domingo, 3 de novembro de 2013

O DESCONHECIDO PRESIDENTE GEORGIANO


Vakhtang Kipiani
Ex-chefe da "Verdade Histórica", especialmente para "Semana Ukrainiana a partir de Tbilisi.
Em 29.10.2013

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Mikheil Saakashvili
Mikheil Nik'olozis dze Saak'ashvili ou simplesmente Mikheil Saakashvili, como é mais conhecido, é um político georgiano, e presidente daquele país desde 2004, tendo sido reeleito em 6 de janeiro de 2008, com 52,8% dos votos.
Nascimento: 21 de dezembro de 1967 (45 anos), Tbilisi, Geórgia
Mandatos presidenciais: 20 de janeiro de 2008 – 17 de novembro de 2013, 25 de janeiro de 2004 – 25 de novembro de 2007

Mikhel Saakashvili, um dos poucos presidentes democráticos europeus que conseguiram permanecer no cargo por tanto tempo, dez anos.
Ele se tornou presidente após a "Revolução das Rosas" e completa dois períodos de cinco anos no cargo do país, onde cada taxista se considera, no mínimo Talleyrand. Isto é um milagre político.

Nestes dias não há escassez de publicações sobre como e por que chegou ao final a "era Saakashvili". Surgiram muitos comentários. Uns dizem que a página Saakashvili está virada para sempre. Outros demonstram certeza, que para uma pessoa de 45 anos é muito cedo prescrever aposentadoria política. Parece que os últimos têm razão.

Últimos dias de Saakashvili

A poucos dias do término de seu mandato, o presidente convidou jornalistas à sua casa, uma pequena residência num bairro suburbano, onde viveu durante os últimos anos. Lá eles viram como a "cheta" (destacamento armado nos Balcãs) presidencial recolhe objetos, brinquedos, e até mesmo conservas em vidros de 3 litros, para levar à velha-nova residência na rua Barnova. Exatamente Onde Mikhel e Sandra viveram até 2003.

O ex-presidente demonstra claramente o curso de ação. Humildemente carrega caixas de papelão com roupas e livros, gaiola com coelhinho e promete viver no apartamento da vovó, no prestigioso bairro de "professores e intelectuais", chamado Vake. Seus vizinhos serão aqueles que teimosamente votaram contra ele e contra o seu partido nas recentes eleições. E, para terminar com o falatório, um outro terreno onde pretendia construir uma casa para aposentadoria, Saakashvili decidiu vender e, o dinheiro aplicar na construção da "biblioteca presidencial."

Dois meses atrás eu perguntei ao político com o que ele se ocupará quando deixar o palácio presidencial. Mikhel respondeu que permanecerá na política, porquanto tem muitos e ativos adeptos e ainda não aproveitado todo potencial e, em geral, exalava otimismo. Ele até disse que não era contra retornar ao governo, para prosseguir na reforma radical. Um seu amigo próximo, Giga Bokeria, que também finaliza os últimos dias como chefe do Conselho de Segurança da Geórgia, disse não ter dúvida de que Saakashvili permanecerá na política. Porque seu partido "Movimento Nacional Unido" foi capaz de sobreviver o ano sob repressão furiosa e conseguiu o dobro de votos do recente prognóstico dos sociólogos. (A um ano atrás foi eleito como primeiro ministro Bidzina Ivanishvili, cuja meta era, justamente, derrotar Saakashvili, um político pró-europeu.

A escolha de um presidente fraco

A eleição presidencial deste ano foi, significativamente, diferente de todas as anteriores. Primeiro, as modificações na Constituição transformaram Georgia em uma república parlamentar onde o órgão legislativo nomeia o primeiro-ministro. O presidente já não tem influência sobre as personalidades do poder e não pode dissolver o parlamento.  O ex-ministro da coordenação de reformas Kakha Bendukidze compara a autoridade do presidente georgiano ao presidente da Alemanha.

Em segundo lugar, a sociedade considerou as eleições de 27 de outubro como uma continuação e o acordo final, na questão da transferência de todo o poder de Saakashvili e seu partido nas mãos da coalizão "Sonho georgiano".

A palavra "coabitação", no vocabulário político georgiano tornou-se firme - imediatamente após as eleições parlamentares do ano passado, quando o bilionário russo-francês Ivanishvili recebeu o mandato dos eleitores para o poder, mas ao mesmo tempo uma figura bastante forte - e de jure e de fato - continuou como presidente.

Saakashvili tinha todo o direito constitucional de nomear os ministros da Defesa, do Interior e dos Negócios Estrangeiros. Mas, isto significaria guerra dentro das paredes do governo. Ele desistiu de seu direito de preencher todos os cargos com suas pessoas. Esperando, com isso, o respeito aos direitos da minoria oposicionista e ao próprio presidente - lider do "Movimento Nacional Unido".

