sábado, 29 de junho de 2013

TERNURA COMUNISTA RUSSA

Um homem em um avental de couro castanho
 
Istorychna Pravda (Verdade histórica), 21.10.2010
Mykyta Petrov, Memorial "Novaia Gazeta"
 
 
Vasily Blokhin - exceto dragonas de general, também recebia prêmios. Entre eles - Ordem Laboral da Bandeira Vermelha, que era dada pelos serviços significativos no trabalho.
 
Nos anos 1937-1938 o carrasco da KGB Vasily Blokhin participou dos maiores fuzilamentos. Ele ordenou o fuzilamento do Marechal Tukhachevsky e outros militares de alta patente. Em sua conta pessoal há mais de dez mil vítimas. Recentemente lhe colocaram um novo monumento...
 
O nome do carrasco permanente da era stalinista Vasily Mykhailovych Blokhin hoje em audiência. Sua assinatura selava numerosos atos para realização de fuzilamentos guarda-se nos arquivos da KGB em Lubianka.
 
Pessoas não familiarizadas com os detalhes da "profissão" de Blokhin sentiam choque e tremor quando o viam atuando. Um dos raros testemunhos deixou o chefe da UNKVD (gerência da NKVD) da Província Kalinin Dmytro Tokariev.
Ele contou sobre a chegada em Kalinin do grupo de funcionários da NKVD chefiados por Blokhin para fuzilamento de poloneses que estavam detidos no acampamento de Ostashkov.
 
Quando tudo estava pronto para o início do primeiro tiro, Blokhin, disse Tokariev, foi atrás dele:  "Bem, vamos lá..." Nós fomos, e então eu vi todo o horror... Blokhin tirou suas roupas especiais e vestiu seu avental de couro comprido castanho, boné de couro castanho, luvas de couro acima dos cotovelos também castanhas.
 
Em mim isso causou uma enorme impressão - eu vi o carrasco! "Na primeira noite, a equipe liderada por Blokhin fuzilou 343 pessoas. Nos dias seguintes Blokhin ordenou entregar-lhe para fuzilamento não mais de 250 pessoas.
 
Na primavera de 1940, sob a orientação e participação direta de Blokhin foram fuzilados 6311 prisioneiros de guerra poloneses. Podemos supor que com semelhante ação de tal "choque" ele dobrou sua conta anterior de fuzilados. Devido ao seu relacionamento Tokariev não participou diretamente dos fuzilamentos. Blokhin mostrou condescendência, nobreza de carrasco profissional, que está ciente de que nem todos são capazes do que ele é. Na elaboração da lista de participantes para a adjudicação de tiro, ele incluiu o nome do chefe da UNKVD Tokariev...
 
Quem era essa pessoa, cuja mão executava as arbitrariedades de Stalin?
 
As poucas linhas de sua autobiografia dizem que ele nasceu em 1895 na aldeia Havrylivska na região de Suzdal, na província de Ivanovo, em família de camponeses pobres. Desde 1905 ele estudava e trabalhava como pastor de gado, depois pedreiro e também nas terras de seu pai. Em 05.06.1915 alistou-se como soldado no 82º
Regimento de Infantaria em Volodymyr, servindo até suboficial junior.
 
Em 25.10.1918, como voluntário ingressou no serviço de recrutamento em Suzdal. Logo fez sua escolha política - em abril de 1921 entrou no partido comunista e, em seguida, 25 de maio foi nomeado para o 62º batalhão do exército em Stavropol.
 
Assim começou sua carreira de chequista. Após algumas designações chega, em 22.08.1924 ao cargo de Comissário para missões especiais junto a OGPU (Administração de Política Estatal Unificada). Agora, entre outros assuntos entra na condução da execução das sentenças de fuzilamento. De fato, desde a primavera de 1925 sua assinatura regularmente aparece sob as atas decisivas para fuzilamento.
 
