segunda-feira, 13 de maio de 2013

HITLER, STALIN E A UCRÂNIA: ESTRATÉGIA CRUEL

Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana) 09.05.2013
Yurii Shapoval
 
Chocado com ofensiva nazista, Stalin estava pronto para propor paz a Hitler: Vyacheslav Molotov durante seu encontro com o embaixador búlgaro pediu-lhe apresentar a proposta em Berlim, para parar com as ações de combate. Neste caso, Stalin estava pronto para dar aos nazistas a Ukraina e a Bielorrússia.
 
"Bloodlands" - com este neologismo o historiador americano Timothy Snyder denominou as terras afetadas pelas ditaduras nazista e comunista. A "terras sangrentas" (exatamente assim traduziram para o ukrainiano o conceito de Snyder) ele, particularmente, incluiu Polônia e Ukraina.
 
Quando as pessoas falam da Ukraina, habitualmente, com acerto enfatizam, que o implacável turbilhão varreu a Ukraina - de oeste para leste e de leste a oeste.
 
Na Ukraina estavam envolvidas 60% das divisões da Wehrmacht, quase metade das unidades de combate dos Vermelhos/Exército Soviético, que infligiram uma série de ataques estratégicos aos alemães. E foi na Ukraina que abriu-se o caminho às tropas soviéticas para Europa Central e Balcãs.
 
Nos planos de conquista de Adolf Hitler Ukraina ocupava um lugar especial. Realmente, esses planos construíam-se considerando a captura da Ukraina, que devia se tornar uma parte importante da realização "Plano de Fome" (Der Hungerplan). Este plano previa subalimentação dos povos de territórios ocupados da URSS a fim de obter alimentos para o exército alemão e população da Alemanha.
 Em relação a Ukraina Hitler e Stalin atuavam com similitude.
 
Na estratégia de Stalin Ukraina esteve sempre presente. O ditador vermelho nunca esquecia a aspiração dos ukrainianos à independência, demonstrada em 1917-1920. Ele lutou ferozmente não apenas com os adversários explícitos dos bolcheviques. Entre a elite ukrainiana constantemente procurava "separatistas" e "reticentes-nacionalistas", expressava desconfiança em relação ao Partido Comunista da Ukraina, enfim aproveitou a complicada situação do início dos anos 1930 para submissão da Ukraina com o auxílio do Holodomor.
 
Condenada a encontrar-se entre duas potências totalitárias, Ukraina, durante a Segunda Guerra Mundial estava destinada sobreviver ao confronto de exércitos regulares, genocídios, deportações, mobilizações, deportações para trabalhos forçados na Alemanha, colisões de guerrilheiros e movimentos clandestinos e muitos outros acontecimentos, que verdadeiramente fizeram o solo ukrainiano sangrento.
 
Isto foi claramente demonstrado pelos acontecimentos ainda antes da II Guerra Mundial. Em 15.03.1939 o exército húngaro (Hungria era aliada de Hitler) invadiu os Cárpatos ukrainianos, que recentemente proclamaram sua independência. Ao preço de sangue e vítimas o Transcarpathia foi anexado a Hungria.
 
A luta da Sich (Sich, no tempo dos cossacos era o centro militar e administrativo de Zaporizhzha - daí o nome - OK) dos Cárpatos foi a primeira resistência militar, embora não contra Hitler diretamente, mas contra o seu satélite. Em troca Stalin mostrou publicamente sua simpatia para com Hitler.
 
Ainda em 10 de março de 1939, no XVIII Congresso do PCUS(b) Stalin ironizava sobre Ukraina dos Cárpatos dizendo que "inseto que quer agregar a si um elefante." - E ainda, neste discurso, Stalin disse que a Grã-Bretanha, França e EUA estavam muito interessados para que Hitler declarasse guerra contra URSS.
 

O pacto de Hitler e Stalin foi assinado em 23.09.1939 em Moscou. Stalin sorri sinceramente na companhia de ministros, do Exterior da Alemanha - Ribbentrop (esquerda) e da URSS - Molotov (direita).
 
