Euro-2013. Um ano
após a euforia: estradas esburacadas, aeroportos semivazios e estádios
desvantajosos.
Tyzhden (Semana), 08.06.2013
Valeria Burlakov
Durante a preparação final ao campeonato de futebol europeu o
governo informava, que os objetos construídos para o evento serão totalmente
aproveitados no futuro. No entanto, transcorrido um ano, vemos que o Estado construiu
"aldeias de Potemkin" com não justificados custos que provavelmente
nunca serão compensados e, além disso, necessitam injeções financeiras
adicionais.
Estradas concertadas na véspera do Euro até hoje remendam
após "anômalo inverno". Os especialistas garantem que se as estradas
fossem construídas de acordo com tecnologias adequadas e os recursos não fossem
saqueados, não haveria necessidade de reparos pelo menos até cinco anos.
Aeroportos: cara megalomania.
Recentemente, a Câmara de Contabilidade acusou o aeroporto "Boryspil" (principal
aeroporto, próximo a Kyiv - OK) no uso ineficiente de 3,7 bilhões de dólares
destinados ao programa de metas de preparação para Euro-2012 (foram gastos ao
todo 6,7 bilhões de dólares. Injustificaram, em particular, o aumento duplicado
do Terminal D e construção da área para VIP pessoas, o que levou ao aumento da
dívida em 2,6 bilhões de UAH?
Terminal D, construído por 4,8 de UAH foi planejado para
todas as grandes companhias internacionais. Mas estas se recusavam devido a
falta da zona de transferência, pequeno espaço para pouso para grande
quantidade de aviões e difícil logística. Finalmente em março deste ano
mudaram-se para o Terminal D, acreditando nas promessas que será organizada a
zona de transferência. Agora "Boryspil" anuncia a intenção de transferir
para o Terminal D não apenas as grandes operadoras, mas todos os passageiros
internacionais. Segundo especialistas essa mudança é forçada, porque o
aeroporto simplesmente não tem fundos suficientes para atender todos os
terminais.
Hoje a capacidade é de 25 milhões de passageiros/ano. Em 2012
foram servidos 8.470.000 pessoas - 5% de aumento em relação a 2011. Crescimento
significativo a partir do ano em curso é improvável. Nos dois primeiros meses
de 2013 houve um decréscimo de 21% (Uma das razões para isso é a rescisão da
assistência às aeronaves da empresa falida "Aerosvit"). No primeiro
trimestre de 2013 as perdas atingiram 60,6 milhões de UAH. Na Câmara de
Contabilidade supõem que "Boryspil" não será capaz de pagar suas obrigações
de crédito (cerca de 4,3 bilhões de UAH, a maioria dos quais foi para a
construção do Terminal D) e sobrecarregará com elas o orçamento do Estado.
O aeroporto internacional de Lviv "Danylo Haletskyi", em 2012
serviu 570 mil pessoas - quantidade recorde. Em 2013, nos primeiros quatro
meses recebeu em média 1201 pessoas por dia. Anteriormente à construção sua
capacidade era de 250 pessoas hora. Portanto, não havia necessidade de grandes
reformas.
O aeroporto de Donetsk, conforme garantiam os governantes durante sua construção,
devia tornar-se um centro de trânsito para ligações aéreas da Europa e Ásia. Um
ano depois não apenas não se apressam novas empresas aéreas, mas afastam-se as
antigas, como a velha Czech Airlines e a polonesa LOT. Alegam falta de
rentabilidade. Em 3 de junho, no placar apareciam apenas algumas dezenas de
vôos, principalmente fretados para resorts turcos e egípcios. Em janeiro -
março de 2013 passaram pelo aeroporto 197 mil passageiros, aproximadamente 2,2
mil pessoas por dia no terminal capaz de levar 3100 pessoas por hora.
Entretanto é significativa a situação de Kharkiv, onde o
governo financiou apenas o complexo do aeródromo, e o restante construíram
investidores privados. Isso mostra que os objetos para Euro poderiam
realizar-se com menores quantias e não tornar-se desvantajosos depois do
campeonato. 107,2 milhões de USD (aproximadamente 860 milhões de UAH) foram
suficientes para restauração do velho terminal, construção do novo e também
temporário exclusivamente para Euro-2012 (ele foi reformado para hangar para aviação comercial, não se
transformou em lembrança vazia do Euro-2012).
O Estado em Kharkiv investiu 191 milhões de dólares e no
geral foram gastos 298 milhões de USD. Isto é, duas vezes menos que em Lviv. O
edifício muito mais modesto não dificultou ao aeroporto de Kharkiv atingir bons
resultados - no primeiro quartel de 2013 o aumento no tráfego de passageiros
chegou a 46%.
Estádios e dívidas
Construindo especialmente para Euro-2012 o novo estádio em
Lviv custou 2,9 bilhões de UAH, dos quais 2,7 bilhões - despesas do orçamento.
Mais de 83 milhões de UAH do tesouro municipal, dinheiro de crédito. Hoje Lviv
paga não apenas a dívida, também 18 milhões de juros anuais. No entanto o campo
de futebol permanece vazio, não há procura. Não há como manter o estádio, até
recentemente ele não constava no balanço público, o dinheiro no orçamento -
2013 não foi previsto. Na cidade surgem rumores que há planos de desmontar a
obra para materiais de construção.
