segunda-feira, 2 de abril de 2012

GENOCÍDIO - Parte 2

Ou por que os ukrainianos desaparecem em vastas extensões do império russo?

Segunda Parte


Os especialistas afirmam, não sem bases, que apenas em 30 anos, de 1929 a 1959 Ukraina perdia 14,6 milhões de pessoas.

De 1979 a 1989 a população ukrainiana aumentou em 2 milhões de pessoas (51,7 milhões). Este é o menor índice em todas as repúblicas soviéticas. É impossível não concordar com Liubomyr Perih, o qual afirma, "que a diminuição da população de raiz da Ukraina, e o aumento de pessoas de outras nacionalidades, pessoas, às quais o solo ukrainiano e sua natureza, lhe são estranhos e conduzem à ruína da moral social, da perda do destino histórico comum, da cultura, construíndo ambiente de rivalidade doentia e até inimizade no terreno social e nacional".

É indispensável mencionar, que os dados mostrados sobre aumento da população, de 1913 a 1989, ainda não caracterizam um verdadeiro quadro demográfico. Acima de tudo eles são evidências daqueles processos doentios ou artificiais, processos de emigração, direcionados para russificação da Ukraina e sua pérfida-pacífica conquista. A massa básica da população (principalmente da Rússia) migrava para Ukraina já no período da União Soviética. Assim, ainda em 1923, na república residiam 3 milhões de russos, em 1939 - 4 milhões, em 1959 já constituíam 7 milhões, e em 1970 - 10 milhões. Hoje já ultrapassam 13 milhões. Somente na Criméia, no transcorrer de 1939-1945 o número de russos cresceu em 1,1 milhão de pessoas.

A migração orientada da população russa para Ukraina cresceu extraordinariamente após Holodomor (morte pela fome - provocada intencionalmente - O.K.) de 1932-1933, no período da tal chamada industrialização, e nas regiões ocidentais - após II Guerra e em 1970- 1980, durante o período da construção da "única nação soviética".

Paralelamente à deportação da população ukrainiana, iniciada no império ainda pelos czares (ela acontecia, presumivelmente, com a deportação para Sibéria e Extremo Oriente, dos rebeldes, dos aldeões para povoar os territórios despovoados da Rússia, cultivo de terras virgens, distribuição de especialistas, industrialização e "grandes construções do comunismo"), nas terras da Ukraina realizava-se desenfreada russificação da nação ukrainiana.

Cruéis mós da russificação na Ukraina absorviam todas as pessoas desde os primeiros dias do nascimento (desde o rótulo com sobrenome, na maternidade) e as acompanhavam pela vida, até o ritual do sepultamento no cemitério.

Na supervisão da russificação e assimilação dos ukrainianos e criação do fenômeno do século XX "população da língua russa", no império trabalhavam poderosas estruturas governamentais, ensino escolar e superior, todos, sem exceção, órgãos governamentais, judiciário, milícia, exército.

Portanto, não surpreende que cada próximo censo identificava diminuição da quantidade dos ukrainianos, os quais consideravam a língua de seus pais como sua.

São estas as tristes realidades na Ukraina atual e nos próximos países fronteiriços.

Qual foi o destino que encontraram nossos conterrâneos que foram parar além da fronteira pátria? Sobre os que a miséria e o terror stalinista jogou para Europa Ocidental, continente americano e até Austrália, nós temos bom conhecimento, principalmente agora, quando a diáspora ocidental tornou-se aberta para nós. Lá, nossos conterrâneos, com seu trabalho, conseguiram respeito de outras nações, criaram boa situação econômica para si, e puderam preservar a língua e desenvolver a cultura ukrainiana. E, o que tem os ukrainianos, que foram parar no hospitaleiro limiar do "irmão maior"?

A estatística testemunha, que após a criação da União Soviética e organização bolchevique das repúblicas soviéticas, os ukrainianos na Federação Russa ocupavam, pela quantidade, o segundo lugar depois dos russos. Em algumas regiões (Kuban, Rostov, Saratov, Stavropolsk e Primorsky) os ukrainianos eram dominantes na população. Por um bom tempo julgava-se que os dados sobre o número de ukrainianos nos territórios da URSS (50 milhões) eram consideravelmente exagerados, uma invenção propagandista de nacionalistas de além-fronteiras. Infelizmente, os dados objetivos quanto à composição da população nacional no império soviético, para os seus cidadãos, eram tão secretos quanto seu conhecimento sobre o próprio potencial de armamento. Mesmo os órgãos demográficos não têm este tipo de literatura.

