sábado, 10 de agosto de 2013

FRACASSA O PROJETO DE MOSCOU

Missão não executada. O aniversário de Batismo da Rus não atendeu às expectativas do Kremlin
Tyzhden.ua (Ukrainskyi Tyzhden), 03.08.2013
Andrii Skumin
 
A celebração dos 1025 anos do batismo da Rus em Kyiv resumiu o fracasso da expansão da igreja russa na Ukraina, liderada pelo Patriarca Kirill.
Em 27.01.2009 o Primeiro Conselho da Igreja Ortodoxa Russa (ROC) elegeu como Patriarca de Moscou e toda Rússia Kirill, bem mais jovem e mais ambicioso que seu antecessor Aleksii II. Nos primeiros meses de sua atividade, Kirill publicou seu conceito de igreja, o "Mundo Russo" que devia tornar-se um instrumento eficaz para consolidação de vários países pós-soviéticos condicionando-os ao reboquismo à integração política em projetos neo-imperiais de Kremlin.
Mas, após passados quatro anos revelou-se, que essa expansão "espiritual" com conotações políticas óbvias causou uma reação contrária nos territórios pretendidos por Kirill.
 
Força da ação equivale à força de reação
 
Os iniciados por Kirill distritos comunitários e nomeação de novos clérigos seniores nos países da Ásia Central levou a um conflito do Primaz da Igreja Ortodoxa Russa com os dirigentes desses países. Como resultado - o governo de Uzbequistão e Quirguistão, completamente leais ao Patriarcado de Moscou no passado, não permitiram a Kirill visitar esses países da Ásia em 2011 durante a celebração dos 140 anos da Eparquia de Tashkent. Obviamente, uma razão - o Patriarca ignorou o poder temporal daqueles países, impondo-lhes novos hierarcas na Igreja. Reagiu negativamente, às tentativas de Kirill em afastar do Cargo o Metropolita de Chisinau e toda Moldova, Vladimir. Em 2011 limitaram o tempo e a geografia à visita de Kirill a Moldova e o impediram às principais regiões habitadas pelos fiéis da ROC. Primeiramente devido a suas ambições e impaciência Kirill entrou em conflito com os chefes de outros patriarcas ortodoxos. Significativo, que na comemoração dos 65 anos do Patriarca não houve representantes de Constantinopla, Alexandria, Jerusalém, Sérvia, Chipre, Elladska (Grécia), Albânia e Igrejas americanas.
 
A tentativa de utilização da ortodoxia na política, no desempenho do Patriarca Kirill o desacreditou e enfraqueceu sua influência na comunidade do Patriarcado de Moscou.
 
Mas o maior fracasso do Kirill é Ukraina, onde, de acordo com especialistas, concentra-se a maior parte da congregação do Patriarcado de Moscou, e isso dá a ele bases para dizer que no caso da criação de uma única igreja independente, com sua organização e estrutura (Na Ukraina funcionam duas igrejas: Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Kyiv e Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Moscou - OK), exatamente ela poderia ser a maior Igreja Ortodoxa do mundo. Kirill tinha a ambição de alcançar em nosso Estado a meta que Vladimir Putin não conseguiu na política, ou seja, arrastar Ukraina para um único espaço do "Mundo russo" inicialmente na esfera religiosa. E até prometia mudar-se para Kyiv e receber a cidadania ukrainiana. Suas visitas escondiam cada vez menos o conteúdo político e procuravam reviver o mito imperial tradicional de que duas nações, que "vieram da mesma fonte" deveriam ter um futuro civilizacional comum.
 
"Não somente de pão?"
 
