Yurii Shapoval
Chocado
com ofensiva nazista, Stalin estava pronto para propor paz a Hitler: Vyacheslav
Molotov durante seu encontro com o embaixador búlgaro pediu-lhe apresentar a
proposta em Berlim, para parar com as ações de combate. Neste caso, Stalin
estava pronto para dar aos nazistas a Ukraina e a Bielorrússia.
"Bloodlands"
- com este neologismo o historiador americano Timothy Snyder denominou as
terras afetadas pelas ditaduras nazista e comunista. A "terras
sangrentas" (exatamente assim traduziram para o ukrainiano o conceito de
Snyder) ele, particularmente, incluiu Polônia e Ukraina.
Quando
as pessoas falam da Ukraina, habitualmente, com acerto enfatizam, que o
implacável turbilhão varreu a Ukraina - de oeste para leste e de leste a oeste.
Na
Ukraina estavam envolvidas 60% das divisões da Wehrmacht, quase metade das
unidades de combate dos Vermelhos/Exército Soviético, que infligiram uma série
de ataques estratégicos aos alemães. E foi na Ukraina que abriu-se o caminho às
tropas soviéticas para Europa Central e Balcãs.
Nos
planos de conquista de Adolf Hitler Ukraina ocupava um lugar especial.
Realmente, esses planos construíam-se considerando a captura da Ukraina, que
devia se tornar uma parte importante da realização "Plano de Fome"
(Der Hungerplan). Este plano previa subalimentação dos povos de territórios
ocupados da URSS a fim de obter alimentos para o exército alemão e população da
Alemanha.
Na
estratégia de Stalin Ukraina esteve sempre presente. O ditador vermelho nunca
esquecia a aspiração dos ukrainianos à independência, demonstrada em 1917-1920.
Ele lutou ferozmente não apenas com os adversários explícitos dos bolcheviques.
Entre a elite ukrainiana constantemente procurava "separatistas" e
"reticentes-nacionalistas", expressava desconfiança em relação ao
Partido Comunista da Ukraina, enfim aproveitou a complicada situação do início
dos anos 1930 para submissão da Ukraina com o auxílio do Holodomor.
Condenada
a encontrar-se entre duas potências totalitárias, Ukraina, durante a Segunda
Guerra Mundial estava destinada sobreviver ao confronto de exércitos regulares,
genocídios, deportações, mobilizações, deportações para trabalhos forçados na
Alemanha, colisões de guerrilheiros e movimentos clandestinos e muitos outros
acontecimentos, que verdadeiramente fizeram o solo ukrainiano sangrento.
Isto
foi claramente demonstrado pelos acontecimentos ainda antes da II Guerra
Mundial. Em 15.03.1939 o exército húngaro (Hungria era aliada de Hitler)
invadiu os Cárpatos ukrainianos, que recentemente proclamaram sua
independência. Ao preço de sangue e vítimas o Transcarpathia foi anexado a Hungria.
A
luta da Sich (Sich,
no tempo dos cossacos era o centro militar e administrativo de Zaporizhzha -
daí o nome - OK) dos Cárpatos foi a primeira resistência militar,
embora não contra Hitler diretamente, mas contra o seu satélite. Em troca
Stalin mostrou publicamente sua simpatia para com Hitler.
Ainda
em 10 de março de 1939, no XVIII Congresso do PCUS(b) Stalin ironizava sobre
Ukraina dos Cárpatos dizendo que "inseto que quer agregar a si um
elefante." - E ainda, neste discurso, Stalin disse que a Grã-Bretanha,
França e EUA estavam muito interessados para que Hitler declarasse guerra
contra URSS.
O pacto de Hitler e Stalin foi
assinado em 23.09.1939 em Moscou. Stalin sorri sinceramente na companhia de
ministros, do Exterior da Alemanha - Ribbentrop (esquerda) e da URSS - Molotov
(direita).
