Missão não
executada. O aniversário de Batismo da Rus não atendeu às expectativas do
Kremlin
Tyzhden.ua (Ukrainskyi Tyzhden), 03.08.2013
Andrii Skumin
A celebração dos 1025 anos do batismo da Rus em Kyiv resumiu
o fracasso da expansão da igreja russa na Ukraina, liderada pelo Patriarca
Kirill.
Em 27.01.2009 o Primeiro Conselho da Igreja Ortodoxa Russa
(ROC) elegeu como Patriarca de Moscou e toda Rússia Kirill, bem mais jovem e
mais ambicioso que seu antecessor Aleksii II. Nos primeiros meses de sua atividade,
Kirill publicou seu conceito de igreja, o "Mundo Russo" que devia
tornar-se um instrumento eficaz para consolidação de vários países
pós-soviéticos condicionando-os ao reboquismo à integração política em projetos
neo-imperiais de Kremlin.
Mas, após passados quatro anos revelou-se, que essa expansão
"espiritual" com conotações políticas óbvias causou uma reação
contrária nos territórios pretendidos por Kirill.
Força da ação equivale à força de reação
Os iniciados por Kirill distritos comunitários e nomeação de
novos clérigos seniores nos países da Ásia Central levou a um conflito do
Primaz da Igreja Ortodoxa Russa com os dirigentes desses países. Como resultado
- o governo de Uzbequistão e Quirguistão, completamente leais ao Patriarcado de
Moscou no passado, não permitiram a Kirill visitar esses países da Ásia em 2011
durante a celebração dos 140 anos da Eparquia de Tashkent. Obviamente, uma
razão - o Patriarca ignorou o poder temporal daqueles países, impondo-lhes
novos hierarcas na Igreja. Reagiu negativamente, às tentativas de Kirill em
afastar do Cargo o Metropolita de Chisinau e toda Moldova, Vladimir. Em 2011
limitaram o tempo e a geografia à visita de Kirill a Moldova e o impediram às
principais regiões habitadas pelos fiéis da ROC. Primeiramente devido a suas
ambições e impaciência Kirill entrou em conflito com os chefes de outros
patriarcas ortodoxos. Significativo, que na comemoração dos 65 anos do
Patriarca não houve representantes de Constantinopla, Alexandria, Jerusalém,
Sérvia, Chipre, Elladska (Grécia), Albânia e Igrejas americanas.
A tentativa de utilização da ortodoxia na política, no
desempenho do Patriarca Kirill o desacreditou e enfraqueceu sua influência na
comunidade do Patriarcado de Moscou.
Mas o maior fracasso do Kirill é Ukraina, onde, de acordo com
especialistas, concentra-se a maior parte da congregação do Patriarcado de
Moscou, e isso dá a ele bases para dizer que no caso da criação de uma única
igreja independente, com sua organização e estrutura (Na Ukraina funcionam duas
igrejas: Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Kyiv e Igreja Ortodoxa do
Patriarcado de Moscou - OK), exatamente ela poderia ser a maior Igreja Ortodoxa
do mundo. Kirill tinha a ambição de alcançar em nosso Estado a meta que
Vladimir Putin não conseguiu na política, ou seja, arrastar Ukraina para um
único espaço do "Mundo russo" inicialmente na esfera religiosa. E até
prometia mudar-se para Kyiv e receber a cidadania ukrainiana. Suas visitas
escondiam cada vez menos o conteúdo político e procuravam reviver o mito
imperial tradicional de que duas nações, que "vieram da mesma fonte"
deveriam ter um futuro civilizacional comum.
"Não somente de pão?"