Ivanishvili, embora francês no passado, não seguiu a política européia fina, como Mitterand e Chirac. Ele lançou aos centros de detenção muitos funcionários da equipe de Saakashvili, incluindo o Secretário Geral do partido do presidente Vano Merabishvili. Ao criador do milagre policial culparam em alguns episódios hilariantes. E, quando seus advogados rebatiam o ataque dos procuradores e o caso desmoronava, então lhe apresentavam nova acusação. Clássica do gênero - "havendo pessoa,  o processo encontrar-se-á".

Saakashvili tentando colocar na prática da política georgiana a coexistência de várias forças antagônicas falhou. Seus eleitores acusavam-no de que ele "entregou-se", permitiu "bandidos" no governo e "agentes russos". Os eleitores de Ivanishvili também estavam com raiva. Para eles Mikhel é um "tirano" e "criminoso", e nenhum acordo com ele pode haver.

Deste modo, os georgianos participaram das eleições com diferentes motivações. Bidzinistas - para liquidar o dualismo e entregar todo poder ao primeiro-ministro. Os partidários de Saakashvili - para provar que existem, apesar da repressão, e manter-se como principal partido de oposição do país. Todas as tarefas foram concluídas em 27 de outubro.

O fim da campanha eleitoral

A campanha pré-eleitoral de Tbilisi é pouco semelhante, por exemplo, à de Kyiv. Não há agitadores, nem tendas que se tornaram detalhe familiar do cenário político ukrainiano. Jornais e folhetos não se imprimem, com programas dos pretendentes e, portanto, não se jogam nas caixas dos correios, e não andam de porta em porta aos apartamentos. 
Há cartazes nas ruas, colados em longos "rosários" e propaganda na TV. Aqui depende tudo dos recursos captados. O blogger "Konstardiy" calculou - para obter 1% de votos David Bakradze, o candidato do partido Saakashvili gastou 7.506 lari (cerca de 4.500 dólares). O partido de Ivanishvili desembolsou mais de 69.300 lari. A agitação e propaganda de Burjanadze foi ainda mais cara: 1% para o presidente do Parlamento custou 98.855 laris.

Eram 23 candidatos registrados oficialmente. Um grupo não se preocupava em vencer, o importante é participar. A candidata mais conhecida na Ukraina - a ex-presidente do Parlamento, antigo membro de oposição durante a "Revolução das Rosas", em 2003, Burjanadze. Ela é considerada a principal fornecedora da política russa na Geórgia, uma espécie de Medvedchuk, que desempenha este papel na Ukraina. Mas é a pessoa mais carismática e capaz a riscos na participação em políticas públicas. Por muitos anos esteve na marginalidade mas, chegou o seu tempo. Parte da sociedade georgiana decepciona-se com o ídolo de ontem do "Sonho georgiano", mas sob nenhuma circunstância votará no partido de Saakashvili. Uma avaliação grosseira do eleitorado de Burjanadze, são "sovkê ( pessoas soviéticas mutiladas espiritualmente) saudosas do antigo regime. Elas, ingenuamente pensam, que além das montanhas do Cáucaso as amam e esperam. Que os russos estão dispostos a colocar os seus produtos agrários nos mercados, que o serviço de migração e a polícia vão vê-los como pessoas, e não como "vacas leiteiras" e que o bom Putin está pronto para auxiliá-las na restauração da integridade territorial de Sakartvelo (Este é o nome que os georgianos dão a seu país. Geórgia, nome adotado pelos europeus e americanos, vem de Djordjia, nome santo muito venerado neste país - OK). E que todos os problemas - é por causa do "estúpido Mishiko" (Mikhel Saakashvili).

Fundos enormes que do nada, pouco antes do início da eleição, apareceram em Burjanadze, e deram-lhe a oportunidade de ir a um sólido terceiro lugar - primeiramente nos rankings sociais, depois na eleição. Seus retratos estão em toda parte, nos ônibus amarelos da empresa ukrainiana "Bohdan" (muito populares em Tbilisi), em outdoors e vitrines.

David Bakradze - um pouco relutante candidato do ex- "partido do poder". Com a prisão do Vano Merabishvili, Saakashvili não teve um candidato carismático, bom de voto. Nas eleições primárias venceu Bakradze. Ele foi presidente do Comitê para integração européia, depois ministro de Regulação de Conflitos e das Relações Exteriores. Todos os pontos negativos do governo dos nacionalistas (Saakashvili) colocaram sobre ele.