Em
22 .08.1939 em um discurso perante os comandantes de todas as forças armadas da
Alemanha, Hitler disse: "Desde outono de 1938, decidi ir com Stalin... Stalin
e eu - os únicos que olham apenas para o futuro. Assim eu, nos próximos dias na
fronteira germano-soviética estenderei a mão a Stalin e com ele começaremos a
nova divisão do mundo..."
E
assim aconteceu em 23.08.1939. Neste dia assinaram o pacto "Hitler -
Stalin (o qual até hoje, por algum motivo ainda é chamado "Pacto Molotov -
Ribbentrop"). Ditadores dividiam a Europa e cada um tinha os seus próprios
cálculos. No entanto, em seus planos não havia lugar para Ukraina independente.
Conversas amigáveis. Oficiais
do Exército Vermelho e da Wehrmacht durante a campanha de setembro de 1939.
Uma
anotação característica fez em seu diário no outono de 1939, o famoso escritor
alemão Heinrich Mann: Stalin - igual a Hitler, ele por muitos anos
depreciava Hitler e seu país, embora provavelmente, o invejava. Um traidor
construiu toda sua carreira no antibolchevismo. De repente, ele dá uma volta, e
aqui outro igual traidor dá-lhe um abraço? Eles encontraram um ao outro para
levantar-se contra o mundo civilizado. Finalmente os dois juntos".
Em
17.09.1939 a União Soviética entrou na Segunda Guerra Mundial. Tropas da Frente
Ukrainiana entraram no território Ocidental da Ukraina e Ocidente da
Bielorrússia.
Em
22 de setembro o Exército Vermelho estava em Lviv, e em 27 de setembro os
nazistas ocuparam Varsóvia.
Nikita
Krushchev, o então líder partidário da URSS, lembrava o cuidado dos alemães e
russos na realização dos acordos anteriores e passavam por linhas divisórias
anteriormente estipuladas de territórios ocupados. Sabe-se, que realizavam-se
desfiles comuns de militares Nazi-Soviéticos. Tornaram-se disponíveis alguns
fatos de cooperação Gestapo e NKVD, embora esta questão, até agora não recebeu
cobertura elucidativa.
Desfile conjunto em Brest, 22
de setembro de 1939.
Setembro
de 1939 - propaganda stalinista apresentava como "campanha de
libertação" do Exército Vermelho, "setembro de ouro" e para
Ukraina Ocidental, como "associação fraternal". Esses clichês repetem
às vezes na Ukraina de hoje (principalmente os comunistas), especialmente na
Rússia.
Mas
será que é possível em tais categorias avaliar o conluio de duas tiranias?
Tiranias que dividiram entre si as esferas de influência do Báltico ao Mar
Negro, da Finlândia a Bessarábia, em particular planejaram destruir o Estado polonês.
Não
convém dissimular. URSS entrou na Segunda Guerra Mundial ao lado dos nazistas,
e já depois, em junho de 1941, a um preço verdadeiramente terrível foi
necessário liquidar as contas e "corrigir" as falhas da diplomacia
secreta de Stalin.
Não
houve nenhuma "associação fraternal". Como evidenciam nos últimos
anos os documentos descobertos, tratava-se em estabelecer nas terras ocidentais
ukrainianas a ditadura comunista, criação de estruturas administrativas
adequadas e destruição da anterior administração polonesa (e seus
representantes), e destruição sequencial de organizações nacionais ukrainianas
e inteligência ukrainiana (a priori para Moscou "nacionalista").
Forças
- tarefa de grupos da NKVD e guardas-fronteira (no início de outubro de 1939 contavam-se
na frente da Bielorrússia aproximadamente 90 mil, e na frente ukrainiana
aproximadamente 105 mil pessoas) realizavam prisões totais.
Soldados soviéticos e alemães.
Lviv, setembro de 1939.
Como
resultado de acordos com os nazistas URSS apossou-se de parte considerável do
território e população do então Estado polonês.
