quarta-feira, 30 de outubro de 2013

CRISE NA ECONOMIA UCRANIANA

Os empresários já sentem a aproximação da crise.

Ukrainskyi Tyzhden (Semana Ukrainiana), 2013
Marharyta Ormonadze

O humor dos empresários ukrainianos eloquentemente testemunha sobre as tendências de crise crescente na economia.

 

"Se os jornalistas escrevem, que este ativo pertence a mim e que eu minimizo os impostos, amanhã virá a polícia fiscal e, simplesmente tirarão de mim o meu negócio. Mas agora todos trabalham assim, todo país" - disse em conversa com o correspondente da "Semana", o Sr. Serhii, co-proprietário de uma das maiores empresas comerciais de Kyiv.

Empresários, com os quais conversou "Semana", admitiram que a máquina estatal ukrainiana nunca foi leal aos negócios de não oligarcas, mas as características repressivas e agressivas em favor dos "escolhidos" especialmente se fizeram sentir depois da chegada ao poder do Partido das Regiões. Forma-se a impressão, que os negócios não relacionados com os representantes do governo, agora foram tomados pela posição de alienação mental que se manifesta, frequentemente, pela estagnação. "Evoluir? E para quê? Pois amanhã, alguém do governo notará o meu sucesso e eu o perco. Na melhor das hipóteses receberei um pagamento simbólico, "compensação" simbólica por anos de dedicação na construção de uma próspera empresa. Tais exemplos eu  posso lhe contar centenas", - diz o senhor Serhii.

Durante os três anos de existência de acordo com o princípio "minha casa é ao lado" os representantes do segmento mais ativo da sociedade ukrainiana, a chamada classe média, observava como apoderavam-se dos ativos de seus colegas, concorrentes, parceiros, e aumentava-se a carga tributária. No entanto, até agora, não se atreveram à união para proteção de interesses comuns. O propósito em praça pública aconteceu no longínquo 2010... Como consequência - o declínio da atividade empresarial. Em particular, as agências de recursos humanos constatam aumento de procura, o que significa demissões em massa, especialmente nas empresas de fabricação. Assim, recentemente, sobre os planos de dispensa de 500 trabalhadores anunciou a direção da empresa de construção de vagões Krukov, um dos maiores construtores ukrainianos de vagões ferroviários. De acordo com os dados do portal internacional HeadHunter, em comparação com o primeiro semestre de 2011, a tendência positiva de vagas caiu quase pela metade. Segundo Uliana Khodorkovska, chefe do centro de pesquisa do portal HeadHunter, a tendência principal é a redução de salários: "As empresas incluídas na fase de otimização - em vez de trabalhadores altamente qualificados contratam iniciantes, que exigem salários muito menores". Com isso observa-se o declínio das vagas de trabalho na indústria, e as novas geralmente referem-se às empresas comerciais.

No entanto, os especialistas em falência dizem que durante o último ano as falências aumentaram várias vezes, e as fictícias são poucas. Ilustrativa é a redução significativa da atividade empresarial em Kyiv, onde em algumas ruas quase simultaneamente fecharam várias empresas de diferentes tamanhos. Como na rua Chervonopilska onde, em alguns meses fecharam as portas um café, um salão de beleza, um centro de fitness e uma loja.

Administração de compadres

"Semana" comunicou-se com os representantes de negócios de diferentes escalas e encontrou tês principais tendências que hoje formam as condições para o desenvolvimento do empreendedorismo. Primeiro - reforço na camaradagem em geral, e fortalecimento da centralização através da influência administrativa. À corrupção e constantes extorsões aos empresários não se acostumar. Mas a questão que a 4 - 7 anos atrás ainda era possível resolver com auxílio de presentear o funcionário, a partir de 2010, em muitos casos, não se resolve apenas com suborno. O aparato fiscal por muitas vezes reforçou a sua má vontade em executar a sua função primária - a administração pública eficiente. "Problema da degradação, negligência sistêmica generalizada e a irresponsabilidade daqueles que agem em nome do Estado. No país há, cada vez menos senso comum e tudo isto lembra uma farsa" - constata Valentin Kalashnyk, diretor de marketing da OS-Direct.


