Antin
Drahan
ABRIU-SE
A TERRA E APARECEU O INFERNO
"Abriu-se
a terra e apareceu o inferno" - lamentou-se uma mulher, avistando as
sepulturas coletivas abertas de Vinnytsia. E, de verdade, nestas sepulturas
coletivas de inocentes vítimas do terror bolchevique descortinou-se o inferno o
qual, anteriormente, não conseguiria imaginar nem a mais fértil fantasia
humana...
Com
a fuga da Ukraina do ainda não esquecido "valoroso" exército
vermelho, camarada do nazismo, os habitantes de Vinnytsia, cada vez com mais
teimosia expressavam suas terríveis suspeitas em relação a "zonas
proibidas". As autoridades da ocupação alemã, inicialmente, não
demonstravam interesse em desvendar esse segredo. Para quê? Todos sabiam que os
nazistas não eram melhores. As pessoas diziam que entre Berlim e Moscou, a
única diferença é que em Moscou fazia mais frio no inverno. Com a vinda dos
alemães mudou apenas o dominador, mas em nada alteraram-se os métodos. Isto
transpareceu em praticamente todos os ramos de atividades, iniciando como
exorbitante autoritarismo policial e culminando com a sistemática
governamental. Mudaram-se os nomes mas o conteúdo permaneceu o mesmo. No
domínio bolchevique a decisão de todos os assuntos emanava do NKVD, no domínio
alemão, a decisão pertencia a "gestapo". Interessante que em
Vinnytsia, como em muitas outras cidades da Ukraina, a "gestapo" ocupou
os mesmos prédios, anteriormente ocupados pela NKVD. Tudo permanecia igual,
apenas a bandeira vermelha com foice e martelo foi substituída por outra
bandeira, também vermelha, com uma cruz negra, quebrada, num círculo branco.
Esta foi a única diferença. Em tempo, até muitos funcionários da NKVD já no
início passaram para o trabalho na "gestapo". Em Vinnytsia, quando do
desenterro das sepulturas coletivas do terror bolchevique, no prédio da NKVD já
comandava "gestapo" e, provavelmente, já abria sepulturas coletivas
em outro lugar. Apenas as vítimas sempre eram as mesmas - os ukrainianos.
Como
foram abertas as sepulturas coletivas em Vinnytsia e como se chegou às suas
escavações?
De
várias fontes surgiram várias informações. De acordo com as informações da
população local, na primavera de 1943, no dia 24 de maio "alguém"
escavava no parque, quando topou com um cadáver apodrecido, com restos de vestes
semi-apodrecidas. Aquele "alguém" que encontrou o cadáver, assustado,
quanto antes comunicou a polícia local. Daí, já com autorização policial
iniciaram-se posteriores investigações. Não tardou e foi encontrado mais um
cadáver, depois mais um e mais um. Com esse assunto ocupou-se a autoridade
civil local e iniciaram-se as escavações sistemáticas sob orientação de dois
médicos locais: Dr. Doroshenko, médico judicial de Vinnytsia, e Dr. Malinina,
antigo professor da Universidade de Krasnodar e residindo em Vinnytsia na
ocasião. Evidentemente que o assunto era de interesse da ocupação alemã. Assim,
após a escavação de duas valas coletivas e retirados mais de 200 cadáveres, a
autoridade alemã constituiu uma comissão médico-jurídico que assumiu o comando
das próximas escavações. Igualmente foi convidada uma comissão internacional
composta de países neutros e correspondentes além fronteira, entre os quais
encontrava-se o autor desta reportagem.
A
notícia sobre as terríveis escavações em Vinnytsia espalhou-se como relâmpago
por toda Ukraina. Para Vinnytsia, de todos os cantos começaram afluir pessoas
na esperança de encontrar, ao menos, uma explicação sobre o destino do familiar
querido levado no tempo dos bolcheviques pelo "inimigo negro" e de
acordo com a informação oficial - condenado para degredo "em longínquos
campos de trabalho sem direito a correspondência".