Em 22 .08.1939 em um discurso perante os comandantes de todas as forças armadas da Alemanha, Hitler disse: "Desde outono de 1938, decidi ir com Stalin... Stalin e eu - os únicos que olham apenas para o futuro. Assim eu, nos próximos dias na fronteira germano-soviética estenderei a mão a Stalin e com ele começaremos a nova divisão do mundo..."
 
E assim aconteceu em 23.08.1939. Neste dia assinaram o pacto "Hitler - Stalin (o qual até hoje, por algum motivo ainda é chamado "Pacto Molotov - Ribbentrop"). Ditadores dividiam a Europa e cada um tinha os seus próprios cálculos. No entanto, em seus planos não havia lugar para Ukraina independente.
 
Conversas amigáveis. Oficiais do Exército Vermelho e da Wehrmacht durante a campanha de setembro de 1939.
 
Uma anotação característica fez em seu diário no outono de 1939, o famoso escritor alemão Heinrich Mann:  Stalin - igual a Hitler, ele por muitos anos depreciava Hitler e seu país, embora provavelmente, o invejava. Um traidor construiu toda sua carreira no antibolchevismo. De repente, ele dá uma volta, e aqui outro igual traidor dá-lhe um abraço? Eles encontraram um ao outro para levantar-se contra o mundo civilizado. Finalmente os dois juntos".
 
Em 17.09.1939 a União Soviética entrou na Segunda Guerra Mundial. Tropas da Frente Ukrainiana entraram no território Ocidental da Ukraina e Ocidente da Bielorrússia.
 
Em 22 de setembro o Exército Vermelho estava em Lviv, e em 27 de setembro os nazistas ocuparam Varsóvia.
 
Nikita Krushchev, o então líder partidário da URSS, lembrava o cuidado dos alemães e russos na realização dos acordos anteriores e passavam por linhas divisórias anteriormente estipuladas de territórios ocupados. Sabe-se, que realizavam-se desfiles comuns de militares Nazi-Soviéticos. Tornaram-se disponíveis alguns fatos de cooperação Gestapo e NKVD, embora esta questão, até agora não recebeu cobertura elucidativa.
 
Desfile conjunto em Brest, 22 de setembro de 1939.
 
Setembro de 1939 - propaganda stalinista apresentava como "campanha de libertação" do Exército Vermelho, "setembro de ouro" e para Ukraina Ocidental, como "associação fraternal". Esses clichês repetem às vezes na Ukraina de hoje (principalmente os comunistas), especialmente na Rússia.
 
Mas será que é possível em tais categorias avaliar o conluio de duas tiranias? Tiranias que dividiram entre si as esferas de influência do Báltico ao Mar Negro, da Finlândia a Bessarábia, em particular planejaram destruir o Estado polonês.
 
Não convém dissimular. URSS entrou na Segunda Guerra Mundial ao lado dos nazistas, e já depois, em junho de 1941, a um preço verdadeiramente terrível foi necessário liquidar as contas e "corrigir" as falhas da diplomacia secreta de Stalin.
 
Não houve nenhuma "associação fraternal". Como evidenciam nos últimos anos os documentos descobertos, tratava-se em estabelecer nas terras ocidentais ukrainianas a ditadura comunista, criação de estruturas administrativas adequadas e destruição da anterior administração polonesa (e seus representantes), e destruição sequencial de organizações nacionais ukrainianas e inteligência ukrainiana (a priori para Moscou "nacionalista").
 
Forças - tarefa de grupos da NKVD e guardas-fronteira (no início de outubro de 1939 contavam-se na frente da Bielorrússia aproximadamente 90 mil, e na frente ukrainiana aproximadamente 105 mil pessoas) realizavam prisões totais.
 
Soldados soviéticos e alemães. Lviv, setembro de 1939.
 
