Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 21.08.2013
Mustafa Nayem
No último domingo no final das notícias do principal canal informativo da Rússia - "Rússia 23" foi ao ar uma história interessante. Ela contou aos assistentes sobre o torneio internacional de combate "sambo", ao qual compareceram o presidente Putin e o primeiro-ministro Medvedev.
Depois da explanação da preparação dos atletas às
competições o jornalista, entre outros assuntos lembrou, que como visitantes do
torneio compareceram Nursultan Nazarbayev (presidente do Cazaquistão) e o lider
do movimento popular "Escolha ukrainiana" Viktor Medvedchuk.
Apresentados os visitantes, o jornalista
aproxima-se do visitante ukrainiano mas, ao invés de comentários sobre artes
marciais no ar, inesperadamente um filme de Medvedchuk sobre União Aduaneira!
Qual é exatamente a relação entre a disputa do
"sambo" e a escolha externa da política ukrainiana, é difícil de
entender. Mas, o quanto parece natural a relação dessas duas questões, propomos
avaliar pessoalmente.
V.
Medvedchuk: "Infelizmente, aconteceu, que o governo e oposição uniram-se
hoje na assim chamada escolha européia. Eu considero, como de fato, a maior
parte da população da Ukraina, que isso não está certo, que o nosso vetor de
integração econômica deve ser com o leste - União Aduaneira."
Jornalista: Serhii
Hlazyev praticamente confirma Medvedchuk. Ele também veio torcer pelos atletas,
mas se preocupa pelos vizinhos. "Ukraina hoje está envolvida no processo
de integração européia, onde lhe impõem o papel de colônia. Colônia sem
direitos. Se fizermos uma analogia, Ukraina, sem entrar no ringue,
imediatamente perde".
Em seu comentário Medvedchuk distorceu um pouco a
realidade sociológica na Ukraina manifestando seus próprios desejos de
"mais da metade do país". Ao longo dos últimos três anos, nenhum dos
serviços sociais da Ukraina recebeu resultados, de acordo com os quais mais da
metade dos ukrainianos davam vantagem a União Aduaneira sobre a adesão à UE.
Desde o início de seu retorno à política, a um ano
e meio, lhe previram diferentes cenários. Primeiro vieram os rumores de sua
nomeação à Embaixada da Ukraina na Rússia. Depois, que seu movimento, a
"Escolha ukrainiana", crescerá como partido e participará de eleições
parlamentares para se tornar lobby russo no Parlamento ukrainiano. A versão
alarmante foi o suposto desejo de Medvedchuk se tornar primeiro-ministro da
Criméia e com progressiva escalada do cenário russo na península separá-la da
Ukraina
Obviamente, todas essas versões parecem bastante
exóticas. Ao mesmo tempo tudo se resumia ao fato de que Medvedchuk foi eleito
lobista-chefe para os interesses russos na Ukraina. Posteriormente, a esta
hipótese surgiram convincentes confirmações.
Em julho de 2012, imediatamente após uma reunião de
Putin com Yanukovych, pela qual Yanukovych esperou várias horas, surgiu na rede
um vídeo alegadamente secreto, de um jantar amigável do presidente russo na
casa de campo de Medvedchuk, lider da "Escolha ukrainiana" na
Criméia. O fato de que Putin é padrinho da filha de Medvedchuk já era
conhecido. Mas, o quanto eram cordiais as relações que ligam os dois políticos,
foi demonstrado pela primeira vez neste vídeo. (ver vídeo no final da reportagem)
Primeiramente este vídeo foi apresentado pelo canal
russo Live News. Acreditar que este vídeo foi realizado apenas para arquivo
familiar e caiu na rede aleatoriamente, só uma pessoa muito ingênua acredita.
A demonstração seguinte das relações entre Putin e
Medvedchuk tornou-se a participação do presidente russo na mesa redonda da
"Escolha ukrainiana", que "acidentalmente" coincidiu com o
dia da celebração de 1.025 anos do Batismo da Rus. (primeiro nome da Ukraina, roubado pela
Rússia, com modificação -OK).
Com cada um desses gestos de relacionamento entre
Putin e Medvedchuk os meios de comunicação russos entusiasmavam-se cada vez
mais com a figura de V. Medvedchuk, cada vez destacando sua liderança no
movimento social com o eloquente título "Escolha ukrainiana", o qual
defende a adesão da Ukraina à União Aduaneira. O aparecimento de Medvedchuk com
Putin nas competições em Sochi, no contexto de tensas relações entre
exportadores ukrainianos e guardas fronteiriços russos devia dar ao espectador
uma resposta definitiva para a questão, quem é o principal lobista de Kremlin
em Kyiv.
Mas, se os partidários da União Aduaneira na
Ukraina ou Rússia soubessem quais bases ideológicas defendia V. Medvedchuk há
alguns anos atrás, dificilmente eles se alegrariam com sua escolha, e há uma
grande dúvida, se até o cumprimentariam.
