segunda-feira, 27 de maio de 2013

HOLOKOST: O inferno na terra - 4ª Parte

LEMBREMOS DE VINNYTSIA - 4ª PARTE


Antin Drahan

ABRIU-SE A TERRA E APARECEU O INFERNO

"Abriu-se a terra e apareceu o inferno" - lamentou-se uma mulher, avistando as sepulturas coletivas abertas de Vinnytsia. E, de verdade, nestas sepulturas coletivas de inocentes vítimas do terror bolchevique descortinou-se o inferno o qual, anteriormente, não conseguiria imaginar nem a mais fértil fantasia humana...

 
Fragmentos de corpos de vítimas do genocídio soviético, recuperados de valas comuns em Vinnytsia

Com a fuga da Ukraina do ainda não esquecido "valoroso" exército vermelho, camarada do nazismo, os habitantes de Vinnytsia, cada vez com mais teimosia expressavam suas terríveis suspeitas em relação a "zonas proibidas". As autoridades da ocupação alemã, inicialmente, não demonstravam interesse em desvendar esse segredo. Para quê? Todos sabiam que os nazistas não eram melhores. As pessoas diziam que entre Berlim e Moscou, a única diferença é que em Moscou fazia mais frio no inverno. Com a vinda dos alemães mudou apenas o dominador, mas em nada alteraram-se os métodos. Isto transpareceu em praticamente todos os ramos de atividades, iniciando como exorbitante autoritarismo policial e culminando com a sistemática governamental. Mudaram-se os nomes mas o conteúdo permaneceu o mesmo. No domínio bolchevique a decisão de todos os assuntos emanava do NKVD, no domínio alemão, a decisão pertencia a "gestapo". Interessante que em Vinnytsia, como em muitas outras cidades da Ukraina, a "gestapo" ocupou os mesmos prédios, anteriormente ocupados pela NKVD. Tudo permanecia igual, apenas a bandeira vermelha com foice e martelo foi substituída por outra bandeira, também vermelha, com uma cruz negra, quebrada, num círculo branco. Esta foi a única diferença. Em tempo, até muitos funcionários da NKVD já no início passaram para o trabalho na "gestapo". Em Vinnytsia, quando do desenterro das sepulturas coletivas do terror bolchevique, no prédio da NKVD já comandava "gestapo" e, provavelmente, já abria sepulturas coletivas em outro lugar. Apenas as vítimas sempre eram as mesmas - os ukrainianos.

Como foram abertas as sepulturas coletivas em Vinnytsia e como se chegou às suas escavações?

De várias fontes surgiram várias informações. De acordo com as informações da população local, na primavera de 1943, no dia 24 de maio "alguém" escavava no parque, quando topou com um cadáver apodrecido, com restos de vestes semi-apodrecidas. Aquele "alguém" que encontrou o cadáver, assustado, quanto antes comunicou a polícia local. Daí, já com autorização policial iniciaram-se posteriores investigações. Não tardou e foi encontrado mais um cadáver, depois mais um e mais um. Com esse assunto ocupou-se a autoridade civil local e iniciaram-se as escavações sistemáticas sob orientação de dois médicos locais: Dr. Doroshenko, médico judicial de Vinnytsia, e Dr. Malinina, antigo professor da Universidade de Krasnodar e residindo em Vinnytsia na ocasião. Evidentemente que o assunto era de interesse da ocupação alemã. Assim, após a escavação de duas valas coletivas e retirados mais de 200 cadáveres, a autoridade alemã constituiu uma comissão médico-jurídico que assumiu o comando das próximas escavações. Igualmente foi convidada uma comissão internacional composta de países neutros e correspondentes além fronteira, entre os quais encontrava-se o autor desta reportagem.

A notícia sobre as terríveis escavações em Vinnytsia espalhou-se como relâmpago por toda Ukraina. Para Vinnytsia, de todos os cantos começaram afluir pessoas na esperança de encontrar, ao menos, uma explicação sobre o destino do familiar querido levado no tempo dos bolcheviques pelo "inimigo negro" e de acordo com a informação oficial - condenado para degredo "em longínquos campos de trabalho sem direito a correspondência".