Como resultado de acordos com os nazistas URSS apossou-se de parte considerável do território e população do então Estado polonês.
 
Do ponto de vista do direito internacional isto foi declarada agressão que violava uma série de acordos internacionais. Não foi "áureo", mas castanho-cor de sangue para Ukraina foi setembro de 1939.
 
"Setembro áureo". Cartaz soviético apresenta os acontecimentos de outono de 1939, como libertação de terras ukrainianas da ocupação polonesa.
 
É por isso que os patriotas poloneses e patriotas ukrainianos tornaram-se vítimas do "áureo setembro". Já em dezembro de 1939 começaram os preparativos para a deportação da população das províncias ocidentais ukrainianas e bielorrussas para regiões remotas da URSS.
 
Os primeiros habitantes foram deportados em 1940, juntamente com as famílias de militares, colonos e silvicultores poloneses. A segunda deportação em abril de 1940 foi principalmente de famílias repressadas. Terceira e quarta em junho de 1940 e abril-maio de 1941 - na maioria de refugiados.
 
No total foram deportadas cerca de 320 mil pessoas. Até presente data não foi estimado o número de mortes em transportes, prisões, campos e execuções com base em diversas sentenças.
 
Além disso, após o início da guerra nazi-soviética, em 1941 foram executados milhares de prisioneiros de guerra (Sobre o extermínio de prisioneiros diversos artigos já foram publicados neste blog - OK).
 
O mais famoso crime de guerra soviético durante a Segunda Guerra Mundial foi Katyn - fuzilamento de militares poloneses, prisioneiros de guerra, perto de Smolensk, Kharkiv, Kyiv e Kalinin. Na foto - exumação alemã na primavera de 1943.
 
Por exemplo, com o início da guerra nazi-soviética em 1941 em Bykivnia, próximo a Kyiv, NKVD executou um grande número de prisioneiros ukrainianos e poloneses. Os sinais desses crimes foram cuidadosamente escondidos.
 
Na véspera da guerra germano-soviética Polônia e Ukraina foram divididas entre dois ditadores. Parte das terras, às quais em 1940 Stalin ainda acrescentou a retomada da Romênia, Moldávia e Bessarábia com população ukrainiana, e incorporou-a à URSS. As terras limítrofes ocidentais do território etnográfico ukrainiano foram subjugadas diretamente ao Terceiro Reich ou aos seus subordinados Berlim, Romênia e Hungria.
 
Não tendo seu próprio Estado independente, os ukrainianos tiveram que cumprir obrigações cívicas dos países, cidadãos dos quais eles eram. Para maioria dos ukrainianos isto significava servir nas fileiras das forças armadas soviéticas, e o restante - nos exércitos alemão, romeno ou húngaro.
 
22.06.1941 pôs fim no acordo criminoso de Hitler e Stalin, mas não na provação dos ukrainianos. Com o início da guerra começou a implantação de atividades de mobilização. Recursos da Ukraina exportavam-se para o Oriente da URSS e regiões da Ásia Central.
 
Para lá foram evacuados 3,5 milhões de cidadãos da Ukraina. Para o leste levaram equipamentos de 550 maiores empresas industriais ukrainianas, e o restante os alemães saquearam.
 
Lviv, junho de 1941. Os moradores locais saúdam as tropas alemãs. Foto do arquivo nacional polonês.
 
Com o avanço das tropas alemãs o PCUS(b) e o governo soviético deram instruções aos governos locais e organizações partidárias para destruir tudo o que não conseguiram evacuar: instalações das empresas, fábricas, máquinas agrícolas das fazendas coletivas, ferramentas, queima de cereais, vegetação agrícola. Isto constou na diretiva dos Comissários do Povo da URSS e do PCUS(b) em 29 de junho de 1941, em discurso de Stalin pelo rádio em 3 de junho de 1941, em um decreto especial da Comissão de Defesa do Estado de 22 de julho de 1941, e em outros documentos. Como é de conhecimento, eles falaram sobre a criação da zona de "terra arrasada".
 
