domingo, 16 de junho de 2013

GOVERNO DE YANUKOVYCH ESTÁ ESGOTADO

Anders Aslund: "A presidência de Yanukovych já terminou do ponto de vista de reformas. Hoje trata-se apenas de sua sobrevivência e conservação do leme".
 
Tyzhden (Semana), 30.05.2011
Entrevista a Oleksandr Pahiria
 
O colaborador científico senior do Instituto de Economia Internacional Peterson (EUA), economista sueco Anders Aslund considera que no período de crise financeira para Ukraina - é o melhor momento para realizar reformas econômicas, como fizeram os países escandinavos, no início de 1990, e acabaram tornando-se os mais avançados e socialmente orientados países da Europa.
 
 
No entanto, em sua opinião, o potencial reformista do regime Yanukovych hoje está potencialmente esgotado. Sobre sua receita para problemas da economia ukrainiana Anders Aslund discursou durante sua apresentação em "Kyiv National Shevchenko University", organizada pelas Embaixadas da Suécia, Suiça e a revista "Semana Ukrainiana".
 
Falando em termos gerais, o problema mais visível em seu país é a corrupção. No sistema presente o governo serve apenas ao enriquecimento de um estreito círculo da elite, e não ao desenvolvimento do país. Suas aproximações ao Estado são predatórias. Neste contexto, Ukraina roça nos problemas gerais da estagnação da economia mundial e desaceleração do crescimento. Portanto, há riscos significativos, de que vocês serão cobertos pela próxima onda da crise.
 
A questão fundamental é o déficit orçamentário, além do que as reservas da Ukraina são limitadas (até 25 bilhões de USD) e forte ligação do curso da "hryvnia" (moeda nacional) ao dólar. Por que é alarmante tal situação? Sua moeda pode sofrer uma súbita e significativa desvalorização, porque o mercado da moeda é completamente líquido. E a resposta do governo a este desafio é puramente tática: o governo, por um lado, artificialmente apoia o curso da "hryvnia" com a regulamentação governamental, o que conduz ao esgotamento das reservas cambiais, e por outro - minimiza o investimento. O Gabinete ministerial ignora os conselhos do  FMI e UE, e isso é perigoso. A precariedade da situação é que, primeiro, pode haver um "choque externo" - e os preços do aço (produto muito importante nas exportações ukrainianas) caiam drasticamente. Isto é bastante provável. Em segundo lugar, o rendimento dos títulos governamentais, que hoje já alcançam 7,5% podem saltar, porque ao mercado ukrainiano falta confiança. Então Ukraina, mais rapidamente perderá suas reservas cambiais e poderá entrar numa crise financeira mais séria. Por conseguinte, a situação é alarmante, mas esperar pelas reformas nas atuais circunstâncias não vale a pena. Indiscutivelmente,  que a presidência de Yanukovych com sua visão de reformas já se encerrou. Hoje a preocupação é apenas com sua sobrevivência e manutenção do leme. Não há um propósito maior.
 
O governo Yanukovych é limitado em suas capacidades - é um sistema francamente retrógrado, com suprema destruição da lei e direitos da propriedade particular.
 
O acordo sobre associação e zona de livre comércio com UE é muito importante para Kyiv. Trata-se de mais de mil páginas, e as negociações levaram quatro anos. O que o Acordo poderá propiciar: primeiro, novos mercados disponíveis para exportação de produtos ukrainianos - e isto é o que a maioria dos países conseguiu apenas após a adesão à UE; segundo, possibilidade de modernização da legislação da Ukraina e de suas instituições estatais, de acordo com padrões e normas européias; terceiro, verdadeira ferramenta de apoio à reforma interna; quarto, largas oportunidades em intercâmbio educacional e científico com UE, que abrirá as portas para dezenas de milhares de jovens ukrainianos para estudo em universidades européias (Aos oligarcas e amigos do presidente alcançar isso já não é importante porque seus filhos já estudam nas melhores universidades européias, as famílias passam as férias na Europa e lá fazem seus tratamentos médicos - OK). Esse acordo pode-se tornar o verdadeiro ponto de resistência que mudará o país. E a única razão para dizer "não" a este acordo - é que o presidente quer manter Yulia Tymoshenko na prisão. E enquanto ela continuar na prisão, aos países da UE será difícil concordar com a assinatura do Acordo de Associação (Yanukovych, ao que tudo indica, pretende perpetuar-se no poder, a exemplo de Lukashenko, na presidência da Bielorrússia desde 20.07.94. Então, melhor entrar para União Aduaneira e derrotar Tymoshenko física e espiritualmente - OK).
 
O surgimento de sistemas oligárquicos nos países pós-soviéticos é um produto colateral da liberalização tardia do comércio exterior, que proporcionou a algumas pessoas privilégios exclusivos no comércio exterior, de matérias primas (especialmente gás e aço). O ideal é que a oligarquia se transformasse no verdadeiro mercado democrático após o surgimento de um número crescente de grandes empresários. No entanto, inicialmente na Rússia, e depois na Ukraina, vemos tendências opostas. Cada vez mais o poder e a riqueza concentram-se nas mãos dos clãs dominantes, ou famílias que não querem compartilhar.
 