Dada a visibilidade notória da falta de competitividade do
vetor eurasiano com integração econômica da Ukraina, comparativamente com o
argumento da civilização ideológico-religiosa européia o argumento tornou-se
uma das principais precauções contra o envolvimento da Ukraina com a
"mentalidade estrangeira" da Europa. Mas a proposta de Kirill do
nacionalismo oficial - "ortodoxia, absolutismo, nacionalismo" - com a
visão da idéia do "Mundo russo" revelou a sua impossibilidade. Pelo
menos, a mais de quatro anos não há nenhum testemunho de sua efetividade: o
número de crentes na ROC da Ukraina não cresce, não há nenhuma iniciativa, que
por vontade própria, e não com ajuda financeira da Rússia iniciasse uma
campanha propagativa de apoio ao "Mundo russo" e todas pesquisas
sociológicas demonstram uma dinâmica positiva para aprovação à integração
européia, e não orientação ao "Mundo russo". Além disso, no próprio
"Mundo russo" na Ukraina começaram lutas internas. Particularmente em
Odessa o aniversário de 1025 anos do batismo da Rus comemoraram dois grupos
opostos, de Igor Markov e Serhii Kivalov. Tomou partido de Kivalov um dos
principais promotores do "Mundo russo" o metropolita de Odessa e
Izmail, Agafangel, o qual declarou que o corpo de Igor Markov estava hospedando
"diabos".
Declarações sobre o território da "responsabilidade
canônica" da ROC que continuam ouvir-se nas reuniões do Santo Sínodo da
Igreja Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de Moscou durante as visitas de
Kirill não podem negar o fato que a Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Moscou
considera-se como igreja auto-suficiente. Aos partidários de Moscou resta
apenas ficar histéricos como, por exemplo, o apelo durante as comemorações do
Batismo da Rus, de um padre de Kyiv a alguns paroquianos sobre subordinação
direta à Igreja Ortodoxa Russa. Superar o partido autonomista na Igreja
Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de Moscou aproveitando-se da doença do
Metropolita Volodymyr, não se conseguiu. Restabelecendo-se, ele retomou
gradualmente o seu status na Igreja, novamente atraiu a si o Arcebispo
Oleksandr (Drabynka), que é considerado como sua mão direita e um dos lideres
da ala pró ukrainiana da Igreja Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de Moscou,
particularmente da parte conservadora. E, na véspera da visita de Kirill a
Ukraina, em 26 de julho, na representação "Grande e glorioso" no
"Arsenal Art", em Kyiv, o lider da Igreja Ortodoxa Ukrainiana do
Patriarcado de Kyiv Filaret e o Metropolita Volodymyr, após um abraço
demonstrativo tiveram um longo diálogo. "Nós acreditamos, e estamos
convencidos, que haverá unificação dos Patriarcados de Kyiv e Moscou em uma
Igreja Ortodoxa Independente", - comentou esse encontro Filaret. Sabendo o
quanto é formalizado qualquer movimento dos hierarcas, este encontro
dificilmente teria sido acidental ou espontâneo. Significativamente, o
Patriarca de Kyiv recentemente, várias vezes referiu-se com cortesia ao
Metropolita Volodymyr e ao partido "pró-ukrainiano" na Igreja
Ortodoxa Ukrainiana.
Yanukovych também distanciou-se da posição de máxima
colaboração com Kirill, a qual foi observada no início de sua presidência. À
primeira vista, o governo ukrainiano revelou modelar lealdade à visita do representante
da Igreja Ortodoxa Russa. Exemplo disso foram as medidas de precaução durante a
chegada do Patriarca na estação ferroviária de Kyiv (Kirill chegou num trem
blindado a exemplo de Stalin). No entanto, no discurso formal, Yanukovych fez
declarações ambíguas que podem ser consideradas como uma alusão a
inadmissibilidade do uso da igreja por Moscou para fins políticos. "Para o
Estado todas igrejas e organizações religiosas são iguais. Nós respeitamos a
escolha de nossos cidadãos e asseguramos a todos o direito constitucional à
liberdade de religião. Nós não permitiremos o uso de igrejas e organizações
religiosas por algumas forças políticas para seus próprios interesses estreitos.
Isto também se aplica aos centros estrangeiros, que por meio de organizações
religiosas, por vezes, procuram influenciar a situação política na Ukraina.