Marhvelashvili - candidato de Ivanishvili (primeiro-ministro), o que deu possibilidade ao pouco conhecido professor de filosofia a ocupar a presidência. Ao Ministro da Educação, ao contrário de seus antecessores, não há o que mostrar a seus eleitores, de seus feitos pessoais. Ele não tem vôos nem quedas. Um ratinho cinza que acidentalmente encontrou-se num papel não peculiar a si - mas assim decidiu Bidzina Ivanishvili, e isto é suficiente.

No entanto, ao lado de Ivanishvili tem um candidato muito mais forte - 40 anos, carismático, fala inglês, orientado para UE e OTAN - ministro da Defesa, Irakli Alasania. Uma das poucas pessoas com princípios, do "Sonho Georgiano", lider do partido "Nossa Geórgia - Democratas Livres". Independente, com ótimos contatos em Washington e Bruxelas, ao contrário de seu chefe que após um ano no cargo de primeiro-ministro permaneceu desconhecido do mundo. Exatamente por isso ele não recebeu a bênção de Ivanishvili, e um ninguém Marhvelashvili - facilmente.

Comparecimento às urnas

46,6%. Tão baixa participação nunca houve. Apenas em duas regiões Guria e Racha Lechumi alcançaram 58,9%. Em Kveno Kartli menos de 38%. Seja como for, mas nesta situação o vencedor logo se tornou presidente da minoria.

Falsificação não houve. Quando o eleitor entrava, seu dedo polegar era iluminado com uma lanterna especial. Após o voto, neste dedo era colocada uma solução invisível. O voto duplo, mesmo com vários documentos, assim não funcionaria.

Mas, na região-berço do primeiro-ministro votaram 64,7%. Bidzina Ivanishvili, em princípio, é uma boa pessoa. Durante muitos anos ele pagou por seus compatriotas as despesas municipais (água, luz, serviços), educação nas universidades, presenteava com antenas, fertilizantes, roupas. Não só em palavras, mas em atos, era o "pai de família". Como, por exemplo, outro benfeitor - Leonid Chernovetsky (ukrainiano - ex-prefeito de Kyiv). O que os une é que, tendo considerável capital, não criavam nenhum emprego, preferindo distribuir esmolas aos necessitados.

Cultivar miseráveis marginalizados é muito fácil. E Ivanishvili obteve êxito. Mais de 94% de seus conterrâneos votaram pela continuação da distribuição de "esmolas". Isto também é (anti)record destas eleições.

Ao vencedor não julgam. Ao perdedor - frequentemente é possível.

George Marhvelashvili tornou-se presidente de Sakartvelo com 62% de votos. David Bakradze - 21,7% e Nino Burjanadze - 10,16%. Esta última não reconheceu os dados sociológicos e declarou desonestidade na contagem do total de votos. Mas, ela pode sentir-se um pouquinho feliz. De acordo com a legislação georgiana, o partido que recebe mais de 10% de votos recebe do orçamento um milhão de lari para sua atividade política. Então, a política pró-Rússia na Geórgia terá voz.

Bidzina Ivanishvili concentrou todo o poder em suas mãos. Agora não haverá ninguém para amortizar seus problemas e erros. O neófito Marhvelashvili estava feliz, mas ele sabe o seu lugar. Além disso, o oligarca promete demitir-se do ministério em poucas semanas para... controlar o governo a partir do terceiro setor. A impressão é que seus politólogos receberam a incumbência de enfraquecer a Geórgia. Os esforços para tal finalidade podem ser vistos a olho nu.
Ivanishvili lamentou os mais de 20% de votos dados a D. Bakradze. "Isto não é correto, eles também são cidadãos" - o europeu, provavelmente esqueceu sua nacionalidade francesa.

Em compensação Bakradze cumprimentou seu opositor e se ofereceu para trabalhar em conjunto pela Geórgia. Mikhel Saakashvili assim se expressou: "Estou profundamente convencido de que Geórgia está indo para Europa, o eleitor, fortemente, apoia este curso... Todos aqueles que não gostam do resultado das eleições, não devem desistir, cada recuo é temporário. Geórgia terá um futuro muito bom". Dignas palavras, mas a pergunta é - se está pronto o partido dos vencedores a parar as repressões que ameaçam esbarrar no atual chefe de Estado. Sininhos inquietantes já surgiram. A investigação sobre a morte do ex-chefe do Parlamento, uma das principais figuras da "Revolução das Rosas" Zurab Zhvania. Segundo a imprensa, é exatamente neste caso que tentarão fazer Saakashvili "culpado". A espera já não será longa.

Tradução: Oksana Kowaltschuk 

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