terça-feira, 20 de agosto de 2013

FERROVIA DA SEDA: Cazaquistão tem grandes chances para minar o monopólio da Rússia

Ukrainskyi Tyzhden (Semana Ukrainiana), 14.06.2013
Michael Binion - Astana - Londres
Cazaquistão tem grandes chances para minar o monopólio da Rússia e seu controle político sobre os fluxos de tráfego entre Oriente e Ocidente.
 
 


Durante séculos o Oriente fornecia para Europa aquilo que tinha preço, - especiarias, jade, jóias e seda. Caravanas de camelos traziam a preciosa carga através do deserto pela antiga Rota da Seda. Hoje, China tornou-se uma oficina universal e novamente reabre antigas rotas terrestres para Europa, para acelerar o transporte de milhões de seus contêineres. No entanto, a moderna Rota da Seda será feita de aço. Atualmente constroem a nova "Ponte Eurasiana Terrestre" - estrada de ferro, onde estrondearão os trens, vencendo milhares de quilômetros da "Celestial", através da Ásia Central para Istambul e, em seguida, através dos Balcãs para Alemanha, para o Ocidente.
Cazaquistão, como nenhum outro país, teve sorte com a localização geográfica: exatamente na linha de tráfego de produtos. Esta ex-república soviética, com vasto território, agora febrilmente constrói rodovias e ferrovias para o transporte de mercadorias desde a fronteira da China para Europa. Usando os excelentes lucros da indústria do petróleo e recursos minerais, Astana gastou na última década 135 bilhões de USD na abertura de uma alternativa ferroviária da Trans-Siberian. Assim ela debilitou o monopólio de Moscou e seu controle político sobe os fluxos de tráfego entre o Oriente e Ocidente, e propôs aos espectadores chineses reduzir o caminho de suas cargas à Europa de 45 dias para, no mínimo 35 dias.
Os russos não se alegram com os processos que fazem as antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central, política e economicamente menos dependentes de Kremlin ou tornam mais estreitos seus laços com China.
Em abril, o líder imutável do Cazaquistão Nursultan Nazarbayev e o presidente do Turcomenistão Gurbanguly Berdymyhamedov oficialmente cravaram os últimos pregos de gancho, simbólicos, no último trecho na fronteira de seus países. Agora as cargas através do território turcomano rapidamente rumarão para o sul - para o porto iraniano Bandar Abas, no Golfo Pérsico. Na última década Casaquistão construiu cerca de 1200 km de novas ferrovias no oeste, próximo a Turquia. E, em outubro, será eliminado o último obstáculo: será aberto o novo túnel, no valor de 1,9 bilhões de USD, sob o Bósforo. Trens viajarão diretamente para o coração da Europa.
Em uma recente conferência em Cazaquistão, seus ministros anunciaram planos para usar novas rotas de transporte como corredores de desenvolvimento, onde será construída a infra-estrutura de alta tecnologia, com novas cidades e centros de companhias de desenvolvimento em processos tecnológicos em diversos ramos de vanguarda, coberta pela internet. No VI Fórum Econômico em Astana o vice-primeiro-ministro Kairat Kelimbetov, que estudou no Ocidente e apoia a rápida modernização do seu país, dirigiu-se a oito mil delegados do fórum com as seguintes palavras: "Nós nos tornaremos um corredor de prosperidade". Tal sistema, como ele acrescentou, ligará os mercados onde vivem bilhões de pessoas - um terço da população mundial. 
Bem sucedida economia de Cazaquistão depende do crescimento de investimentos tanto da Europa como da China, e a exportação em grande escala de recursos minerais e energéticos garante ao país grandes retornos em ambos mercados.
O melhoramento da insuficientemente desenvolvida infra-estrutura no Cazaquistão - uma das prioridades nacionais para o futuro. Mas, durante a colocação da nova ferrovia entre o Oriente e o Ocidente será preciso superar grandes problemas. Primeiro - exatamente o itinerário. A linha através do Cazaquistão, Turcomenistão e Irã para Turquia já está construída, embora a balsa através do lago Van no leste leva muito tempo. Verdade, o Ocidente sob a influência dos EUA não quer investir em qualquer linha ferroviária que atravessa o território do Irã, e nem usá-la. Além disso, as tensões políticas na região entre os estados da Ásia Central podem ser fechadas. Cazaquistão constrói alternativa: uma linha através Astana até às margens do Mar Cáspio, de onde as balsas trarão os trens até as margens do Azerbaijão e então eles irão até Geórgia. O velho, ainda soviético itinerário do Cáucaso chegava a Turquia através da Armênia, mas a guerra entre ela e Azerbaijão bloqueou-o. Então agora constroem um itinerário de desvio ao redor do território armênio à Turquia através da cidade de Kars.