E mais um "libertador" das terras ukrainianas. Cartaz alemão de 1941.
 
Na antiga URSS permitia-se mencionar de que ao inimigo nada deixaram. No entanto não se podia lembrar os crimes do regime comunista, incorridos na realização (e pode ser diferente em qualquer totalitarismo?!) da política de Stalin da "terra arrasada", quando o regime comunista fugia para o leste.
 
Por exemplo, não foram os nazistas, mas as autoridades comunistas em evacuação, no Zaporizhzhia, que explodiram Dniprohes. E sobre isso nada sabia a população civil, e nem mesmo as parcelas militares de escalões inferiores.
 
Dniprohes. Zaporizhzhia, 1941.
 
Em Dnipropetrovsk explodiram fábrica de pão com os trabalhadores. Em Odessa inundaram bairros inteiros com moradores, e soldados vermelhos (note bem, seus compatriotas! - OK) feridos jogaram ao mar, juntamente com as ambulâncias. De Kharkiv retiraram representantes intelectuais - para queimá-los em prédio fechado. Em Uman torturam pessoas vivas num porão.
Tais exemplos podem ser multiplicados. E tudo isso faziam não os nazistas, mas os comunistas durante a retirada, ou melhor, durante a fuga perante o inimigo. Às vezes as pessoas se opunham a esta política de "terra arrasada". Por exemplo, os aldeões tentavam interromper a destruição da propriedade coletiva, instalações, alimentos, animais, etc.
 
Em Lviv e outras cidades da Ukraina Ocidental NKVD, sem julgamento, fuzilou vários milhares de presos políticos. Os nazistas aproveitaram este fato para provocar destruição de judeus no início de julho de 1941. Lviv, pátio da prisão Nº 1, 1941. Arquivo da TSDVR (Organização científica independente para estudar os aspectos da libertação da Ukraina).
 
Eis porque pode-se escrever com racionalidade e utilidade não apenas os crimes do regime comunista contra os seus próprios cidadãos. As pessoas que sobreviveram a esta catástrofe, sabiam, que a nação ukrainiana sofreu de ambos sistemas totalitários, tanto do nazismo quanto do comunismo.
 
Outro crime da URSS foi denunciado pelos nazistas em Vinnytsia, e... usado para justificar o Holocausto. O cartaz alemão tem conotações anti-semitas.
 
No território ukrainiano os nazistas realizavam essencialmente dois Holocaustos - o extermínio total dos judeus (mataram mais de 1 (um) milhão e Babi Yar em Kyiv tornou-se o símbolo da tragédia dos judeus na Ukraina, como também o extermínio dos eslavos - ukrainianos, russos, poloneses, bielorrussos.
 
Kyiv, Babi Yar. Soldados alemães procuram objetos de valor nos corpos dos fuzilados judeus. Foto de Johannes Gole. Início de outubro de 1941.
 
Uma enorme "fábrica de morte" devia tornar-se a planejada pelos nazistas construção de Totenburh nas margens do rio Dnieper perto de Kyiv. Menores em espaço físico, tais "complexos" os nazistas construíram em toda Ukraina. Muitos ukrainianos foram enviados a campos de concentração fora da Ukraina.
 
Em uma rua de Stalino (Donetsk-ua) vem um judeu com braçadeira na manga, 1941.
 
A guerra que começou na União Soviética chamaram de "Grande Guerra Patriótica". Já em 22 de junho de 1941 o acadêmico stalinista Omelian Yaroslavskyi escreveu um artigo que, já no dia seguinte foi publicado no "Pravda", sob o título de "Grande Guerra Patriótica do povo soviético". Originalmente as três palavras foram escritas com letras minúsculas. Posteriormente introduziram letra maiúscula para a palavra "Patriótica". No final da guerra começaram escrever com letra maiúscula também as duas primeiras. No entanto, após 22 de junho começaram as dúvidas sobre a palavra "patriótica" em relação a guerra, entusiasmo legendário e à passividade da população na questão da defesa "pátria socialista", revelaram uma profunda divisão da sociedade em pelo menos três grupos:
 
- Aqueles que, por várias razões (inclusive em virtude de crenças) lutaram no Exército Vermelho;
 
- Aqueles que não queriam o retorno dos comunistas e abertamente se posicionaram contra;
 
- E a maioria silenciosa, que estava pronta/forçada a adaptar-se a diferentes regimes.
 
