Um homem em um
avental de couro castanho
Istorychna Pravda
(Verdade histórica), 21.10.2010
Mykyta Petrov,
Memorial "Novaia Gazeta"
Vasily Blokhin - exceto dragonas de general, também
recebia prêmios. Entre eles - Ordem Laboral da Bandeira Vermelha, que era dada
pelos serviços significativos no trabalho.
Nos anos 1937-1938 o carrasco da KGB Vasily Blokhin
participou dos maiores fuzilamentos. Ele ordenou o fuzilamento do Marechal
Tukhachevsky e outros militares de alta patente. Em sua conta pessoal há mais
de dez mil vítimas. Recentemente lhe colocaram um novo monumento...
O nome do carrasco permanente da era stalinista Vasily
Mykhailovych Blokhin hoje em audiência. Sua assinatura selava numerosos atos
para realização de fuzilamentos guarda-se nos arquivos da KGB em Lubianka.
Pessoas não familiarizadas com os detalhes da
"profissão" de Blokhin sentiam choque e tremor quando o viam atuando.
Um dos raros testemunhos deixou o chefe da UNKVD (gerência da NKVD) da
Província Kalinin Dmytro Tokariev.
Ele contou sobre a chegada em Kalinin do grupo de
funcionários da NKVD chefiados por Blokhin para fuzilamento de poloneses que
estavam detidos no acampamento de Ostashkov.
Quando tudo estava pronto para o início do primeiro tiro,
Blokhin, disse Tokariev, foi atrás dele: "Bem, vamos lá..." Nós
fomos, e então eu vi todo o horror... Blokhin tirou suas roupas especiais e
vestiu seu avental de couro comprido castanho, boné de couro castanho, luvas de
couro acima dos cotovelos também castanhas.
Em mim isso causou uma enorme impressão - eu vi o carrasco!
"Na primeira noite, a equipe liderada por Blokhin fuzilou 343 pessoas. Nos
dias seguintes Blokhin ordenou entregar-lhe para fuzilamento não mais de 250
pessoas.
Na primavera de 1940, sob a orientação e participação direta
de Blokhin foram fuzilados 6311 prisioneiros de guerra poloneses. Podemos supor
que com semelhante ação de tal "choque" ele dobrou sua conta anterior
de fuzilados. Devido ao seu relacionamento Tokariev não participou diretamente
dos fuzilamentos. Blokhin mostrou condescendência, nobreza de carrasco
profissional, que está ciente de que nem todos são capazes do que ele é. Na
elaboração da lista de participantes para a adjudicação de tiro, ele incluiu o
nome do chefe da UNKVD Tokariev...
Quem era essa pessoa, cuja mão executava as arbitrariedades
de Stalin?
As poucas linhas de sua autobiografia dizem que ele nasceu em
1895 na aldeia Havrylivska na região de Suzdal, na província de Ivanovo, em
família de camponeses pobres. Desde 1905 ele estudava e trabalhava como pastor
de gado, depois pedreiro e também nas terras de seu pai. Em 05.06.1915 alistou-se
como soldado no 82º
Regimento de Infantaria em Volodymyr, servindo até suboficial
junior.
Em 25.10.1918, como voluntário ingressou no serviço de
recrutamento em Suzdal. Logo fez sua escolha política - em abril de 1921 entrou
no partido comunista e, em seguida, 25 de maio foi nomeado para o 62º batalhão
do exército em Stavropol.
Assim começou sua carreira de chequista. Após algumas
designações chega, em 22.08.1924 ao cargo de Comissário para missões especiais
junto a OGPU (Administração de Política Estatal Unificada). Agora, entre outros
assuntos entra na condução da execução das sentenças de fuzilamento. De fato,
desde a primavera de 1925 sua assinatura regularmente aparece sob as atas
decisivas para fuzilamento.
Talvez ele tivesse sido apenas um executor comum dos
fuzilamentos, mas, de repente uma vaga importante. Em 03.03.1926 Blokhin foi
nomeado comandante interino do OGPU e já em 01.06.1926 ele foi aprovado neste
cargo.
