Vakhtang Kipiani
Ex-chefe da "Verdade Histórica", especialmente para "Semana Ukrainiana a partir de Tbilisi.
Em 29.10.2013
Mikheil Saakashvili
Mikheil
Nik'olozis dze Saak'ashvili ou simplesmente Mikheil Saakashvili, como é
mais conhecido, é um político georgiano, e presidente daquele país
desde 2004, tendo sido reeleito em 6 de janeiro de 2008, com 52,8% dos
votos.
Nascimento: 21 de dezembro de 1967 (45 anos), Tbilisi, Geórgia
Mandatos presidenciais: 20 de janeiro de 2008 – 17 de novembro de 2013, 25 de janeiro de 2004 – 25 de novembro de 2007
Mikhel
Saakashvili, um dos poucos presidentes democráticos europeus que
conseguiram permanecer no cargo por tanto tempo, dez anos.
Ele
se tornou presidente após a "Revolução das Rosas" e completa dois
períodos de cinco anos no cargo do país, onde cada taxista se considera,
no mínimo Talleyrand. Isto é um milagre político.
Nestes
dias não há escassez de publicações sobre como e por que chegou ao
final a "era Saakashvili". Surgiram muitos comentários. Uns dizem que a
página Saakashvili está virada para sempre. Outros demonstram certeza,
que para uma pessoa de 45 anos é muito cedo prescrever aposentadoria
política. Parece que os últimos têm razão.
Últimos dias de Saakashvili
A
poucos dias do término de seu mandato, o presidente convidou
jornalistas à sua casa, uma pequena residência num bairro suburbano,
onde viveu durante os últimos anos. Lá eles viram como a "cheta"
(destacamento armado nos Balcãs) presidencial recolhe objetos,
brinquedos, e até mesmo conservas em vidros de 3 litros, para levar à
velha-nova residência na rua Barnova. Exatamente Onde Mikhel e Sandra
viveram até 2003.
O ex-presidente demonstra
claramente o curso de ação. Humildemente carrega caixas de papelão com
roupas e livros, gaiola com coelhinho e promete viver no apartamento da
vovó, no prestigioso bairro de "professores e intelectuais", chamado
Vake. Seus vizinhos serão aqueles que teimosamente votaram contra ele e
contra o seu partido nas recentes eleições. E, para terminar com o
falatório, um outro terreno onde pretendia construir uma casa para
aposentadoria, Saakashvili decidiu vender e, o dinheiro aplicar na
construção da "biblioteca presidencial."
Dois
meses atrás eu perguntei ao político com o que ele se ocupará quando
deixar o palácio presidencial. Mikhel respondeu que permanecerá na
política, porquanto tem muitos e ativos adeptos e ainda não aproveitado
todo potencial e, em geral, exalava otimismo. Ele até disse que não era
contra retornar ao governo, para prosseguir na reforma radical. Um seu
amigo próximo, Giga Bokeria, que também finaliza os últimos dias como
chefe do Conselho de Segurança da Geórgia, disse não ter dúvida de que
Saakashvili permanecerá na política. Porque seu partido "Movimento
Nacional Unido" foi capaz de sobreviver o ano sob repressão furiosa e
conseguiu o dobro de votos do recente prognóstico dos sociólogos. (A um
ano atrás foi eleito como primeiro ministro Bidzina Ivanishvili, cuja
meta era, justamente, derrotar Saakashvili, um político pró-europeu.
A escolha de um presidente fraco
A
eleição presidencial deste ano foi, significativamente, diferente de
todas as anteriores. Primeiro, as modificações na Constituição
transformaram Georgia em uma república parlamentar onde o órgão
legislativo nomeia o primeiro-ministro. O presidente já não tem
influência sobre as personalidades do poder e não pode dissolver o
parlamento. O ex-ministro da coordenação de reformas Kakha Bendukidze
compara a autoridade do presidente georgiano ao presidente da Alemanha.
Em
segundo lugar, a sociedade considerou as eleições de 27 de outubro como
uma continuação e o acordo final, na questão da transferência de todo o
poder de Saakashvili e seu partido nas mãos da coalizão "Sonho
georgiano".
A palavra "coabitação", no
vocabulário político georgiano tornou-se firme - imediatamente após as
eleições parlamentares do ano passado, quando o bilionário russo-francês
Ivanishvili recebeu o mandato dos eleitores para o poder, mas ao mesmo
tempo uma figura bastante forte - e de jure e de fato - continuou como
presidente.
Saakashvili tinha todo o direito
constitucional de nomear os ministros da Defesa, do Interior e dos
Negócios Estrangeiros. Mas, isto significaria guerra dentro das paredes
do governo. Ele desistiu de seu direito de preencher todos os cargos com
suas pessoas. Esperando, com isso, o respeito aos direitos da minoria
oposicionista e ao próprio presidente - lider do "Movimento Nacional
Unido".
