segunda-feira, 12 de agosto de 2013

IMPOTÊNCIA NA POLÍTICA EXTERIOR E AUTODESTRUIÇÃO

Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 09.08.2013
Oleksandr Solonhko

Recentemente a sociedade ukrainiana foi agitada por uma série de ataques informativos contra o seu país.
Os mais dolorosos e ressonantes foram as inúmeras declarações e ações dos círculos chauvinistas poloneses com a meta de desacreditar Ukraina em nível internacional. Como escândalo foi marcado o apelo do chamado "grupo 148" (¹) que pretendia na designação do mais vergonhoso acontecimento da história da Ukraina desacreditar nosso país ainda mais.


Antes que se aquietasse a onda informativa, o espaço midiático chocou Ukraina com o início da guerra econômica por parte da Federação Russa. O Serviço de Inspeção Alimentar, nos produtos ukrainianos, supostamente encontrou substâncias ilegais. O golpe foi direcionado à Empresa Roshen, cujos produtos (chocolates) supostamente mostravam "benzopyren". Seguiu-se uma série de novidades decepcionantes para o proprietário da empresa Petró Poroshenko. A produção começou a ser analisada na Bielorrússia, o trânsito para Rússia, através da Bielorrússia cessou. Em seguida, pelos chocolates de Poroshenko interessaram-se as autoridades competentes de Cazaquistão, Moldávia, Tajiquistão.
Os bielorrussos também caçaram o certificado emitido aos vinhos "Legenda Inkermana", de produção ukrainiana.
Além disso, a partir de 1º de julho ao "Interpipe" de Viktor Pinchuk foram negadas as quotas livres de imposto na colocação da produção aos países da União Aduaneira (Rússia, Cazaquistão, Bielorrússia). Como resultado, estarão sujeitos ao imposto de 18,9 - 19,9%.

Assim começou a guerra econômica da vez contra Ukraina.

O centro de influência não é difícil definir - é, certamente, Moscou. Fato significativo é que nas ações citadas foram usadas apologias quase soviéticas, criadas sob o nome de União Aduaneira, ou países, que mesmo não sendo seus sócios, mas não podem ou não querem livrar-se da influência de Moscou.

Então, este fato deve ser marcado não como guerra da União Aduaneira com Ukraina, em cujos abraços estamos sendo desesperadamente empurrados por diversas forças. No entanto, é necessário observar, que o principal e único centro que produz decisões e sua realização no âmbito da associação  - é o Kremlin.

Portanto, tudo isso é manifestação do interesse da Rússia e executa-se apenas para satisfação dos desejos e necessidades do regime de Putin. A diferença do descrito modelo consiste apenas no fato de que Moscou anexa à guerra econômica contra Ukraina seus satélites, os quais, de fato, não têm escolha.

Desde o início é necessário prestar atenção ao fato, de que isto não é pela boa vizinhança, não é como irmãos. Então o que devemos esperar no caso de, à já mencionada organização nos empurrarem a força? Seguramente, nada de bom. 

Surge a pergunta: qual a relação entre os eventos em torno das relações ukrainiano-poloneses e outros ataques ideológicos, com matizes históricos de um lado - e os golpes comerciais-econômicos do lado da União Aduaneira e aliados do outro?
A resposta é simples e óbvia - são medidas sistemáticas para desacreditar Ukraina, a nível internacional, em todas as formas possíveis, que visam frustrar a assinatura do Acordo de Associação entre Ukraina e União Européia no outono deste ano. Essa questão é uma daquelas que mais se ouvem na Ukraina nos últimos meses, e até anos.

Então, orando em Kyiv pelo "mundo russo no mundo todo" e assustando os ukrainianos, aliás, como sempre, - Putin voltou a Moscou e lançou com mais poder o volante de represálias econômicas contra Kyiv. Volante, já preparado a tempo começava agir.

Perda de negócios do "rei de Chocolate" e enfraquecimento de seu lobby não criará consequências sérias ao governo, "Família" e outros grupos influentes, porquanto, as perdas de Poroshenko não lhes causarão prejuízo - em oposição ao impacto sobre as empresas ou outros ramos que constituem um interesse direto de Yanukovych, sua comitiva pessoal e outros adeptos do regime, os quais recebem super-lucros graças a atual ordem social formada na Ukraina.

Isto quer dizer, que Moscou agora demonstra abertamente, o que pode acontecer com objetos de interesse econômico direto da mais faminta "Família" ukrainiana no caso em que Yanukovych não se atenha às condições de Putin.