Do
ponto de vista do direito internacional isto foi declarada agressão que violava
uma série de acordos internacionais. Não foi "áureo", mas
castanho-cor de sangue para Ukraina foi setembro de 1939.
"Setembro áureo".
Cartaz soviético apresenta os acontecimentos de outono de 1939, como libertação
de terras ukrainianas da ocupação polonesa.
É
por isso que os patriotas poloneses e patriotas ukrainianos tornaram-se vítimas
do "áureo setembro". Já em dezembro de 1939 começaram os preparativos
para a deportação da população das províncias ocidentais ukrainianas e
bielorrussas para regiões remotas da URSS.
Os
primeiros habitantes foram deportados em 1940, juntamente com as famílias de
militares, colonos e silvicultores poloneses. A segunda deportação em abril de
1940 foi principalmente de famílias repressadas. Terceira e quarta em junho de
1940 e abril-maio de 1941 - na maioria de refugiados.
No
total foram deportadas cerca de 320 mil pessoas. Até presente data não foi
estimado o número de mortes em transportes, prisões, campos e execuções com
base em diversas sentenças.
Além
disso, após o início da guerra nazi-soviética, em 1941 foram executados
milhares de prisioneiros de guerra (Sobre o extermínio de prisioneiros diversos artigos já
foram publicados neste blog - OK).
O mais famoso crime de guerra
soviético durante a Segunda Guerra Mundial foi Katyn - fuzilamento de militares
poloneses, prisioneiros de guerra, perto de Smolensk, Kharkiv, Kyiv e Kalinin.
Na foto - exumação alemã na primavera de 1943.
Por
exemplo, com o início da guerra nazi-soviética em 1941 em Bykivnia, próximo a
Kyiv, NKVD executou um grande número de prisioneiros ukrainianos e poloneses.
Os sinais desses crimes foram cuidadosamente escondidos.
Na
véspera da guerra germano-soviética Polônia e Ukraina foram divididas entre
dois ditadores. Parte das terras, às quais em 1940 Stalin ainda acrescentou a
retomada da Romênia, Moldávia e Bessarábia com população ukrainiana, e
incorporou-a à URSS. As terras limítrofes ocidentais do território etnográfico
ukrainiano foram subjugadas diretamente ao Terceiro Reich ou aos seus
subordinados Berlim, Romênia e Hungria.
Não
tendo seu próprio Estado independente, os ukrainianos tiveram que cumprir
obrigações cívicas dos países, cidadãos dos quais eles eram. Para maioria dos
ukrainianos isto significava servir nas fileiras das forças armadas soviéticas,
e o restante - nos exércitos alemão, romeno ou húngaro.
22.06.1941
pôs fim no acordo criminoso de Hitler e Stalin, mas não na provação dos
ukrainianos. Com o início da guerra começou a implantação de atividades de
mobilização. Recursos da Ukraina exportavam-se para o Oriente da URSS e regiões
da Ásia Central.
Para
lá foram evacuados 3,5 milhões de cidadãos da Ukraina. Para o leste levaram
equipamentos de 550 maiores empresas industriais ukrainianas, e o restante os
alemães saquearam.
Lviv, junho de 1941. Os
moradores locais saúdam as tropas alemãs. Foto do arquivo nacional polonês.
Com
o avanço das tropas alemãs o PCUS(b) e o governo soviético deram instruções aos
governos locais e organizações partidárias para destruir tudo o que não
conseguiram evacuar: instalações das empresas, fábricas, máquinas agrícolas das
fazendas coletivas, ferramentas, queima de cereais, vegetação agrícola. Isto
constou na diretiva dos Comissários do Povo da URSS e do PCUS(b) em 29 de junho
de 1941, em discurso de Stalin pelo rádio em 3 de junho de 1941, em um decreto
especial da Comissão de Defesa do Estado de 22 de julho de 1941, e em outros
documentos. Como é de conhecimento, eles falaram sobre a criação da zona de
"terra arrasada".
E mais um
"libertador" das terras ukrainianas. Cartaz alemão de 1941.
