bruxelas critica por quase autoritarismo, governantes como por exemplo primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, podem voltar-se para Rússia por apoio. Além disso os contratos comerciais favoráveis, doações para campanhas eleitorais e informações através da mídia, permitem a Moscou a possibilidade de influenciar a política doméstica e persuadir os principais atores políticos favoravelmente ao investimento empresarial russo e interesses estratégicos.

Na Bulgária Moscou tentou aumentar a sua influência flertando com a liderança do Partido Socialista, jogando com laços históricos supostamente estreitos entre os dois países e tentativa de atrair Sófia em uma série de projetos energéticos de grande escala. No entanto, o atual governo búlgaro liderado pelo primeiro ministro Boyko Borysov denunciou as tentativas de Kremlin em tentar dominar o setor de energia na Bulgária e retirou-se de vários acordos energéticos iniciados pelo governo socialista anterior. Agora Kremlin exige da Bilgária uma grande compensação financeira pela desistência do projeto da usina nuclear Belenska, construída pelas empresas russas.

Horizontes pós soviéticoos

Rússia não consegue aceitar a plena soberania dos Estados Bálticos, então procura marginalizar e isolar Estônia, Letônia e Lituânia. Para isso, ela emprega uma série de formas de pressão do arsenal de sua política externa. Todos os três estados estão na frente da luta para adesão da Ukraina e Geórgia à OTAN e pela transição de todas as ex-repúblicas soviéticas para a influência do Ocidente - curso ao qual, Moscou faz oposição.
A inesperada vitória da coalisão "Sonho georgiano", encabeçado por Bidzinoy Ivanishvili pode incentivar Moscou para tentar sua influência na Geórgia. No entanto Kremlin não se alegra muito com a transição pacífica em Tbilisi, uma vez que qualquer demonstração democrática bem sucedida na vizinhança da Rússia ameaça o modelo autoritário do governo.
Além disso, Putin continua ser adversário constante do presidente Saakashvili, que ainda tem um ano no cargo.
Kremlin quer ver em Tbilisi um governo que se recuse da obtenção da adesão a OTAN e também a pretensões de recuperação dos territórios da Abkhásia e Ossétia do Sul. No entanto, Ivanishvilli já disse que na prioridade da política externa permanece a integração ocidental. Interessante por quanto tempo.

Kremlin procura tirar proveito dos problemas políticos, étnicos, religiosos e sociais, a fim de derrubar do caminho cada um dos estados da região. Ele joga nas interrogações da minoria russa, para mostrar que os governos do Báltico são incapazes de seguir os padrões europeus dos direitos hamanos. Como na Ukraina, Moscou exige o direito de representar e proteger não só os russos como os falantes da língua russa com a finalidade de aumentar o número das chamadas vítimas da opressão. Em abril de 2007, Tallin acusou a Bilokamiana (Significa: bilo - branca, kamiana - de pedra. Nome atribuído ao complexo do Kremlin. Em 1365 o grande czar Dmytró Donskyi mandou trocar as paredes de madeira do Kremlin, por torres e paredes de pedra branca - OK) em incitar protestos e ataques cibernéticos a sites do governo da Estônia, em resposta à transferência do monumento ao soldado soviético para um cemitério militar. Este monumento ofendia os sentimentos nacionais da maioria dos estonianos, por causa de personificar a ocupação soviética após a Segunda Guerra Mundial.

Durante as eleições de setembro, na Letônia em 2011 Kremlin apoiou o partido étnico russo "Centro de Harmonia" na esperança que no governo ele poderia expandir a política desse país "de costas para Ocidente, de frente para Moscou". Mas o partido não foi incluído na coalizão governista. Ainda as organizações russas reuniram número suficiente de assinaturas para um referendo sobre a concessão do russo como segunda língua oficial. No entanto, este referendo fracassou: contra votou a maioria dos cidadãos da Letônia.
Na Lituânia, em 14,10.2012 em primeiro turno das eleições legislativas obtiveram vitória as forças pró-populistas russass - Partido Trabalhista do milionário Viktor Uspaskikh (19,8%), Partido Social Democrata (18,3%) e Ordem e Justiça do ex-presidente Rolandas Parsasa (7,9%) que criarão nova maioria no Parlamento e pressionarão o governo de direita de Andrius Kubilius

O trampolim dos Balcãs

Rússia também vê uma clara possibilidade de expandir sua influência aos Balcâs Ocidentais, especialmente quando UE sofre com a crise econômica e flutuações políticas, e quando as futuras perspectivas de alargamento da UE após a adesão prevista da Croácia em 2013 são, atualmente, incertas. Enquanto isso, permanece a interrogação sobre o alargamento da OTAN nos Balcâs Ocidentais após a inclusão de Montenegro, Macedônia em bloqueio, Servia na oposição, Herzegovina dividida e Kosovo não reconhecida. Ao mesmo tempo América transfere o máximo de atenção a outras regiões do mundo, e seu desinteresse pode enfraquecer a influência da OTAN na Europa.

Em contrapartida, Moscou procura aumentar o seu peso político, especialmente entre os países que não tem perspectivas imediatas de integração com a comunidade ocidental. Para isso ela usa três instrumentos principais: pressão diplomática, conflitos crescentes e dependência econômica.