Dada a visibilidade notória da falta de competitividade do vetor eurasiano com integração econômica da Ukraina, comparativamente com o argumento da civilização ideológico-religiosa européia o argumento tornou-se uma das principais precauções contra o envolvimento da Ukraina com a "mentalidade estrangeira" da Europa. Mas a proposta de Kirill do nacionalismo oficial - "ortodoxia, absolutismo, nacionalismo" - com a visão da idéia do "Mundo russo" revelou a sua impossibilidade. Pelo menos, a mais de quatro anos não há nenhum testemunho de sua efetividade: o número de crentes na ROC da Ukraina não cresce, não há nenhuma iniciativa, que por vontade própria, e não com ajuda financeira da Rússia iniciasse uma campanha propagativa de apoio ao "Mundo russo" e todas pesquisas sociológicas demonstram uma dinâmica positiva para aprovação à integração européia, e não orientação ao "Mundo russo". Além disso, no próprio "Mundo russo" na Ukraina começaram lutas internas. Particularmente em Odessa o aniversário de 1025 anos do batismo da Rus comemoraram dois grupos opostos, de Igor Markov e Serhii Kivalov. Tomou partido de Kivalov um dos principais promotores do "Mundo russo" o metropolita de Odessa e Izmail, Agafangel, o qual declarou que o corpo de Igor Markov estava hospedando "diabos".
 
Declarações sobre o território da "responsabilidade canônica" da ROC que continuam ouvir-se nas reuniões do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de Moscou durante as visitas de Kirill não podem negar o fato que a Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Moscou considera-se como igreja auto-suficiente. Aos partidários de Moscou resta apenas ficar histéricos como, por exemplo, o apelo durante as comemorações do Batismo da Rus, de um padre de Kyiv a alguns paroquianos sobre subordinação direta à Igreja Ortodoxa Russa. Superar o partido autonomista na Igreja Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de Moscou aproveitando-se da doença do Metropolita Volodymyr, não se conseguiu. Restabelecendo-se, ele retomou gradualmente o seu status na Igreja, novamente atraiu a si o Arcebispo Oleksandr (Drabynka), que é considerado como sua mão direita e um dos lideres da ala pró ukrainiana da Igreja Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de Moscou, particularmente da parte conservadora. E, na véspera da visita de Kirill a Ukraina, em 26 de julho, na representação "Grande e glorioso" no "Arsenal Art", em Kyiv, o lider da Igreja Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de Kyiv Filaret e o Metropolita Volodymyr, após um abraço demonstrativo tiveram um longo diálogo. "Nós acreditamos, e estamos convencidos, que haverá unificação dos Patriarcados de Kyiv e Moscou em uma Igreja Ortodoxa Independente", - comentou esse encontro Filaret. Sabendo o quanto é formalizado qualquer movimento dos hierarcas, este encontro dificilmente teria sido acidental ou espontâneo. Significativamente, o Patriarca de Kyiv recentemente, várias vezes referiu-se com cortesia ao Metropolita Volodymyr e ao partido "pró-ukrainiano" na Igreja Ortodoxa Ukrainiana.
 
Yanukovych também distanciou-se da posição de máxima colaboração com Kirill, a qual foi observada no início de sua presidência. À primeira vista, o governo ukrainiano revelou modelar lealdade à visita do representante da Igreja Ortodoxa Russa. Exemplo disso foram as medidas de precaução durante a chegada do Patriarca na estação ferroviária de Kyiv (Kirill chegou num trem blindado a exemplo de Stalin). No entanto, no discurso formal, Yanukovych fez declarações ambíguas que podem ser consideradas como uma alusão a inadmissibilidade do uso da igreja por Moscou para fins políticos. "Para o Estado todas igrejas e organizações religiosas são iguais. Nós respeitamos a escolha de nossos cidadãos e asseguramos a todos o direito constitucional à liberdade de religião. Nós não permitiremos o uso de igrejas e organizações religiosas por algumas forças políticas para seus próprios interesses estreitos. Isto também se aplica aos centros estrangeiros, que por meio de organizações religiosas, por vezes, procuram influenciar a situação política na Ukraina. Pois refere-se ao estado de segurança nacional", - disse o presidente. Enquanto isso, aproveitar-se de organizações religiosas, abertamente, aspira a liderança de apenas um país vizinho e distribui aos hierarcas na Ukraina prêmios por sua boa atuação. Assim, ao aniversário do Batismo da Rus Vladimir Putin novamente entregou condecorações estatais aos hierarcas da Igreja Ortodoxa Russa do Patriarcado de Moscou. Seis metropolitas receberam a "Ordem da Amizade".
 