Talvez ele tivesse sido apenas um executor comum dos fuzilamentos, mas, de repente uma vaga importante. Em 03.03.1926 Blokhin foi nomeado comandante interino do OGPU e já em 01.06.1926 ele foi aprovado neste cargo.
O destino de seu antecessor Carl Weiss não era invejável. Em despacho assinado por Iágoda (fuzilado em 1938) Nº 131/47 de 05.07.1926 afirmava-se sua demissão e censura. Ele foi condenado à prisão por 10 anos pela acusação de relações com missões estrangeiras, óbvios espiões.
 
Blokhin se comportou conforme o desejado e no posto de comandante permaneceu por muitos anos, até a aposentadoria.
Agia sob a direção de Blokhin o pelotão de fuzilamento, ou "grupos especiais" como era chamado nos documentos e formava-se de funcionários de diferentes departamentos. No final dos anos vinte - início dos anos trinta, havia membros de um departamento especial do Colégio da OGPU, que ocupava-se com a proteção dos líderes da União Soviética e pessoalmente de Stalin. Isto é, envolviam-se na proteção de líderes com participação regular em execuções de "inimigos do povo". No aparelho central da OGPU eles figuravam como "comissários para missões especiais": Rogov, Yusis, Sotnekov, Gabalin, Chernov, Pakalan, Rodovanskyi.
Outra parte servia no comando da OGPU. O próprio Blokhin, e também Mago e Shuhalov.
Posteriormente, no "grupo especial" ingressaram: Shyhalov (irmão), Yakovlev, Antonov, Dmitriev, Emelyanov, Mach, Feldman, Semenyhyn.
 
Não era fácil o destino dos verdugos. A família os via raramente, e quando vinham depois do "trabalho" noturno, geralmente estavam bêbados. Não é surpreendente que morriam cedo ou ficavam dementes. Morreram: Khrustalev em outubro de 1930 - Yusis em 1931, Mago em 1941 - Shuhalov em 1942 - Shuhalov (irmão) em 1945. Muitos conseguiram aposentadoria por invalidez devido a esquizofrenia, como O. Emelyanov, ou de doença mental, como E. Mach.
 
Mas as repressões não pouparam nem os fuziladores. Parte deles caiu nas mãos de Blokhin - foram levados para as salas de disparo já na condição de vítimas. Assim em 1937 foram fuzilados H. Holov, P. Pakalan, F. Sotnykov. Interessante o que sentiam Blokhin e Mago, quando fuzilavam seus antigos companheiros.
 
Especialmente deixavam nervosos os verdugos, os condenados que no momento do fuzilamento glorificavam Stalin.
 
Encabeçava o grupo dos verdugos, que traziam para executar a decisão da "troika" (trio) NKVD da Província de Moscou em 1937-1938, Isay Berg, que tendo sido preso, mostrou que recebeu de seus superiores rigorosas instruções "para evitar tais eventos no futuro" e entre os trabalhadores dos grupos especiais da NKVD "elevar o estado de espírito, esforçar-se para provar-lhes, que as pessoas, que eles fuzilam - inimigos". Embora Berg chegou a admitir: "Nós fuzilamos muitos inocentes".
 
Berg tornou-se famoso por causa de seu envolvimento espontâneo no NKVD de Moscou criando a máquina "dushohubka", na qual os condenados amorteciam com o escapamento de gás. Em parte isto preservava os nervos aos verdugos de Moscou. Carregavam as prisões de Taganska ou Butyrska com prisioneiros vivos - em Butovo descarregaram mortos, e conclusão dos trabalhos. E nenhuma glorificação a Stalin. O próprio Berg explicou aos investigadores, que sem tal aperfeiçoamento "seria impossível obter número tão grande de execuções".
 
E no grupo central dos fuziladores sob direção de Blokhin mandaram "realizar um trabalho educacional entre os condenados à morte para que eles no momento tão inoportuno não delirassem com o nome do chefe".
 
Nos anos de 1937-1938 Blokhin tomou parte nos fuzilamentos mais notórios. Ele comandou o fuzilamento do marechal Tukhachevskyi e militares sêniores condenados com ele. Assistiram ao fuzilamento o procurador da URSS Vyshenskyi e o presidente do Colégio Militar do Supremo Tribunal Ulrich.
 
Monumento da família Blokhin no cemitério Donskyi em Moscou. Até mesmo verdugo merece memória eterna e perdão.
 
