Lembremos de Vinnytsia - Final
Antin Drahan
A ÉPOCA DO CRIME
Não se prendendo unicamente aos documentos encontrados junto aos cadáveres, nem aos relatos das testemunhas que possibilitavam, com muita precisão, estabelecer a época da execução do pavoroso crime de extermínio da nação, a comissão jurídico-médica, por seu lado, procurava estabelecer a época certa, baseando-se no estado geral dos cadáveres dentro do solo e ainda outros indícios. Estabelecer o tempo de permanência dos cadáveres dentro do solo também possibilitavam os arbustos plantados nas sepulturas coletivas. Pelas raízes e galhos podia-se determinar se os arbustos cresceram das sementes ou galhos foram plantados. E, se foram plantados, com que idade e, quanto tempo cresciam ali. Todas as provas em conjunto, permitiram estabelecer com exatidão, que o crime de extermínio da nação, em Vinnytsia foi executado principalmente em 1938, sendo que os fuzilamentos devem ter início ainda em 1937.
As audiências e testemunhos dos familiares e conhecidos das vítimas identificadas revelaram que todos eles foram aprisionados pelos órgãos da NKVD, nos anos de 1937 e 1938. Frequentemente transcorridos poucos dias da prisão, NKVD já informava que o aprisionado "inimigo da nação" era condenado ao degredo em longínquas regiões, por dez anos, sem direito a correspondência.
Determinar a data certa do aprisionamento de algumas vítimas foi possível com base nos documentos encontrados, principalmente os protocolos preenchidos durante as buscas domiciliares pelos agentes da NKVD. Durante as buscas os protocolos se faziam em duas vias, uma das quais era dada ao prisioneiro e a outra guardada nos fichários governamentais. Os protocolos encontrados coincidiam completamente com os relatos das testemunhas. Após o aprisionamento as testemunhas não viram mais seus familiares e também nada souberam sobre eles, com exceção do "esclarecimento" da NKVD sobre o "degredo para regiões distantes", que na verdade significava bala na nuca. Simultaneamente tiveram início em Vinnytsia os transportes noturnos secretos do prédio da NKVD para as "zonas proibidas" onde, posteriormente, foram encontradas as sepulturas coletivas.
LUGAR E DETALHE DOS ASSASSINATOS
O pátio cercado pelas garagens na prisão da NKVD em Vinnytsia, no qual fuzilavam as vítimas. |
No entanto, não se exclui que alguns fuzilamentos ocorreram dentro das salas da NKVD. Chegou-se a esta suposição porque testemunhas descreveram terríveis torturas durante os interrogatórios, como o fato de que foram resgatados muitos cadáveres de mulheres completamente nuas, ou somente de camisa. Então, estas mulheres aprisionadas evidentemente foram despidas, violentadas, e depois mortas nas salas do prédio da NKVD.
Com base nos testemunhos e deduções lógicas foi possível, já durante as escavações, vislumbrar o completo quadro do crime.
Destinadas ao fuzilamento as vítimas eram chamadas das câmaras prisionais, sob o motivo aparente de exílio para degredo em "longínquas regiões". Os prisioneiros juntavam seus pertences, quando os possuíam, não sabendo que eram conduzidos para morte. Guiados para fora das câmaras prisionais eles, ou nos corredores, ou em outros locais separados,
eram amarrados. Então, um a um, ou em pequeno número, eram conduzidos para o pátio, onde já funcionavam as buzinas dos veículos de carga. Sob o som das buzinas os presos, um a um eram fuzilados. Se uma bala não era suficiente, usavam duas ou três. Se a vítima, caída no chão, ainda apresentava sinais vitais, o carrasco destroçava seu crânio com forte pancada na cabeça. As vítimas mortas, que ainda sangravam, uma por uma eram jogadas no veículo. Por cima eram jogados seus míseros pertences - roupas que levavam consigo para "longínquos degredos". Nas "zonas proibidas" os cadáveres eram jogados nas já cavadas sepulturas, após o que os funcionários de confiança da NKVD matavam e jogavam nas mesmas sepulturas aqueles que as cavaram e transportaram, e já sozinhos cobriam os buracos com terra. As roupas, objetos e documentos encontrados nas três covas, no primeiro local das escavações, comprovaram-se como pertencentes às vítimas, que eram tomados na entrada da prisão e guardados em depósitos. Esses objetos deviam desaparecer juntamente com as pessoas para não levantar suspeitas entre funcionários não confiáveis.