Fuga das próprias opiniões
Em uma entrevista com a esposa de Medvedchuk ela
conta, que quando eles se conheceram, ela perguntou, por que ele, um homem bem
sucedido nos negócios, envolvia-se com política, a o que ele respondeu:
"Eu sei, como fazer deste país uma Alemanha ou França."
E isso é verdade. Dez anos atrás Medvedchuk, por
razões sinceras ou oportunistas colocava-se como um dos mais fortes defensores
da integração ukrainiana à Europa. Dada a quantidade de materiais encontrados
nos arquivos da internet, é difícil acreditar, que com todo esse plano
Medvedchuk conseguia esconder suas verdadeiras opiniões.
Talvez a mais autêntica cópia de opiniões da
política externa de V. Medvedchuk seja a sua dissertação "Atual idéia
nacional ukrainiana e atuais questões de criação de Estado", escrito na
Academia Nacional de Assuntos Internos da Ukraina, em 1997. No entanto,
familiarizar-se com este trabalho é impossível. Ele desapareceu. Não
existe nem no domínio público da internet, nem na biblioteca da Academia do
Ministério dos Assuntos do Interior, nem na biblioteca Vernadskyi. Esperamos,
que qualquer dia poderemos ver este trabalho do Sr. Medvedchuk, e, se alguém
guardou uma cópia, ficaríamos muito felizes de recebê-la nesta redação.
Os primeiros trabalhos sobre política externa de
Viktor Medvedchuk conseguimos encontrar no jornal dos companheiros, irmãos
Hryhorii e Ihor Surkis "Kyivski Novyny" (Novidades de Kyiv). Em
agosto do ano 2000 a edição publicou um artigo do programa de V. Medvedchuk
intitulado "Independência da Ukraina e valores europeus". O artigo
foi publicado em dois números consecutivos - 7 e 8 de agosto - e praticamente
todo foi dedicado a escolha européia da Ukraina.
Curiosamente, na Internet, este artigo quase não
sobreviveu: na página do Partido Social Democrático da Ukraina não funciona, e
o arquivo do jornal não é aberto ao domínio público. A única fonte onde ele
pode ser encontrado - é - no site pessoal de V. Medvedchuk. Verdade, a partir
da enumeração aberta das publicações ela está oculta, achá-la conseguiu-se
casualmente através de palavras-chave, pesquisando nos arquivos do Google.
No entanto, depois de concluir a leitura do artigo,
é fácil compreender, porque a equipe de V. Medvedchuk cuidadosamente esconde as
palavras de seu líder de olhares indiscretos. Citamos apenas um fragmento desse
material.
"Eu pertenço ao mesmo grupo de políticos
ukrainianos que sempre se orientaram aos valores europeus, à experiência
européia e que acreditam, que o sucesso de nossas reformas é inconcebível, se
nós vamos realizá-lo fora do contexto das tendências européias, se nós vamos
esquecer que Europa - é a nossa casa comum, e que a fuga do alojamento comunal
soviético não significa que nós não devemos buscar a única civilizada e
confortável civilização da construção européia.
Eu estou profundamente convencido de que,
praticamente todos os nossos segredos para superação da nossa crise precisa
procurar na Europa. Na minha profunda convicção, nós precisamos apenas, com
cuidado e atenção aprender a experiência européia e adaptá-la às realidades da
Ukraina.
Pode ser que nós ainda não temos fé suficiente nos
valores fundamentais europeus. Nós, ukrainianos, hoje nos assemelhamos àquelas
pessoas, das quais a Bíblia diz que possuíam fé suficiente para sair do reino
do mal, mas não possuíam fé suficiente para entrar na Terra Prometida."
Posteriormente todas essas idéias formaram a base
do livro de V. Medvedchuk: "Espírito e princípios da social-democracia:
perspectiva ukrainiana", onde ele ressaltava, que a adesão de plenos
direitos da Ukraina a UE é a consequência do reconhecimento de valores
liberais.
Em 2002, a opção da Ukraina era declarada no
programa do Partido Social Democrata da Ukraina (unido). Hoje é surpreendente
lembrar que nas convenções sob os auspícios de V. Medvedchuk na sala havia
pendurado um retrato do chanceler alemão Willy Brandt.
Na véspera das eleições parlamentares os
partidários do PSDU(unido) promulgaram o principal programa do partido "55
teses do PSDU (unido), onde no capítulo "Política exterior"
afirmava-se: "Nós partimos do fato, que Ukraina optou pelo modelo europeu
de sociedade e Estado, e esta escolha não está sujeita a discussão ou revisão.
O objetivo político da Ukraina - tornar-se um membro de plenos direitos da
Comunidade Européia".
O documento foi publicado com a assinatura de V.
Medvedchuk e seu texto, na íntegra, ainda pode ser lido no site oficial do
PSDU(unido) e até mesmo baixar como arquivo.