Ivanishvili, embora francês no passado,
não seguiu a política européia fina, como Mitterand e Chirac. Ele
lançou aos centros de detenção muitos funcionários da equipe de
Saakashvili, incluindo o Secretário Geral do partido do presidente Vano
Merabishvili. Ao criador do milagre policial culparam em alguns
episódios hilariantes. E, quando seus advogados rebatiam o ataque dos
procuradores e o caso desmoronava, então lhe apresentavam nova acusação.
Clássica do gênero - "havendo pessoa, o processo encontrar-se-á".
Saakashvili
tentando colocar na prática da política georgiana a coexistência de
várias forças antagônicas falhou. Seus eleitores acusavam-no de que ele
"entregou-se", permitiu "bandidos" no governo e "agentes russos". Os
eleitores de Ivanishvili também estavam com raiva. Para eles Mikhel é um
"tirano" e "criminoso", e nenhum acordo com ele pode haver.
Deste
modo, os georgianos participaram das eleições com diferentes
motivações. Bidzinistas - para liquidar o dualismo e entregar todo poder
ao primeiro-ministro. Os partidários de Saakashvili - para provar que
existem, apesar da repressão, e manter-se como principal partido de
oposição do país. Todas as tarefas foram concluídas em 27 de outubro.
O fim da campanha eleitoral
A
campanha pré-eleitoral de Tbilisi é pouco semelhante, por exemplo, à de
Kyiv. Não há agitadores, nem tendas que se tornaram detalhe familiar do
cenário político ukrainiano. Jornais e folhetos não se imprimem, com
programas dos pretendentes e, portanto, não se jogam nas caixas dos
correios, e não andam de porta em porta aos apartamentos.
Há
cartazes nas ruas, colados em longos "rosários" e propaganda na TV. Aqui
depende tudo dos recursos captados. O blogger "Konstardiy" calculou -
para obter 1% de votos David Bakradze, o candidato do partido
Saakashvili gastou 7.506 lari (cerca de 4.500 dólares). O partido de
Ivanishvili desembolsou mais de 69.300 lari. A agitação e propaganda de
Burjanadze foi ainda mais cara: 1% para o presidente do Parlamento
custou 98.855 laris.
Eram 23 candidatos
registrados oficialmente. Um grupo não se preocupava em vencer, o
importante é participar. A candidata mais conhecida na Ukraina - a
ex-presidente do Parlamento, antigo membro de oposição durante a
"Revolução das Rosas", em 2003, Burjanadze. Ela é considerada a
principal fornecedora da política russa na Geórgia, uma espécie de
Medvedchuk, que desempenha este papel na Ukraina. Mas é a pessoa mais
carismática e capaz a riscos na participação em políticas públicas. Por
muitos anos esteve na marginalidade mas, chegou o seu tempo. Parte da
sociedade georgiana decepciona-se com o ídolo de ontem do "Sonho
georgiano", mas sob nenhuma circunstância votará no partido de
Saakashvili. Uma avaliação grosseira do eleitorado de Burjanadze, são
"sovkê ( pessoas soviéticas mutiladas espiritualmente) saudosas do
antigo regime. Elas, ingenuamente pensam, que além das montanhas do
Cáucaso as amam e esperam. Que os russos estão dispostos a colocar os
seus produtos agrários nos mercados, que o serviço de migração e a
polícia vão vê-los como pessoas, e não como "vacas leiteiras" e que o
bom Putin está pronto para auxiliá-las na restauração da integridade
territorial de Sakartvelo (Este é o nome que os georgianos dão a seu
país. Geórgia, nome adotado pelos europeus e americanos, vem de
Djordjia, nome santo muito venerado neste país - OK). E que todos os
problemas - é por causa do "estúpido Mishiko" (Mikhel Saakashvili).
Fundos
enormes que do nada, pouco antes do início da eleição, apareceram em
Burjanadze, e deram-lhe a oportunidade de ir a um sólido terceiro lugar -
primeiramente nos rankings sociais, depois na eleição. Seus retratos
estão em toda parte, nos ônibus amarelos da empresa ukrainiana "Bohdan"
(muito populares em Tbilisi), em outdoors e vitrines.
David Bakradze -
um pouco relutante candidato do ex- "partido do poder". Com a prisão do
Vano Merabishvili, Saakashvili não teve um candidato carismático, bom
de voto. Nas eleições primárias venceu Bakradze. Ele foi presidente do
Comitê para integração européia, depois ministro de Regulação de
Conflitos e das Relações Exteriores. Todos os pontos negativos do
governo dos nacionalistas (Saakashvili) colocaram sobre ele.