DESENTERROS
E SEPULTAMENTOS
Os
desenterros, como já mencionado, eram executados pelos prisioneiros dos
cárceres locais, sob a supervisão e instruções da comissão. Ainda hoje, dezenas
de anos passados, a pele se arrepia com a lembrança da inacreditável e
apavorante aparição. Das entranhas da terra montanhas de cadáveres decompostos
pela putrefação surgem e são dispostos em fileiras para uma possível
identificação e realização do processo jurídico-médico. Após o que novamente
são enterrados em covas irmãs, já com acompanhamento religioso e na presença da
população.
O
sepultamento das vítimas ukrainianas extraídas de sepulturas coletivas, vítimas
do "holokost" do comunismo moscovita em Vinnytsia, ficou sob a
responsabilidade do então bispo de Vinnytsia, Excelência Reverendíssima
Hrehorii, falecido em 1985. Sobre o seu papel nestes sepultamentos escreve O.
Kulenko em seu artigo "Bispo de Vinnytsia", publicado no jornal
"Narodna Volia", (Vontade da Nação) em 11 de julho de 1985 e diz o
seguinte:
Enterro das vítimas da NKVD em
Vinnytsia.
"De
todos os títulos das diversas etapas da vida do Metropolita Hrehorii ficará por
mais tempo em sua memória a sua atuação no período de seu bispado em Vinnytsia
durante a última guerra mundial.
Quis
o destino que ele não só renovasse a vida destruída pela ocupação bolchevique
no contexto da não menos desumana ocupação inimiga, mas também tornar-se
testemunha de vários milhares de fuzilamentos stalinistas - dos anos de Jezhov
(chefe da NKVD) nos anos trinta na Ukraina de 1937-1938..."
Iniciados
no verão de 1943, os desenterros durante certo período revelaram horrorosa
visão de filas de cadáveres com as mãos amarradas nas costas e vestígios de
tortura e tiros na nuca.
A
notícia rapidamente correu o país. E, apesar de todas as dificuldades dos
tempos de guerra e de comunicação, de todos os lados acorriam milhares de
ukrainianos no empenho de descobrir seus familiares - pais, filhos e filhas,
entre os cadáveres, a roupa estendida, objetos e documentos.
Perto
de dez mil cadáveres torturados foram resgatados dos buracos infernais e
sepultados novamente em sepulturas irmãs. Testemunha dessa grande tragédia
nacional e lastimáveis ofícios religiosos foi o Bispo Hrehorii.
Suas
palavras no décimo nono sepultamento de torturadas vítimas:
"Queridos Irmãos e Irmãs! Hoje,
pela décima nona vez nós nos reunimos nesta triste despedida, perante visão
apocalíptica, para oferecer nossa prece pelas almas de nossos melhores filhos e
filhas da Ukraina, os quais o maior antropófago universal, de maneira cruel
destruiu e jogou nestas valas infernais.
Diante de nós jazem 960 sagrados
restos do terror preparados para o sepultamento. Reparem nestas imensas valas
irmãs. Nestas valas já descansam 8.479 valorosos filhos e filhas da Ukraina, os
quais nós retiramos daqueles buracos infernais e, de acordo com sepultamentos
cristãos colocamos nestas valas irmãs... E quantos desses buracos infernais e,
de acordo com sepultamentos cristãos colocamos nestas valas irmãs... E quantos
desses buracos ainda haverá nas largas estepes e florestas da Sibéria, Solovkiv
e Kolema?!..
Nós, meus caros, tínhamos a intenção
de construir nestas santas sepulturas um grandioso Santuário-Memorial.
Agradecemos à generosidade do nosso povo pelas doações superiores ao necessário.
Mas, não nós é concedida esta realização. Não obstante acreditamos que virá o
tempo quando aqui haverá um templo em honra a todos os santos torturados e
nele, dia e noite, elevar-se-ão orações a Deus pelas suas almas
vitoriosas".
Com
a aproximação do inverno e das frentes de combate cessaram as escavações das
sepulturas em massa da cidade de Vinnytsia. Sobre as sepulturas irmãs de
milhares de vítimas, até hoje, não há menor evidência, cruz ou lembrança...
Valas comuns já esvaziadas no
antigo cemitério de Vinnytsia.
Apesar
de todos os esforços de desinfecção, não só nos lugares de desenterramento, mas
numa larga vizinhança espalhava-se o insuportável odor cadavérico.
