sábado, 19 de janeiro de 2013

SINDROME DO KOMSOMOLETS

Por que Ukraina ainda sofre da "sindrome do komsomolets".

Tyzhden (Semana), 02.01.2013

Em 21 anos Ukraina não conseguiu formar uma classe de elite que seria responsável e consciente da criação do Estado Nacional, desenvolvimento democrático, reformas direcionadas para superação do legado totalitário do passado, dessovietização de todas as esferas da vida pública e aproximação do país aos padrões europeus.

 

Em grande medida, esta situação está condicionada ao fato de que em quase todos os níveis da sociedade ainda há pessoas remanescentes da então nomenclatura comunista, bem como um contingente considerável de seus alunos - os antigos ativistas do Komsomol. E, se com os "partocratas" (depreciativo dos dirigentes partidários do Partido Comunista da União Soviética -OK) a situação é mais ou menos compreensível (muitos deles a bom tempo estão no lixo da história, embora alguns ainda à tona), então em relação aos "jovens lobos" da nomenclatura existem certos estereótipos e ilusões. Bem, eles dizem, no Komsomol, durante a era soviética havia grande parte da juventude atual, e muitos dos atuais mandatários atribuem a esta organização o "indicador à vida".

A tradição neokomsomolska inibe significativamente o aparecimento de uma elite genuína na Ukraina e impede o seu movimento para frente. O problema aqui não está nas organizações existentes do Komsomol junto ao PCU (Partido Comunista da Ukraina), mas na "síndrome do komsomolets" (komsomolets - aquele que pertence ao Komsomol), que está totalmente presente na sociedade ukrainiana. E trata-se não apenas dos antigos membros ordinários do RLKSM (União Leninista Russa da Juventude Comunista), os quais em seu tempo voluntariamente-obrigatoriamente aderiam à imposta pelo partido, forma de movimento juvenil, quanto por assim chamado - ativo do Komsomol - sua parte mais enérgica e empreendedora. Exatamente seus representantes durante a desintegração da União Soviética revelam-se os mais dispostos a se adaptar à nova realidade capitalista, tendo um considerável capital financeiro e social (relações no topo, acesso aos melhores lugares de empreendedorismo, etc.).

A abrupta mudança de crenças ideológicas dessas pessoas condicionada, antes de tudo, ciosamente às qualidades acalentadas no Komsomol - inescrupolisidade, niilismo, inclinação maníaca ao carreirismo, avanço de degraus aos cargos partidários, acomodação, bajulação, demagogia, profanação, imoralidade, etc. Em grande medida, a maioria dessas "virtudes" tornou-se dominante no ambiente do Komsomol (especialmente entre a elite dirigente "forja de quadros") no estágio de crise de seu desenvolvimento, que aconteceu nos anos estagnados de 1970 - 1980. Nestes anos a atividade do Komsomol na luta para "encarnação à vida do grande programa de construção do comunismo" tornou-se uma grande escala de profanação, imitação, que tinha muito pouco a ver com a realidade. Moral dupla e prontidão para pregar tudo - desde a luta com o apodrecido Ocidente e fortalecimento da disciplina no trabalho à reconstrução e aceleração - em condições de colapso do "sovok" (pessoa soviética mutilada espiritualmente com o sistema totalitário - OK) contribuiu para uma viragem violenta de ativistas do Komsomol de seguidores do "grande" Lenin à prática do capitalismo selvagem e democracia imaginária. Nas novas circunstâncias eles, com a mesma energia e zelo, como pelo "socialismo desenvolvido", começaram divulgar, agora, sobre valores liberais e patrióticos, não tendo, na verdade, nada comum com eles. Os jovens leninistas antes dos demais ocuparam posições de liderança em todas as posições e níveis do nosso governo e sociedade - de política e negócios à cultura, mídia, esportes e sociedade civil. Eles estão presentes em todos os lugares: no governo, na oposição, organizações não-governamentais, mídia, show bisnes, ciência, literatura, arte, etc.

