(Continuação da 4ª Parte)
LEMBREMOS DE VYNNYTSIA - 5ª PARTE
LEMBREMOS DE VYNNYTSIA - 5ª PARTE
Antin
Drahan
ASPECTOS E CONDIÇÕES DE CADÁVERES E VESTIMENTOS
Como já mencionado, as roupas e os cadáveres estavam
amontoados nas sepulturas coletivas sem nenhuma ordem. Isto nos indica que eram
jogados de cabeça para baixo. Somente uma parte das roupas encontrava-se em
algum estado de conservação, a maioria apodreceu. Em algumas sepulturas as
roupas estavam queimadas e foram constatados dois motivos. No primeiro caso, o
fogo surgiu ainda por ocasião do enterro porque foram jogados fósforos acesos
ou tocos de cigarro ainda aceso. No outro caso o fogo surgiu espontaneamente
devido aos processos químicos ali existentes.
O resgate dos cadáveres encontrava ainda, outras complicações
e dificuldades. Em várias sepulturas, principalmente no pomar, entre as camadas
de vestimentas e cadáveres havia uma camada de cal virgem. A cal era jogada nos
cadáveres provavelmente para eliminar o mau cheiro quando inicia-se a
decomposição. Após alguns anos a cal e os cadáveres da camada subseqüente
formaram uma massa sólida. Também em sepulturas onde não havia cal, o resgate
não se apresentava facilmente. Como já mencionado, os cadáveres, na maioria
foram jogados de cabeça para baixo, e além de estarem em desordem ainda
encontravam-se trançados. E, além do próprio peso, havia o peso da camada de
dois metros de terra que os transformou num corpo reunido, compactado. Era
preciso retirá-los com muito cuidado para não lhes causar mais danos. Somente
numa grande vala nas primeiras escavações no pomar, os cadáveres encontravam-se
arrumados com bastante ordem. O que predispôs os carrascos a tanta
"bondade" não é possível adivinhar. Talvez esta tenha sido a primeira
cova e eles ainda não haviam adotado o costume de jogar a cabeça para baixo.
IDENTIFICAÇÃO DOS CADÁVERES
Como já relatado anteriormente, todos os cadáveres masculinos
apresentavam as mãos amarradas nas costas, às vezes em dois locais. Alguns
tinham também as pernas amarradas. Todos vestiam as roupas típicas
soviético-ukrainianas usuais da região. Os cadáveres masculinos vestiam camisa,
calça e casaco ou paletó. Alguns ainda vestiam cueca e camiseta. De 196
cadáveres femininos, 49 estavam completamente nus. Todos, de acordo com a
comissão médica eram jovens e a maioria de cadáveres femininos usava
apenas uma camisa (A camisa feminina, daquela época, pode ser comparada a uma
camisola. O comprimento ia até abaixo dos joelhos. Era bordada no peito e mangas,
por cima usava-se uma saia). Isto induziu à terrível suspeita, corroborada com
testemunhos, que estas mulheres antes do seu assassinato, ainda foram
desonradas pelos seus carrascos. Somente os cadáveres de algumas mulheres mais
velhas estavam vestidos. Ao contrário dos cadáveres masculinos, somente poucas
mulheres tinham as mãos amarradas.
Estabelecer a identidade dos cadáveres de acordo com os
procedimentos normais era impossível. Não se podia reconhecê-los, digamos -
pela expressão de seu rosto. Daí, procurar com atenção uma possível anomalia de
seu corpo, principalmente a existência de amputação nas partes terminais. Essas
descobertas eram anunciadas na imprensa local e desta maneira conseguiu-se
estabelecer a identidade de 15 cadáveres. Também dedicou-se atenção especial
aos dentes e sua inserção ou falta. Mas esta averiguação não deu resultado
porque naquele tempo não havia em Vinnytsia nenhum dentista que trabalhasse aí
anteriormente. Também não havia nenhuma possibilidade de estabelecer a identidade
pelo cabelo devido as alterações químicas nas sepulturas. A maior parte de
identificações deu-se pela roupa e documentação.
Simultaneamente com as tentativas de estabelecer a identidade
dos cadáveres, a comissão médica envidava todos os esforços para estabelecer
suas idades, porque isto poderia ser a chave de investigação médica e jurídica.