Segundo problema - diferença na largura da bitola. Todos os estados da antiga União Soviética tem a largura de 1.520 mm, e na China, Irã, Turquia e Europa continental o standard é de 1.435. Nos pontos de transição entre os sistemas (na estação Dostyk, na fronteira cazaque-chinesa, Serakhs, fronteira turcomana-iraniana ou Akhalkalaki na fronteira georgiano-turca) os contêineres obrigatoriamente devem ser trasladados para outros trens com diferentes larguras de carros. Os trens de passageiros da Europa para Rússia perdem muito tempo quando eles são mudados para uma bitola mais larga, mas para transporte de mercadorias isso também será desvantajoso. Na Espanha desenvolveram um mecanismo para estreitamento dos pares de rodas quando da permutação à bitola mais estreita, então os trens podem alterar esta configuração em andamento, mas o valor da compra do novo parque de vagões de carga com tais equipamentos será praticamente inacessível. Além disso, é necessário simplificar radicalmente os acordos aduaneiros. Os representantes do Ministério dos Transportes de Cazaquistão disseram no fórum, que atualmente cerca de 32 países assinaram acordo de trabalho sobre único regime aduaneiro para o trânsito de trens. No entanto, a burocracia e corrupção ameaçam tornar a passagem pela fronteira cara e imprevisível.
Última questão - finanças. China, que sozinha constrói vigorosamente uma rede ferroviária de alta velocidade em seu próprio território, investe bilhões em sistemas semelhantes no mundo, oferecendo empréstimos e subvenções para muitos vizinhos, para prolongamento da "ponte terrestre eurasiana". Alguns estados da Ásia Central, especialmente Cazaquistão têm a sua disposição grandes somas de dinheiro para novas linhas e estradas paralelas. O Banco Mundial ofereceu a Astana um crédito no valor de 2,125 bilhões de USD - para implementar planos de desenvolvimento de transportes. Outra parte de dinheiro vem de bancos e investidores privados.
Mas, apesar do apoio de longa data das comissões regionais das Nações Unidas para assuntos econômicos e aprovação oficial da Rússia e do Ocidente, obstáculos políticos ainda existem. A FR de qualquer modo quer manter o quanto mais de transporte para sua "Trans-Siberian Railway" - lenta, obsoleta e constantes engarrafamentos. Presentes na conferência os funcionários russos acentuavam que Moscou considera a linha eurasiana um acréscimo a Siberiana, e não é contra a sua construção. Mas, de fato, o novo ramo será um concorrente direto. Sem dúvida, os russos não se alegram com os processos que fazem as ex-aliadas repúblicas da Ásia Central politicamente e economicamente menos dependentes de Kremlin ou vinculadas mais de perto com a China.
Estados Unidos colocam-se com grandes dúvidas aos planos de exportação de mercadorias da China através dos territórios do Irã e Golfo Pérsico, ou quaisquer outras linhas, que ligarão mais de perto Turquia e Irã.
Mas em ambas as extremidades da rota proposta continua a construção da ferrovia em grande escala. Europa precisa muito de produtos chineses e "Celestial" necessita vendê-los. Grandes investimentos de ambos na rapidez da ferrovia apenas alimentaram o desejo de inserir o elo perdido entre os dois mercados. Cazaquistão percebeu a oportunidade histórica para preencher a lacuna e tornar-se "karavam-sarayem" (principal local de descanso) no futuro Caminho da Seda ferroviário.
Tradução: Oksana Kowaltschuk

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