Marhvelashvili
- candidato de Ivanishvili (primeiro-ministro), o que deu possibilidade
ao pouco conhecido professor de filosofia a ocupar a presidência. Ao
Ministro da Educação, ao contrário de seus antecessores, não há o que
mostrar a seus eleitores, de seus feitos pessoais. Ele não tem vôos nem
quedas. Um ratinho cinza que acidentalmente encontrou-se num papel não
peculiar a si - mas assim decidiu Bidzina Ivanishvili, e isto é
suficiente.
No entanto, ao lado de Ivanishvili
tem um candidato muito mais forte - 40 anos, carismático, fala inglês,
orientado para UE e OTAN - ministro da Defesa, Irakli Alasania. Uma das
poucas pessoas com princípios, do "Sonho Georgiano", lider do partido
"Nossa Geórgia - Democratas Livres". Independente, com ótimos contatos
em Washington e Bruxelas, ao contrário de seu chefe que após um ano no
cargo de primeiro-ministro permaneceu desconhecido do mundo. Exatamente
por isso ele não recebeu a bênção de Ivanishvili, e um ninguém
Marhvelashvili - facilmente.
Comparecimento às urnas
46,6%.
Tão baixa participação nunca houve. Apenas em duas regiões Guria e
Racha Lechumi alcançaram 58,9%. Em Kveno Kartli menos de 38%. Seja como
for, mas nesta situação o vencedor logo se tornou presidente da minoria.
Falsificação
não houve. Quando o eleitor entrava, seu dedo polegar era iluminado com
uma lanterna especial. Após o voto, neste dedo era colocada uma solução
invisível. O voto duplo, mesmo com vários documentos, assim não
funcionaria.
Mas, na região-berço do
primeiro-ministro votaram 64,7%. Bidzina Ivanishvili, em princípio, é
uma boa pessoa. Durante muitos anos ele pagou por seus compatriotas as
despesas municipais (água, luz, serviços), educação nas universidades,
presenteava com antenas, fertilizantes, roupas. Não só em palavras, mas
em atos, era o "pai de família". Como, por exemplo, outro benfeitor -
Leonid Chernovetsky (ukrainiano - ex-prefeito de Kyiv). O que os une é
que, tendo considerável capital, não criavam nenhum emprego, preferindo
distribuir esmolas aos necessitados.
Cultivar
miseráveis marginalizados é muito fácil. E Ivanishvili obteve êxito.
Mais de 94% de seus conterrâneos votaram pela continuação da
distribuição de "esmolas". Isto também é (anti)record destas eleições.
Ao vencedor não julgam. Ao perdedor - frequentemente é possível.
George
Marhvelashvili tornou-se presidente de Sakartvelo com 62% de votos.
David Bakradze - 21,7% e Nino Burjanadze - 10,16%. Esta última não
reconheceu os dados sociológicos e declarou desonestidade na contagem do
total de votos. Mas, ela pode sentir-se um pouquinho feliz. De acordo
com a legislação georgiana, o partido que recebe mais de 10% de votos
recebe do orçamento um milhão de lari para sua atividade política.
Então, a política pró-Rússia na Geórgia terá voz.
Bidzina
Ivanishvili concentrou todo o poder em suas mãos. Agora não haverá
ninguém para amortizar seus problemas e erros. O neófito Marhvelashvili
estava feliz, mas ele sabe o seu lugar. Além disso, o oligarca promete
demitir-se do ministério em poucas semanas para... controlar o governo a
partir do terceiro setor. A impressão é que seus politólogos receberam a
incumbência de enfraquecer a Geórgia. Os esforços para tal finalidade
podem ser vistos a olho nu.
Ivanishvili lamentou os mais de
20% de votos dados a D. Bakradze. "Isto não é correto, eles também são
cidadãos" - o europeu, provavelmente esqueceu sua nacionalidade
francesa.
Em compensação Bakradze cumprimentou
seu opositor e se ofereceu para trabalhar em conjunto pela Geórgia.
Mikhel Saakashvili assim se expressou: "Estou profundamente convencido
de que Geórgia está indo para Europa, o eleitor, fortemente, apoia este
curso... Todos aqueles que não gostam do resultado das eleições, não
devem desistir, cada recuo é temporário. Geórgia terá um futuro muito
bom". Dignas palavras, mas a pergunta é - se está pronto o partido dos
vencedores a parar as repressões que ameaçam esbarrar no atual chefe de
Estado. Sininhos inquietantes já surgiram. A investigação sobre a morte
do ex-chefe do Parlamento, uma das principais figuras da "Revolução das
Rosas" Zurab Zhvania. Segundo a imprensa, é exatamente neste caso que
tentarão fazer Saakashvili "culpado". A espera já não será longa.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
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