Monumento a Stalin e Lenin em Artemivsk (Donetsk-ua).
 
A falta de confiança dos comunistas em seus próprios cidadãos confirma-se com muitos fatos. Por exemplo, para evitar que fossem ouvidas informações sobre ações nas frentes de batalhas de fontes não controladas pelo governo conduziam-se requisições de receptores de rádio, da população próximas das frentes de batalha. E no mundo foi criado o Bureau Informativo Soviético".
 
Ninguém outro, senão o próprio Stalin em seu famoso brinde em 25.06.1945, disse: "Nosso governo cometeu muitos erros. Tivemos momentos de situação desesperada em 1941-1942, quando nosso exército recuava... Outra nação poderia ter dito ao governo: Vocês não corresponderam às nossas expectativas, vão embora, nós colocaremos outro governo, o qual acordará a paz com Alemanha e garantirá nossa tranqüilidade".
 
Moradores de Kharkiv observam cartazes alemães.
 
O que fazia naquele sangrento junho o "pai das nações", ainda têm de investigar, apesar de que hoje, muito do que parece inverossimil já sabemos. Por exemplo, confirmado que chocado com o ataque nazista, Stalin estava pronto para propor a Hitler uma nova variante de paz de Brest: Vyacheslav Molotov durante seu encontro como embaixador búlgaro pediu-lhe para propor a Berlim parar as ações de luta. Em vez disso, Stalin estava pronto para dar aos nazistas a Ukraina e a Bielorrussia. Mas, no momento, dados os sucessos militares, Hitler rejeitou estas propostas.
 
Cartaz da propaganda alemã, 1941 (dentro do cartaz: assassino e incendiário Stalin perdeu-se. No cartaz menor: Programa do ávido de sangue Stalin!)
 
A sociedade soviética estava esterilizada e comportada, mas, uma parte considerável esperava a chegada dos alemães, na esperança de se livrar da tirania bolchevique. Como lembrava Demian Korotchenko (não um propagandista, mas secretário do Partido Comunista da Ukraina), nos primeiros dias da guerra, "a grande maioria da população civil da Ukraina não queria continuar a luta contra os alemães, mas tentava por vários meios ajustar-se ao regime de ocupação".
 
Cartaz de propaganda soviética, 1941 (o escrito dentro da foto: rosto do hitlerismo).
 
Isto é, a guerra dividiu a sociedade. No entanto, houveram forças que entendiam, nem Berlim, nem Kremlin darão liberdade a Ukraina. E tendo isto em vista, este princípio exige uma interpretação diferente do fato, de que em 30 de junho de 1941, no dia da ocupação nazista de Lviv, os ativistas da OUN (Organização dos Nacionalistas Ukrainianos), sob a liderança de Stepan Bandera anunciaram a renovação do Conselho regional do Estado da Ukraina (governo local, liderado por Yaroslav Stetsko), sem informar sobre isso os alemães.
 
Isto não foi uma ação colaboracionista de ukrainianos - do governo, mas um reflexo da situação existente na sociedade. (Uma boa parte dos ukrainianos do oeste e também os que são pró Rússia em geral, acusam os demais ukrainianos desse tal colaboracionismo, quando o que houve foi somente o desejo de conseguir a independência. Colaboracionistas são os que até hoje procuram aliar-se a Moscou. - OK) Agora voltemos mais uma vez às palavras de Stalin pronunciadas em 25,06,1945. Então: "Outra nação poderia ter dito ao governo: vocês não corresponderam à nossas expectativas, vão embora... No entanto o povo russo não foi por este caminho... e essa confiança do povo russo ao governo soviético revelou-se aquela força decisiva, que garantiu uma vitória histórica sobre o inimigo da humanidade, - sobre o fascismo. Obrigado a ele, ao povo russo, por essa confiança!"
 