Na
antiga URSS permitia-se mencionar de que ao inimigo nada deixaram. No entanto
não se podia lembrar os crimes do regime comunista, incorridos na realização (e
pode ser diferente em qualquer totalitarismo?!) da política de Stalin da
"terra arrasada", quando o regime comunista fugia para o leste.
Por
exemplo, não foram os nazistas, mas as autoridades comunistas em evacuação, no
Zaporizhzhia, que explodiram Dniprohes. E sobre isso nada sabia a população
civil, e nem mesmo as parcelas militares de escalões inferiores.
Dniprohes. Zaporizhzhia, 1941.
Em
Dnipropetrovsk explodiram fábrica de pão com os trabalhadores. Em Odessa
inundaram bairros inteiros com moradores, e soldados vermelhos (note bem, seus
compatriotas! - OK) feridos jogaram ao mar, juntamente com as ambulâncias. De
Kharkiv retiraram representantes intelectuais - para queimá-los em prédio
fechado. Em Uman torturam pessoas vivas num porão.
Tais
exemplos podem ser multiplicados. E tudo isso faziam não os nazistas, mas os
comunistas durante a retirada, ou melhor, durante a fuga perante o inimigo. Às
vezes as pessoas se opunham a esta política de "terra arrasada". Por
exemplo, os aldeões tentavam interromper a destruição da propriedade coletiva,
instalações, alimentos, animais, etc.
Em Lviv e outras cidades da
Ukraina Ocidental NKVD, sem julgamento, fuzilou vários milhares de presos
políticos. Os nazistas aproveitaram este fato para provocar destruição de
judeus no início de julho de 1941. Lviv, pátio da prisão Nº 1, 1941. Arquivo da
TSDVR (Organização científica independente para estudar os aspectos da
libertação da Ukraina).
Eis
porque pode-se escrever com racionalidade e utilidade não apenas os crimes do
regime comunista contra os seus próprios cidadãos. As pessoas que sobreviveram
a esta catástrofe, sabiam, que a nação ukrainiana sofreu de ambos sistemas
totalitários, tanto do nazismo quanto do comunismo.
Outro crime da URSS foi
denunciado pelos nazistas em Vinnytsia, e... usado para justificar o
Holocausto. O cartaz alemão tem conotações anti-semitas.
No
território ukrainiano os nazistas realizavam essencialmente dois Holocaustos -
o extermínio total dos judeus (mataram mais de 1 (um) milhão e Babi Yar em Kyiv
tornou-se o símbolo da tragédia dos judeus na Ukraina, como também o extermínio
dos eslavos - ukrainianos, russos, poloneses, bielorrussos.
Kyiv, Babi Yar. Soldados
alemães procuram objetos de valor nos corpos dos fuzilados judeus. Foto de
Johannes Gole. Início de outubro de 1941.
Uma
enorme "fábrica de morte" devia tornar-se a planejada pelos nazistas
construção de Totenburh nas margens do rio Dnieper perto de Kyiv. Menores em
espaço físico, tais "complexos" os nazistas construíram em toda
Ukraina. Muitos ukrainianos foram enviados a campos de concentração fora da
Ukraina.
Em uma rua de Stalino
(Donetsk-ua) vem um judeu com braçadeira na manga, 1941.
A
guerra que começou na União Soviética chamaram de "Grande Guerra
Patriótica". Já em 22 de junho de 1941 o acadêmico stalinista Omelian
Yaroslavskyi escreveu um artigo que, já no dia seguinte foi publicado no
"Pravda", sob o título de "Grande Guerra Patriótica do povo
soviético". Originalmente as três palavras foram escritas com letras
minúsculas. Posteriormente introduziram letra maiúscula para a palavra
"Patriótica". No final da guerra começaram escrever com letra
maiúscula também as duas primeiras. No entanto, após 22 de junho começaram as
dúvidas sobre a palavra "patriótica" em relação a guerra, entusiasmo
legendário e à passividade da população na questão da defesa "pátria
socialista", revelaram uma profunda divisão da sociedade em pelo menos
três grupos:
-
Aqueles que, por várias razões (inclusive em virtude de crenças) lutaram no
Exército Vermelho;
-
Aqueles que não queriam o retorno dos comunistas e abertamente se posicionaram
contra;
-
E a maioria silenciosa, que estava pronta/forçada a adaptar-se a diferentes
regimes.