Kremlin apóia abertamente Sérvia, especialmente na luta contra a independência de Kosovo, bloqueando a participação de Pristina (capital de Kosovo) nas principais instituições internacionais como ONU e OSCE. Servia continua o elemento mais esperançoso de Kremlin nesta região - não por causa de alguma fraternidade eslavo-ortodoxa, mas como resultado de cálculo político frio. Belgrado volta-se constantemente pelo apoio russo: ou pela preservação da integridade da Iugoslávia, criação de uma Grande Sérvia, ou para manutenção do controle sobre Kosovo. Por sua vez, Moscou usa a hostilidade da Sérvia à EUA e OTAN, para mostrar que Rússia continua a ser um fator chave na política continental e solução para os problemas internos europeus. Esta simbiose revelou-se vantajosa para ambas as capitais.

Kremlin vê Sérvia como um guia útil de seus interesses nos Balcãs e nos últimos anos aumentou sua presença ali. Ele quer que Sérvia permaneça fora da OTAN para não permitir a presença americana no país e, ao mesmo tempo fora da UE, para contornar suas rígidas normas legais de transparência dos negócios, que poderiam inibir as atividades sombrias das companhias russas. Em contrapartida Moscou propõe à Sérvia entrar para União Eurasiana - a pedra angular da política de Putin para restaurar a antiga União Soviética. A mídia da Sérvia informa que Rússia planeja a expansão da União Eurasiana até 2020 por conta dos países excluídos da UE. A União Eurasiana, de acordo com o plano, terá quatro centros: em São Petersburgo, Kyiv, Almaty (maior cidade de Cazaquistão) e Belgrado.

Em segundo lugar, no que diz respeito a escalada de conflitos, o reconhecimento internacional e limitado de Kosovo, deu possibilidade à FR criar a imagem de defensor do direito internacional e partidário de multilateralismo da soberania de Estado e integridade territorias. Ao mesmo tempo promove a tese da ameaça fundamentalista com a meta de criar unidades ortodoxas nos Balcãs Ocidentais, sob o patronato russo, para o qual deverão entrar Macedônia, Montenegro, Grécia e até Chipre, onde oligarcas russos relacionados com Kremlin encontraram um porto seguro para suas informais transações financeiras.

Moscou também mantem no centro da atenção a luta pela Bósnia e Herzegovina, apoiando líderes da Unidade Sérvia (República da Sérvia) em sua resistência ao governo central em Sarajevo. À Bósnia Moscou utiliza duas abordagens paralelas: política aberta, a qual reconhece sua integridade de Estado, e política oculta, a qual fortalece a relação com República da Sérvia. O reconhecimento da independência de duas regiões separatistas da Geórgia - Abkházia e Ossétia do Sul, Moscou reserva-se o reconhecimento da República Sérvia na Bósnia como um estado independente. Acredita-se que o governo russo apoia o presidente da República Sérvia Milorad Dodika e incentiva os sérvios manter a opção de independência. Finalizando o problema da divisão, Kremlin quer deixar Bósnia "congelada" ou paralizada, o que pode gerar problemas a longo prazo para Washington e Bruxelas.

Ao fazer oposição à política dos EUA em relação a Kosovo e Bósnia e Herzegovina, o governo russo protela disputas e mantém a incerteza da situação na região. Os russos esperam que a intervenção do Ocidente na reconciliação inter-étnica e criação de estado dissipa ou até acaba com a integração da região a OTAN e UE. Isto serviria como prova de Kremlin de que a OTAN não pode atuar como garantidor da segurança européia e necessita-se de uma nova estrutura continental de segurança, na qual Rússia desempenhará o papel principal. Como resultado, o conflito dá a Moscou meios políticos de pressão para alcançar suas ambições imperiais.

Forca energética

Terceira ferramenta do Kremlin - aumentar a dependência econômica através da utilização de recursos energéticos, empréstimos estatais e investimentos empresariais que permitam interferência política. Os planos para criação de grandes sistemas de transporte de energia entre o Mar Negro-Mar Adriático e Europa Central colocam os Balcãs no centro da estratégia sul-européia da Rússia. Moscou quer monopolizar o fluxo de gás e petróleo, que passará por esta região para Europa Ocidental. Os contatos de fornecimento e incentivos ao investimento fornecem acesso a intervenção na economia do país alvo, bem como as possibilidades de influência significativa sobre a sua política externa. O planejado gasoduto "South Stream" deve, de acordo com os cálculos de especialistas, colocar Sérvia e Bulgária no centro das ambições russas e não permitir a criação de uma rede de energia européia, que poderia conectar a Ásia Central, o sul do Cáucaso e Europa fora do controle russo.

O Gazprom russo detém o controle acionário da empresa petrolífera servia NIS, e Belgrado prontamente aceitará colocar o gasoduto ocidental "South Stream", através do qual Moscou busca eliminar o projeto ocidental "Nabucco". O gasoduto deve estender-se da Sérvia a Hungria, mas Rússia quer incluir a Croácia e Eslovênia. O início da construção está previsto para o final de 2012, com término para 2015, embora o sucesso do projeto esteja nublado com dúvidas sobre rotas, custos e fontes de gás.

A crise grega deu a Moscou mais uma oportunidade para intervir nos Balcãs. Se a Grécia sair da zona do euro e seu nível de vida cair drasticamente, isto será um sinal negativo para todos os candidatos dos Balcãs Ocidentais quanto a adesão à UE e fortalecerá a rejeição à expansão da União Européia. Tais acontecimentos tornariam toda a região mais vulnerável à penetração russa.
Moscou também pode alcançar a criação de uma base naval própria no Mediterrâneo, propondo finanças e investimentos para um caixa pobre da Grécia. Tais acordos, além de arrastar a região à armadilha da Rússia, serão testes decisivos dos EUA e OTAN das garantias de segurança do Sudeste-Leste da Europa.

(1)Janusz Bugajski - Membro sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA).

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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