Ajustando métodos médico-jurídicos modernos, a idade era possível estabelecer
com bastante precisão, salvo poucos erros. Nestes casos os dentes desempenhavam
importante papel porque a idade da pessoa pode ser conhecida, não tanto pela
quantidade de dentes preservados, como pelos dentes sãos. Em alguns casos as
conclusões deduziam-se pela distribuição da pele no rosto, nas orelhas. Com
base nos dados obtidos instituiu-se que as pessoas - cadáveres, encontradas em
todas as sepulturas nos três meses de escavações, e examinadas conforme
descrito, dividiam-se pela idade em tês categorias: entre 20 - 30 anos...638;
entre 30 - 40 anos...4.076; acima de 40 anos...1.366. A idade dos demais não
foi possível estabelecer, nem mesmo aproximadamente. Concluiu-se que as vítimas
dos bolcheviques, no extermínio da nação em Vinnytsia foram, principalmente,
homens na idade entre 30 e 40 anos.
CAUSAS DA MORTE
Todos os cadáveres resgatados denunciavam sinais evidentes de
tiro na nuca. Somente em poucos casos isto não pôde ser comprovado devido aos
danos sofridos pelo cadáver durante as escavações. Na maioria das cabeças de
cadáveres foram encontradas balas. E, geralmente mais de uma. Dois tiros
provados em 6.360 casos. Três buracos de bala havia em 78 crânios e 2 cadáveres
possuíam 4 sinais de tiro. Outros possuíam uma marca de tiro ou a quantidade de
tiros não pôde ser estabelecida.
Uma certa quantidade de cadáveres apresentava crânios
esmagados com objetos sólidos, provavelmente cano de pistola. Além de tiros na
nuca, alguns cadáveres apresentavam ainda tiros adicionais na testa ou no lado
da cabeça.
Certa quantidade de cadáveres possuía ainda, além de balas na
nuca, os lábios repuxados forçosamente até a garganta, e outros um laço no
pescoço.
A comissão médica com grande precisão ainda estabeleceu a
espécie do tiro. Foi confirmado que nem todos os tiros eram mortais,
principalmente os que não atingiam o cérebro. Muitos tiros podiam apenas causar
completa paralisação, não a morte, nem tiravam a consciência. E, daí se conclui
que os carrascos davam a tarefa por concluída porque somente em alguns casos
davam o golpe de misericórdia com forte pancada na cabeça. O esmagamento do
crânio com pancadas foi constatado em 395 casos. As observações subseqüentes
permitiram justificar a suposição que uma grande quantidade era enterrada viva.
A testemunha deste fato é que dentro das gargantas e até nos intestinos foi
encontrada terra que, sem dúvida, foi engolida quando já nas valas coletivas
cobertos com terra.
BALAS E TIROS
Como é comum acontecer nas investigações jurídico-médicas, em
Vinnytsia foi dedicada muita atenção aos crânios dos cadáveres, às balas nos
lugares das escavações e à natureza dos tiros. Como já foi referido muitas
balas foram encontradas nos crânios dos cadáveres que apresentavam-se
deformados devido ao choque com os ossos. Mas, com base no seu peso e medição
dos orifícios causados no crânio, constatou-se que os carrascos utilizaram
armas automáticas de mão, de pequeno calibre. Todas as balas possuíam diâmetro
inferior a 6mm. Algumas balas, talvez devido a alguma incorreção de tiro ou
falha mecânica, alojavam-se na nuca sob a pele, não chegando aos ossos. Nesses
casos elas preservaram sua forma e peso original que reportava às balas
deformadas. O seu diâmetro apresentava 5,6 mm, 1,2 cm de comprimento e 2,5 g de
peso. Nos lugares das escavações, nas sepulturas ou entre as roupas, somente
poucas vezes foram encontrados cartuchos, mas somente uma única vez, após
limpeza, foi possível ler: "T33". A quase total ausência de cartuchos
faz supor que as vítimas não eram fuziladas no local onde eram enterradas,
salvo, algumas exceções.
Outro ponto importante para estabelecer era a distância da
qual eram os tiros disparados na nuca das vítimas. Foram averiguados os sinais
que a bala deixava quando disparada entrava no corpo. É evidente que a longa
permanência dos cadáveres na terra dificultava as investigações, mas em muitos
casos, ainda assim foi possível confirmar sinais claros de queimaduras, tanto
na pele, quanto na roupa, que claramente evidenciavam que os fuzilamentos foram
executados de pequena distância. E em alguns casos, podia-se afirmar que a arma
foi encostada na cabeça da vítima.