Se compararmos a situação atual na Ukraina com a situação na Rússia de Putin, então veremos: consolidação do poder e da propriedade pública nas mãos da "família" governante na Ukraina é muito mais rápida. O presidente Yanukovych cada vez mais pressiona os oligarcas que não lhe são leais. Obviamente, alguns deles foram forçados a ir temporariamente para o exterior. O antigo modelo oligárquico pouco a pouco desaparece. O capitalismo no interesse de uma "família" (círculo próximo a Yanukovych) se assemelha ao que Karl Marx chamou de despotismo oriental, contudo o governo Yanukovych é limitado em suas capacidades - seu sistema é francamente retrógrado com forte destruição do Estado de Direito e dos direitos da propriedade privada. Ukraina hoje, creio eu, regrediu para 1993.
 
Nós vemos que a riqueza do país concentrou-se em poucas mãos e pagam menos impostos os que estão em melhores relações com as autoridades. A privatização teve um caráter seletivo, a maioria dos objetos economicamente atraentes foram privatizados por preços mínimos. A corrupção reina em muitos setores econômicos.
 
Na Rússia existem três grupos econômicos privilegiados: 1) empresas estatais; 2) empresas pertencentes a amigos de Putin, que são seus parceiros de negócios; 3) velhos oligarcas. Os últimos, recentemente, cada vez mais vendem seus ativos às empresas estatais, e estas, facilmente, os convertem em benefícios dos parceiros presidenciais. Neste sistema, os oligarcas já não são tão importantes em termos de poder econômico. Não encontrando oportunidades para reinvestimento na economia russa, eles exportam o dinheiro para o exterior, o que causa maciça saída de fundos. No Cazaquistão não houve oligarcas, apenas grandes empresários, próximos à família de Nazarbayev (mandato presidencial desde 24.04.1990). Contatos que às vezes se rompem, mas sem a vontade de Nazarbayev eles nada podem fazer em seu país.
 
Aos oligarcas ukrainianos, quanto ao Acordo da Associação apresentam-se dois lados. No curto prazo lhes é confortável receber o máximo de ativos. Entretanto eles têm interesse no acesso ao mercado comum europeu. E essas duas aspirações entram em conflito entre si.
 
Caso desejasse, a Ukraina poderia observar a prática de instrução das instituições dos países escandinavos que não tem problemas com a corrupção, e todo seu sistema de governo funciona com muita efetividade. Sem entrar em detalhes, a Ukraina encontraria muitas coisas interessantes, especialmente na regulação do governo, privatizações, reforma da previdência, reorganização dos serviços públicos, etc. Mas o papel mais positivo na implementação de reformas na Ukraina deveria desempenhar a UE.
 
Quando os países do norte da Europa foram envolvidos pela crise financeira de 1990, nós vimos que o nosso modelo econômico era insustentável. Eram muito altos os custos do governo e o déficit orçamentário. Tínhamos crescimento baixo, inflação alta e falta de postos de trabalho. Para sair desta situação, foi necessário introduzir mudanças radicais e novos pensamentos. Adotamos parcialmente as reformas de mercado de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, além de algumas experiências social-democráticas na Europa Oriental, em particular o papel do Estado na economia. O conteúdo das transformações dos países nórdicos consistia no deslocamento de um estado socialmente orientado para uma sociedade de bem-estar com alto grau de setor privado na economia, o que garantiria maior crescimento econômico e um alto nível de desenvolvimento, levando a uma considerável proteção social dos cidadãos. Assim aconteceu na suécia. Em conseqüência da regulamentação inteligente, privatização planejada e liberalização do mercado, essencial redução fiscal para as empresas o PIB cresceu rapidamente, foram reduzidas as despesas públicas, desapareceu o déficit orçamentário, e, portanto, foi possível fornecer um alto nível de benefícios sociais para população. O modelo nórdico, na minha opinião, ainda não está completo. Ainda há muito a ser feito, ou seja, regular o mercado de trabalho, reduzir os gastos do governo, melhorar a política fiscal. Além disso, cada vez mais investimentos para o nosso futuro exige o setor da educação.
 
Notas biográficas:
Anders Aslund - cientista sênior colaborador do Instituto Peterson (EUA) de economia internacional investiga as reformas do mercado e a transformação pós-comunista na Ukraina e outros países do Leste Europeu. Foi diretor-fundador do Instituto de Economia de Estocolmo dos países do Leste Europeu. Nos anos noventa trabalhou como Assessor Econômico do governo da Rússia, Ukraina e Quirguistão, e também no serviço diplomático sueco no Kuwait, Polônia, Suíça e Rússia. Autor dos livros: "Os últimos serão os primeiros: crise financeira da Europa Oriental" (2010), "Como Ukraina tornou-se uma economia de mercado e a democracia" (2009), "Revolução capitalista russa: porque venceram as reformas e perdeu a democracia" (2007), "Construindo o capitalismo: transformação do antigo bloco soviético" (2001) e outros.

 

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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