Os
prisioneiros, ao escavar as sepulturas, primeiramente recolhiam camadas de
vestimentas apodrecidas que cobriam os cadáveres, e penduravam-nas nas cordas
ou arames esticados entre as árvores. As pessoas se aproximavam e tentavam
reconhecer essas vestimentas ou alguma característica que porventura
apresentassem: camisa bordada ou algum objeto familiar. Com o tempo, as
vestimentas que ainda apresentavam alguma possibilidade de uso, começaram a
desaparecer. Eram roubadas à noite, lavadas e vendidas na feira. Tal era a
miséria da população. Então, nas árvores foram fixadas tabuletas com
admoestação: "pelo roubo de objetos
do sítio das escavações serão julgados por um tribunal extraordinário e aos
culpados será aplicada a pena máxima". Depois deste aviso os roubos
cessaram.
A
escavação de cadáveres das sepulturas era o extraordinário do extraordinário.
As primeiras camadas de cadáveres, que na maioria das valas jaziam em completa
desordem, os trabalhadores-prisioneiros passavam de mão em mão e colocavam na
relva num local imediato. Simultaneamente revistavam-se os bolsos buscando
documentos ou objetos quaisquer, que poderiam auxiliar na identificação.
Casualmente essas revistas davam resultado. As camadas subseqüentes de
cadáveres era preciso retirar com auxílio de barbantes. Fazia-se deste modo:
dois trabalhadores no alto desciam o barbante na sepultura. Os trabalhadores
dentro da cova prendiam o cadáver no barbante e este era puxado para o alto.
Acontecia, às vezes, que o cadáver se despedaçava, perdia a cabeça ou qualquer
parte do corpo.
Entre
as fileiras de cadáveres e entre as roupas estendidas vagavam, como fantasmas,
pessoas em grupo ou individualmente. Freqüentemente acontecia que, sobre o
cadáver ou um pedaço de roupa ouvia-se um grito agudo que perpassava a alma
desesperada. É alguém dos visitantes reconhecendo o falecido ou encontrando
sinal característico entre as vestimentas. Aqueles que perderam seus familiares
e possuíam motivos para acreditar que estariam aqui, entre os cadáveres, com
inverossímil dor inclinavam-se para reconhecer a face querida.
O
quadro mais trágico produziam os cadáveres das mulheres, na maioria
completamente despidas. Boas almas, ao menos depois da morte cobriam-nas com
algum trapo velho. Freqüentemente alguém dos visitantes arrancava dentre a
relva uma modesta flor campestre e colocavam-na no peito dessas torturadas e
torturados, escavados da terra aos milhares. As pessoas ficavam sobre as
sepulturas, silenciosamente diziam orações, secavam as lágrimas e, somente de
tempo em tempo, de algum peito comprimido pelos espasmos da compaixão e dor,
escapava da garganta uma assustadora blasfêmia ao carrasco.
RESULTADOS
DAS ESCAVAÇÕES E INVESTIGAÇÕES
Os
resultados das escavações e investigações, realizados com ativa participação e
colaboração da população local e de outras regiões, inúmeras testemunhas, bem
como especialistas profissionais médico-jurídicas, traçaram um quadro real e
inacreditável do crime soviético de extermínio da nação. Os resultados finais
das escavações e investigações reunidas em algumas publicações, sem dúvida
falam por si mesmas. De acordo com elas, e de observações próprias oferecemos
este resumo geral.
LUGARES
DE ESCAVAÇÃO
Como
já mencionado as sepulturas comuns em Vinnytsia foram encontradas em três
lugares: no pomar de árvores frutíferas, no velho cemitério, e no assim chamado
"Parque da cultura e repouso". As primeiras sepulturas que foram
abertas situavam-se no pomar, no local chamado "Dolenka", no subúrbio
de Vinnytsia, numa distância aproximadamente de duas milhas do centro da
cidade, do lado direito, noroeste, da estrada de Liten. A superfície do pomar
constituía de 60 x 1000 metros de terreno levemente acidentado, coberto de mato
e velhas árvores frutíferas. Entre elas cresciam também novos arbustos. No
inverno de 1937-1938 este local foi ocupado pela administração do GPU-NKVD, que
cercou-o com estacas aproximadamente de 3 metros de altura e tornou-se assim
completamente oculto dos que por ali passavam. Oficialmente foi dito que dentro
daquela estacada realizavam-se exercícios militares e para satisfazer a vista até
foi construído um fictício lugar de tiro.