DESENTERROS E SEPULTAMENTOS

Os desenterros, como já mencionado, eram executados pelos prisioneiros dos cárceres locais, sob a supervisão e instruções da comissão. Ainda hoje, dezenas de anos passados, a pele se arrepia com a lembrança da inacreditável e apavorante aparição. Das entranhas da terra montanhas de cadáveres decompostos pela putrefação surgem e são dispostos em fileiras para uma possível identificação e realização do processo jurídico-médico. Após o que novamente são enterrados em covas irmãs, já com acompanhamento religioso e na presença da população.

O sepultamento das vítimas ukrainianas extraídas de sepulturas coletivas, vítimas do "holokost" do comunismo moscovita em Vinnytsia, ficou sob a responsabilidade do então bispo de Vinnytsia, Excelência Reverendíssima Hrehorii, falecido em 1985. Sobre o seu papel nestes sepultamentos escreve O. Kulenko em seu artigo "Bispo de Vinnytsia", publicado no jornal "Narodna Volia", (Vontade da Nação) em 11 de julho de 1985 e diz o seguinte:

 
Enterro das vítimas da NKVD em Vinnytsia.

"De todos os títulos das diversas etapas da vida do Metropolita Hrehorii ficará por mais tempo em sua memória a sua atuação no período de seu bispado em Vinnytsia durante a última guerra mundial.
Quis o destino que ele não só renovasse a vida destruída pela ocupação bolchevique no contexto da não menos desumana ocupação inimiga, mas também tornar-se testemunha de vários milhares de fuzilamentos stalinistas - dos anos de Jezhov (chefe da NKVD) nos anos trinta na Ukraina de 1937-1938..."

Iniciados no verão de 1943, os desenterros durante certo período revelaram horrorosa visão de filas de cadáveres com as mãos amarradas nas costas e vestígios de tortura e tiros na nuca.
A notícia rapidamente correu o país. E, apesar de todas as dificuldades dos tempos de guerra e de comunicação, de todos os lados acorriam milhares de ukrainianos no empenho de descobrir seus familiares - pais, filhos e filhas, entre os cadáveres, a roupa estendida, objetos e documentos.
Perto de dez mil cadáveres torturados foram resgatados dos buracos infernais e sepultados novamente em sepulturas irmãs. Testemunha dessa grande tragédia nacional e lastimáveis ofícios religiosos foi o Bispo Hrehorii.
Suas palavras no décimo nono sepultamento de torturadas vítimas:

"Queridos Irmãos e Irmãs! Hoje, pela décima nona vez nós nos reunimos nesta triste despedida, perante visão apocalíptica, para oferecer nossa prece pelas almas de nossos melhores filhos e filhas da Ukraina, os quais o maior antropófago universal, de maneira cruel destruiu e jogou nestas valas infernais.
Diante de nós jazem 960 sagrados restos do terror preparados para o sepultamento. Reparem nestas imensas valas irmãs. Nestas valas já descansam 8.479 valorosos filhos e filhas da Ukraina, os quais nós retiramos daqueles buracos infernais e, de acordo com sepultamentos cristãos colocamos nestas valas irmãs... E quantos desses buracos infernais e, de acordo com sepultamentos cristãos colocamos nestas valas irmãs... E quantos desses buracos ainda haverá nas largas estepes e florestas da Sibéria, Solovkiv e Kolema?!..
Nós, meus caros, tínhamos a intenção de construir nestas santas sepulturas um grandioso Santuário-Memorial. Agradecemos à generosidade do nosso povo pelas doações superiores ao necessário. Mas, não nós é concedida esta realização. Não obstante acreditamos que virá o tempo quando aqui haverá um templo em honra a todos os santos torturados e nele, dia e noite, elevar-se-ão orações a Deus pelas suas almas vitoriosas".

Com a aproximação do inverno e das frentes de combate cessaram as escavações das sepulturas em massa da cidade de Vinnytsia. Sobre as sepulturas irmãs de milhares de vítimas, até hoje, não há menor evidência, cruz ou lembrança...

 
Valas comuns já esvaziadas no antigo cemitério de Vinnytsia.

Apesar de todos os esforços de desinfecção, não só nos lugares de desenterramento, mas numa larga vizinhança espalhava-se o insuportável odor cadavérico.

