Ukrainskyi Tyzhden (Semana Ukrainiana)
Janusz Bugajski
Nos próximos dez anos aumentará a rivalidade entre Moscou e
Berlim no cerne da qual estão os princípios de gestão incompatíveis, atitude em
relação ao Estado de direito e os direitos humanos.
Anteriormente o principal argumento para a criação da OTAN foi
formulado da seguinte forma: "Para manter os alemães resignados, russos na
distância e americanos às pressas". Na base das mudanças geoestratégicas
dramáticas nas últimas duas décadas novas realidades européias são vistas
bastante diferentes: Berlim - em ascensão, Moscou pressiona, e Washington
retrocede. Neste novo contexto as relações germano-russas desempenharão um papel
fundamental no futuro do continente.
Redistribuição estratégica do poder
O desenvolvimento da Alemanha e a investida da Rússia (contra cada vez
maior paralisia da UE e imutável indiferença dos EUA à Europa) promete
implacável competição nos próximos 10 anos. No entanto, os países não competirão
pelo território, mas pela difusão da influência do Estado.
As relações entre FR e UE deterioraram após o retorno, no ano passado, de
Vladimir Putin, à cadeira presidencial. Anteriormente, ele tinha três
amigos influentes: o chanceler alemão Gerhard Schroder, o primeiro-ministro
italiano Silvio Berlusconi e o presidente francês Jacques Chirac. Já com os
atuais líderes da UE, especialmente Angela Merkel, as relações recíprocas não
são boas, e a antiga "relação especial" com a Alemanha cada vez mais se
perde.
A visita de Putin a este país no início de abril teve lugar no contexto de
graves tensões políticas bilaterais. E elas crescem, apesar de que em 2012 o
comércio russo-alemão atingiu um novo recorde, as ligações energéticas,
provavelmente serão fortalecidas devido ao planejado novo ramal de gasoduto
"Nord Stream" no fundo do Mar Báltico.Sim, Angela Merkel aproveitou o encontro
com Putin para enfatizar as deficiências marcantes dos direitos humanos e
desenvolvimento democrático na Rússia.
O reforço da posição da Alemanha tornar-se-á um desafio direto para as
ambições russas na Europa
À escalação dos conflitos entre os dois países conduzem alguns fatores de
caráter político e econômico, com agravamento que vem à tona a antiga rivalidade
estratégica pelo domínio na Europa.
A crise bancaria em Chipre reavivou a guerra econômica entre Berlim e
Moscou. Os funcionários de Estados do continente estão indignados com a
exportação da corrupção da Rússia e correspondente influência sobre diversos
países - membros da UE; ao mesmo tempo Moscou acusa UE no roubo
descarado, como considera a política dos depósitos em contas na ilha. Concedida
a Chipre (sob a égide da Alemanha) ajuda financeira para evitar falência causou
graves prejuízos para investidores estrangeiros. Maioria deles - russos, que de
acordo com estimativas, guardam em bancos da ilha aproximadamente 30 bilhões de
euros. Quase 4 bilhões de dólares serão alocados, e os depósitos restantes
submetidos a rigorosos controles de capitais. A maior parte desses fundos
consideram-se como lucros ilegais, lavagem dos quais tem lugar em Chipre.
As autoridades russas declararam que podem punir a UE pela questão do
Chipre, na qual Berlim é tratado como figurante principal. Alguns conselheiros
de Kremlin propuseram congelar os ativos das companhias alemãs que trabalham na
Rússia (particularmente Audi, BMW, Mercedes, Siemens e Bosch), ou introduzir
novos impostos sobre seus bens. Negócios-lobby da Alemanha apoiaram ativamente a
aproximação com Moscou; se o governo russo realmente começar pressionar os
empresários, agravar-se-ão as relações políticas.
Embora na Rússia ferozmente criticaram os acordos de ajuda financeira a
Chipre, os analistas acreditam que os oligarcas e gestores de topo de empresas
estatais da FR tinham a possibilidade de retirar em tempo seus recursos. As
maiores vítimas foram os representantes de empresas médias e pequenas, que
abriram contas em Chipre devido a incerteza no sistema financeiro em seu
país.