Recentemente, com a abertura dos arquivos da KDB (Comitê de Segurança do Estado) e do Ministério do Interior, certifica-se que a população ukrainiana na antiga União Soviética ultrapassava 80 milhões de pessoas. (Revista "Novos Dias", dezembro de 1992).

Então, os dados oficiais sobre o número dos ukrainianos na Rússia (4,3 milhões) são pura falsificação. Tentemos provar isso com base no censo realizado na Rússia em 1897, e o último censo na Antiga União Soviética, em 1989. Entre os dois transcorreram 92 anos, sendo que 72 correspondem ao periódo soviético. Prevenimos que não temos possibilidade de analisar os dados estatísticos em todas as regiões da Rússia. Para exemplo forneceremos dados sobre a população ukrainiana somente em algumas províncias e países.

Ainda no início de 1930, de acordo com dados oficiais, eram 6,3 milhões de ukrainianos que moravam na Rússia. Após 50 anos, isto é, no início dos anos 80, a quantidade da população ukrainiana na Federação Russa diminuiu 2 milhões. Este misterioso desaparecimento não é explicado. Os existentes dados estatísticos de diversas regiões da Rússia simplesmente impressionam. Assim, na Província de Stavropolsk em 1897 foram registrados 320 mil ukrainianos (37% do total), e transcorridos 92 anos - somente 69 mil, isto é, 2,4%.

Na Província de Don, no final do século passado havia 720 mil ukrainianos - 28% do total, e na atual Província de Rostov, de acordo com o censo de 1989 ficaram 178,8 mil (4,2%).

Na Província de Kursk, no final do século XIX, os ukrainianos eram 530 mil (23%), e hoje, apenas próximo de 1,7 %. E isto apesar do fato do arbítrio stalinista, no final dos anos 20 anexar à Província de Kursk vários distritos da Ukraina, habitados principalmente por ukrainianos. Mais surpreendente ainda é o quadro da Província de Voronezh. Na Rússia czarista, em 1897 ali se contavam 930 mil ukrainianos (36% do total). Durante a União Soviética apesar da anexação de alguns distritos ukrainianos, a população diminuiu 8 vezes, ficando em 122,6 mil (5%). A impressão é que os ukrainianos, nestas províncias simplesmente morreram.

Durante 92 anos foi reduzida, significativamente, a percentagem da população ukrainiana na Sibéria. Em 1897, nas provínciais Tyumen, Tobolsk e Enisejsk os ukrainianos constituíam 20% da população. Atualmente, segundo dados estatísticos oficiais são 3,3%. Em 1897, em Ussuri, havia 25% e em Amur 20% de ukrainianos. Já em 1989 contavam-se apenas 6,2% em Ussuri e 8,2% em Amur.

É, em grande parte, graças à população ukrainiana que ocorreu, e ainda ocorre o desbravamento e a colonização do Norte e Leste russo. De acordo com os dados de Yakumenko, que estudou o papel dos ukrainianos no povoamento e na colonização da Sibéria e Extremo-Oriente, desde o final do século XIX - início do século XX, em 1917, além dos Urais viviam 748,6 mil ukrainianos.

Graças ao árduo trabalho dos migrantes ukrainianos, já naquela época, nestas regiões foram criadas imensas riquezas materiais. Os ukrainianos desbravaram 500 mil hectares de terras virgens e fundaram alguns milhares de distritos. Os nomes ukrainianos foram preservados até os dias atuais. Os migrantes trouxeram da Ukraina para Sibéria e Extremo Oriente os métodos de trabalhar a terra e iniciaram o cultivo da batatinha, pepino, tomate, beterraba de açúcar e muitas outras culturas. Também introduziram a apicultura, que já antes de 1917 tornou-se produto de exportação. Em consequência do trabalho pesado, privações e pobreza, doenças e clima inóspito, de 1909 a 1913 morreu mais de um terço de indivíduos.

Hoje, são essas regiões que são as principais fornecedoras de nafta, energia elétrica, madeira.

A despeito da excessiva pressão assimilatória, e ausência de condições elementares ao desenvolvimento da cultura nacional, ainda assim os ukrainianos nestas regiões formam numerosos grupos étnicos. De acordo com o censo de 1989, o número de ukrainianos em Yamalo-Nenetskyi, Chukotskyi e arredores autônomos constitui, respectivamente 17,2% e 16,8%, na Província de Magadan - 15,4%, Kamchatka - 9,1%, Yakuti - 7%. Entre o povo Komi - 8,3%. Nos arredores de Taymyr - 8,6%, em Koriatskyi - 7,2%. Em Kaliningrado os ukrainianos são 7,2%, em Murmansk - 9% e mais de 200 mil ukrainianos reside em Moskov.

