sexta-feira, 20 de abril de 2012

SISTEMA PRISIONAL NA UCRÂNIA

Lukianivska Sisó - Penitenciária para os que aguardam julgamento - Kiev

Sisó é o nome dado às penitenciárias destinadas aos suspeitos, que ainda não foram julgados. O jornalista Kostiantyn Usov apresenta um vídeo sobre Lukianivka Sisó de Kyiv, a mesma onde ficou Yulia Tymoshenko antes do julgamento. A mesma onde ainda está Yurii Lutsenko, e os demais presos políticos.

O vídeo, de mais de 40 minutos, Kostiantyn pediu à direção do Sisó para fazer as filmagens. Naturalmente negaram. Então ele trabalhou por mais de seis meses estabelecendo contatos com presos, através de conhecidos comuns e através desses outros novos contatos. É sabido que o telefone é proibido na prisão, também é sabido que todas as câmaras têm pelo menos alguns celulares. Ele trabalhou, noite após noite, telefonando aos presos, ganhando confiança. Procurou ajudá-los. A alguns prestou esclarecimentos sobre seus direitos, a outros apoiou nas audiências. Aos que não tem parentes na cidade levava gêneros alimentícios e cigarros. Levar pacotes é complicado. Precisa entrar na fila de madrugada e alguns produtos não são aceitos. Só de celulares distribuiu mais de 20.

Conseguiu confiança e todos a quem solicitou colaboraram nas filmagens.

No início do video vemos um advogado reclamando porque uma cliente sua já tinha sido declarada inocente e ainda estava detida. No dia seguinte Olena Unhurian sai da prisão para onde entrou grávida,  de uma criança esperada por 10 anos, diz ela. Na cela cheia não havia lugar nem para sentar. Devido à fumaça do cigarro ela começou a passar mal. Acabou perdendo a criança. Ficou presa 121 dias. Mas teve sorte, saiu viva da prisão o que a muitos não é dado. Motivo da prisão? Doação de uma quantia para fins humanitários que foi considerada como suborno.

Outro caso mal esclarecido é do moço de 21 anos, Roman Ruban, que teria levado um choque elétrico. O médico demorou muito porque estava bebendo no corredor. Finalmente, quando chegou bêbado teria aplicado uma injeção não adequada ao caso e Roman morreu imediatamente após esta injeção. O jornalista esperou pelo médico mais de uma semana, mas ele não apareceu na prisão, já fora avisado que havia um jornalista querendo falar com ele. Então o jornalista procurou-o em casa, também sem sucesso. O ex-preso Maksym disse ao jornalista que eram muitas as pessoas prejudicadas pelo tal médico, então alguém o encontraria...

As celas são péssimas. O prédio é antigo e todas as paredes apresentam fungo. As maiores abrigam até 30 - 36 pessoas. O WC é apenas um buraco no chão onde é preciso jogar água, manualmente, para eliminar os dejetos. Os lençois, cobertores e colchões são da penitenciária. Todos com esquisitos cheiros azedos. Nas células maiores geralmente colocam pessoas que tem algumas posses para que elas peçam transferências para as celas menores  com poucas pessoas. Os pedidos são satisfeitos mediante bom pagamento. Tudo é negociado pelos simples atendentes ou por funcionários de postos mais elevados.

Reparem na pessoa com camuflagem na cabeça. Ele é um oficial e vai ao encontro do jornalista que lhe prometeu um telefone novo, no lugar do seu que foi roubado. Vejam como recebe dinheiro e sinaliza que quer continuar o negócio. Após uma boa conversa com o jornalista, as negociações prosseguem.

Quando escurece e os oficiais vão embora, então a vida começa. Através de um sistema de cordas, os prisioneiros fazem trocas. Trocam tudo entre si. Assistem notícias , discutem política. Dormem ao amanhecer, alguns dormem o dia todo. Ninguém dorme no dia do banho semanal. A água é fria, mesmo no inverno, mas todos participam. Fazem sua própria bebida, de maçãs. Conseguem fazer uma bebida bem forte. A comida é criticada por todos. Os que tem parentes na cidade recebem o alimento deles. A análise da água, providenciada pelo jornalista, tem cloro em grande excesso  o que causa doenças, inclusive câncer. O fungo que está em todas as paredes, também foi examinado no laboratório e causa doenças do sistema nervoso, asma, pulmões, órgãos genitais.

Quando há questionamentos sobre as condições na penitenciária, sempre são mostradas câmaras falsas, espaçosas, limpas, bem equipadas.

Na prisão praticam-se tórturas, animalidades, anti-humanismo. E, ali estão pessoas que ainda não foram julgadas! Algumas aguardam pelo julgamento por vários anos. E muitas são inocentes como no caso da mãe grávida Olena Unhurian.


Com a divulgação deste vídeo, correu a notícia de que o jornalista Kostiantyn Usov seria preso. O governo desmente, diz que esta notícia é provocativa. Afirma que serão analisadas todas as transgressões, inclusive a verdadeira causa da morte do moço de 21 anos, Roman (o que é pouco porque esse foi apenas um exemplo citado - OK).

Como é sabido, anteriormente, o presidente do Comitê da Liberdade da Palavra, do Parlamento, Yurii Stets declarou que a Procuradoria de Kyiv estava cogitando abrir um processo criminal contra o jornalista. (Tem eleições parlamentares em outubro, o moço poderá ser "perdoado", mas que não será esquecido, com certeza, não será. - OK).


Tradução: Oksana Kowaltschuk
Video formatação: AOliynik
Fonte: Jornal "Verdade Ucraniana" - http://blogs.pravda.com.ua/authors/usov/4f7b6f67ec61a/ 


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