Exceto o papel de oásis para não pagamento de impostos, para os russos
ricos a ilha desempenhou ainda um importante papel geopolítico aos olhos de
Moscou. Ela se tornou um intermediário para muitos de seus contratos para o
fornecimento de armas a países como Síria, Líbano e Irã. E em conflito com
outros membros da UE Kremlin sempre podia contar com o apoio de Nicósia.
Durante a restauração do sistema financeiro em Chipre um dos alvos da
Alemanha e outros países-membros da UE era evitar a propagação do impacto
estratégico da FR no Mediterrâneo Oriental. No transcorrer dos acordos de
auxílio aos bancos o governo cipriota propôs ao Kremlin o uso da base militar no
porto de Limasol, substancial participação no capital recentemente descoberto na
exploração de gás marítimo e participação de tal acordo, a primeira proposição
reforçaria as possibilidades militares de Moscou, enquanto a última expandiria o
papel da Rússia no setor energético na Europa.
Além de restaurar a ordem em Chipre e em outros países que sofrem dos
efeitos nocivos da influência russa, Berlim agora apóia a investigação da
Comissão Européia quanto a monopolização dos mercados europeus por Gazprom. A
Alemanha não quer mais tolerar o fato de que o monopolista russo usa energia
como instrumento de influência política e potencial de chantagem. Os governantes
do continente cada vez mais protestam contra o controle do monopolista Gazprom
sobre o fornecimento e transporte de gás para Europa. Com isso Putin e seus
oligarcas irritaram-se, eles continuam considerando o bombeamento dos recursos
energéticos como principal instrumento de política expansionista externa da
FR.
Direitos humanos e agentes estrangeiros
Além disso, Berlim começou protestar mais abertamente contra a deterioração
da situação com os direitos humanos na Rússia. Os governantes e parlamentares,
bem como várias organizações não-governamentais alemãs apoiaram o movimento
antiputin que começou na Rússia em dezembro de 2011. Em resposta, os órgãos
policiais iniciaram a perseguição às Fundações não governamentais alemãs que
promovem a democracia e supostamente criam ameaça à soberania da Rússia.
Recentemente sofreram derrotas duas ONGs políticas alemãs em Moscou e São
Petersburgo: a sua obra foi paralisada, então o ministro do Exterior alemão,
Guido Westerwelle expressou fortes críticas ao governo russo.
De acordo com a lei russa, promulgada em julho do ano passado, as
organizações não-governamentais patrocinadas pelo exterior, que realizam
atividades políticas, devem registrar-se como "agentes estrangeiros". Aos
divergentes ameaçam pesadas multas ou até mesmo prisão. Portanto, hoje há
investigação contra a Fundação Konrad Adenauer e Fundação Friedrich Ebert. A
primeira está intimamente ligada ao Partido Democrata Cristão da chanceler alemã
Angela Merkel, a segunda - com a oposição social - democrata. Os diplomatas de
Berlim advertiram, que a inibição às atividades da Fundação FRA - República
Federal da Alemanha, pode afetar significativamente as relações
bilaterais.
Os próximos passos dependem dos resultados das eleições de setembro para o
Bundestag. O candidato a Chanceler do Partido Social-Democrata Peer Steinbrueck
defende a atitude tradicional a Moscou, independentemente de seu comportamento.
Em uma entrevista recente ele argumentou que os padrões democráticos ocidentais
não se aplicam a Rússia. Estas palavras ecoam a posição do ex-parceiro de Putin
e presidente do Conselho de Acionários do "Nord-Stream" ex-chanceler Gerhard
Schroeder. Ainda é cedo para expressar previsões sobre o vencedor, no
entanto a chanceler Merkel tem a oportunidade de desenvolver uma visão
estratégica consistente do papel da Alemanha na Europa, que vai ajudá-la a
preservar o seu poder.
A afirmação da Alemanha
Vários fatores reforçam atitudes e auto-confiança de Berlim na Europa.
Trata-se de uma situação econômica interna bastante estável, apesar da recessão
econômica geral na Europa; as divisões políticas dentro da UE aumentam a
credibilidade da Alemanha como uma força progressista; o colapso dos EUA e
concentração da diplomacia americana com foco em regiões fora da Europa;
consolidação da identidade nacional alemã, dá possibilidade para competir com a
Rússia.
