Anders
Aslund: "A presidência de Yanukovych já terminou do ponto de vista de
reformas. Hoje trata-se apenas de sua sobrevivência e conservação do
leme".
Tyzhden (Semana), 30.05.2011
Entrevista a Oleksandr Pahiria
O colaborador científico senior do Instituto de
Economia Internacional Peterson (EUA), economista sueco Anders Aslund considera
que no período de crise financeira para Ukraina - é o melhor momento para
realizar reformas econômicas, como fizeram os países escandinavos, no início de
1990, e acabaram tornando-se os mais avançados e socialmente orientados países
da Europa.
No entanto, em sua opinião, o potencial reformista
do regime Yanukovych hoje está potencialmente esgotado. Sobre sua receita para
problemas da economia ukrainiana Anders Aslund discursou durante sua
apresentação em "Kyiv National Shevchenko University", organizada
pelas Embaixadas da Suécia, Suiça e a revista "Semana Ukrainiana".
Falando em termos gerais, o problema mais visível
em seu país é a corrupção. No sistema presente o governo serve apenas ao
enriquecimento de um estreito círculo da elite, e não ao desenvolvimento do
país. Suas aproximações ao Estado são predatórias. Neste contexto, Ukraina roça
nos problemas gerais da estagnação da economia mundial e desaceleração do
crescimento. Portanto, há riscos significativos, de que vocês serão cobertos
pela próxima onda da crise.
A questão fundamental é o déficit orçamentário,
além do que as reservas da Ukraina são limitadas (até 25 bilhões de USD) e
forte ligação do curso da "hryvnia" (moeda nacional) ao dólar. Por
que é alarmante tal situação? Sua moeda pode sofrer uma súbita e significativa
desvalorização, porque o mercado da moeda é completamente líquido. E a resposta
do governo a este desafio é puramente tática: o governo, por um lado,
artificialmente apoia o curso da "hryvnia" com a regulamentação
governamental, o que conduz ao esgotamento das reservas cambiais, e por outro -
minimiza o investimento. O Gabinete ministerial ignora os conselhos do
FMI e UE, e isso é perigoso. A precariedade da situação é que, primeiro,
pode haver um "choque externo" - e os preços do aço (produto muito
importante nas exportações ukrainianas) caiam drasticamente. Isto é bastante
provável. Em segundo lugar, o rendimento dos títulos governamentais, que hoje
já alcançam 7,5% podem saltar, porque ao mercado ukrainiano falta confiança.
Então Ukraina, mais rapidamente perderá suas reservas cambiais e poderá entrar
numa crise financeira mais séria. Por conseguinte, a situação é alarmante, mas
esperar pelas reformas nas atuais circunstâncias não vale a pena.
Indiscutivelmente, que a presidência de Yanukovych com sua visão de
reformas já se encerrou. Hoje a preocupação é apenas com sua sobrevivência e manutenção
do leme. Não há um propósito maior.
O governo Yanukovych é limitado em suas capacidades
- é um sistema francamente retrógrado, com suprema destruição da lei e direitos
da propriedade particular.
O acordo sobre associação e zona de livre comércio
com UE é muito importante para Kyiv. Trata-se de mais de mil páginas, e as
negociações levaram quatro anos. O que o Acordo poderá propiciar: primeiro,
novos mercados disponíveis para exportação de produtos ukrainianos - e isto é o
que a maioria dos países conseguiu apenas após a adesão à UE; segundo,
possibilidade de modernização da legislação da Ukraina e de suas instituições
estatais, de acordo com padrões e normas européias; terceiro, verdadeira
ferramenta de apoio à reforma interna; quarto, largas oportunidades em
intercâmbio educacional e científico com UE, que abrirá as portas para dezenas
de milhares de jovens ukrainianos para estudo em universidades européias (Aos oligarcas e
amigos do presidente alcançar isso já não é importante porque seus filhos já estudam
nas melhores universidades européias, as famílias passam as férias na Europa e
lá fazem seus tratamentos médicos - OK). Esse acordo pode-se tornar
o verdadeiro ponto de resistência que mudará o país. E a única razão para dizer
"não" a este acordo - é que o presidente quer manter Yulia Tymoshenko
na prisão. E enquanto ela continuar na prisão, aos países da UE será difícil
concordar com a assinatura do Acordo de Associação (Yanukovych, ao que tudo indica, pretende
perpetuar-se no poder, a exemplo de Lukashenko, na presidência da Bielorrússia
desde 20.07.94. Então, melhor entrar para União Aduaneira e derrotar Tymoshenko
física e espiritualmente - OK).
O surgimento de sistemas oligárquicos nos países
pós-soviéticos é um produto colateral da liberalização tardia do comércio
exterior, que proporcionou a algumas pessoas privilégios exclusivos no comércio
exterior, de matérias primas (especialmente gás e aço). O ideal é que a
oligarquia se transformasse no verdadeiro mercado democrático após o surgimento
de um número crescente de grandes empresários. No entanto, inicialmente na
Rússia, e depois na Ukraina, vemos tendências opostas. Cada vez mais o poder e
a riqueza concentram-se nas mãos dos clãs dominantes, ou famílias que não
querem compartilhar.