Pois refere-se ao estado de segurança nacional", - disse o presidente.
Enquanto isso, aproveitar-se de organizações religiosas, abertamente, aspira a
liderança de apenas um país vizinho e distribui aos hierarcas na Ukraina
prêmios por sua boa atuação. Assim, ao aniversário do Batismo da Rus Vladimir
Putin novamente entregou condecorações estatais aos hierarcas da Igreja
Ortodoxa Russa do Patriarcado de Moscou. Seis metropolitas receberam a
"Ordem da Amizade".
Mas a principal derrota de Kirill é a não aceitação dele pela
sociedade ukrainiana.
Nas fotografias de reuniões anteriores com os seus apoiantes
na Ukraina simplesmente aumentavam o seu rebanho com o Photoshop. E desta vez,
apesar da cobertura das ruas de Kyiv e largo apoio informativo, sua vinda
poucos perceberam (a propósito, há com quem comparar: na missa de despedida da
visita do Papa de Roma Francisco ao Brasil reuniram-se mais de dois milhões de
católicos). Afinal, é da Ukraina que o Patriarca Kirill e altos hierarcas da
Igreja Ortodoxa Russa receberam o primeiro lote de fatos que comprometem sua
santidade. Durante a visita a Ukraina em 2009 nossos jornalistas registraram na
mão do Primaz da Igreja Ortodoxa russa um relógio Breguet no valor de 30 mil
dólares. Embora ele, ainda em 03.04.1969 recebeu o corte monástico, o qual
denuncia publicamente a "sociedade de consumo". Além disso, tentou
mentir e alegou que a fotografia com o dito relógio era colagem, enquanto no
site do Patriarcado de Moscou havia uma foto do encontro de Kirill com o
ministro da Justiça da Rússia, e no braço do Patriarca havia o mesmo Breguet.
Em 2012 estourou mais um escândalo em torno da demanda de Lídia Leyenovoy para
o ministro da saúde da FR. Então tornou-se claro que Kirill era proprietário de
um apartamento de luxo em Moscou, o que é uma violação direta das regras
segundo concílio de Constantinopla quanto a propriedade de monges. Também
prejudicou a imagem do Primaz a sua insistência para trazer à responsabilidade
criminal por "blasfêmia" algumas moças com crianças menores do grupo
Pussy Riot, as quais, enfim, foram condenadas a duradouras penas de prisão.
Estes e muitos outros escândalos levaram os cidadãos da FR a um desapontamento
sem precedentes à pessoa do Patriarca Kirill e o nível de confiança a ele caiu
bem abaixo do nível de confiança a igreja por ele dirigida. Assim, de acordo
com a opinião pública, em maio de 2012 confiavam na Igreja 64% de russos, em
Kirill - apenas 56%.
A tentativa de usar politicamente a ortodoxia no desempenho
do Patriarca Kirill para expansão russa na Ukraina claramente falhou e ainda
mais desacreditou e enfraqueceu a influência do Patriarcado de Moscou na
sociedade. Entre os crentes da Igreja Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de
Moscou, ao que parece, há um processo de rejuvenescimento natural e uma nova
geração cada vez menos percebe a Igreja Ortodoxa Russa como sua igreja. Este processo
mental reforçará, objetivamente, as posições dos autonomistas na Igreja
Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de Moscou e reduzirá as chances no uso de
satisfatórios recursos de influência da Rússia sobre Ukraina. A experiência da
fracassada missão geopolítica de Kirill mostrou que o uso da Igreja Ortodoxa
Russa em nosso país, na visão neo-imperial de Moscou - é apenas dinheiro jogado
ao vento, como o restante de projetos russos e "movimento dos
compatriotas", que durante anos não produziram o resultado desejado para
Kremlin, isto é, envolver Ukraina em iniciativas neo-imperiais. O que, afinal,
mais uma vez prova que Ukraina objetivamente não é Rússia, mesmo quando suas
autoridades são próximas em espirito ao Kremlin como Yanukovych e o Partido das
Regiões.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
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