EXECUTORES DO CRIME
Objetos de acusação, com base dos quais as vítimas eram aprisionadas e torturadas. |
1. As vítimas encontradas nas sepulturas coletivas de Vinnytsia foram aprisionadas pelos agentes da NKVD em 1937 3 1938;
2. Todos os aprisionados eram confinados nas dependências da NKVD em Vinnytsia e na seção da NKVD, na prisão municipal local;
3. Algum tempo após o aprisionamento os órgãos da NKVD davam aos familiares os "esclarecimentos" que os presos "já foram levados para o degredo, sem direito a correspondência";
4. Em alguns casos isolados a NKVD, ambiguamente insinuava aos familiares que os aprisionados - como confirmam as evidências - nesta vida nunca mais seriam vistos;
5. Na mesma época que aconteciam as prisões em massa e os órgãos da NKVD falavam sobre envio para "longínquo degredo", em Vinnytsia foram criadas as "zonas proibidas", que permaneceram sob proteção constante da NKVD;
6. Encontrados nos locais da escavação e junto aos assassinados, documentos que comprovam as buscas caseiras pelos órgãos da NKVD, correspondem às datas exclusivas à época das prisões.
MOTIVOS DO CRIME
Procuravam os parentes aprisionados pelos órgãos da NKVD entre os cadáveres desenterrados das covas de massas em Vinnytsia. |
O que poderia motivar o bárbaro crime de extermínio da nação em Vinnytsia? Com toda segurança demonstrada pela investigação, os assassinados não tinham nenhuma culpa, criminal ou política, e seus familiares nunca puderam compreender os motivos pelos quais foram presos, torturados e assassinados. Único esclarecimento dado pelos órgãos da NKVD durante as prisões era a afirmação que o inimigo era - "inimigo da nação" mas onde, como, porque e quando essa "inimizade" se manifestou, nunca ninguém disse. Na maioria dos casos as prisões aconteciam sem nenhum motivo, banal ou fictício. De acordo com o que constava em documentos encontrados, alguém dos presos era acusado pela doença do cavalo do "Kholkhoz", outro porque, sem permissão, mudou de local de trabalho; ainda outro porque vendia na feira produtos estragados, e outras acusações ridículas. Em muitos casos o motivo da prisão era - como constava nos documentos - encontrado durante as buscas, um cartão postal de parentes na Polônia, EUA, ou outro país além fronteira.
Nos relatos das testemunhas constava que as prisões, frequentemente, efetuavam-se com base nas denúncias, às vezes anônimas. Essas denúncias, no sistema soviético, davam ao denunciante a esperança de obter para seu uso a residência do denunciado. Entre as vítimas encontradas em Vinnytsia, havia muitos que perderam a vida por causa de sua convicção religiosa. Entre os cadáveres foram identificados padres mas, segundo os documentos encontrados concluiu-se que havia pelo menos trinta. Só na cidade de Kalenivka foram presos 17 padres em 1938, que então trabalhavam no corte da madeira. Um deles foi identificado entre os cadáveres de Vinnytsia, daí a suspeita de que lá foram assassinados os demais. Sobre a suspeita do grande número de assassinados por convicções religiosas em Vinnytsia, padres ou devotos, confirmou o fato de que foram encontrados muitos objetos religiosos nas sepulturas coletivas - cruzes, missais e até vestimentas que o padre usa ao celebrar a missa. De acordo com testemunhos somente na aldeia de Losna, da região de Ulaniv, foram aprisionadas 19 pessoas por pertencerem a uma paróquia secreta. Alguns deles foram encontrados depois nas sepulturas coletivas em Vinnytsia.
A investigação e os achados não puderam determinar nenhum caso, que em qualquer outro país culto pudesse constituir-se em pena de morte, ou mesmo um inquérito policial. Acresce o fato que todos foram assassinados secretamente e secretamente enterrados. Isto certifica que a NKVD não podia imputar-lhes nenhuma culpa que justificasse processá-los e condená-los à morte.
O EXTERMÍNIO DA NAÇÃO CONTINUA
O que aconteceu em Vinnytsya com as sepulturas e pessoas após a volta dos bolcheviques já no início do ano de 1944?
O tempo e as condições para elaboração desta brochura não davam oportunidade para revisão fundamental deste assunto. E é em vão que procuraríamos mais alguma evidência desse insano "holokost" na própria Vinnytsia. E, não são muitas as testemunhas vivas que sobraram das escavações de 1943. Mas, a futura investigação desse crime deverá, com certeza, encontrar ainda muitos documentos adicionais, que permitirão completar o quadro.