Monumento a Stalin e Lenin em
Artemivsk (Donetsk-ua).
A
falta de confiança dos comunistas em seus próprios cidadãos confirma-se com
muitos fatos. Por exemplo, para evitar que fossem ouvidas informações sobre
ações nas frentes de batalhas de fontes não controladas pelo governo
conduziam-se requisições de receptores de rádio, da população próximas das
frentes de batalha. E no mundo foi criado o Bureau Informativo Soviético".
Ninguém
outro, senão o próprio Stalin em seu famoso brinde em 25.06.1945, disse:
"Nosso governo cometeu muitos erros. Tivemos momentos de situação
desesperada em 1941-1942, quando nosso exército recuava... Outra nação poderia
ter dito ao governo: Vocês não corresponderam às nossas expectativas, vão
embora, nós colocaremos outro governo, o qual acordará a paz com Alemanha e
garantirá nossa tranqüilidade".
Moradores de Kharkiv observam
cartazes alemães.
O
que fazia naquele sangrento junho o "pai das nações", ainda têm de
investigar, apesar de que hoje, muito do que parece inverossimil já sabemos.
Por exemplo, confirmado que chocado com o ataque nazista, Stalin estava pronto
para propor a Hitler uma nova variante de paz de Brest: Vyacheslav Molotov
durante seu encontro como embaixador búlgaro pediu-lhe para propor a Berlim
parar as ações de luta. Em vez disso, Stalin estava pronto para dar aos
nazistas a Ukraina e a Bielorrussia. Mas, no momento, dados os sucessos
militares, Hitler rejeitou estas propostas.
Cartaz da propaganda alemã,
1941 (dentro do cartaz: assassino e incendiário Stalin perdeu-se. No cartaz
menor: Programa do ávido de sangue Stalin!)
A
sociedade soviética estava esterilizada e comportada, mas, uma parte
considerável esperava a chegada dos alemães, na esperança de se livrar da
tirania bolchevique. Como lembrava Demian Korotchenko (não um propagandista,
mas secretário do Partido Comunista da Ukraina), nos primeiros dias da guerra,
"a grande maioria da população civil da Ukraina não queria continuar a
luta contra os alemães, mas tentava por vários meios ajustar-se ao regime de
ocupação".
Cartaz de propaganda soviética,
1941 (o escrito dentro da foto: rosto do hitlerismo).
Isto
é, a guerra dividiu a sociedade. No entanto, houveram forças que entendiam, nem
Berlim, nem Kremlin darão liberdade a Ukraina. E tendo isto em vista, este
princípio exige uma interpretação diferente do fato, de que em 30 de junho de
1941, no dia da ocupação nazista de Lviv, os ativistas da OUN (Organização dos
Nacionalistas Ukrainianos), sob a liderança de Stepan Bandera anunciaram a
renovação do Conselho regional do Estado da Ukraina (governo local, liderado
por Yaroslav Stetsko), sem informar sobre isso os alemães.
Isto
não foi uma ação colaboracionista de ukrainianos - do governo, mas um reflexo
da situação existente na sociedade. (Uma boa parte dos ukrainianos do oeste e também os que são
pró Rússia em geral, acusam os demais ukrainianos desse tal colaboracionismo,
quando o que houve foi somente o desejo de conseguir a independência.
Colaboracionistas são os que até hoje procuram aliar-se a Moscou. - OK)
Agora voltemos mais uma vez às palavras de Stalin pronunciadas em 25,06,1945.