O destino de seu antecessor Carl Weiss não era invejável. Em
despacho assinado por Iágoda (fuzilado em 1938) Nº 131/47 de 05.07.1926
afirmava-se sua demissão e censura. Ele foi condenado à prisão por 10 anos pela
acusação de relações com missões estrangeiras, óbvios espiões.
Blokhin se comportou conforme o desejado e no posto de
comandante permaneceu por muitos anos, até a aposentadoria.
Agia sob a direção de Blokhin o pelotão de fuzilamento, ou
"grupos especiais" como era chamado nos documentos e formava-se de
funcionários de diferentes departamentos. No final dos anos vinte - início dos
anos trinta, havia membros de um departamento especial do Colégio da OGPU, que
ocupava-se com a proteção dos líderes da União Soviética e pessoalmente de
Stalin. Isto é, envolviam-se na proteção de líderes com participação regular em
execuções de "inimigos do povo". No aparelho central da OGPU eles
figuravam como "comissários para missões especiais": Rogov, Yusis,
Sotnekov, Gabalin, Chernov, Pakalan, Rodovanskyi.
Outra parte servia no comando da OGPU. O próprio Blokhin, e
também Mago e Shuhalov.
Posteriormente, no "grupo especial" ingressaram: Shyhalov
(irmão), Yakovlev, Antonov, Dmitriev, Emelyanov, Mach, Feldman, Semenyhyn.
Não era fácil o destino dos verdugos. A família os via
raramente, e quando vinham depois do "trabalho" noturno, geralmente
estavam bêbados. Não é surpreendente que morriam cedo ou ficavam dementes. Morreram:
Khrustalev em outubro de 1930 - Yusis em 1931, Mago em 1941 - Shuhalov em 1942
- Shuhalov (irmão) em 1945. Muitos conseguiram aposentadoria por invalidez
devido a esquizofrenia, como O. Emelyanov, ou de doença mental, como E. Mach.
Mas as repressões não pouparam nem os fuziladores. Parte
deles caiu nas mãos de Blokhin - foram levados para as salas de disparo já na
condição de vítimas. Assim em 1937 foram fuzilados H. Holov, P. Pakalan, F.
Sotnykov. Interessante o que sentiam Blokhin e Mago, quando fuzilavam seus
antigos companheiros.
Especialmente deixavam nervosos os verdugos, os condenados
que no momento do fuzilamento glorificavam Stalin.
Encabeçava o grupo dos verdugos, que traziam para executar a
decisão da "troika" (trio) NKVD da Província de Moscou em 1937-1938,
Isay Berg, que tendo sido preso, mostrou que recebeu de seus superiores
rigorosas instruções "para evitar tais eventos no futuro" e entre os
trabalhadores dos grupos especiais da NKVD "elevar o estado de espírito,
esforçar-se para provar-lhes, que as pessoas, que eles fuzilam -
inimigos". Embora Berg chegou a admitir: "Nós fuzilamos muitos inocentes".
Berg tornou-se famoso por causa de seu envolvimento
espontâneo no NKVD de Moscou criando a máquina "dushohubka", na qual
os condenados amorteciam com o escapamento de gás. Em parte isto
preservava os nervos aos verdugos de Moscou. Carregavam as prisões de Taganska
ou Butyrska com prisioneiros vivos - em Butovo descarregaram mortos, e
conclusão dos trabalhos. E nenhuma glorificação a Stalin. O próprio Berg
explicou aos investigadores, que sem tal aperfeiçoamento "seria impossível
obter número tão grande de execuções".
E no grupo central dos fuziladores sob direção de Blokhin
mandaram "realizar um trabalho educacional entre os condenados à morte
para que eles no momento tão inoportuno não delirassem com o nome do
chefe".
Nos anos de 1937-1938 Blokhin tomou parte nos fuzilamentos
mais notórios. Ele comandou o fuzilamento do marechal Tukhachevskyi e militares
sêniores condenados com ele. Assistiram ao fuzilamento o procurador da URSS
Vyshenskyi e o presidente do Colégio Militar do Supremo Tribunal Ulrich.
Monumento da família Blokhin no
cemitério Donskyi em Moscou. Até mesmo verdugo merece memória eterna e perdão.