Segundo avaliações dos especialistas da "Semana", que trabalham com as comunidades e empresas, as atividades tranquilas têm apenas aqueles que têm relações familiares ou de compadrio com as autoridades locais. Em troca, são muitos os que restringiram ou venderam total ou parcialmente seus negócios aos "reizinhos" locais. Deste modo, o princípio do feudalismo floresceu em todos os sentidos - do pequeno, no nível do compadrio, ao grande, no nível da monopolização de setores-chave. Isso se refere à incorporação de empresas já existentes ao mecanismo familiar-oligárquico construído pelo governo. "O país chegou ao assim chamado coletivismo burocrático em que os lucros são distribuídos entre a burocracia partidária, quando é exatamente ela que gerencia a economia e o estado", - diz o especialista em consultoria de gestão Margarita Chernenko. Significativo, que de acordo com o relatório analítico do Banco Nacional da Ukraina quanto a análise de negócios de empresas ukrainianas "os mais otimistas permaneceram como representantes de grandes empresas envolvidas nas operações de exportação e importação, e aqueles onde a participação da porcentagem no capital estatutário é maior a 25%".

Máquina do medo 

Segunda tendência - o medo constante perante autoridades constituídas. Para se adaptar ao modelo econômico, que construiu-se no território pós-soviético, a maioria dos ukrainianos conscientemente assume desvios, ao contrário não sobrevive: alguns pagam o salário em envelopes*, outros contabilizam duplamente, etc. Um dos fatores chave de negócios bem sucedidos manteve a a possibilidade de ter um "teto" com correspondentes custos para ele. Mas a partir de 2010 (governo Yanukovych) muitos empresários foram colocados na situação em que, ou se encaixavam no sistema de relações do poder, ou acabariam entregando seus bens aos representantes do poder, por uma ninharia. Muitos daqueles, cuja atividade já sofria devido a crise econômica, aceitaram a segunda proposição. "Ao empresário é importante a crença otimista no futuro do seu negócio. Agora isto não existe. Existe uma crença persistente: no momento em que você criar um recurso valioso, ele poderá ser subtraído. Independentemente da escala, tamanho. Primeiro é preciso se preocupar com a proteção e preservação, sobre sua integração ao modelo, onde as regras formais são ignoradas, e as informais constantemente mudam", - declara Valentin Kalashnyk. 

Para consolidar a compreensão, de quem no país é o "senhor", durante os últimos anos em todas as regiões foram organizadas demonstrações de execuções, quando o negócio tiravam totalmente ou em parte. No entanto, poucos se atreveram declarar o ataque ou o surgimento de um novo proprietário ou coproprietário! Publicamente a situação foi apresentada como inspeção programada ou não programada. Por exemplo, funcionários do fisco presentes, mas nada mudou. "A empresa opera como de costume" - tais respostas evasivas recebia "Semana" às suas indagações das companhias que advertiam sobre a possível apreensão de fiscais ou do UBEZ (Escritório de Combate ao Crime Econômico). Por exemplo, no final de 2011 os problemas com a alfândega e impostos surgiram com o proprietário da rede de lojas infantis "Antoshka" Vladislav Burda. No entanto, em dezembro daquele ano o empresário declarou que resolver todos os problemas lhe ajudou o próximo  da "Família" ("Família" são os empresários e políticos que apoiam Yanukovych em todos os seus assuntos, e com ele enriquecem - OK) Yuri Ivaniushchenko, atual deputado do Partido das Regiões. Em 2012 - 2013 as forças de segurança tomavam as principais sedes de muitas empresas conhecidas, com a TMM, internet - loja "Rozytka" e "Sokil". Muitos empresários, cujos negócios na verdade não eram irrepreensíveis e não conseguiram encontrar uma linguagem comum com o governo, foram parar atrás das grades. Em particular , o proprietário do ERDE BANK, Companhia de Seguros "Bem Estar", "Business-Rádio", etc. Ruslan Demchak encontrou-se na prisão sob as acusações de fraudes financeiras. Isto aconteceu na véspera das eleições parlamentares de 2012, às quais ele concorria como candidato independente na região onde o seu oponente principal era o comunista Gregório Kaletnik, que tem laços estreitos com os mais altos escalões do poder. E, apesar de que o próprio empresário já está em liberdade, o ERDE BANK atualmente encontra-se em liquidação, e na maioria de suas empresas, de acordo com a informação da "Semana" mudaram os proprietários, embora isto não foi notificado oficialmente. Sim, é ilustrativo o fato que nos meios de comunicação mais propaganda dos comunistas está sendo transmitida, exatamente na frequência do "Business Radio".