Mas a principal derrota de Kirill é a não aceitação dele pela sociedade ukrainiana.
 
Nas fotografias de reuniões anteriores com os seus apoiantes na Ukraina simplesmente aumentavam o seu rebanho com o Photoshop. E desta vez, apesar da cobertura das ruas de Kyiv e largo apoio informativo, sua vinda poucos perceberam (a propósito, há com quem comparar: na missa de despedida da visita do Papa de Roma Francisco ao Brasil reuniram-se mais de dois milhões de católicos). Afinal, é da Ukraina que o Patriarca Kirill e altos hierarcas da Igreja Ortodoxa Russa receberam o primeiro lote de fatos que comprometem sua santidade. Durante a visita a Ukraina em 2009 nossos jornalistas registraram na mão do Primaz da Igreja Ortodoxa russa um relógio Breguet no valor de 30 mil dólares. Embora ele, ainda em 03.04.1969 recebeu o corte monástico, o qual denuncia publicamente a "sociedade de consumo". Além disso, tentou mentir e alegou que a fotografia com o dito relógio era colagem, enquanto no site do Patriarcado de Moscou havia uma foto do encontro de Kirill com o ministro da Justiça da Rússia, e no braço do Patriarca havia o mesmo Breguet. Em 2012 estourou mais um escândalo em torno da demanda de Lídia Leyenovoy para o ministro da saúde da FR. Então tornou-se claro que Kirill era proprietário de um apartamento de luxo em Moscou, o que é uma violação direta das regras segundo concílio de Constantinopla quanto a propriedade de monges. Também prejudicou a imagem do Primaz a sua insistência para trazer à responsabilidade criminal por "blasfêmia" algumas moças com crianças menores do grupo Pussy Riot, as quais, enfim, foram condenadas a duradouras penas de prisão. Estes e muitos outros escândalos levaram os cidadãos da FR a um desapontamento sem precedentes à pessoa do Patriarca Kirill e o nível de confiança a ele caiu bem abaixo do nível de confiança a igreja por ele dirigida. Assim, de acordo com a opinião pública, em maio de 2012 confiavam na Igreja 64% de russos, em Kirill - apenas 56%.
 
A tentativa de usar politicamente a ortodoxia no desempenho do Patriarca Kirill para expansão russa na Ukraina claramente falhou e ainda mais desacreditou e enfraqueceu a influência do Patriarcado de Moscou na sociedade. Entre os crentes da Igreja Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de Moscou, ao que parece, há um processo de rejuvenescimento natural e uma nova geração cada vez menos percebe a Igreja Ortodoxa Russa como sua igreja. Este processo mental reforçará, objetivamente, as posições dos autonomistas na Igreja Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de Moscou e reduzirá as chances no uso de satisfatórios recursos de influência da Rússia sobre Ukraina. A experiência da fracassada missão geopolítica de Kirill mostrou que o uso da Igreja Ortodoxa Russa em nosso país, na visão neo-imperial de Moscou - é apenas dinheiro jogado ao vento, como o restante de projetos russos e "movimento dos compatriotas", que durante anos não produziram o resultado desejado para Kremlin, isto é, envolver Ukraina em iniciativas neo-imperiais. O que, afinal, mais uma vez prova que Ukraina objetivamente não é Rússia, mesmo quando suas autoridades são próximas em espirito ao Kremlin como Yanukovych e o Partido das Regiões.
 
Tradução: Oksana Kowaltschuk

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