O ataque a Roshen pode-se considerar como demonstração de força e possibilidades para aplicação de danos econômicos irreparáveis. Neste caso, deram a Kyiv a possibilidade de observar, quais as possibilidades para pressão econômica tem Kremlin e seus subordinados. E, se Yanukovych e Co.  não mudarem o comportamento, haverá mais e pior. Isto é fato (²).

As empresas de Poroshenko podem ser destruídas na Ukraina sem quaisquer envolvimento das forças e recursos de fora. Além disso, tudo isto se faz de acordo com decisões aceitas no nível estatal.

Moscou tentará, desesperadamente, impedir o acordo de Associação usando para isto absolutamente todos os métodos disponíveis. Por conseguinte, o nível de agressão vai crescer e adquirir legitimidade com auxílio da participação das instituições de outros países. Sob as últimas deve-se entender não apenas aquelas que entram na órbita do Kremlin - mas, digamos, os neutros, o que será mais difícil para os associarmos à zona de influência da União Aduaneira. Nós entramos não apenas na fase ativa, mas hiperativa fase de guerra econômica e a onda de tais ataques somente vai aumentar.
É completamente lógico, que num futuro próximo podemos esperar a eclosão de uma série de escândalos diplomáticos. Não devemos esquecer que ultimamente não cessam provocações chauvinistas antiukrainianas por alguns círculos da Polônia. Provavelmente haverá mais ataques, talvez mais agressivos. Isto é, a onda de agressões crescerá em todas as frentes possíveis.

Agora o tempo, que restou até a assinatura do Acordo, começa a ser reduzido a semanas. Durante este curto período, o lado russo deve queimar todas as pontes entre Ukraina e Europa, mas preservar sua própria face. Pois no fundo, do ponto de vista da não justificada parceria e apoio mútuo à agressão, que irá aumentar, será difícil explicar a Kyiv - porque pode ser benéfica a aproximação com o tema da política externa, a qual não trabalha para fortalecimento das relações mútuas, mas ativamente ocupa-se com a destruição da fraca economia ukrainiana e descredito de Kyiv aos olhos da comunidade mundial.

Caso contrário, Putin queimará as pontes também entre Ukraina e Rússia.

Também não se deve esquecer, que é improvável que o presidente russo possa contar com o fato de que aqueles, em cujas mãos agora encontra-se a maior parte do dinheiro que conseguiram retirar da Ukraina, simplesmente permitirão a Moscou enfiar a mão neste bolso, que continua a alimentá-los saborosa e satisfatoriamente. Isto até pode tornar-se um obstáculo intransponível para o estabelecimento da direta hegemonia política e econômica de Kremlin na Ukraina.

Como se comportará o poder na Ukraina?

Permanece aberta uma pergunta interessante. Como, em tal situação se comportará o governo ukrainiano? Porque estes processos são de caráter demasiado agressivo, para não reagir a eles.
Os acontecimentos dos últimos anos demonstraram claramente a posição do regime Yanukovych, incluindo questões semelhantes - é impotência na política externa e autodestruição. 
A única exceção a essa regra é o quão duro o regime luta contra o seu próprio povo, como sistematicamente esvazia os bolsos dos ukrainianos, retira seus direitos fundamentais, castiga pelas exigências legais, persegue, reprime e, ao mesmo tempo não se esquece de culpar, de todos os pecados mortais, a oposição. Como dizem, a partir das ruínas - ao fascismo. Aqui você não dialoga, as ações e decisões são duras, sistemáticas, sua implementação é operacional, inquestionável.

É difícil acreditar que o lado ukrainiano se decidirá por ações ativas em resposta, que defenderá os interesses do Estado a nível internacional, que vai recorrer a organismos internacionais, que chamará a atenção da UE para sanções econômicas politicamente motivadas. Não haverá vontade nem para suportar dignamente o golpe, para tomar medidas adequadas em resposta.

Falando a verdade, Kyiv tem poucas alavancagens de impacto econômico sobre Moscou oficial, especialmente aquelas que poderiam ser elementos de dissuasão eficaz para tais ataques agressivos. No entanto elas existem. Ukraina pode levantar a questão do trânsito de gás russo através do seu território, especialmente a discrepância proporcional para o preço do trânsito que Ukraina paga pela obtenção do gás russo.