Muitos empresários foram forçados deixar o país devido a pressão direta, política ou empresarial: proprietário da companhia ProstoPrint Denys Oleinykov, concorrente do candidato governista Tetiana Zasukha na problemática região 94, Viktor Romaniuk, proprietário da fábrica "Stalkanat-Sylur", Volodymyr Nemerovskyi e o empresário de Luhansk Ihor Liski, que encabeçavam os centros regionais do partido "Frente de Mudanças" (oposição) durante a campanha eleitoral de 2012. Nas empresas que se ocupam com planejamento offshore argumentam que os empresários ukrainianos tornaram-se mais propensos em pedir para ajudá-los conseguir a certidão de residência.

"A máquina do medo", parece que age não somente no nível de ameaças: o assassinato de empresários e representantes do governo, que de um ou outro modo têm relações com negócios, pela sua frequência e crueldade lembra os anos de 1990.

Incerteza

A terceira tendência, que forma as atuais condições da condução empresarial na Ukraina é que, mesmo na situação de estabelecimento de ditadura centralizada os proprietários de ativos não tem certeza, que dentro de algum tempo, no país, não aconteça divisão do partido do poder, ou uma nova mudança de governo, a qual arraste consigo redistribuição da propriedade.

Obviamente, nessas condições a qualquer empresário surge a interrogação se é oportuna a criação de ativos eficazes. "O futuro não está em foco. Ir para um país estrangeiro ou continuar a luta em seu país natal - tais pensamentos agora estão na cabeça da maioria daqueles, que no mundo todo são estimados como "motores sociais". Muitos optam por um caminho alternativo - temporariamente, por alguns anos "ficar no fundo": obter uma formação adicional, começar a ensinar para não perder-se mentalmente, preservar e aumentar seu próprio valor", - diz Valyntyn Kalashnyk.

Os sentimentos industriais existentes já afetam a sua competitividade - economia no nível macro. "Na experiência profissional, em primeiro lugar no nível de competência entre os gestores estão os valores e hábitos comportamentais. Na Ukraina sobre tais detalhes na avaliação dos governistas nem se cogita, - diz Margarita Chernenko. Como consequência disso há uma forte queda de qualidade a longo prazo, dos bens e serviços pátrios, em resultado da criação de condições favoráveis de negócios para um número de jogadores. Pode-se esperar medidas protecionistas para pavimentar a importação e apoio ao produtor doméstico". Aliás, isto já está acontecendo, como o aumento de impostos e a introdução da taxa de utilização em carros importados.

No entanto, o apoio artificial aos fabricantes nacionais, precisamente aos preferidos, em condições atuais não causará impacto positivo na capacidade de produzir bens e serviços de qualidade. Acima de tudo, quase certamente levará a uma queda ainda maior na competitividade das empresas ukrainianas, que passarão ao controle da "Família", oligarcas e, geralmente àqueles que hoje estão no poder.

* -  "Salários em envelopes", como parte da economia paralela, estabeleceu-se firmemente em nossas vidas e hoje cria inúmeros problemas  tanto para o indivíduo, como para a sociedade como um todo.
Salário no envelope significa que o empregado não foi registrado, ou que seu registro é parcial. Neste caso nem o empregador nem o empregado pagam seus impostos totais, ou pagam parcialmente. O empregado perde não somente o direito à segurança social, por exemplo, no caso de invalidez, como não se habilita à aposentadoria. Como dos "salários em envelopes" não são pagos os impostos, ou parte deles, a primeira vista o enganado é o Estado. Na verdade é a escassez de fundos para a saúde, educação, proteção social, etc.

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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