Na véspera da II Guerra Mundial, no assim chamado Sirei Klyn (Cunha cinzenta), território do atual Cazaquistão e províncias vizinhas da Rússia, Omsk era centro da vida ukrainiana. M. Bondarenko, natural de Poltava - Ukraina, que trabalhava como agrimensor naquelas localidades, confirma: "A cidade de Omsk parece uma cidade moscovita, mas no mercado e na feira conversam em ukrainiano". (Citado por V. Serhiychuk,1991). Não é de estranhar, pois nos arredores de Omsk estabeleceram-se assentamentos cossacos, povoados exclusivamente por ukrainianos.

Os migrantes individuais para Sirei Klyn partiram da Ukraina ainda no final dos anos 80, do século XIX. Logo o caminho trilhado por eles, para Cazaquistão, tornou-se aquela artéria, da qual, no transcorrer do século extraíam-se forças vitais, mãos trabalhadoras e inteligência. Somente de 1891 a 1914 das províncias de Volyn, Katerynoslav, Kyiv, Tavryi, Kharkiv, Kherson e Chernihov, para o desenvolvimento de Sirei Klyn saíram perto de 1,7 milhões de ukrainianos. No início de 1930, em Cazaquistão contavam-se mais de um milhão de ukrainianos. A população ukrainiana vivia de modo compacto. Em 29 distritos viviam de 50 a 100 mil pessoas.

De acordo com o censo de 1926, em KASSR (República Autônoma Socialista Soviética de Carélia) a população ukrainiana constituía 13,2% do total. Em Aktyubynsk - 93 mil, em Kostanaysk - 164, em Petropavlovsk - 184 mil, em Akmolinsk - 110 mil, em Syr Darya – 41 mil, no Ural - 21 mil.

A coletivização criminosa da agricultura estimulava os processos migratórios. Das fazendas coletivas e "rozkurkuliuvania" (o fenômeno da apropriação, pelo governo soviético, dos bens dos aldeões: terra, gado bovino, cavalar e suíno e instrumentos agrícolas, para as fazendas coletivas - O.K.) os camponeses ukrainianos salvavam-se em Cazaquistão, Ásia Central e Sibéria. Milhões de ukrainianos, no transcorrer de dezenas de anos desbravavam terras virgens ou abandonadas de Cazaquistão, Sibéria ou Altai. Então, a larga escala comercial de produtos agrícolas de Cazaquistão iniciaram nossos conterrâneos. Os nomes das gigantes empresas agrícolas, nas antigas pouco habitadas terras virgens de Cazaquistão, significativamente testemunham a prioridade para nossa nação na sua assimilação.

A longínqua região do Extremo Oriente, ou como é designado pela população, "Zelenyi Klyn" (Cunha Verde). Províncias: Primorskyi, Khabarovsk, Kamchatka, Sakhalin, Amur, fundamentavam-se e equipavam-se com a participação da nação ukrainiana.

O povoamento do "Zelenyi Klyn" iniciou o primeiro exilado político da Ukraina - "Hetman" (comandante) Demian Mnohohrishnyi com família. Na segunda metade do século XIX inicia-se a migração em massa de ukrainianos para o Extremo Oriente.

A migração intensiva acontece no início do século XX, Só para Província de Amur, entre 1906-1917 vieram da Ukraina 64 mil pessoas (quase 50% de todos os habitantes). E para Primorsky, no decorrer desses anos veio da Ukraina quase 103 mil pessoas (61% de todos migrantes).

Para distante região estrangeira, da casinha familiar todos eram afugentados pela pobreza e falta de terra. Ainda hoje milhares de localidades em "Zelenyi Klyn" têm nomes ukrainianos. Todas elas foram fundadas pelos nossos conterrâneos, os quais, tanto o governo czarista quanto o comunista, com esperteza fraudulenta, incorporaram ao "povo de língua russa". A colonização e a economia agrícola é fato incontestável. Isso precisam considerar até os pesquisadores do período soviético. Em uma edição do livro "Dalnevostochnyi Krayi", 1932, referia-se: "Migrando de províncias sulinas, os ukrainianos trouxeram seu modo de vida, costumes culturais e idioma, que, independentemente da cruel russificação dirigida pelo governo czarista, preservaram-se em seus fundamentos e, sem dúvida, isso nós dá uma grande possibilidade para realizar uma completa ukrainização dessas províncias e transformar essa terra em realmente terra ukrainiana, não só em condições formais, mas de fato". (citado em V. Serhiichuk, 1991).

