quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

GENOCÍDIO NA UCRÂNIA EM 1941 - Parte 2

Execuções de prisioneiros em junho e julho de 1941. Como foi.






Istorychna Pravda (Verdade histórica), 24.06.2011
Ihor Derevianyi

Tal não fizeram nem os poloneses em 1939, nem os nazistas em 1944. Milícia soviética fuzilava em massa - de pistolas automáticas, através de janelas para entrega de comida. Ou lançavam granadas para dentro da câmera. Algumas dessas câmeras foi preciso murar - e a exumação foi realizada no inverno.

Junho de 1941 é lembrado na Ukraina Ocidental não apenas pelo ataque da Alemanha nazista, também pela sangrenta justiça sumária, cometida por supostamente seu próprio estado pelas costas.

Trata-se, até agora, de inédito fenômeno, até na prática do Comissariado do Povo dos Assuntos Internos (NKVD) da URSS - execuções em massa de prisioneiros políticos nas prisões da Ukraina Ocidental durante o final de junho - início de julho de 1941.

"Verdade Histórica" traz três exemplos de tais assassinatos: nas prisões de Lviv, nas minas de sal de Salina e na prisão Lonstkoho. O texto de hoje é dedicado aos assassinatos em massa em Lviv.





Primeira página da lista de execuções da prisão Nº 3 de Zolochev. Claramente visíveis inscrições no documento - sentença da chefia de investigação da NKVD - Shumakov, da Província de Lviv e aplicações de sanções à execução da sentença pelo promotor da Província Kharitonov. Duas pessoas decidiram o destino de milhares... Arquivo do Centro de Pesquisa do Movimento de Libertação (CPML).

No exemplo de Lviv pode-se mostrar exatamente as atividades sangrentas dos "valorosos combatentes com a contra-revolução".

Em Lviv havia três prisões: Nº 1 - Lontskoho, Nº 2 - Zamarstynivska e Nº 4 - Bryhidky. A prisão Nº 3 ficava no Castelo de Zolochev, a 70km da cidade - e, para cá os prisioneiros eram enviados quando as prisões de Lviv estavam superlotadas (e sempre estavam superlotadas: na prisão Lontskoho, com o limite de 1500 pessoas havia 3.638 prisioneiros.
 



Parte esquerda do documento anterior. A legenda escrita com lápis vermelho, pela mão do investigador Shumakov: "Veredicto como fuzilar os inimigos da nação". E os sobrenomes - Barenleym?, Didukh, Krachkovskyi, Tsverlinh, Bondar, Mazurchak, Kotyk...

Nas prisões de Lviv em 22.06.1941 havia 5.424 prisioneiros. A maioria era acusada de delitos previstos no artigo 54 do Código Penal da República Socialista Soviética da Ukraina, isto é - atividade contrarrevolucionária.

"Processo 59". Em dezembro de 1940 os cidadãos de Lviv eram condenados porque eles eram - ukrainianos.

As medidas oficiais imediatas na solução do problema de superlotação das prisões tornaram-se as ordens Nº 2445/M do Comissário de Segurança de Estado Merkulov, de 23.06.1941 e a ordem do chefe da Administração das prisões da NKVD da URSS, capitão da Segurança do Estado Filippov, de 23.06.1941.






Lado direito do documento anterior. Legenda com tinta preta - permissão para execução - escrita com a mão do procurador Kharitonov, de Lviv: "Autorizo fuzilar como inimigos da nação".

O primeiro documento tratava da contagem urgente de todos os reclusos nas prisões e separação daqueles que estavam sujeitos à deportação aos campos de concentração do Gulag, e aqueles que deveriam ser necessariamente fuzilados (esta tarefa era confiada a autoridades locais da KGB).

O segundo documento referia sobre a evacuação dos prisioneiros e era acrescido do "Plano de evacuação", de acordo com o qual deviam ser deportados 5.000 prisioneiros de Lviv. Para isso foram alocados 204 vagões. De acordo com a instrução da NKVD da URSS, de 29.12.1939, um vagão comportava 30 pessoas. Assim que os vagões seriam suficientes para evacuar mais de 6.000 prisioneiros. No entanto, apenas 1.822, dos 5.000 planejados foram evacuados.



Petró V. Stashynskyi (1904-1941), natural da aldeia Borshchovychi, distrito Novo-Yaryshevskyi da Província de Lviv. Aprisionado em 09.10.1940. Membro da organização "Prosvita" (Instrução), organização "Força" e OUN (Organização dos Nacionalistas Ukrainianos). Acusado pelo artigo 54 do Código Penal da URSS. Fuzilado na prisão Nº1 - Lontskoho, em Lviv, 26.06.1941. Foto tirada antes da guerra, na Praça do Mercado em Lviv. Arquivo do CPML.

3.602 pessoas permaneceram nas prisões da cidade. E, aonde foram parar os trens - os documentos silenciam.

As execuções foram iniciadas em 22 de junho - foram fuzilados os condenados à morte. Por intermédio do relatório do superior do departamento prisional da NKVD da província de Lviv, Lerman, tornou-se conhecido que até o dia 24 de junho, nas prisões de Lviv e Zolochev foram fuziladas 2.072 pessoas.