MODO E LOCAL DOS FUZILAMENTOS
A investigação dos cadáveres pelos especialistas, sem sombra
de dúvida revelou que os fuzilamentos eram executados por mãos hábeis e que com
algumas exceções eram finalizadas em outro local, não nos lugares das
escavações, sobre as sepulturas ou dentro delas.
Com apenas alguns casos rejeitados foram determinados dois
métodos de fuzilamento. No primeiro procedimento atiravam na nuca da vítima, de
baixo para o alto, na direção do cerebelo. O segundo método consistia atirar na
nuca da vítima apontando para a primeira vértebra cervical, que sustenta a
cabeça, cuja perfuração provoca morte certa. Nos dois procedimentos aplicavam
com exatidão o sistema elaborado. A mudança da técnica do fuzilamento era
ditada, provavelmente, pela força da arma de fogo em uso.
Durante as investigações surgiu a pergunta, em que posição
encontrava-se a vítima durante o fuzilamento. As marcas de tiros e a direção
das balas indicaram que todos eram fuzilados na posição vertical, em pé. O tiro
na nuca em direção a testa somente poderia ser dado nesta posição. Muitos
cadáveres possuíam sinais de tiros suplementares na coroa, na testa ou
têmporas. Com base nestes tiros a comissão pôde afirmar que os verdugos freqüentemente
davam o golpe de misericórdia às suas vítimas segurando-as em posição
inclinada, ou quando elas já se inclinavam abatidas pelo primeiro ou segundo
tiro. Em outras ocasiões, com anteriormente descrito, a vítima tinha o crânio
esmagado pela própria arma.
Quando se queria determinar o local dos fuzilamentos, as
deduções da comissão e as confissões das testemunhas confirmavam que todas
essas milhares de vítimas, com pouquíssimas exceções, não eram fuziladas no
mesmo lugar em que eram enterradas. Apontava para isso a quase ausência de
cartuchos de balas naqueles lugares. Uma pequena quantidade de cartuchos e
alguns cadáveres nas camadas de roupas que cobriam a massa de cadáveres nas
sepulturas testemunhavam que somente algumas pessoas eram fuziladas no local
das sepulturas comuns. Surgiram suposições que um ou dois comissários da NKVD,
no final, fuzilaram aqueles carrascos menores que fuzilavam os presos. Desta
maneira limitava-se ao mínimo o número de possíveis testemunhas do crime e minimizava-se
o risco de que o fato fosse revelado.
As confirmações das testemunhas e o exame das possibilidades
corroboravam as suposições de que as vítimas, na quase totalidade, eram
fuziladas no pátio da NKVD. Com base nos fatos, investigações e relatos de
testemunhas a comissão pôde, com bastante propriedade, divulgar os pormenores
daquele, em tempos de paz, sem procedência na história, extermínio da nação.
IMOBILIZAÇÃO DAS MÃOS E AMORDAÇAMENTO
Além das mãos amarradas, 24 cadáveres ainda tinham amarrados
os pés. Também foi usado o mesmo tipo de barbante. Os pés eram amarrados acima
dos tornozelos e do mesmo modo que as mãos e os cotovelos. Concluiu-se que os
pés das vítimas eram amarrados antes de serem levados para o local dos
fuzilamentos porque a vítima podia, ainda, dar pequenos passos. Somente homens
jovens tinham os pés amarrados, provavelmente para que não tentassem fugir.
Em alguns cadáveres havia o laço no pescoço, do mesmo
barbante. Os laços estavam fortemente apertados com uma só ponta. Mas, ao que
parece, o laço não foi a causa da morte, pois os cadáveres ainda apresentavam
marcas de fuzilamento na nuca. Alguns cadáveres ainda apresentavam uma mordaça
de lenço ou tecido, na boca. Essas vítimas também apresentavam marcas de
fuzilamento na nuca. Daí a suposição que antes da morte ainda eram torturadas e
fechavam-lhes a boca para que não se ouvissem gritos de dor.
(Continua)
Tradução: Oksana Kowaltschuk
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