Os prisioneiros, ao escavar as sepulturas, primeiramente recolhiam camadas de vestimentas apodrecidas que cobriam os cadáveres, e penduravam-nas nas cordas ou arames esticados entre as árvores. As pessoas se aproximavam e tentavam reconhecer essas vestimentas ou alguma característica que porventura apresentassem: camisa bordada ou algum objeto familiar. Com o tempo, as vestimentas que ainda apresentavam alguma possibilidade de uso, começaram a desaparecer. Eram roubadas à noite, lavadas e vendidas na feira. Tal era a miséria da população. Então, nas árvores foram fixadas tabuletas com admoestação: "pelo roubo de objetos do sítio das escavações serão julgados por um tribunal extraordinário e aos culpados será aplicada a pena máxima". Depois deste aviso os roubos cessaram.

A escavação de cadáveres das sepulturas era o extraordinário do extraordinário. As primeiras camadas de cadáveres, que na maioria das valas jaziam em completa desordem, os trabalhadores-prisioneiros passavam de mão em mão e colocavam na relva num local imediato. Simultaneamente revistavam-se os bolsos buscando documentos ou objetos quaisquer, que poderiam auxiliar na identificação. Casualmente essas revistas davam resultado. As camadas subseqüentes de cadáveres era preciso retirar com auxílio de barbantes. Fazia-se deste modo: dois trabalhadores no alto desciam o barbante na sepultura. Os trabalhadores dentro da cova prendiam o cadáver no barbante e este era puxado para o alto. Acontecia, às vezes, que o cadáver se despedaçava, perdia a cabeça ou qualquer parte do corpo.

Entre as fileiras de cadáveres e entre as roupas estendidas vagavam, como fantasmas, pessoas em grupo ou individualmente. Freqüentemente acontecia que, sobre o cadáver ou um pedaço de roupa ouvia-se um grito agudo que perpassava a alma desesperada. É alguém dos visitantes reconhecendo o falecido ou encontrando sinal característico entre as vestimentas. Aqueles que perderam seus familiares e possuíam motivos para acreditar que estariam aqui, entre os cadáveres, com inverossímil dor inclinavam-se para reconhecer a face querida.

O quadro mais trágico produziam os cadáveres das mulheres, na maioria completamente despidas. Boas almas, ao menos depois da morte cobriam-nas com algum trapo velho. Freqüentemente alguém dos visitantes arrancava dentre a relva uma modesta flor campestre e colocavam-na no peito dessas torturadas e torturados, escavados da terra aos milhares. As pessoas ficavam sobre as sepulturas, silenciosamente diziam orações, secavam as lágrimas e, somente de tempo em tempo, de algum peito comprimido pelos espasmos da compaixão e dor, escapava da garganta uma assustadora blasfêmia ao carrasco.

RESULTADOS DAS ESCAVAÇÕES E INVESTIGAÇÕES

Os resultados das escavações e investigações, realizados com ativa participação e colaboração da população local e de outras regiões, inúmeras testemunhas, bem como especialistas profissionais médico-jurídicas, traçaram um quadro real e inacreditável do crime soviético de extermínio da nação. Os resultados finais das escavações e investigações reunidas em algumas publicações, sem dúvida falam por si mesmas. De acordo com elas, e de observações próprias oferecemos este resumo geral.

LUGARES DE ESCAVAÇÃO

Como já mencionado as sepulturas comuns em Vinnytsia foram encontradas em três lugares: no pomar de árvores frutíferas, no velho cemitério, e no assim chamado "Parque da cultura e repouso". As primeiras sepulturas que foram abertas situavam-se no pomar, no local chamado "Dolenka", no subúrbio de Vinnytsia, numa distância aproximadamente de duas milhas do centro da cidade, do lado direito, noroeste, da estrada de Liten. A superfície do pomar constituía de 60 x 1000 metros de terreno levemente acidentado, coberto de mato e velhas árvores frutíferas. Entre elas cresciam também novos arbustos. No inverno de 1937-1938 este local foi ocupado pela administração do GPU-NKVD, que cercou-o com estacas aproximadamente de 3 metros de altura e tornou-se assim completamente oculto dos que por ali passavam. Oficialmente foi dito que dentro daquela estacada realizavam-se exercícios militares e para satisfazer a vista até foi construído um fictício lugar de tiro.

