Pessoas da multidão: como
formava-se o homo sovieticus
Tyzhden (Semana),
07.12.2011
Serhii Hrabovskyi
O futuro brilhante do comunismo deveria
tornar-se uma consequência direta do terror em massa, denúncias, sauqes, atitude
desprezível à moral humana.
Futuro brilhante, felicidade e prosperidade de toda a humanidade -
para menos o Partido Bolchevique não estava de acordo e para esta meta do
programa conduzia as nações com mão de ferro. Ao mesmo tempo esse futuro
brilhante era para ser uma consequência direta do terror em massa, denúncias e
saques, atitude desprezível a toda moral humana e às "desnecessárias à revolução
do proletariado aquisições culturais".
A unidade dialética desses dois
princípios do bolchevismo com sucesso encarnava-se na prática. "Roube o
roubado!" - conclamava Vladimir Ulianov Lenin, e rapidamente, assim que acabaram
os "não degolados burqueses e kulaks", as massas partidárias gostosamente
iniciaram tirar as excessivas propriedades de seus próprios companheiros
bolcheviques. "A coersão proletária em todas as suas formas, começando pelos
fuzilamentos e finalizando com trabalho obrigatório, é um método de criação da
humanidade comunista, da humanidade material da era capitalista", - escrevia o
líder teórico Nikolai Bukharin. Não se completaram duas décadas, quando em
estrita conformidade com esta fórmula ele, a exemplo de milhões de outros, e sob
estrondosos aplausos de outros trabalhadores, foi conduzido ao subsolo para
fuzilamento. "Viver se tornou melhor, companheiros. Viver se tornou mais
divertido", - resumia Josef Stalin, e deu ordem à liderança da NKVD para
preparar-se ao Grande Expurgo no partido e no exército. O povo aprovou "as
atividades sabias do partido e do governo", os escritores exigiam "não
apiedar-se dos cachorros loucos", as crianças renunciavam aos pais, e esposas -
a maridos. Havia, é claro, exceções, mas elas desapareciam em campos de
concentração. "A compaixão rebaixa a pessoa", - ensinava grande sabedoria à
nação o grande escritor do proletariado Maxim Gorky. E com tanto sucesso ensinou
que, mesmo depois de quatro décadas após o Grande Expurgo, que em maioria das
testas inteligentes e iluminadas permaneceu o hábito de cruzar para outro lado,
durante um encontro casual na rua com alguém expulso do trabalho "politicamente
incerto" colega ou membro da família de preso político...
Mas o lado da
"unidade política da nação" tinha o seu reverso sombrio. A nomenclatura,
começando de escalões superiores e terminando nos inferiores, saqueava "a
propriedade nacional"; e nisto a nação apoiava amigavelmente. Na época de Stalin
- devido ao Holodomor, depois - pelo princípio, ainda mais tarde - para a
continua melhoria de sua prosperidade. Aos ladrões, que carregavam para casa
tudo o que era possível, das fábricas e kolkhozes, a gazeta "Pravda"
carinhosamente chamava "carregadores." Àqueles, que excessivamente se afundavam
além da conta, castigavam. Por exemplo, o secretário do Presidium do Soviete
Supremo da URSS Mikhail Heorhadze, de quem em novembro de 1982 confiscaram
valores no valor de seis bilhões de rublos. (Mas o qual depois do suicídio foi
enterrado no Cemitério Novodivychyi em Moscou e a questão não foi divulgada
porque recebia subornos conforme solução de questões, segundo "caso Leonid
Ilitch"). Então não é em vão que não poucas pessoas lamentam por aqueles tempos
de corrupção geral: "Os comunistas roubavam, mas também davam para
nós."
No entanto, não cabe colocar nos bolcheviques toda a culpa pela
excitação das piores qualidades humanas, animalização dos instintos de amplas
massas. Neste plano Lenin - Bukharin - Stalin e companhia foram fiéis seguidores
de dois barbudos fundamentais da "doutrina do proletariado".