O aluguel da nova arena para um jogo de futebol é de 160 mil
UAH. Mas em toda sua história aqui só houve talvez 10 jogos. O primeiro dos
últimos meses desafio - entre equipes jovens da Ukraina e Polônia foi preciso
adiar devido a falta de eletricidade. O estádio ficou sem luz por causa da
enorme dívida, que conseguiram pagar apenas parcialmente. O clube de futebol
local "Cárpatos" ano passado explicou que não deseja jogar no novo estádio.
Agora reconhecem: ele não é confortável. Os gastos para manutenção o Clube de
futebol estima em 20 milhões de UAH por ano. A proposta é entregar ao Clube 17
ha de terras e a base abandonada, o que daria possibilidade aos
"Cárpatos" construir um complexo comercial e de entretenimento e,
desta forma conseguir dinheiro para os custos de manutenção do estádio. Os
moradores de Lviv consideram chantagem.
Evitar a situação atual teria sido possível não construindo o
novo estádio além da cidade, mas investir na reconstrução do estádio
"Ukraina". Pela reconstrução posicionou-se o clube Cárpatos, e pela
sua implementação estavam dispostos a se juntar investidores privados. Os
custos seriam bem menores - um quarto do preço da nova arena foi direcionado
para comunicação em campo aberto. O objeto ainda não foi colocado para exploração,
não há nenhum ato estatal correspondente.
No entanto, ao que parece, o estádio já cumpriu sua função,
1,85 bilhões de UAH (mais da metade do orçamento anual da cidade) para sua
construção atribuíram à empresa "Altkomkyyivbud", associada com os
representantes do partido do governo, particularmente com o responsável para o
desenvolvimento de infra-estrutura para Euro-2012 Borys Kolesnikov. Próximo a ele
seria um dos dois proprietários da empresa de Serhii Pavlichev, deputado da
cidade de Donetsk "Construções de Estradas Altkom" que também
assimilou 1,5 bilhões de UAH durante a construção.
Em abril, o governo fez uma tentativa para salvar a arena de
Lviv e, possivelmente, sua própria imagem - com resolução do Conselho de
Ministros o estádio foi transferido para Ministério da Juventude e Esportes. O
plano de ações futuras é simples: o departamento deve preparar ações
legislativas direcionadas para desenvolvimento e funcionamento da empresa
deficitária.
Além do estádio de Lviv, o Ministério da Juventude e Esportes
também tem aos seus cuidados o destino do NSK "Olímpico" (de Kyiv),
reconstrução do qual o dirigente do Ministério Ravil Safiulin abertamente
chamava de erro. Com ele concordavam os especialistas, ressaltando que o
estádio não justifica sua grande escala e investimentos. Pelos dados oficiais
manter o estádio só está sendo possível graças a realização de concertos,
festas, conferências, "contribuições de parceiros" e FC
"Dynamo". Naturalmente, o Clube de Futebol não paga aluguel, o
estádio receber parte da venda dos ingressos: 50% "Dynamo" entrega ao
estádio durante o campeonato nacional, 25% durante a competição européia. De
acordo com os resultados de 2012 o "Olímpico" foi auto-suficiente,
cobrindo os seus custos e até ganhou 1,5 milhões de UAH.
Os governistas já não se escondem: 4,7 bilhões de UAH, gastos
na reconstrução do
Olímpico ao orçamento do
Estado não voltarão. E honestamente obtidos em 2012 os 1,5 milhões de UAH
(parece ser um enorme ganho, no qual agora planejam formar "especialistas
para estádios estrangeiros, ganha apenas 125 mil UAH por mês) gastarão apenas
para melhorar as comunicações móveis no estádio e distanciado acesso para venda
de bilhetes.
O estádio de Kharkiv foi reconstruído pela parceria
público-privada: 30% do total geral couberam ao empresário local Oleksandr
Yaroslavskyi (na época proprietário do FC "Metalist"), 70% do
orçamento estatal e regional. Depois do Euro o estádio funcionou apenas 15-20
dias em partidas do mencionado clube. Ainda em 2012, durante os jogos do
"Metalist" o complexo esportivo foi considerado desvantajoso e no
final de maio de 2013 o novo presidente do FC "Metalist" Serhii
Kurchenko, que é considerado da "Família" (Família é a palavra
com a qual designam as pessoas, geralmente oligarcas, que cercam o presidente,
o apóiam e recebem benefícios - OK), assinou o acordo com o governo local para compra do estádio
por 70 milhões de USD - aproximadamente 560 milhões de UAH. É significativo que
Yaroslavskyi desfez-se do clube depois que os governistas declararam seu desejo
de entregar completamente à posse da comunidade de Kharkiv o estatal FC
"Metalist", no qual ele teve participação e o financiou em 30% ...
Especialistas acreditam que atrás da ukrainiana gigantomania
esconde-se o componente banal de corrupção, porque a construção de grandes
estruturas torna possível multiplicar quantias desviadas graças ao orçamento
geral do projeto ambicioso. No entanto, os prováveis abusos financeiros, como
sempre, permanecem além da devida atenção das autoridades competentes. Assim,
desde o início deste ano a Procuradoria da Província de Lviv abriu cerca de 10
processos penais para os casos de abusos de trabalhadores, outros regenciadores
de recursos orçamentários e empresas empreiteiras. A perda total para Estado pelos
casos indicados indica quase 20 milhões de UAH. De acordo com o relatório da
internacional, não governamental instituição Freedom House os funcionários públicos ukrainianos apropriaram-se
de um terço do orçamento previsto para a preparação e realização do Campeonato
Europeu na Ukraina.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
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