As conseqüências econômicas de tais ações, as quais podem marcar atrasos no trânsito, e portanto, o interesse europeu na solução da situação e medidas adequadas, podem causar perdas significativas, que em Moscou compreendem espetacularmente. Compreendem também que Europa não estará em êxtase.
E, no caso de posição correta de Kyiv, expressa em efetivas ações preventivas do Ministério das Relações Exteriores ukrainianas, Europa vai culpar Moscou.

Entenderão, portanto, que Ukraina é o sujeito, não o objeto da política internacional, capaz de proteger efetivamente o interesse público, os interesses de sua nação. Deste modo, na próxima vez terão que pensar duas vezes antes de cometer algo parecido.

No entanto, o regime Yanukovych, de todas as formas possíveis e impossíveis, demonstra a incapacidade e falta de vontade para lutar e usar praticamente a única oportunidade para realização de pelo menos um efetivo curso na política exterior durante seu mandato.
Já soou a declaração de que Ukraina não vai tomar medidas de ação para a meta de estimular Rússia a cessação da escalada. E, em qualquer caso, mesmo em caso contrário, fica a pergunta da motivação. E ela será diferente daquela que deve nortear o estadista - não estrutura predatória de nível nacional.

Para cumprir os requisitos estabelecidos pela Ukraina, como condição para assinatura do Acordo da Associação, durante a próxima sessão do Parlamento ainda precisarão ser aprovadas as leis correspondentes.
Aqui haverá surpresas pois mesmo dentro do Partido das Regiões (governista) têm grupos de influência que buscam romper esse acordo, apesar da posição de eurointegração declarada pelo governo. Para não mencionar outras organizações e grupos, que realizarão "atividades subversivas", não apenas no parlamento.

Então, o outono parlamentar de 2013 na Ukraina promete ser agitado.

Possíveis conseqüências

Recentemente passou na rede uma tese de autor desconhecido, e que foi colocada na boca de Putin. Ela dizia:

"Se vocês não entrarem para União Aduaneira, nós lhes causaremos muito mal, mas se vocês entrarem, então - será ainda pior."

Soa irônico, mas é realista e responde à concepção geral de relações na mencionada relação. Com efeito, a adaptação dos países que entram para União Aduaneira, certamente reorienta suas economias para servir aos interesses do Kremlin, o que na Ukraina até agora ainda sequer conseguiram erradicar, como legado da ocupação soviética.

Então a conclusão é óbvia - terá que haver escolha.

Ou a defesa de interesses públicos - que significará perdas e aumento de tensões, mas, no futuro, garantirá o desenvolvimento progressivo e severas limitações à influência de Moscou.

Ou voltar atrás, rasgar o Acordo e pôr fim a integração européia - o que garantirá um curto enfraquecimento da pressão econômica, mas no futuro garante a perda real de independência política, não mencionando a econômica.

E quanto ao debate sobre a escolha do vetor de integração da Ukraina, então para aqueles que desejam a direção ocidental européia e, para aqueles que querem aproximação com a Rússia é válido lembrar: em qualquer dos casos a política do Estado deve ser pró-ukrainiana. E com a existência de possibilidades é necessário implementar medidas para realização da concepção do centrismo ukrainiano.
Isto deve proporcionar possibilidades para afirmar-se como sujeito de plenos direitos da política internacional, colocar e ditar suas exigências em determinados assuntos, atingir objetivos concretos e elevar o prestígio do país na arena internacional.

No entanto, nem a Yanukovych, nem a seu meio, isso não interessa.

(1) "Grupo 148" - assim denominado grupo de 148 deputados do Partido das Regiões e Partido Comunista que encaminhou ao Parlamento polonês o pedido para reconhecer como genocídio a ação dos ukrainianos contra os poloneses em Volyn-Ukraina durante a II Guerra Mundial. Fato descrito nos artigos anteriores.

(2) As empresas de Poroshenko não foram escolhidas para o golpe demonstrativo por acaso. Poroshenko é um grande empresário ukrainiano que embora não se coloque frontalmente contra o governo é de oposição. Inclusive era um dos indicados à prefeitura de Kyiv, cujas eleições foram suspensas, possivelmente até 2015. Então, os oligarcas ukrainianos, da "Família" Yanukovych foram alertados e, por enquanto, preservados. Vários países já verificaram que não há nenhuma substância prejudicial nos chocolates.

Tradução: Oksana Kowaltschuk


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