terça-feira, 5 de março de 2013

HISTÓRIA: DONBASS 2 - GENOCÍDIO NAS MINAS

Espectros de produção. Irreversível desindustrialização de Donbass leva ao despovoamento da região.
 

Tyzhden (Semana), 08.01.2013
Bohdan Butkevych, Kostiantyn Skorkin
 
Como em qualquer região historicamente industrial, a maioria das localidades habitadas no Donbass formou-se em torno de fábricas e copra que gradualmente rodeavam-se com habitações de trabalhadores que formavam distritos.

Já por duas décadas aqui rola a onda de fechamento de fábricas e minas não rentáveis, cuja consequência é a perda drástica e sem alternativa de empregos mas também o total colapso da infraestrutura. Para população isto significa a impossibilidade da sobrevivência, então começa a migração, por causa da qual inteiros distritos transformaram-se no vazio. Devido a todas estas tristes colisões esconde-se uma profunda tendência geral da não efetividade do sistema social-econômico no Donbass.


Reestruturação letal
 

Desindustrialização com a saída da população - quadro bastante típico para todas as cidades pós-soviéticas, mas devemos lembrar que Donbass - é uma região puramente industrial em sua percepção puramente arcaica do final do século XIX. Seus ciclos econômicos, e a mentalidade dos moradores locais gira em torno de apenas uma grande produção como um determinado símbolo sagrado, motivo de orgulho e até mesmo totem. "Para mim a cidade sem produção - algo irreal", - diz o trabalhador hereditário Oleh Sestin de Mariupol. Este tipo de pensamento, que é dominante na região, leva nas últimas décadas a população local ao beco sem saída. "A queda catastrófica dos ciclos de produção no Donbass teve alguns graves efeitos sobre a psique e a mentalidade dos habitantes - diz o psicólogo Andrii Bashkirov de Donetsk. - É claro que quando você perde quase instantaneamente quase todos os meios de ganhar dinheiro, então depois você teme quaisquer mudanças e se segura ao mínimo que ainda possui, é o mesmo desejo obsessivo de "estabilidade", usado hoje pelos estrategistas políticos. No entanto, o impacto de desindustrialização foi muito mais profundo. Do ponto de vista da orientação comercial de todos os trabalhadores locais que vivem tradições como "dinastias de mineração", "recordes Stakhanovskyi" (1), "dignidade proletária por sua fábrica", pessoas sem "sua" empresa em geral perdiam o censo de existência. Destruíam-se todos os fundamentos da vida estabilizada, os cidadãos perdiam a estima e o amor pelo lugar onde nasceram e viveram toda a vida. Daí, todos os problemas da "faixa negra da Ukraina" - embriaguez, indiferença às leis, explosão da criminalidade, etc. No rescaldo desse período Donbasss vive até hoje, e o que dizer sobre o atual processo do despovoamento de pequenas cidades e vilas"?

Na realidade, a falência das minas para uma cidade mineira - é, sem exagero pena de morte para a própria cidade, e as pessoas, porque as joga à época de uma agricultura de subsistência em todos os sentidos. Mina - não é apenas um trabalho que dá dinheiro para viver, mas também é uma estrutura comunitária e social, sistema de meios de vida, sentimento de utilidade, etc. Visto que alternativa em tempos de trabalho durante o encerramento das empresas ninguém deu e não dá, em 1990 teve início o despovoamento e extremas migrações sócio laborais desta região, que continua até o presente. "A assim chamada reestruturação em muitos casos, não era necessária, - afirma o ativista comunitário, empresário e ex-mineiro Oleksandr Ilchenko Sverdlovsk de Luhansk. - A indústria de carvão em 1990 deliberadamente destruíam. A gestão local recebeu carta branca de Kyiv para venda de produtos e equipamentos caros, e até as próprias empresas, por uma ninharia, para particulares. Toda região encontrou-se à beira da sobrevivência, enquanto um punhado de pessoas, que agora constituem as chamadas elites locais enriqueceram.

