segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

SAGA DE LAZARENKO - PARTE 3

Saga Americana de Lazarenko - Parte III
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 13.09.2012
Serhii Lyshchenko

Na prisão domiciliar a principal diferença foi a possibilidade de falar diretamente ao telefone, inclusive com seus irmãos e alguns deputados do partido "Comunidade" na Ukraina. Mais liberdade de receber os filhos e jovem esposa. O juiz também lhe permitia assistir a missa na véspera do Natal e Páscoa - ele frequentava a igreja ortodoxa russa St. Nicholas Cathedral.

Em 29.11.2003, satisfazendo em parte ao pedido do advogado, Lazarenko obteve permissão de sair do apartamento por duas horas nas segundas, quartas e sextas, devendo registrar por escrito estas saídas. E também poderia, das 16 às 17 horas, diariamente, praticar exercícios físicos no pátio dos fundos do apartamento.

Lazarenko - de volta à cadeia
Em 01.10.2008 o juiz ordenou o retorno de Lazarenko à prisão. Isto aconteceu devido provas colhidas pelo tribunal. Lazarenko não estava em conformidade com o regime: o guarda dormia dentro do carro e não registrava todas as visitas. Lazarenko recebeu telefonemas não autorizados e, principalmente, não efetuou o pagamento da fiança de 65 milhões de dólares.

Não adiantaram as queixas sobre problemas de saúde. A administradora de Saúde Penitenciária Federal, Louise Bezil declarou que Bureau of Prisions pode proporcionar-lhe assistência médica necessária.

Tymoshenko protege Lazarenko
Pavlo Lazarenko depois de sua fuga para os EUA em 1999 foi transformado em principal espantalho da política ukrainiana. Na verdade ele, tendo sido ocupante de um cargo importante, tinha estreitas relações com Kuchma.

No verão de 2003 dos EUA veio para Ukraina uma comissão para interrogarr as testemunhas ukrainianas. Veio a promotora Marta Bersh, o agente especial do FBI Brian Earl e os advogados de Lazarenko. As principais testemunhas a serem ouvidos era Yulia Tymoshenko e seu marido Oleksandr. Em seu interrogatório insistiu o Ministério Público dos EUA porque quase um terço das acusações relacionava-se às relações de Lazarenko com o casal Tymoshenko. Era com a assinatura de Oleksandr Tymoshenko que realizavam-se os pagamentos de offshore de Chipre Somoli Enterprises à empresa de Petró Kyrychenko, os quais este identificou no interrogatório do FBI como pagamento da parte dos rendimentos a Lazarenko, do negócio comum com Tymoshenko.
 
O investigador ukrainiano Oleg Ukrainets auxiliava os americanos. Oleksandr Tymoshenko foi convidado para interrogatório no dia 23.06.2003, e Yulia Tymoshenko no dia seguinte. Porém, no dia 23 compareceu Yulia, trazendo uma declaração de seu marido que não viria porque estava refugiado (escondido). No dia seguinte ela compareceu com seu advogado. Ela trouxe uma declaração por escrito, na qual, além de anunciar Lazarenko vítima de perseguição política, encontrou explicação original do porquê da transferência dos bancos da Suiça, Bahamas, EUA e Antigua de milhões de dólares.



Este era o esconderijo de Lazarenko para participação nas eleições a fim de eliminar a ditadura de Kuchma. Yulia Tymoshenko avisou que não iria testemunhar e citou o artigo 63 da Constituição, que isenta a pessoa a depor contra si mesma.
 
Família Kuchma ignora interrogatórios
No interesse dos advogados de Lazarenko de questionar testemunhas - ocupantes do governo ukrainiano, lia-se a transparência de sua estratégia de proteção: toda liderança ukrainiana sabia sobre as atividades de Lazarenko no interesse de seu bolso, mas fechava os olhos porque recebia parte desses subornos. E isto convinha a todos, inclusive ao presidente Kuchma, até que se tornou evidente o demasiadamente rápido enriquecimento de Lazarenko, que criava a possibilidade de afastar Kuchma nas próximas eleições de 1999.

A comissão americana esperava que na Ukraina funcionassem, pelo menos em parte, as regras civilizadas que não poderiam simplesmente ignorar a intimação ou questionamento. Mas, durante a permanência da comissão, no verão e outono de 2003, não compareceu nenhum dos altos funcionários aprovados pelo juiz Jenkins como testemunha da questão. Nem mesmo o presidente Kuchma, que foi incluído como testemunha de proteção. Ele enviou uma carta ao Departamento de Justiça dos EUA dizendo que não deporia no caso Lazarenko.
 
A proteção do prisioneiro da California queria explicações sobre uma reunião de janeiro de 1996 referente a reestruturação do mercado e fornecimento de gás; sobre as atividades de Lazarenko e suas conversas com o presidentee durante 1995-96. Também os advogados insistiram em questionar Olena Franchuk, filha do presidente, sobre relações de seu pai com Lazarenko. E ainda deveria testemunhar sobre os caros presentes que Lazarenko deu a ela e seus pais, inclusive o relógio Franck Muller de 42 mil dólares em 17.08.1997, já após a renúncia de Lazarenko do cargo de primeiro-ministro.

Os americanos também insistiram em questionar Igor Franchuk, primeiro genro de Leonid Kuchma (após o divórcio Olena casou-se com Viktor Pinchuk - uma das pessoas mais ricas da Ukraina - OK) para dar testemunho sobre como Kuchma ordenou transferir três navios do exército para empresa privada de Franchuk para desmantelamento e venda de peças como sucata. Nem Olena, nem Igor Franchuk responderam ao pedido de interrogatório dos americanos.
Igualmente não deu testemunho aos americanos Yevhen Marchuk, ministro da Defesa. Ele explicou que sua agenda já estava preenchida nos próximos dois meses. Seu testemunho seria extremamente interessante, visto que Petró Kyrychenko informou ao FBI que Lazarenko pagou a Marchuk 7 (sete) milhões de dólares pela inclusão da Tymoshenko no comércio de gás.
 
Outros convidados também não compareceram para depor: Ihor Bakay, ex-presidente do "Naftogaz"; Mykola Azarov, chefe da fiscalização no período em que Lazarenko foi primeiro-ministro; Viktor Pinchuk, genro do presidente Kuchma: Oleksandr Volkov, o qual Lazarenko culpou pela tentativa contra sua vida. Volkov encaminhou um atestado médico, mas os advogados descobriram que Volkov, sendo deputado, votou no Parlamento naquele dia. Com certeza, eles não sabiam que um deputado consegue votar por vários amigos ausentes. É a "votação ukrainiana!"
O governo americano não instituiu nenhuma sanção às pessoas que não compareceram para interrogatórios.
Lazarenko tinha problemas financeiros com Kuchma e sua amizade ficou enfraquecida porque algumas pessoas próximas ao presidente não aprovaram as ações. Quando Lazarenko deixou o ministério ele contou a Kyrychenko que devia US$ 50 milhões a Kuchma, mas não explicou a origem dessa dívida.
 
Enfim, essas confissões da principal testemunha na procuradoria americana não influenciaram o júri - eles consideraram Lazarenko culpado de todas as acusações que existiam na época do veredicto. Mas os episódios relacionados com UES (Sistemas de Energia Unificada da Ukraina - dos Tymoshenko) antes disso foram removidos da acusação final.
 
Tradução: Oksana Kowaltschuk

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