Então: "Outra nação poderia ter dito ao governo: vocês não corresponderam
à nossas expectativas, vão embora... No entanto o povo russo não foi por este
caminho... e essa confiança do povo russo ao governo soviético revelou-se
aquela força decisiva, que garantiu uma vitória histórica sobre o inimigo da
humanidade, - sobre o fascismo. Obrigado a ele, ao povo russo, por essa
confiança!"
"Obrigado, ao povo russo,
por essa confiança!" (Dentro da foto: Amado Stalin - Felicidade da Nação!)
A
escala de perdas durante a guerra é a seguinte: a perda na URSS compõe 40% do
total das perdas causadas a todos os participantes. Na Ukraina, as perdas
alcançaram 40% das perdas totais da URSS. Em 1940 Kyiv tinha 930 mil moradores,
em 1943 - 180 mil.
Ao
todo, de acordo com atuais estimativas, URSS em 1941-1945 perdeu 32 milhões de
pessoas. Elas eram, como contavam nos tempos soviéticos, "filhos de
diversas nações".
Os
dados oficiais de perdas da Ukraina são de 10 milhões de pessoas. Mas Kremlin
enfatizava (como, aliás, agora Rússia também enfatiza) apenas o papel da nação
russa.
Lutas de rua em Kharkiv,
fevereiro de 1943.
Isto
não profetiza nada de bom a outras nações e, bem entendido, aos ukrainianos,
aos quais o Partido Comunista não confiava porque estiveram sob ocupação alemã.
Então o regime stalinista usava vários sistemas de punição. Indicativo era o
destino dos ukrainianos, aos quais chamavam "chornosvytkamy". (Chorno
- preto; svytka é uma espécie de jaqueta comprida usada antigamente pelos
aldeões pobres, cujo tecido era de fabricação caseira, de cor acinzentada),
porquanto eles lutavam em roupas caseiras, sem nenhum preparo militar. No
outono de 1943 o poeta e diretor de cinema Oleksandr Dovzhenko escreveu em seu
diário."Contam, que na Ukraina começam a preparar para mobilização jovens
de 16 anos, que às batalhas os conduzem mal treinados, que os consideram
"shtrafnyky" (militar da unidade disciplinar -OK), ninguém se
importa com eles".
De
fato, em 1943, surgiu uma diretiva especial, que exigia maior utilização de
elementos para aumento dos exércitos, como mobilização ao serviço militar das
anteriormente ocupadas áreas. Foram implantados, literalmente, desde os primeiros
dias do retorno do regime comunista na terra ukrainiana as medidas de
mobilização extensa.
De
acordo com os especialistas, nos anos 1943 - 1945 na Ukraina ao exército
soviético foram mobilizados 3 milhões de pessoas.
Pátria-mãe. Cartaz soviético de
1943. (Dentro do cartaz: Soldado, responsável pelo triunfo da Pátria!)
Em
1944 cada terceiro soldado era ukrainiano. Nos exércitos 1-4 das frentes
ukrainianas, principalmente nas unidades de infantaria e formações, os
ukrainianos eram 60-80%.
No
entanto, a estratégia militar anti-humana de Stalin, que não se preocupava com
as vítimas, levou a grandes perdas da população masculina na Ukraina. Não menos
de um terço dos mobilizados da República Socialista Soviética da Ukraina
morreram neste período. O vácuo etno-demográfico de pós-guerra na Ukraina
preenchia-se com pessoas de outras regiões da União Soviética (Deve ser também
por isso que muitos da população atual não se esforçam pela construção de uma
nação ukrainiana, eles não possuem origens ukrainianas - OK).
Interessante
que durante a guerra o regime stalinista flertava com os sentimentos nacionais
da Ukraina para estimular o seu patriotismo. Entre todas as repúblicas da URSS
só a República Socialista Soviética da Ukraina permitiram ter "sua"
ordem (condecoração). Trata-se da ordem de Bohdan Khmelnytskyi, introduzida em
10.10.1943, pelo decreto do Soviete Supremo.