Os provenientes do Komsomol, de maneira fácil e indolor encaixaram-se no modelo oligárquico do governo e economia que se desenvolveu ao longo dos anos da independência na Ukraina, e até foram seus ativos criadores tornando-se, imediatamente após o colapso da URSS proprietários de empresas, bancos, etc. Ao lado de sua mudança de cor e transição para um novo estado de conforto do enriquecimento não controlado e acumulação de capital, eles não permitiram que a alma deixasse de ser de um verdadeiro "komsomolets". Essas pessoas sempre se esforçaram para permanecer nas mais importantes posições e configurações de relações governamentais e políticas, assegurando com isso a antiescolha pública bloqueando canais sociais para formação de uma elite genuína. Enquanto isso na Ukraina já se formaram os herdeiros espirituais do Komsomol, que não tinham experiência de pertinência nele, mas adotaram com sucesso os costumes e hábitos da última geração dos "leninivtsi" e tornaram-se não menos carreiristas, oportunistas e profanadores que seus antecessores.

Finalmente, a evidência da capacidade da sobrevivência da tradição do Komsomol nas condições ukrainianas pode ser a aceitação periódica pelo Parlamento nas comemorações de suas datas comemorativas, pelas quais votam políticos das forças pró-russas, e também do campo democrático-nacional, mostrando desta forma a sua nostalgia dos anos da juventude. Particularmente interessante votação unânime observou-se em 2009, quando pela resolução da comemoração de 90 anos da organização do Komsomol na Ukraina votaram os representantes do Partido Comunista, Partido das Regiões, Bloco do Lytvyn em plena constituição e um terço do BYT (Bloco Yulia Tymoshenko).

As estruturas juvenis de alguns partidos políticos na Ukraina (para não mencionar o PCU (Partido Comunista da Ukraina) em que atua a restaurada União Leninista Russa da Juventude Comunista, especialmente a "geração mais jovem" do Partido das Regiões - "Jovens Regionais", pelo seu caráter, retórica e forma de trabalho repercutem as melhores tradições do Komsomol. Por exemplo, como, segundo palavras de Lenin, soam as palavras de um dos ativistas propagadores Yaroslav Honcharov por ocasião da última campanha eleitoral:
"O governo prometeu assegurar a honestidade e a transparência do processo eleitoral - o governo cumpriu sua promessa".

"Semana" tentou examinar o fenômeno Komsomol em uma dimensão histórica e caracterizar o legado que ele deixou para Ukraina atual. Desde a sua criação Komsomol era apenas uma das construções da ditadura do Partido Comunista, desempenhando papel de cão na coleira". Os bolcheviques ativamente o usavam tanto para controle de massas de jovens, como para execução de tarefas concretas: desde a educação da juventude, a agitação - propagandista, trabalho defensivo e apoio às funções administrativas. Seu estatuto, papel e tarefas na URSS correspondiam a estruturas análogas de regimes totalitários: hitlerista na Alemanha nazista, organização fascista de juventude "Balila" na Itália, Guardas Vermelhos e rebeldes na China maoísta.

Komsomol como parte integrante do regime totalitário foi partícipe de todas as suas páginas negras: repressões, terror, coletivização forçada, expropriações de bens e alimentos, Holodomor, estímulo ao culto da personalidade de Stalin, luta contra os dissidentes. Cumprindo a função da educação de jovens no espírito comunista das gerações posteriores, ele abastecia o regime comunista de gerações posteriores. Nesta continua tradição de formação do partido, quando os mais velhos totalmente controlavam os jovens, manifestações abertas de conflitos entre gerações como um pré-requisito de qualquer progresso social não podia haver. Finalmente, no período de crise sistêmica do modelo do governo soviético em relação ao Komsomol claramente refletiam-se fenômenos negativos, inicialmente nele introduzidos. Ele finalmente transforma-se em escola de carreirismo, oportunismo, niilismo e profanação. Durante a transição do país do socialismo à democracia e à economia de mercado os ativistas do Komsomol, contrários aos preceitos de Lenin, foram os primeiros que acumularam capital, e agora tentam aumentá-lo, acrescentando e multiplicando e, ao mesmo tempo brincam de governantes do povo. Para superar o legado do "sovok" (pessoa soviética mutilada espiritualmente com o sistema totalitário), os ukrainianos precisam se livrar da "síndrome do Komsomolets" e limpar a elite nacional de oportunistas e profanadores.


Tradução: Oksana Kowaltschuk
Fotoformatação: AOliynik

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