Às vezes exibia sua presença o próprio "comissário de
ferro" Yezhov. Em sua presença a ação do fuzilamento adquiria performances
artísticas. No outono de 1937: "Antes do fuzilamento de seu antigo amigo
Yakovlev Yezhov colocou-o a seu lado - para observar ao ato da execução da
sentença." Yakovlev, chegando ao lado de Yezhov, dirigiu-se a ele com
estas palavras: Mykola Ivanovych! Vejo em seus olhos que você está com pena de
mim". Yezhov não respondeu, mas visivelmente constrangido ordenou fuzilar
Yakovleu imediatamente. Não menos memorável a cena acontecida em março de 1938
quando da execução da sentença no caso de Bukharin, Rykov, Yagoda e outros
condenados no "Processo do Pravotrotstistoho Bloco" (Conspiração de Trotskyi e outros - OK). Yagoda fuzilaram
por último. Antes, ele e Bukharin foram colocados em bancos e obrigados a olhar
como realizava-se a sentença de outros prisioneiros. Yezhov esteve presente e,
muito provavelmente, foi o autor de capricho tão refinado.
Antes do fuzilamento Yezhov ordenou ao comandante da proteção
de Kremlin Dahin bater em Yagoda o antigo Comissário de Assuntos Internos.
"Vamos, dê nele por todos nós". Ao mesmo tempo o fuzilamento do amigo
de bebedeira Bulanov entristeceu Yezhov, e ele até mandou primeiro dar-lhe
conhaque.
É incrível, quantos de seus antigos colegas e chefes fuzilou
Blokhin. A proximidade às incriminadas lideranças da NKVD poderia também
custar-lhe a vida. Mas Stalin estimava os promissores "executores"
que acostumados a atirar na nuca, constantemente permaneciam visíveis às suas
costas na qualidade de protetores.
No início de 1939, quando Beria, com todas as forças purgava
NKVD dos quadros de Yezhov, ele recebeu documentos dizendo que o comandante Blokhin
era muito próximo do antigo secretário da NKVD Bulanov, e também do fuzilado
comissário Yagoda. Então isto analisava-se como evidência de participação em
seus "planos conspiratórios". Beria preparou proposta para detenção
de Blokhin que, para sua surpresa, foi recusada. Em 1953 Beria revelou durante
a investigação: "Comigo Stalin não concordou dizendo que tais pessoas não
devem ser exterminadas porque elas executam trabalhos indicados. Então ele
chamou o chefe de N.C. Vlasyk e perguntou se Blokhin participa na execução de
sentenças e se era necessário aprisioná-lo? Vlasyk respondeu que Blokhin
participa e com ele participa seu assistente A.M.Pakiv, e teceu comentários
favoráveis a Blokhin".
Beria, retornando ao seu escritório chamou Blokhin e os
trabalhadores dos "grupos especiais" para conversar. Os resultados da
conversa "educacional" o comissário do povo refletiu ao arquivo, como
também a resolução não executada: "Secretamente. Chamado por mim Blokhin e
altos funcionários do Comissariado, aos quais informei algumas provas contra
eles. Prometeram trabalhar em estreita colaboração e continuar leais ao partido
e governo soviético. 20 de fevereiro de 1939. L. Beria".
Mais sobre a questão de Blokhin Stalin não retornou.
Normalmente os presos eram levados para o local de execução
na travessa Varsonofiyivskyi, onde esperava Blokhin com a equipe. Mas, às
vezes, Blokhin precisava buscar as vítimas. Assim aconteceu em 1940, quando foi
necessário levar da prisão de Sukhanovska para fuzilamento o condenado
ex-candidato a membro do politburo Robert Eikhe.
Pouco antes de ser enviado para fuzilamento, ele foi
cruelmente espancado no gabinete de Beria na prisão de Sukhanovska: "A
Eikhe, durante o espancamento houve vazamento dos olhos. Após o espancamento,
quando Beria convenceu-se, que não conseguiria nenhuma informação sobre
espionagem, determinou levá-lo para fuzilamento.
E, em 6 de fevereiro de 1940 Blokhin teve a honra de fuzilar
o próprio comissário Yezhov.