Neste lugar, no canto sudoeste, foi encontrado um buraco com cal virgem. Depois, no inverno de 1942-1943 quando a população local retirou as tábuas da cerca, no pomar avistavam-se pequenas depressões. Vozes teimosas da população, seguidas do casual achado de alguns cadáveres conduziram para as escavações sistemáticas. Neste pomar foram abertas 34 covas e delas extraídos 5.644 cadáveres. Numa cova havia somente documentos, em outra sapatos e na terceira roupas. O tamanho das covas isoladas apresentava as seguintes medidas: 2,5m x 3m a 2,8m x 5m.
Somente em 7 covas a quantidade de cadáveres era menor de 100. Em 20 covas variava de 100 a 200, e a maior quantidade de cadáveres numa cova foi de 284.
Todas as covas eram cobertas com aproximadamente dois metros de terra, sob sepulturas aplainadas no nível do terreno.

Ainda durante as escavações neste local, com a indicação da população local, abriram também as covas em dois outros lugares, no velho cemitério e no "parque da cultura e descanso".
O velho cemitério, localizado do lado esquerdo da estrada de Liten, a mais ou menos 600m do centro da cidade, foi - como o pomar - em 1937-1938 cercado pela NKVD com altas estacas. Em alguns lugares ainda havia cerca viva da altura de uma pessoa. Por toda parte viam-se velhos túmulos que apresentavam depressões. Depois da limpeza do terreno e eliminação de arbustos surgiram as depressões de formatos quadrados com afundamento de 10-15cm.

Escavando esses lugares numa profundidade de dois metros, principalmente encontravam uma camada de roupas e sob elas os cadáveres. Aqui foram encontradas 42 sepulturas e delas extraídos 2.405 cadáveres. A quantidade de cadáveres em cada sepultura variava de 50 a 147. Somente em três casos eram menos. Vinte e seis túmulos foram possíveis reconhecer pelas depressões, todos os outros estavam aplainados no nível do terreno e alguns disfarçados em túmulos comuns. Casualmente uma sepultura coletiva foi encontrada sob o túmulo do anteriormente falecido e pomposamente enterrado comissário da NKVD. Estranho símbolo!
As sepulturas neste local eram menores que no pomar. Sua superfície ia de 1m x 2m a 2,5m x 4,5m. A profundidade também era menor - de 3m a 3,5m. A disposição das covas não apresentava a mesma ordem do primeiro local, e as próprias covas, devido a terreno arenoso, já não possuíam a forma reta do pomar.

Logo após a abertura das sepulturas coletivas no velho cemitério, elas também foram encontradas numa distância imediata, do outro lado da estrada de Liten, no "parque da cultura e descanso". Elas foram abertas segundo as informações do antigo guarda daquele parque. No parque cresciam muitos carvalhos e novos arbustos, mas o solo era coberto com grama. A parte nordeste vizinhava diretamente com a prisão da NKVD. Neste local, já com muita dificuldade podia-se reconhecer as depressões quadradas no solo. Explicava-se este fato que, com a organização do parque, aplainava-se o solo com freqüência. Numa parte do parque, ainda durante a guerra iniciaram o cultivo de verduras e hortaliças.
Neste local foram abertas 13 sepulturas coletivas, num total de 1.383 cadáveres. A quantidade de cadáveres em sepulturas isoladas contava de 33 a 144. Sobre duas sepulturas havia uma pracinha para danças e sobre outra um "gabinete de riso". Os verdugos providenciaram para que as pessoas dançassem e rissem sobre os cadáveres de seus compatriotas e familiares.
As sepulturas abertas neste parque correspondiam às menores sepulturas do pomar e sua superfície geralmente apresentava 2,5m x 3m. Como nos casos anteriores havia uma camada de terra de 2m e uma camada de roupas e sob esta última os cadáveres. A profundidade, em quase todos os casos era de três metros.

Continua.

Tradução: Oksana Kowaltschuk
Fotoformatação: A.Oliynik


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