Após a Segunda Guerra Mundial, um dos principais objetivos da construção de
instituições européias foi a supressão do nacionalismo alemão. Mas, em meio à
crise financeira e recessão econômica na Europa, a sociedade alemã, obviamente
decepciona-se com o projeto europeu. De acordo com uma pesquisa sociológica
recente realizada pelo canal ZDF, 65% dos alemães têm a opinião de que a
utilização do euro prejudica o país, 49% acreditam que a Alemanha estaria melhor
fora da UE. Há uma crescente insatisfação com as consequências da crise
financeira e, provavelmente, um em cada quatro alemães hoje está pronto para
votar no partido que se opões ao euro.
De acordo com uma pesquisa realizada pela revista semanal Focus 26% dos
cidadãos alemães estão dispostos a apoiar o partido político que guiará Alemanha
para fora da zona do euro. O novo movimento "Alternativa para Alemanha" (AfD)
recentemente organizou uma reunião em Berlim. Esta reunião exige que o Estado
abandone o euro e volte para o marco alemão ou crie uma moeda única com a
Holanda, Áustria, Finlândia e outros países financeiramente estáveis.
Os principais partidos alemães ainda apoiam o euro e a UE, apesar de
alguns protestos internos em conexão com a ajuda financeira aos países do sul da
Europa, como a Grécia e Portugal. A chanceler Merkel tentou garantir o
eleitorado, insistindo que os grandes devedores devem implementar regime estrito
da economia e pagar as dívidas. Sua posição reforçou sentimentos antiberlim na
Europa e encorajou as pessoas a falar sobre o chauvinismo alemão. Os
social-democratas e os"verdes" apoiaram Merkel na solução de problemas
financeiros da Europa, mas a popularidade do AfD (AfD - novo partido alemão
criado por intelectuais, políticos, economistas, liberais e conservadores.
Consideram que os países do sul, em crise deveriam sair da zona do Euro - OK)
crescerá significativamente se nos próximos meses começar uma nova crise
financeira.
Resultados eleitorais incertos na Itália deram à "Alternativa... " cartas
na mão, porque muitos fatos indicam que o novo governo em Roma, de Enrico Letta
pode dispensar a austeridade prometida. O lider da AfD Bernd Luque declarou, que
o risco do cumprimento da Itália de obrigações da dívida põe fim às promessas do
país: a de que a Alemanha vai resgatar o empréstimo. Da mesma forma, a coalizão
de esquerda radical grega "Syriza, que, segundo as pesquisas é lider, declara
que se recusará a pagar as dívidas de Atenas, se chegar ao poder.
O ressentimento dos contribuintes alemães e a onda de sentimentos
antialemães dentro da UE podem começar a expulsão do país para fora da UE.
Competição da nova geração
A afirmação da Alemanha, juntamente com o aprofundamento das divisões
econômicas e políticas entre o Norte e o Sul da Europa poderá levar ao
surgimento de um poderoso núcleo europeu liderado por Berlim e subordinada
periferia da UE. O fortalecimento da Alemanha será, além disso, um desafio
direto às ambições russas no continente. Kremlin necessita governos flexíveis,
que apoiarão seus interesses estratégicos, ou pelo menos manter-se-ão
neutros.
As batalhas políticas entre Berlim e Moscou tornar-se-ão mais frequentes na
arena internacional. Um fator significativo de tensão já existe: conflito de
interesses no Oriente Médio, onde a Alemanha favorece EUA. Os poderosos alemães
colocam-se, contra o apoio russo a regimes autoritários e podem recorrer a duras
críticas de sua tentativa de criação de União Eurasiana na base de países da
Europa Oriental, Cáucasos e Ásia Central. Ao contrário da UE, tal aliança será
baseada na opacidade econômica, liderança despótica e controle russo.
A nova rivalidade estratégica entre Alemanha e Rússia não se baseará nas
ideologias de única etnia ou ambições imperiais, relacionadas com expansão, como
foi durante a Segunda Guerra Mundial. Desta vez vamos falar sobre incompatíveis
princípios de gestão, atitudes em relação ao estado de direito, direitos humanos
e disciplina econômica, que influenciam toda a Europa.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
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