A administração valorizava Blokhin. Ele crescia rapidamente
nas promoções: 1935 - capitão, 1940 - major, 1943 - coronel, 1944 - comissário,
1945 - major-general. Foi também generosamente regado com prêmios estatais:
"Ordem de Lênin (1945), Ordens da Bandeira Vermelha (1940, 1944, 1949),
Ordem da Guerra Patriótica I Grau (1945), Bandeira Vermelha do Trabalho (1943),
Estrela Vermelha (1936) "Insígnia de Respeito" (1937), e também dois
sinais "Checa honorário " e relógio de ouro. Também foi premiado com
honrosa arma-mauser, apesar de que para fuzilar preferia a alemã
"Walter" (não aquecia muito).
Quando completou 20 anos no cargo de comandante, ele foi
premiado com um automóvel "M-20" ("Vitória"). Chama
atenção o fato que Blokhin e seus auxiliares do "grupo especial"
costumeiramente eram presenteados não depois, mas antes das campanhas sérias de
fuzilamento.
De acordo com várias estimativas, o número total dos
fuzilados pessoalmente por Blokhin em todos os anos de seu serviço na Lubyanka
constitui não menos de 10-15 mil pessoas.
Imediatamente após a morte de Stalin e segunda vinda de Beria
à liderança dos "órgãos" Blokhin foi enviado para reforma. "O
ex-comandante Blokhin pela Ordem do Ministério dos Assuntos do Interior da URSS
Nº 107, de 02.04.1953 foi dispensado por motivo de doença, com anúncio de
gratidão por 34 anos de "serviço impecável" nos órgãos da
OGPU-NKVD-MGB-MVD-URSS.
Como explicou Beria, Blokhin foi reformado do cargo "assentou-se"
- havia tal término burocrático que significava longa permanência do
trabalhador no mesmo cargo e perda de sua atividade e efetividade no
desempenho. Embora, como sabemos, o trabalho de Blokhin não era absolutamente
em posição sentada e a saúde de modo algum confusa.
Assim, em 1953 Blokhin solenemente foi conduzido ao merecido
repouso. Após a morte do ditador a necessidade de seus préstimos cessou. Não,
naturalmente, porque veio em sua substituição um novo comandante, o coronel
D.V. Brovkin e que, absolutamente não correu o risco de ficar sem o
"trabalho noturno", simplesmente sua escala não era a mesma. Embora
na troca de antigas vítimas chegaram aqueles que anteriormente executavam
julgamentos e punição: na nova liderança pós-stalinista foram executados
ex-capangas de Beria e Abakumov, e suas questões ativamente investigavam-se, e
revelou-se que Blokhin não encontrou paz na aposentadoria. Ele vinha freqüentemente
à Procuradoria Geral para interrogatórios. Durante a investigação da questão
Beria e seus assistentes mais próximos precisaram verdadeiramente dos
inestimáveis conhecimentos do ex-comandante. Afinal, ele foi o executor mais
importante de todas as acusações.
No entanto, Blokhin não foi envolvido como réu, mesmo tendo
sido ele o executor dos atos criminosos.
Provavelmente decidiram: é apenas um verdugo, desempenhava
ordens. Este era seu trabalho, e nada pessoal.
Depois da dispensa de Blokhin, pelos 36 anos de serviço nos
órgãos foi lhe estabelecida uma pensão de 3.150 rublos. No entanto, depois de
caçado seu título de general, em 23.11.1954 o pagamento da pensão pela KGB foi
encerrado. Não está claro se ele conseguiu a sua reforma normal pela idade. De
acordo com o relatório médico Blokhin sofreu hipertensão de 3º grau e morreu em
3 de fevereiro de 1955 de infarto de miocárdio.
Pela ironia do destino, Blokhin foi enterrado lá, onde descansam
as cinzas da maioria de suas vítimas, - no cemitério Donskyi. Embora os corpos
dos fuzilados fossem queimados nos crematórios e as cinzas jogadas em covas
comuns, sem nomes, já na sepultura de Blokhin recentemente apareceu um túmulo novo
e bonito com fotografia.
Não esquecem!
Tradução: Oksana Kowaltschuk