Neste
lugar, no canto sudoeste, foi encontrado um buraco com cal virgem. Depois, no
inverno de 1942-1943 quando a população local retirou as tábuas da cerca, no
pomar avistavam-se pequenas depressões. Vozes teimosas da população, seguidas
do casual achado de alguns cadáveres conduziram para as escavações
sistemáticas. Neste pomar foram abertas 34 covas e delas extraídos 5.644
cadáveres. Numa cova havia somente documentos, em outra sapatos e na terceira
roupas. O tamanho das covas isoladas apresentava as seguintes medidas: 2,5m x
3m a 2,8m x 5m.
Somente
em 7 covas a quantidade de cadáveres era menor de 100. Em 20 covas variava de
100 a 200, e a maior quantidade de cadáveres numa cova foi de 284.
Todas
as covas eram cobertas com aproximadamente dois metros de terra, sob sepulturas
aplainadas no nível do terreno.
Ainda
durante as escavações neste local, com a indicação da população local, abriram
também as covas em dois outros lugares, no velho cemitério e no "parque da
cultura e descanso".
O
velho cemitério, localizado do lado esquerdo da estrada de Liten, a mais ou
menos 600m do centro da cidade, foi - como o pomar - em 1937-1938 cercado pela
NKVD com altas estacas. Em alguns lugares ainda havia cerca viva da altura de
uma pessoa. Por toda parte viam-se velhos túmulos que apresentavam depressões.
Depois da limpeza do terreno e eliminação de arbustos surgiram as depressões de
formatos quadrados com afundamento de 10-15cm.
Escavando
esses lugares numa profundidade de dois metros, principalmente encontravam uma
camada de roupas e sob elas os cadáveres. Aqui foram encontradas 42 sepulturas
e delas extraídos 2.405 cadáveres. A quantidade de cadáveres em cada sepultura
variava de 50 a 147. Somente em três casos eram menos. Vinte e seis túmulos foram
possíveis reconhecer pelas depressões, todos os outros estavam aplainados no
nível do terreno e alguns disfarçados em túmulos comuns. Casualmente uma
sepultura coletiva foi encontrada sob o túmulo do anteriormente falecido e
pomposamente enterrado comissário da NKVD. Estranho símbolo!
As
sepulturas neste local eram menores que no pomar. Sua superfície ia de 1m x 2m
a 2,5m x 4,5m. A profundidade também era menor - de 3m a 3,5m. A disposição das
covas não apresentava a mesma ordem do primeiro local, e as próprias covas,
devido a terreno arenoso, já não possuíam a forma reta do pomar.
Logo
após a abertura das sepulturas coletivas no velho cemitério, elas também foram
encontradas numa distância imediata, do outro lado da estrada de Liten, no
"parque da cultura e descanso". Elas foram abertas segundo as
informações do antigo guarda daquele parque. No parque cresciam muitos
carvalhos e novos arbustos, mas o solo era coberto com grama. A parte nordeste
vizinhava diretamente com a prisão da NKVD. Neste local, já com muita
dificuldade podia-se reconhecer as depressões quadradas no solo. Explicava-se
este fato que, com a organização do parque, aplainava-se o solo com freqüência.
Numa parte do parque, ainda durante a guerra iniciaram o cultivo de verduras e
hortaliças.
Neste
local foram abertas 13 sepulturas coletivas, num total de 1.383 cadáveres. A
quantidade de cadáveres em sepulturas isoladas contava de 33 a 144. Sobre duas
sepulturas havia uma pracinha para danças e sobre outra um "gabinete de
riso". Os verdugos providenciaram para que as pessoas dançassem e rissem
sobre os cadáveres de seus compatriotas e familiares.
As
sepulturas abertas neste parque correspondiam às menores sepulturas do pomar e
sua superfície geralmente apresentava 2,5m x 3m. Como nos casos anteriores
havia uma camada de terra de 2m e uma camada de roupas e sob esta última os
cadáveres. A profundidade, em quase todos os casos era de três metros.
Continua.
Tradução:
Oksana Kowaltschuk
Fotoformatação: A.Oliynik
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