Este processo, embora um pouco diminuiu, continua até hoje, visto que as empresas que pararam, em 90% nunca mais retornarão à atividade. Portanto, as pessoas que lá trabalhavam são obrigadas a procurar melhor destino fora da cidade em que cresceram mas já é impossível viver. Porque nem o governo local, nem o central não faz nada, para dar aos moradores das antigas cidades mineiras qualquer outra perspectiva econômica.

"Genocídio de minas"

Um exemplo flagrante da situação no Donbass é a Província de Donetsk, onde no início de 2012 registraram 11,5 mil casas abandonadas. E isto é apenas a estatística oficial mas, como afirmam os especialistas, muito comum é a prática, quando no papel a casa tem proprietário mas, de fato, ninguém vive lá, porque as pessoas estão nos lugares de trabalho, sem chances de regresso. Portanto, a contagem real de casas abandonadas pode ser duas a três vezes maior, o que dá base para dizer da existência de muitas cidades de Donbass estarem na situação de "fantasmas".

Em algumas cidades depressivas estão esvaziados distritos inteiros. Por exemplo, em Briantsi, cidade mineira a 58km de Luhansk, onde durantee a grande reestruturação industrial, das 12 minas que alimentavam a cidade, fecharam 9. Esta manobra do governo levou à catástrofe humanitária. Em 20 anos a população diminuiu quase metade. As pessoas começaram sair, em todas as direções, para sobreviver, deixando a casa abandonada, porque em meados dos anos noventa, vender imóvel no interior de Luhansk, de 100 a 300 USD considerava-se um grande sucesso.

Oleksandr, 30 anos, agora morador de Donetsk, lembra, que em 1996, sua família vendeu a casa de dois quartos, em Zorynsk, cidade deprimida, com um bonus na forma de área de terra, por 300 USD. Ele acredita que a família teve muita sorte porque um ano depois, os vizinhos não tendo encontrado um comprador, ao sair à procura de uma vida melhor na Rússia, simplesmente fecharam a casa e saíram.

Viajamos para Zorynsk. A cidade nos recebe com uma mina. Ela não funciona mais e lembra o esqueleto de um enorme monstro de metal. Quase imediatamente chamam a atenção as casas abandonadas - no início propriedades isoladas com quintais e pomares, depois edifícios de vários andares. O processo de destruição da cidade já foi demasiado longe - quase todos os moradores que encontrávamos, contavam que não trabalham em Zorynsk e sonham em sair dali como fez a maioria de seus parentes e conhecidos. O único que ainda dá sobrevivência para alguns milhares de autóctones e a autoestrada M-04 até o ponto de fronteira "Izvaryne", que passa pela cidade e possibilita ir ao trabalho em Alchevsk.

Outra questão muito importante para os moradores, que não foi sequer diretamente relacionada com a produção local - a falta de alternativa do sistema econômico local também provoca fuga em massa da população da região depressiva. "Se você não quer ir para a fábrica, você não é compreendido, - explica o artista Andrii Sirei de Iasynuvatoia, que hoje reside em Kyiv. - Desde criança você é pressionado, se sonha com algo que não se encaixa no código cultural local. Como, você quer pintar? Como se dissessem: no país não há fábricas, mas todos desejam ser artistas. Todas as profissões, não relacionadas com a produção de materiais, em nosso país, não são consideradas sérias. Por isso, para mim e meus companheiros nunca houve e não há escolha no atual Donbass - precisa sair na primeira possibilidade, não procurando oportunidades melhores. Se precisar abandonar a casa - então deixe queimar com uma chama azul".

"Eu pouco lembro minha cidade natal - diz Serhii Halkin de Snizhne, de Donetsk, cuja família teve a sorte de mudar para Boryspil (região de Kyiv). - Nós saímos de lá em 1997 quando a mina onde trabalhavam meu pai e meu avô fechou. Serviço não havia nenhum, a dificuldade era tanta que até os produtos não chegavam regularmente, e comprá-los não havia com o quê. Desde a infância, de Snizhne pouca coisa lembro, além de muitos monumentos a Lenin. Não estive lá nem uma vez após a partida, e não me atrai, se falar abertamente".