Quando o assunto é, o que aconteceu com as sepulturas e pessoas de Vinnytsia após o
retorno dos bolcheviques em 1944, então sobre este tema encontramos uma nota no jornal "Svoboda" (Liberdade) de 12.07.50. A fonte desta notícia não é fornecida, porém "Svoboda", naquele tempo, contava com um correspondente atrás da Cortina de Ferro e não é exclusivo que tenha recebido desse correspondente de atrás da Cortina de Ferro não fornecendo o seu nome por motivos compreensíveis - sua fonte. A nota impressa sob o título "Sepulturas Coletivas em Vinnytsya novamente completadas com vítimas ukrainianas de extermínio da nação pelos bolcheviques" diz:
O que aconteceu com as sepulturas e pessoas em Vinnytsia após a volta dos bolcheviques? Sobre isso, agora, existem autênticas e verificadas confrontações das evidências de testemunhas oculares. Nesta base confirmam-se, sem sombra de dúvida que, esvaziados em 1943 as sepulturas em Vinnytsia novamente estão cheias de cadáveres ukrainianos, novas vítimas do extermínio da nação pelos bolcheviques. As testemunhas oculares confirmam este fato:
Dia 20 de março de 1944 o exército soviético novamente conquistou a cidade de Vinnytsya. No dia 23 de março, do mesmo ano, foi anunciado que todos os moradores da cidade deveriam passar por uma revista especial e comparecer, munidos de passaportes, no parque municipal. Compareceram alguns milhares de pessoas assustadas. Havia muitas mulheres chorosas que pressentiam uma nova desgraça. Finalmente aproximou-se um veículo com alguns homens, nos moldes da MVD. O Comissário Rapaport, indicando as sepulturas vazias, que assim permaneceram após a retirada dos milhares de fuzilados em 1937 - 1938, perguntou: "Silenciais, traidores da pátria! Conteis, serviçais da propaganda alemã, quem de vós encontrou aqui seus familiares?" Tais corajosos, que repentinamente se expusessem ao perigo mortal, não se acharam. Então o comissário ordenou ao exército circundar a multidão e sozinho saiu da cidade. O dia todo as pessoas passaram rezando sob forte tensão, aguardando nova desgraça. À tardinha o comissário finalmente voltou, com uma extensa relação. Ele chamava pelo sobrenome, principalmente mulheres. Aproximadamente 100 pessoas se adiantaram. Esses infelizes que outrora procuravam nestes buracos seus familiares e próximos, agora estavam parados na beira de sepulturas. O comissário chamou o destacamento de armas automáticas e comandou: "Para os inimigos da revolução e traidores da pátria - fogo!"
Pessoas banhadas em sangue caíam nos pavorosos buracos que tornaram-se novamente sepulturas de infelizes vítimas ukrainianas do novo extermínio soviético. Aqueles que sobraram, sob escolta e baionetas foram conduzidos à noite pelo caminho de Liten: "Deveis no campo de batalha expiar sua culpa perante a pátria" - disse o comissário. A maioria daqueles cidadãos de Vinnytsia morreu, praticamente sem armas, sob fogo alemão próximo a Derzhan, Letychev, Mezzhybozh e Kamianets-Podilskyi.
DA PERSPECTIVA DO TEMPO
Já se passaram quatro dezenas de anos do tempo em que em Vinnytsia, de acordo com as palavras da nação "abriu-se a terra e apareceu o inferno, o comunomoscovita "holokost" abateu-se sobre a nação ukrainiana. Aproxima-se já meia centena de anos em que aquele crime foi descoberto. É evidente que Vinnytsia de longe, não é o único símbolo daquele horrível período em que dois sistemas de ditaduras totalitárias - comunismo moscovita e nazismo alemão - imprimiram a infame marca de extermínio da nação. Os crimes dos nazistas alemães revelou o Tribunal Internacional de Nuremberg. Alguns dos inúmeros crimes do sistema comunista perpetrados durante a ditadura de Stalin foram denunciados por seus companheiros após sua morte.
Mas, por que todos calam sobre Vinnytsia? Por que agora, depois de tantos anos daqueles bárbaros crimes, a internacional UNESCO distingue o aniversário do inspirador daqueles crimes, o sangrento Lenin, como grande "humanista?" Como e com o quê esclarecer o fato, que com representantes do sistema que causou e foi responsável pelo extermínio da nação, do qual Vinnytsia é somente uma parte, hoje sentam-se, até no Vaticano, e não somente os mesmos - como disse claramente o Patriarca Josef Slipey no Congresso Mundial dos Bispos em outubro de 1971 - "fecham os olhos sobre montanhas de cadáveres e rios de sangue" que a nação ukrainiana depositou como vítima. E, em nome de quaisquer "diplomacias" ainda pretendem fechar os olhos e a boca para os demais.
Outras nações podem ter sobre este assunto - ou pensar que têm - mais ou menos razões. Mas Vinnytsia e inúmeros outros crimes de extermínio da nação, inclusive a mortandade em massa com o auxílio da fome organizada nos anos 1932-1933 e que vitimou milhões de pessoas, nós os ukrainianos não temos o direito de esquecer.
LEMBREMO - NOS DE VINNYTSIA !!!
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Leia também:
http://noticiasdaucrania.blogspot.com.br/2013/08/holokost-o-inferno-na-terra-5-parte.html
HOLOKOST: O inferno na terra - 4ª Parte
http://noticiasdaucrania.blogspot.com.br/2013/05/holokost-o-inferno-na-terra-4-parte.html
HOLOKOST: O inferno na terra – 3ª Parte
HOLOKOST: O inferno na terra – 2ª Parte
HOLOKOST: O inferno na terra – 1ª Parte
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