"Reino da Liberdade" sobre fundamento de
terror
Mais de século e meio atrás, o jovem Karl Marx, apoiando-se em seus escritos na idéia de Hegel de necessidade histórica, definiu a teoria de justiça da sociedade universal que baseava-se na liberdade espiritual, prosperidade material, elevada cultura Mas, no caminho para o tal reino da liberdade (ou comunismo), de acordo com Marx, está o sistema capitalista, que naquele tempo já preponderava na Europa Ocidental. O principal fator que impede a possibilidade de organização de uma sociedade feliz, é a propriedade particular dominante, especialmente dos meios de produção, quando a maioria dos criadores das riquezas materiais e espirituais revelam-se por assim dizer, com nada a ver com a distribuição e uso deles, quando estes benefícios confrontam seus criadores. E é porque através de uma revolução violenta e sangrenta precisa destruir a propriedade privada, "expropriar os expropriadores", e deste modo passar para o reino da liberdade, onde se revelará, plenamente, a essência criadora humana. Além do mais, exatamente durante a revolução sangrenta a sociedade deve renovar-se e purificar-se. O portador dessas mudanças, única classe social "correta", é o proletariado industrial, a parte mais ignorante e oprimida da sociedade, que de acordo com a lógica dialética de Marxx é a herdeira de toda a cultura clássica da humanidade, sua filosofia, arte e tecnologia. Outras classes desapareceriam (de que maneira, Marx não detalha) no turbilhão da revolução.
Mais de século e meio atrás, o jovem Karl Marx, apoiando-se em seus escritos na idéia de Hegel de necessidade histórica, definiu a teoria de justiça da sociedade universal que baseava-se na liberdade espiritual, prosperidade material, elevada cultura Mas, no caminho para o tal reino da liberdade (ou comunismo), de acordo com Marx, está o sistema capitalista, que naquele tempo já preponderava na Europa Ocidental. O principal fator que impede a possibilidade de organização de uma sociedade feliz, é a propriedade particular dominante, especialmente dos meios de produção, quando a maioria dos criadores das riquezas materiais e espirituais revelam-se por assim dizer, com nada a ver com a distribuição e uso deles, quando estes benefícios confrontam seus criadores. E é porque através de uma revolução violenta e sangrenta precisa destruir a propriedade privada, "expropriar os expropriadores", e deste modo passar para o reino da liberdade, onde se revelará, plenamente, a essência criadora humana. Além do mais, exatamente durante a revolução sangrenta a sociedade deve renovar-se e purificar-se. O portador dessas mudanças, única classe social "correta", é o proletariado industrial, a parte mais ignorante e oprimida da sociedade, que de acordo com a lógica dialética de Marxx é a herdeira de toda a cultura clássica da humanidade, sua filosofia, arte e tecnologia. Outras classes desapareceriam (de que maneira, Marx não detalha) no turbilhão da revolução.
Muitos detalhes concretos e
interessantes de tais mudanças estão contidos em minuciosos extraídos com alter
ego de Marx, de Friedrich Engels, "Princípios do Comunismo", que se tornou a
base para elaboração do bem conhecido "Manifesto do Partido Comunista" - até ao
terror político e criação de Campos de concentração" (lugares especiais sob
guarda"). O objetivo de todas essas ações é denominado com muita clareza:
"Concentrar nas mãos do Estado todo capital, toda a agricultura, toda a
indústria, todos os transportes e todas as trocas." E essa concentração é o
totalitarismo em sua forma concluída. Portanto os marxistas russos foram, neste
sentido discípulos fiéis e coerentes de Marx e Engels.
Eram eles
alunos também de outras questões. Engels amplamente utilizava a concepção de
nações contarrevolucionárias. Editada por Marx "New Rheinische Zeituyng" ele
escreveu: "Entre todas as nações grandes e pequenas da Áustria, somente três
eram portadoras de progresso, ativamente influenciavam na história e até agora
conservaram a vitalidade: são os alemães, poloneses e hungaros. Por isso agora
eles são revolucionários. A todas as outras grandes e pequenads nacionalidades e
povos pertence, no próximo futuro, morrer na tempestade da revolução mundial.
Por isso eles agora são contrarrevolucionários".
Então não eram apenas
burgueses que deviam desaparecer no turbilhão revolucionário...
Em
outras palavras, a ideologia totalitária do comunismo já nos seus primórdios
incluía o terror como atributo social contra classes hostis, e terror étnico
contra nações contrarrevolucionárias. Estes componentes no liame dos
bolcheviques os levaram a um estado de perfeição e incorporação na prática
social em todo o território controlado. E, será possível o terror em massa,
assassinatos sem julgamento e confisco das propriedades (desde fábricas até
calças e galochas) de dezenas de milhões de pessoas, além de aproveitar e
inflamar os institnos mais brutais de amplas massas? Além da conversão dos
"expropriadores"os quais, talvez, iniciaram suas ações com pensamentos
ideológicos) em ladrões banais, que entregaram sua mente, honra e consciência
para plena disposição do comitê central do partido.