Os ukrainianos de "Zelenyi Klyn" passaram por uma vigorosa russificação e orientada assimilação. Mas, tudo isso não erradicou o ânimo à liberdade dos descendentes cossacos. A população ukrainiana do Extremo Oriente participou ativamente dos acontecimentos revolucionários de 1917. Houve uma tentativa desesperada de organizar lá uma República Ukrainiana do Extremo Oriente, a qual foi liquidada em 1922 pelos bolcheviques. O seu Secretariado Geral foi preso e condenado.

O censo da população do Extremo Oriente de 1926 por ordem de Moscou, tanto aqui como em outras regiões, foi falsificado. Segundo dados oficiais havia somente 315 mil ukrainianos. Apesar de que em 1918, segundo os dados das organizações ukrainianas no Extremo Oriente, em "Zelenyi Klyn" viviam 437 mil. Então, segundo todos os dados demográficos, incluindo o crescimento natural da população, a quantidade da população no Extremo Oriente em 1926 deveria constituir 570-600 mil habitantes. Quanto a Primorsky, então a população ukrainiana deveria ultrapassar 50 - 60%.

No período pós-guerra a migração da população ukrainiana para o Extremo Oriente sofreu acréscimo, Para tanto contribuíram fatores objetivos: primeiramente o baixo nível de vida na Ukraina. Interpretando a situação étnica em Kuban nós, conscientemente, concluímos o exame desse tema, porquanto, exatamente nos materiais correspondentes a esta região temos a possibilidade de responder, aonde e porque desaparecem os ukrainianos nas vastas extensões do império russo. O nome desse evidente crime - genocídio. A colonização de Kuban com os cossacos do Zaporizhzha e população ukrainiana - fato incontestável e tema de conversa em separado. Não ousam desmenti-lo nem os mais obstinados chauvinistas - dirigentes principais do Kremlin, educados nos cursos do Comitê Central do PCUS(b)

A migração ukrainiana é representada com um monumento no local do primeiro desembarque em Taman, em 1792.

Em 1992 o mundo civilizado, tanto na Ukraina quanto na Rússia comemorava 200 anos desta notável data. Infelizmente, na Criméia, forças chauvinistas-separatistas, exatamente neste tempo e com ajuda do governo agravavam a antiukrainiana histéria, ocupando-se com a "renascença" de nunca aqui existentes cossacos de Azov-Mar Negro. O acontecimento de importância européia e russa passou desapercebido. É mais que lamentável, porque Kuban - é nossa mais próxima amiga.

Graças aos cossacos do Zaporizhzha em algumas décadas Kuban tornou-se uma das maiores, melhor organizada e abastada região da Rússia. Em 1911-1915 ali havia 450 unidades de produção agrícola. A par com Ukraina, Kuban era uma das maiores regiões fornecedoras de grãos. O alcance quinquenal de produção naquele período foi de: grãos - 3.700.000 toneladas; óleo - 38.000 toneladas; fumo - 33.000 toneladas; hortaliças - 350.000 toneladas. Também, antes da revolução destacava-se a produção de frutas diversas e uvas. A criação de gado superava Ukraina e Rússia.

O governo czarista deu a Kuban certa autonomia. Entretanto a população ukrainiana, na era czarista também era despojada dos direitos nacionais e sofria o pesado jugo da assimilação e russificação.

Depois da revolução de fevereiro de 1917 os cossacos de Kuban assumiram uma luta decidida pelo retorno dos antigos direitos e liberdades. Os sátrapas czaristas muito se esforçaram, mas não conseguiram extrair das almas dos descendentes dos gloriosos cossacos do Zaporizhzha a lembrança da Ukraina e amor à pátria dos antepassados. No curto espaço de sua existência o Conselho de Kuban, e depois República Nacional Independente de Kuban tentou entendimento e estabelecimento de relações com o Conselho Central ukrainiano. Porém o curso dos acontecimentos na Ukraina, e em Kuban desviou esta intenção. Na fornalha da guerra fratricida em Kuban morreram centenas de milhares de cossacos de Kuban, separados ao meio por políticos criminosos, entre bolcheviques e as forças de Denikin.

Continua...

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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