"Obrigado, ao povo russo, por essa confiança!" (Dentro da foto: Amado Stalin - Felicidade da Nação!)
 
A escala de perdas durante a guerra é a seguinte: a perda na URSS compõe 40% do total das perdas causadas a todos os participantes. Na Ukraina, as perdas alcançaram 40% das perdas totais da URSS. Em 1940 Kyiv tinha 930 mil moradores, em 1943 - 180 mil.
 
Ao todo, de acordo com atuais estimativas, URSS em 1941-1945 perdeu 32 milhões de pessoas. Elas eram, como contavam nos tempos soviéticos, "filhos de diversas nações".
 
Os dados oficiais de perdas da Ukraina são de 10 milhões de pessoas. Mas Kremlin enfatizava (como, aliás, agora Rússia também enfatiza) apenas o papel da nação russa.
 
Lutas de rua em Kharkiv, fevereiro de 1943.
 
Isto não profetiza nada de bom a outras nações e, bem entendido, aos ukrainianos, aos quais o Partido Comunista não confiava porque estiveram sob ocupação alemã. Então o regime stalinista usava vários sistemas de punição. Indicativo era o destino dos ukrainianos, aos quais chamavam "chornosvytkamy". (Chorno - preto; svytka é uma espécie de jaqueta comprida usada antigamente pelos aldeões pobres, cujo tecido era de fabricação caseira, de cor acinzentada), porquanto eles lutavam em roupas caseiras, sem nenhum preparo militar. No outono de 1943 o poeta e diretor de cinema Oleksandr Dovzhenko escreveu em seu diário."Contam, que na Ukraina começam a preparar para mobilização jovens de 16 anos, que às batalhas os conduzem mal treinados, que os consideram "shtrafnyky" (militar da unidade disciplinar -OK), ninguém se importa com eles".
 
De fato, em 1943, surgiu uma diretiva especial, que exigia maior utilização de elementos para aumento dos exércitos, como mobilização ao serviço militar das anteriormente ocupadas áreas. Foram implantados, literalmente, desde os primeiros dias do retorno do regime comunista na terra ukrainiana as medidas de mobilização extensa.
 
De acordo com os especialistas, nos anos 1943 - 1945 na Ukraina ao exército soviético foram mobilizados 3 milhões de pessoas.
 
Pátria-mãe. Cartaz soviético de 1943. (Dentro do cartaz: Soldado, responsável pelo triunfo da Pátria!)
 
Em 1944 cada terceiro soldado era ukrainiano. Nos exércitos 1-4 das frentes ukrainianas, principalmente nas unidades de infantaria e formações, os ukrainianos eram 60-80%.
 
No entanto, a estratégia militar anti-humana de Stalin, que não se preocupava com as vítimas, levou a grandes perdas da população masculina na Ukraina. Não menos de um terço dos mobilizados da República Socialista Soviética da Ukraina morreram neste período. O vácuo etno-demográfico de pós-guerra na Ukraina preenchia-se com pessoas de outras regiões da União Soviética (Deve ser também por isso que muitos da população atual não se esforçam pela construção de uma nação ukrainiana, eles não possuem origens ukrainianas - OK).
 
Interessante que durante a guerra o regime stalinista flertava com os sentimentos nacionais da Ukraina para estimular o seu patriotismo. Entre todas as repúblicas da URSS só a República Socialista Soviética da Ukraina permitiram ter "sua" ordem (condecoração). Trata-se da ordem de Bohdan Khmelnytskyi, introduzida em 10.10.1943, pelo decreto do Soviete Supremo.
 