Às vezes exibia sua presença o próprio "comissário de ferro" Yezhov. Em sua presença a ação do fuzilamento adquiria performances artísticas. No outono de 1937: "Antes do fuzilamento de seu antigo amigo Yakovlev Yezhov colocou-o a seu lado - para observar ao ato da execução da sentença." Yakovlev, chegando ao lado de Yezhov, dirigiu-se a ele com estas palavras: Mykola Ivanovych! Vejo em seus olhos que você está com pena de mim". Yezhov não respondeu, mas visivelmente constrangido ordenou fuzilar Yakovleu imediatamente. Não menos memorável a cena acontecida em março de 1938 quando da execução da sentença no caso de Bukharin, Rykov, Yagoda e outros condenados no "Processo do Pravotrotstistoho Bloco" (Conspiração de Trotskyi e outros - OK). Yagoda fuzilaram por último. Antes, ele e Bukharin foram colocados em bancos e obrigados a olhar como realizava-se a sentença de outros prisioneiros. Yezhov esteve presente e, muito provavelmente, foi o autor de capricho tão refinado.
 
Antes do fuzilamento Yezhov ordenou ao comandante da proteção de Kremlin Dahin bater em Yagoda o antigo Comissário de Assuntos Internos. "Vamos, dê nele por todos nós". Ao mesmo tempo o fuzilamento do amigo de bebedeira Bulanov entristeceu Yezhov, e ele até mandou primeiro dar-lhe conhaque.
É incrível, quantos de seus antigos colegas e chefes fuzilou Blokhin. A proximidade às incriminadas lideranças da NKVD poderia também custar-lhe a vida. Mas Stalin estimava os promissores "executores" que acostumados a atirar na nuca, constantemente permaneciam visíveis às suas costas na qualidade de protetores.
 
No início de 1939, quando Beria, com todas as forças purgava NKVD dos quadros de Yezhov, ele recebeu documentos dizendo que o comandante Blokhin era muito próximo do antigo secretário da NKVD Bulanov, e também do fuzilado comissário Yagoda. Então isto analisava-se como evidência de participação em seus "planos conspiratórios". Beria preparou proposta para detenção de Blokhin que, para sua surpresa, foi recusada. Em 1953 Beria revelou durante a investigação: "Comigo Stalin não concordou dizendo que tais pessoas não devem ser exterminadas porque elas executam trabalhos indicados. Então ele chamou o chefe de N.C. Vlasyk e perguntou se Blokhin participa na execução de sentenças e se era necessário aprisioná-lo? Vlasyk respondeu que Blokhin participa e com ele participa seu assistente A.M.Pakiv, e teceu comentários favoráveis a Blokhin".
 
Beria, retornando ao seu escritório chamou Blokhin e os trabalhadores dos "grupos especiais" para conversar. Os resultados da conversa "educacional" o comissário do povo refletiu ao arquivo, como também a resolução não executada: "Secretamente. Chamado por mim Blokhin e altos funcionários do Comissariado, aos quais informei algumas provas contra eles. Prometeram trabalhar em estreita colaboração e continuar leais ao partido e governo soviético. 20 de fevereiro de 1939. L. Beria".
 
Mais sobre a questão de Blokhin Stalin não retornou.
 
Normalmente os presos eram levados para o local de execução na travessa Varsonofiyivskyi, onde esperava Blokhin com a equipe. Mas, às vezes, Blokhin precisava buscar as vítimas. Assim aconteceu em 1940, quando foi necessário levar da prisão de Sukhanovska para fuzilamento o condenado ex-candidato a membro do politburo Robert Eikhe.
Pouco antes de ser enviado para fuzilamento, ele foi cruelmente espancado no gabinete de Beria na prisão de Sukhanovska: "A Eikhe, durante o espancamento houve vazamento dos olhos. Após o espancamento, quando Beria convenceu-se, que não conseguiria nenhuma informação sobre espionagem, determinou levá-lo para fuzilamento.
 
E, em 6 de fevereiro de 1940 Blokhin teve a honra de fuzilar o próprio comissário Yezhov.
 