Fuga da próprias ações
Chegando ao Parlamento, o partido de V. Medvedchuk
passou das declarações ao concreto. Em 19.06.2003 o Parlamento aprovou a Lei
"Sobre a segurança nacional da Ukraina", de acordo com a qual, as
prioridades dos interesses nacionais da Ukraina definiam-se "integração no
espaço econômico, político e jurídico europeu e espaço euro-atlântico de
segurança".
Na esfera da segurança nacional a prioridade, entre
outros itens foi dito "aquisição de associação na União Européia com
preservação de boa vizinhança e parceria estratégica com a Rússia". Além
deste parágrafo Rússia é mencionada apenas em dois contextos: "observância
dos acordos sobre permanência temporária da Frota do Mar Negro" e garantia
do livre desenvolvimento, uso, desenvolvimento e proteção do idioma russo e
outros idiomas de minorias nacionais.
Interessante, no capítulo sobre questões econômicas
a Federação Russa não era mencionada. Como prioridade da Ukraina foi
determinado: "aprofundamento da integração do sistema europeu e mundial, e
participação mais ativa em organizações econômicas e financeiras
internacionais".
Esta lei foi aprovada por 319 votos. O partido
PSDU(unido) consistia de 37 deputados, votou favoravelmente com 34 votos mas,
mesmo se votasse contra - a lei seria aprovada. Foi uma escolha consciente dos
social-democratas.
Medvedchuk, na época era o chefe da administração
do presidente Leonid Kuchma. Mas não há nenhuma dúvida de que ele estava de
acordo com os membros de seu partido na escolha européia da Ukraina. No mesmo
ano de 2003 o serviço de imprensa de seu partido, PSDU(unido) anunciou o apelo
de seu líder ao povo ukrainiano, por ocasião do Dia da Europa.
Os apoiadores de hoje de V. Medvedchuk ficariam
surpresos, ao ouvir, que outrora seu líder exortava os cidadãos a compreender a
irreversibilidade da opção européia da Ukraina, e sublinhava que "Europa -
nossa morada".
"Aderindo às celebrações gerais européias,
mais uma vez ressaltamos o fato de que o país independente - Ukraina - definiu
sua política interna e externa à integração européia. Este difícil caminho
requer de cada um de nós uma maneira diferente de pensar e agir, respeito pela
lei, recusa ao legado autoritário do passado. E, principalmente,
conscientização de que Europa - é nossa morada. Nosso guia - Europa, os seus
valores humanistas".
E, se compararmos todas estas teses de V.
Medvedchuk com o então sentimento da sociedade, então revela-se, que durante
sua permanência no poder, V. Medvedchuk literalmente estuprava os ukrainianos
com suas idéias sobre a integração européia. De acordo com os dados do Centro
Razumkov, no início de 2002 desejavam a integração européia apenas 26% dos
ukrainianos, e desejos para aproximação com a Rússia eram 34,2%. Em comparação,
hoje o quadro é exatamente oposto: a integração européia apoiam 41,7% da
população, e a adesão à União Aduaneira - 31%.
No entanto, é improvável que o público russo um dia
verá esses dados. É ainda mais duvidoso de que a ele serão apresentadas as
opiniões políticas metamorfoseadas de V. Medvedchuk do passado.
Mas aos defensores da opção européia da Ukraina
também há uma boa notícia: sobre quem realmente é V. Medvedchuk na atual arena
política da Ukraina, os jornalistas russos falarão apenas nas suas fantasias
mais corajosas.
Medvedchuk é, definitivamente, um dos advogados
mais experientes na Ukraina. Mas, em todo o país, este fato é conhecido apenas
por um círculo muito restrito de especialistas. A reputação do cardeal
"cinzento" dos tempos do presidente Kuchma (Kuchma foi eleito em 1994
e reeleito em 1999 - OK) nos círculos políticos fez com que até mesmo os
políticos mais proeminentes, da oposição e do poder não ostentassem sua
colaboração com o Sr. Medvedchuk.
Sua popularidade entre o eleitorado potencial
restringe-se a incognoscibilidade. Não ajudaram nem as centenas de milhares de
cartazes com a face de Medvedchuk, que tentou promover a idéia da "escolha
ukrainiana" em quase todas as cidadezinhas ukrainianas. Certamente, o
aparecimento regular com V. Putin pode melhorar um pouco a situação, mas é
improvável que será favorável à imagem de um político ukrainiano independente.
A única pergunta que surge: por que a escolha de
experientes estrategistas políticos do Kremlin, capazes de efetivamente formar
a consciência do país de quarenta milhões de habitantes, caiu exatamente sobre
Medvedchuk - político pouco conhecido do passado distante, com determinada
reputação que a um ano e meio atrás, encontrava-se além dos limites de
marginalização?
As respostas podem ser duas: ou isto é um mito
habilmente construído para exportação especialmente para V. Putin, o que é uma
consequência do isolamento completo de Moscou das realidades ukrainianas. Ou
outra escolha além da criação artificial da "escolha ukrainiana" os
russos não tinham.
Então tudo isso confirma a marginalidade de todo
lobby russo na sociedade ukrainiana.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Putin visitando a afilhada
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