Lembro
também, que os participantes de ações de combate em 1941-1945 receberam 7
milhões de ordens e medalhas. Destes, 2,5 milhões couberam aos nativos da
Ukraina. A participação dos ukrainianos entre os heróis da União Soviética
representou 18,2% (russos - 71%, bielorrussos 3,3% e representantes de outras
nacionalidades - 7,4%).
Finalmente,
não se esqueça que foi o ukrainiano, literalmente, que pôs fim à Segunda Grande
guerra. Foi um jovem general de nacionalidade ukrainiana Kuzma Derevianko, que
em 02.09.1945, em nome de União Soviética assinou a bordo do cruzador
"Missouri" a rendição do Japão.
General Kuzma Derevianenko
assina o ato de capitulação do Japão.
No
entanto, Stalin até seus últimos dias prosseguia sua estratégia antiukrainiana,
não confiava nos ukrainianos, sancionava periodicamente campanhas
"antinacionalistas". Por exemplo, ainda em janeiro de 1944 em uma
reunião do Politburo do PCUS(b) Stalin, pessoalmente discursou: Sobre erros
antileninistas e distorções no filme de Oleksandr Dovzhenko "Ukraina no
fogo". O texto do filme não apenas criticaram mas declararam
antissoviético, expressão viva do "nacionalismo, estreiteza e limitação
nacional". Foi um sinal claro para a próxima, em grande escala, campanha
antiukrainiana cujo formato tornar-se-ia visível nos anos pós guerra.
Considerando
isto, e também outras ações repressivas, dá base para rever um dos pilares de
princípios comunistas - sobre a libertação da Ukraina. Em 1944 tal libertação
não ocorreu, mas houve a expulsão dos nazistas da Ukraina.
Mas,
guerra após guerra, que o regime stalinista desencadeou desde as terras
ocidentais da Ukraina e levou até meados dos anos 1950 - um dos argumentos mais
convincentes em favor de tal definição. Entretanto há muitos outros.
Um
deles, particularmente indica o ex-comunista iugoslavo Milovan Djilas em seu
livro "Conversas de Stalin". Ele recorda, como participante da
delegação da Iugoslávia em 1945, voltando de Moscou passou por Kyiv. Djilas
escreve sobre Nikita Krushchev, um russo, que liderava Ukraina desde 1938.
"Isso
foi incomum até para nós, os comunistas, que poderíamos justificar tudo o que
pode desacreditar a imagem ideal de nós mesmos, que entre os ukrainianos, nação
tão numerosa quanto a francesa..., não se encontrou uma única pessoa competente
para desempenhar o cargo de primeiro-ministro do governo".
Nikita Krushchev conforta uma
mulher na rua de Kyiv libertado em novembro de 1943.
Em
seguida Djilas diz que não se pode explicar o sangrento conflito no oeste da
Ukraina somente com teimosia do nacionalismo ukrainiano, porque surge a
pergunta de onde vem esse nacionalismo se todos os povos da URSS são realmente
iguais?
Mas,
na verdade, a acusação dos ukrainianos no "nacionalismo" tem um
significado mais amplo que, às vezes, pensam. Não apenas Stalin, também Hitler
usava com sucesso essas acusações para destruir a própria idéia sobre a realidade
ukrainiana como um Estado verdadeiramente independente.5
Soldados soviéticos conduzem
prisioneiros de guerra alemães pelas ruas de Kyiv. Agosto de 1944.
Como
observa Timothy Snyder, o qual eu mencionei no início, a dinâmica da destruição
em massa, no caso da União Soviética e Alemanha nazista foi causada pelo fato
de que ambos os regimes baseavam-se em utopias ideológicas, orientadas para um
curso imperial-político.
Agora
o momento é diferente. É tempo de interpretar o passado, especialmente o
período da II Grande Guerra Mundial, não esquecendo o que aconteceu na União
Soviética depois de agosto de 1991.
Tradução:
Oksana Kowaltschuk
Fotoformatação:
A.Oliynik
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