Se compararmos a situação atual na Ukraina com a
situação na Rússia de Putin, então veremos: consolidação do poder e da
propriedade pública nas mãos da "família" governante na Ukraina é
muito mais rápida. O presidente Yanukovych cada vez mais pressiona os oligarcas
que não lhe são leais. Obviamente, alguns deles foram forçados a ir
temporariamente para o exterior. O antigo modelo oligárquico pouco a pouco
desaparece. O capitalismo no interesse de uma "família" (círculo
próximo a Yanukovych) se assemelha ao que Karl Marx chamou de despotismo
oriental, contudo o governo Yanukovych é limitado em suas capacidades - seu
sistema é francamente retrógrado com forte destruição do Estado de Direito e
dos direitos da propriedade privada. Ukraina hoje, creio eu, regrediu para 1993.
Nós vemos que a riqueza do país concentrou-se em
poucas mãos e pagam menos impostos os que estão em melhores relações com as
autoridades. A privatização teve um caráter seletivo, a maioria dos objetos
economicamente atraentes foram privatizados por preços mínimos. A corrupção
reina em muitos setores econômicos.
Na Rússia existem três grupos econômicos
privilegiados: 1) empresas estatais; 2) empresas pertencentes a amigos de
Putin, que são seus parceiros de negócios; 3) velhos oligarcas. Os últimos,
recentemente, cada vez mais vendem seus ativos às empresas estatais, e estas,
facilmente, os convertem em benefícios dos parceiros presidenciais. Neste
sistema, os oligarcas já não são tão importantes em termos de poder econômico.
Não encontrando oportunidades para reinvestimento na economia russa, eles
exportam o dinheiro para o exterior, o que causa maciça saída de fundos. No
Cazaquistão não houve oligarcas, apenas grandes empresários, próximos à família
de Nazarbayev (mandato presidencial desde 24.04.1990). Contatos que às vezes se
rompem, mas sem a vontade de Nazarbayev eles nada podem fazer em seu país.
Aos oligarcas ukrainianos, quanto ao Acordo da
Associação apresentam-se dois lados. No curto prazo lhes é confortável receber
o máximo de ativos. Entretanto eles têm interesse no acesso ao mercado comum
europeu. E essas duas aspirações entram em conflito entre si.
Caso desejasse, a Ukraina poderia observar a
prática de instrução das instituições dos países escandinavos que não tem
problemas com a corrupção, e todo seu sistema de governo funciona com muita
efetividade. Sem entrar em detalhes, a Ukraina encontraria muitas coisas
interessantes, especialmente na regulação do governo, privatizações, reforma da
previdência, reorganização dos serviços públicos, etc. Mas o papel mais
positivo na implementação de reformas na Ukraina deveria desempenhar a UE.
Quando os países do norte da Europa foram
envolvidos pela crise financeira de 1990, nós vimos que o nosso modelo
econômico era insustentável. Eram muito altos os custos do governo e o déficit
orçamentário. Tínhamos crescimento baixo, inflação alta e falta de postos de
trabalho. Para sair desta situação, foi necessário introduzir mudanças radicais
e novos pensamentos. Adotamos parcialmente as reformas de mercado de Ronald
Reagan e Margaret Thatcher, além de algumas experiências social-democráticas na
Europa Oriental, em particular o papel do Estado na economia. O conteúdo das
transformações dos países nórdicos consistia no deslocamento de um estado socialmente
orientado para uma sociedade de bem-estar com alto grau de setor privado na
economia, o que garantiria maior crescimento econômico e um alto nível de
desenvolvimento, levando a uma considerável proteção social dos cidadãos. Assim
aconteceu na suécia. Em conseqüência da regulamentação inteligente,
privatização planejada e liberalização do mercado, essencial redução fiscal
para as empresas o PIB cresceu rapidamente, foram reduzidas as despesas
públicas, desapareceu o déficit orçamentário, e, portanto, foi possível
fornecer um alto nível de benefícios sociais para população. O modelo nórdico,
na minha opinião, ainda não está completo. Ainda há muito a ser feito, ou seja,
regular o mercado de trabalho, reduzir os gastos do governo, melhorar a
política fiscal. Além disso, cada vez mais investimentos para o nosso futuro
exige o setor da educação.
Notas biográficas:
Anders Aslund - cientista sênior colaborador do
Instituto Peterson (EUA) de economia internacional investiga as reformas do
mercado e a transformação pós-comunista na Ukraina e outros países do Leste
Europeu. Foi diretor-fundador do Instituto de Economia de Estocolmo dos países
do Leste Europeu. Nos anos noventa trabalhou como Assessor Econômico do governo
da Rússia, Ukraina e Quirguistão, e também no serviço diplomático sueco no
Kuwait, Polônia, Suíça e Rússia. Autor dos livros: "Os últimos serão os
primeiros: crise financeira da Europa Oriental" (2010), "Como Ukraina
tornou-se uma economia de mercado e a democracia" (2009), "Revolução
capitalista russa: porque venceram as reformas e perdeu a democracia"
(2007), "Construindo o capitalismo: transformação do antigo bloco
soviético" (2001) e outros.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Nenhum comentário:
Postar um comentário