26 de junho confirmam as listas de execução - mais 2.068 pessoas foram subordinadas à destruição. Elas foram mortas de 24 a 28 de junho.

 
 
Os cadáveres de prisioneiros executados na prisão Lontskoho, Lviv, 01.07.1941. Algumas câmeras os alemães precisaram cimentar para impedir epidemias. A exumação definitiva foi realizada em fevereiro de 1942, durante o forte inverno. Arquivo CPML.

Deste modo, na província de Lviv foram fuzilados 4.140 prisioneiros. No entanto, os cálculos não se ajustam: permaneceram nas prisões 3.602 pessoas, e fuzilavam mais. A resposta para esta pergunta vem do memorando de Lerman: havia afluxo de novos prisioneiros. Os documentos prisionais destas pessoas já não se formalizavam adequadamente. Na maioria dos casos, nem mesmo expunham acusações, mas com segurança os consideravam partícipes da OUN (Organização de Nacionalistas Ukrainianos, que era o exército insurgente - OK), espiões, sabotadores - isto é, pessoas que devem ser fuziladas.






Processo de exumação dos prisioneiros assassinados na prisão. 03.07.1941,cidade de Lviv. Para realização destes serviços os alemães reuniram, obrigatoriamente, os judeus locais. Arquivo CPML

Isto é apenas uma parte da trágica estatística dos feitos de Stalin. O verdadeiro quadro é revelado quando se olha para o mapa inteiro da Ukraina Ocidental - aproximadamente 24 mil fuzilados.

No início empregavam a prática usual da NKVD: individualmente em câmeras especiais, disparo na nuca. Com a aproximação do front e os planos ainda não executados - fuzilavam em massa: levavam os prisioneiros às câmeras no subsolo e pela portinha para recebimento do alimento atiravam com armas automáticas. A janelinha abria - e o prisioneiro, em vez do alimento para sustentar sua vida, via o meio de destruição... o último que via em sua vida.




Os habitantes de Lviv procuram, entre os fuzilados, seus parentes, no pátio da prisão Nº 1, em 03.07.1941. Arquivo CPML.

E, nos últimos dias jogavam - lançavam granadas às câmeras. Ou, abriam a porta da cela, os detentos saíam no corredor pensando que estariam sendo libertados e, neste momento eram baleados com armas automáticas. Os corpos eram levados pelos caminhõess e enterrados em lugares especiais que hoje, gradualmente, estão sendo abertos por arqueólogos.

No entanto, na véspera da chegada dos alemães, os chekistas, apressando-se, escondiam os mortos nos quintaiis e porões das prisões. Posteriormente as escavações dessas hecatombes tornaram-se material de propaganda nazista - certamente não por razões humanitárias.

Acontecia também a destruição dos prisioneiros evacuados nas províncias do centro-leste da Ukraina - nas prisões de trânsito de Uman, Kyiv e Kharkiv. Essas cidades foram os chamados pontos intermediários, onde misturavam-se os detentos para evitar revoltas e fugas em massa durante a deportação.

Separadamente merece lembrança a tragédia de Zalishchytska em Ternopil, quando usando raciocínio tático foi destruída a ponte ferroviária através do rio Dniester, e dos dois lados vieram dois trens com sete vagões (14 vagões com 50-70 prisioneiros). NKVD resolveu o problema rapidamente: encharcaram os vagões com combustível, incendiaram e jogaram no rio. As margens do Dniester aqui são muito altas e ingremes - ninguém sobreviveu.

Claro, a propaganda soviética "pendurou" todos esses crimes aos nazistas (como, de resto, os fuzilamentos dos prisioneiros do exército polonês) e, infelizmente, esses mitos andam assombrando até hoje.





Surpresa e pavor no rosto da moça de Lviv, que acabou de entrar no pátio da prisão. 03.07.1941. Lviv. Arquivo CPML.

A sociedade ocidental ukrainiana vevenciou o choque do que viveu. Pois tal não faziam os poloneses no início da Segunda Guerra em 1939 (então abriram as prisões e libertaram todos os prisioneiros políticos e até advertiam: movam-se inteiramente para o leste, porquanto na zona de pré-front os ex-prisioneiros podem ser fuzilados.

Posteriormente, em 1944 tal não fizeram os nazistas (a administração deixou vivos os prisioneiros dos campos de concentração antes da chegada dos Aliados). E, isto é terrível em sua absurdicidade, o assassinato em massa de aprisionados tornou-se um dos principais fatores de enraizamento das posições antissoviéticas de gerações contemporâneas e futuras.

Todos os anos a comunidade de Lviv vêm às prisões para homenagear as vítimas, e na antiga prisão Nº 1, Lontskoho, agora funciona museu-memorial de todas as vítimas de regimes de ocupação.


Sobre o autor:
Ihor Derevianyi
Historiador, pesquisador do Museu Nacional - Memorias de vítimas dos regimes de ocupação "Prisão Lontskoho".

Tradução: Oksana Kowaltschuk

Fotoformatação: A Oliynik

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