Reduzir a dependência

Em locais onde a indústria do carvão de alguma forma manteve suas posições graças a privatização das minas, a situação com o despovoamento não progride tão catastroficamente. Por exemplo, na mal afamada cidade Sukhodolsk, onde no ano passado, em consequência de um acidente morreram 28 mineiros, nos últimos anos aos apartamentos abandonados começaram retornar as pessoas. Masmo, apesar de que, segundo a estatística, a declinação da população é uma das mais rápidas - não somente em Donbass, mas em geral, na Ukraina.

Sukhodolsk, à primeira vista causa má impressão: ruas cinzentas, prédios gastos que não viram reparos no mínimo desde o colapso da União Soviética, figuras solitárias de moradores locais depressivos da região. Mas, especialmente, a visão fantasmagórica apresentam os prédios com alguns andares habitados, outros não. Por exemplo, no prédio de 12 andares, na periferia da cidade, no quarto andar colocaram grade: mais você não sobe. "É bom que fecharam a passagem, - diz um morador local. - Porque anteriormente os viciados organizavam ali sua guarida. E na entrada vizinha um jovem casal conseguiu permissão para moradia, em um apartamento vazio. Moram lá e já tentam fazer reparos".

As autoridades locaiss de Sukhodolsk encorajam o repovoamento das habitações abandonadas. Os apartamentos transferem à propriedade de novos moradores graciosamente, mas fazer reparos é dever dos novos moradores, às suas expensas. Dessa forma, aos poucos a alguns prédios-fantasma começa retornar a vida.

Será por muito tempo? Nos últimos 2 anos, o governo de Mykola Azarov constantemente declarava que a indústria do carvão era muito necessária ao país devido ao desejo de reduzir a dependência do gás da Rússia. Por isso, dizem eles, em breve começará o renascimento nesta área. No entanto, especialistas econômicos afirmam, que aos oligarcas do governo realmente não é interessante mudar para o carvão, porque haverá necessidade reconstruir o ciclo de produção, o atual satisfaz. Então, esperar por mudanças positivas no terreno da mineração dificilmente vale a pena.

O maior problema é que, o governo nem sequer tenta, de alguma forma, diversificar a orientação econômica de Donbass para metalurgia pesada e indústria de carvão. Assim, ele deixa a população dependente desses setores que não são competitivos devido a desatualizadas técnologias, não efetivo aproveitamento da força do trabalho e de natureza bruta da produção local. A maioria das instalações de produção está nas mãos de proprietários privados, e que, dificilmente investem em modernização. Então, em tal situação, o processo de fechamento de fábricas e minas com o futuro despovoamento vai continuar.

Na verdade, podemos constatar, que todo sistema sócio-econômico de Donbass está em impasse. Para tirá-lo de lá, são necessárias, além das reformass de produção, também medidas capazes à população já incapaz de trabalhar nas fábricas e minas após reorganização, deixar de ser proletariado, amarrado até a morte à indústria do carvão. É um processo doloroso, mas muito necessárioo que Donbass deverá, cedo ou tarde ultrapassar. Assim como fizeram seus antecessores no mundo todo, como o alemão RUHR e o Gales britânico. A questão é, se não será tarde demais.
(1) O início do movimento Stakhanov foi em Donbass. Em 31.05.1935 O. Stakhanov durante seu período de trabalho extraiu 102 toneladas de carvão (o normal era 7t.). Mas, no registro foi omitido que ele trabalhou com auxiliares. Em setembro de 1935 ele repetiu o seu feito extraindo 175t., e alguns dias mais tarde 227t. Novamente o feito foi atribuído apenas a Stakhanov.

O movimento Stakhanov deu impulso para melhorar o desempenho, o que era muito estimulado e elogiado. Nas minas começou a corrida para estabelecimento de recorde absoluto. Assim em fevereiro de 1937 Mykyta Izotov extraiu 670t., com 12 auxiliares. Logo a liderança do partido começou a usar a iniciativa em todos os setores da economia. A partir de 1936 foram aumentadas as obrigações e a não execução delas castigava-se como sabotagem.

A introdução generalizada de métodos de Stakhanov foi um dos fatores da crise na indústria, acompanhada pelo aumento da exploração dos trabalhadores e repressão em massa contra a equipe técnica e os executivos de negócios. 
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Foto formatação: A.Oliynik

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