O curso dos
acontecimentos históricos brindou os experimentadores sociais, ajudando-os no
principal - na alteração da natureza do homem massa.
Centenário da
Multidão
Quando Karl Marx escrevia sobre as ações dos
proletários de todos os países e sua união, ele pensava com categoria
especulativa hegeliana. No entanto, no século XX o coletivo social e o sujeito
nacional torna-se uma realidade empírica. A informação necessária para sua
atividade vivencial, começou circular "dentro" dele com auxílio de meios
técnicos, praticamente instantaneamente. Espalhadas no espaço as massas humanas
começaram operar em sincronia no tempo, relacionava-se isso com a ofensiva no
front, manifestações de partidos políticos de oposição, auditório engolindo
espetáculos "diante do microfone" com a participação de famosos atores ou
produtivos ciclos das cadeias de produção. Não foi casualmente que na noite de
24 para 25.10.1917 Vladimir Ulianov Lenin exigia dos participantes da
reviravolta primeiramente dominar "correios, telégrafos, telefone" e a mais
poderosa na Rússia rádio estação de Tsarskoye Selo. Sem esses recursos (de cujos
valores não tinham consciência nem os democratas nem conservadores) a potência
total do governo seria impossível. Como a propaganda contínua na qual deveria
apoiar-se este governo mediante domínio simultâneo de influência ideológica de
qualquer número de massas (precisava apenas estender as linhas telegráficas à
região desejada e deixar lá as instalações, o que fizeram na URSS um pouco mais
tarde colocando nas ruas e apartamentos "pratos" reprodutores, de cujo som
esconder-se era impossível.
Complexos gigantes industriais e
megalópoles, onde se concentravam milhões de pessoas que viviam no mesmo rítmo,
contribuíram aos processos de massificação e unificação do meio não apenas dos
funcionários, como do gerenciamento.
A Primeira Guerra Mundial que
começou em 1914, assinalou prejuízo de vida individual, devido à criação e
introdução à ação de modos de destruição em massa, surgimento de onipotentes
órgãos políticos de repressão e dos meios de comunicação facilmente usados como
meios de propaganda para massas. Desmoronaram os tabus culturais presentes até
então para autodefesa de ações humanas, normas morais, percepções sobre o valor
de vida, dos outros e sua. Significação, parece, adquiriram somente ações
coletivas de classe e nacionais, unidas com auxílio de comunicações e
multiplicados pela técnica. Renúncia de próprias aspirações, seus bloqueios,
afastamento ao subconsciente para "dissolver-se" na entidade coletiva,
tornaram-se normas sócio-culturais para muitas nações, que por várias razões
encontraram-se no limite da catástrofe nacional. Impossibilidade de ser a
própria pessoa na situação de turbolência total conduziu à sacramental "fuga da
realidade" (Erich Fromm). Real tornou-se apenas o que se associava com o curso
de ações da "grande entidade coletiva", que no nível empírico sobressaía com o
aspecto de maiores ou menores multidões.
E então, a sua ideologia Lenin,
Trotsky e Stalin (e mais tarde os socialistas antimarxistas da espécie de
Mussolini e Hitler com Goebbels sustentaram recomendações práticas para
manipulação de multidões traçadas pelo pensador francês Gustave Le Bon. Seu
livro "Psicologia de Nações e Massas", sublinhado e com cantos de páginas
dobradas, encontrava-se sobre as mesas de todos os líderes totalitários acima,
servindo-lhes um roteiro peculiar para o futuro.
Interessante. Le Bon
foi um adversário ferrenho do socialismo, em qualquer de sua variedade, mas sem
ele as experiências totalitárias socialistas, provavelmentee seriam improváveis
de sucesso.
Marx, realizado
segundo Le Bon Explorando o fenômeno da multidão, Le Bon
concluiu que, sob determinadas condições o conjunto de indivíduos,
independentemente de sua nacionalidade, profissão ou gênero recebe novas
qualidades, substancialmente diferentes daquelas que caracterizam os
participantes individuais desta reunião. "A personalidade consciente desaparece,
sendo que os sentimentos e idéias de todas as unidades, que compõem o todo da
multidão, obtem uma direção. Forma-se uma alma coletiva, que tem, naturalmente,
caráter temporário, porém determinadas características". O que, de fato, é
necessário àqueles que buscam mudar o mundo segundo seus
interesses.