A administração valorizava Blokhin. Ele crescia rapidamente nas promoções: 1935 - capitão, 1940 - major, 1943 - coronel, 1944 - comissário, 1945 - major-general. Foi também generosamente regado com prêmios estatais: "Ordem de Lênin (1945), Ordens da Bandeira Vermelha (1940, 1944, 1949), Ordem da Guerra Patriótica I Grau (1945), Bandeira Vermelha do Trabalho (1943), Estrela Vermelha (1936) "Insígnia de Respeito" (1937), e também dois sinais "Checa honorário " e relógio de ouro. Também foi premiado com honrosa arma-mauser, apesar de que para fuzilar preferia a alemã "Walter" (não aquecia muito).
 
Quando completou 20 anos no cargo de comandante, ele foi premiado com um automóvel "M-20" ("Vitória").  Chama atenção o fato que Blokhin e seus auxiliares do "grupo especial" costumeiramente eram presenteados não depois, mas antes das campanhas sérias de fuzilamento.
 
De acordo com várias estimativas, o número total dos fuzilados pessoalmente por Blokhin em todos os anos de seu serviço na Lubyanka constitui não menos de 10-15 mil pessoas.
 
Imediatamente após a morte de Stalin e segunda vinda de Beria à liderança dos "órgãos" Blokhin foi enviado para reforma. "O ex-comandante Blokhin pela Ordem do Ministério dos Assuntos do Interior da URSS Nº 107, de 02.04.1953 foi dispensado por motivo de doença, com anúncio de gratidão por 34 anos de "serviço impecável" nos órgãos da OGPU-NKVD-MGB-MVD-URSS.
 
Como explicou Beria, Blokhin foi reformado do cargo "assentou-se" - havia tal término burocrático que significava longa permanência do trabalhador no mesmo cargo e perda de sua atividade e efetividade no desempenho. Embora, como sabemos, o trabalho de Blokhin não era absolutamente em posição sentada e a saúde de modo algum confusa.
 
Assim, em 1953 Blokhin solenemente foi conduzido ao merecido repouso. Após a morte do ditador a necessidade de seus préstimos cessou. Não, naturalmente, porque veio em sua substituição um novo comandante, o coronel D.V. Brovkin e que, absolutamente não correu o risco de ficar sem o "trabalho noturno", simplesmente sua escala não era a mesma. Embora na troca de antigas vítimas chegaram aqueles que anteriormente executavam julgamentos e punição: na nova liderança pós-stalinista foram executados ex-capangas de Beria e Abakumov, e suas questões ativamente investigavam-se, e revelou-se que Blokhin não encontrou paz na aposentadoria. Ele vinha freqüentemente à Procuradoria Geral para interrogatórios. Durante a investigação da questão Beria e seus assistentes mais próximos precisaram verdadeiramente dos inestimáveis conhecimentos do ex-comandante. Afinal, ele foi o executor mais importante de todas as acusações.
No entanto, Blokhin não foi envolvido como réu, mesmo tendo sido ele o executor dos atos criminosos.
 
Provavelmente decidiram: é apenas um verdugo, desempenhava ordens. Este era seu trabalho, e nada pessoal.
 
Depois da dispensa de Blokhin, pelos 36 anos de serviço nos órgãos foi lhe estabelecida uma pensão de 3.150 rublos. No entanto, depois de caçado seu título de general, em 23.11.1954 o pagamento da pensão pela KGB foi encerrado. Não está claro se ele conseguiu a sua reforma normal pela idade. De acordo com o relatório médico Blokhin sofreu hipertensão de 3º grau e morreu em 3 de fevereiro de 1955 de infarto de miocárdio.
 
Pela ironia do destino, Blokhin foi enterrado lá, onde descansam as cinzas da maioria de suas vítimas, - no cemitério Donskyi. Embora os corpos dos fuzilados fossem queimados nos crematórios e as cinzas jogadas em covas comuns, sem nomes, já na sepultura de Blokhin recentemente apareceu um túmulo novo e bonito com fotografia.
 
Não esquecem!
 
Tradução: Oksana Kowaltschuk

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