Lembro também, que os participantes de ações de combate em 1941-1945 receberam 7 milhões de ordens e medalhas. Destes, 2,5 milhões couberam aos nativos da Ukraina. A participação dos ukrainianos entre os heróis da União Soviética representou 18,2% (russos - 71%, bielorrussos 3,3% e representantes de outras nacionalidades - 7,4%).
 
Finalmente, não se esqueça que foi o ukrainiano, literalmente, que pôs fim à Segunda Grande guerra. Foi um jovem general de nacionalidade ukrainiana Kuzma Derevianko, que em 02.09.1945, em nome de União Soviética assinou a bordo do cruzador "Missouri" a rendição do Japão.
 
General Kuzma Derevianenko assina o ato de capitulação do Japão.
 
No entanto, Stalin até seus últimos dias prosseguia sua estratégia antiukrainiana, não confiava nos ukrainianos, sancionava periodicamente campanhas "antinacionalistas". Por exemplo, ainda em janeiro de 1944 em uma reunião do Politburo do PCUS(b) Stalin, pessoalmente discursou: Sobre erros antileninistas e distorções no filme de Oleksandr Dovzhenko "Ukraina no fogo". O texto do filme não apenas criticaram  mas declararam antissoviético, expressão viva do "nacionalismo, estreiteza e limitação nacional". Foi um sinal claro para a próxima, em grande escala, campanha antiukrainiana cujo formato tornar-se-ia visível nos anos pós guerra.
 
Considerando isto, e também outras ações repressivas, dá base para rever um dos pilares de princípios comunistas - sobre a libertação da Ukraina. Em 1944 tal libertação não ocorreu, mas houve a expulsão dos nazistas da Ukraina.
 
Mas, guerra após guerra, que o regime stalinista desencadeou desde as terras ocidentais da Ukraina e levou até meados dos anos 1950 - um dos argumentos mais convincentes em favor de tal definição. Entretanto há muitos outros.
Um deles, particularmente indica o ex-comunista iugoslavo Milovan Djilas em seu livro "Conversas de Stalin". Ele recorda, como participante da delegação da Iugoslávia em 1945, voltando de Moscou passou por Kyiv. Djilas escreve sobre Nikita Krushchev, um russo, que liderava Ukraina desde 1938.
 
"Isso foi incomum até para nós, os comunistas, que poderíamos justificar tudo o que pode desacreditar a imagem ideal de nós mesmos, que entre os ukrainianos, nação tão numerosa quanto a francesa..., não se encontrou uma única pessoa competente para desempenhar o cargo de primeiro-ministro do governo".
 
Nikita Krushchev conforta uma mulher na rua de Kyiv libertado em novembro de 1943.
 
Em seguida Djilas diz que não se pode explicar o sangrento conflito no oeste da Ukraina somente com teimosia do nacionalismo ukrainiano, porque surge a pergunta de onde vem esse nacionalismo se todos os povos da URSS são realmente iguais?
 
Mas, na verdade, a acusação dos ukrainianos no "nacionalismo" tem um significado mais amplo que, às vezes, pensam. Não apenas Stalin, também Hitler usava com sucesso essas acusações para destruir a própria idéia sobre a realidade ukrainiana como um Estado verdadeiramente independente.5
 
Soldados soviéticos conduzem prisioneiros de guerra alemães pelas ruas de Kyiv. Agosto de 1944.
 
Como observa Timothy Snyder, o qual eu mencionei no início, a dinâmica da destruição em massa, no caso da União Soviética e Alemanha nazista foi causada pelo fato de que ambos os regimes baseavam-se em utopias ideológicas, orientadas para um curso imperial-político.
 
Agora o momento é diferente. É tempo de interpretar o passado, especialmente o período da II Grande Guerra Mundial, não esquecendo o que aconteceu na União Soviética depois de agosto de 1991.

 

 

Tradução: Oksana Kowaltschuk

Fotoformatação: A.Oliynik

 

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