"Principais propriedades da multidão: assassinato
(impunidade), contágio (difusão de idéias), sugestibilidade (você pode até ser
obrigado ver o que não existe), desejo de implementar suas idéias,
imediatamente, à vida. A psicologia da multidão parece psicologia de selvagens,
mulheres e crianças: impulsividadee, irritabilidade, incapacidade de raciocínio,
ausência de reflexão crítica, sensibilidade exagerada. O seu comportamento é
instável, porquanto reage a impulsos. Estão ausentes as dúvidas..."
E,
ainda algumas conclusões de Le Bon, distinguidos por Lênin e Stalin:
"O
indivíduo na multidão acumula, somente graças à quantidade, noção de sua força
maior, e esta consciência lhe permite a possibilidade de entregar-se a
instintos, aos quais nunca daria liberdade quando age individualmente. Na
multidão ele é menos inclinado a domar esses instintos, porque a multidão é
anônima e não é responsável por nada. O sentimento da responsabilidade, que
sempre restringe os indivíduos isolados, desaparece completamente na
multidão."
" O indivíduo, depois de passar algumas horas entre a
multidão, ou sob a influência de correntes que emanam dela, ou por qualquer
outro motivo não conhecido exatamente, vem rapidamentee a tal estado que lembra
muito um sujeito hipnotizado. Essa entidade em consequência da paralisia de sua
consciente vida cerebral torna-se escravo de atividade inconsciente de sua
espinha dorsal, cujo hipnotizador dirige de acordo com suas preferências. A
personalidade conscientee no hipnotizado desaparece totalmentee, assim como a
vontade e a inteligência, e todos os sentimentos e pensamentos são dirigidas
pela vontade do hipnotizador".
Tornando-se parte de uma multidão
organizada, a pessoa desce diversas posições na escada da civilização. Isolada,
ela, possivelmente, continuaria culta, educada; na multidão torna-se bárbara,
age por instinto. Ela apresenta tendências para tirania, violência, fúria, mas
também o entusiasmo e o heroísmo, inerentes ao homem primitivo, semelhança com a
qual reforça-se pelo fato de que na multidão, ela, extremamente fácil submete-se
a palavras e imaginações que não teriam nela, isolada, nenhuma influência, e
executa ações que claramente contrariam seus interesses e hábitos. Indivíduo na
multidão - é um grão de areia entre incontáveis outros grãos, levantados e
levados pelo vento.
A história do século XX, aos nossos olhos,
demonstrou a validade dessas conclusões.
Certamente, a multidão (e em
habilidoso uso de comunicação e quebra de tabus sociais e culturais em
consequências de grandiosos cataclismas, nações inteiras transformam-se no
sistema de multidões capazes não somente para ações amorais e destrutivas, mas
também heróicas e nobres. Mas as últimas não dependem tanto da disposição
interna da multidão, como de uma hábil manipulação dela. Afinal, segundo Le Bon,
"o juizo da multidão sempre lhe é imposto e nunca são resultado de ampla
discussão." E, visto que "sejam quais forem as idéias impostas à multidão, elas
podem se tornar dominantes apenas sob as condições de forma o mais categorica e
o mais simples" porque "os crimes da multidão são sempre provocados por
poderosas sugestões. E os indivíduoss, que participaram de suas realizações,
estão convencidos que apenas cumpriram com sua obrigação", e inicialmente
prometida pelos líderes como resultado disto "a grande vitória, grande milagre,
grande esperança", então é claro, Lenin, Trotsky, Bukharin ou Stalin eram a
priori muito mais inteligentes e próximos com as massas no pós-imperial
território nos anos 1917-1921, que quaisquer indolentes intelectuais ou
ilustrados generais.
Continuando, o sistema stalinista de terror e
propaganda combinados, acrescentava todos os esforços, para que as multidões não
se tornassem nações mas, manipulados pelo governo, indivíduos - indivíduos
auto-suficientes. É claro que Marx, com seus alvos iniciais (com todas as suas
contradições e esquisitices) e principalmente enredos parlamentares, foi
empurrado para trigésimo plano, e dominantes, afinal de contas, prevaleceram os
slogans tradicionaiis dos "Centurias Negras" dos tempos do Império Russo, mal
veladas com bandeiras vermelhas. E o que é interessantee, o que não inclui Le
Bon: a permanência da população da URSS em constante proximidade vivencial
conduziu a que novas gerações trouxessem inatas as piores características de
"pessoas da multidão".
O que teve influência negativa quando apareceu a
possibilidade de liberdade.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
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