Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 14-15.03.2013
Serhii Leshchenko
Proibido para sair do país, sem licença advocatícia, sem mandato de deputado. Isto para não mencionar a perda real da casa. Provavelmente há um ano, Vlasenko nem em pesadelo não poderia ter previsto o que lhe iria custar o papel de defensor de Yulia Tymoshenko. Mesmo sem imunidade Vlasenko continua com a língua afiada. Nós conversamos no escritório do partido "Pátria", onde o advogado ocupa uma pequena sala decorada com fotos de Lviv, sua cidade natal.
Se para alguns os processos na Ukraina em torno de Vlasenko - são ocasioões para piada, na Europa eles são percebidos como evidência de completa negligência por parte de Viktor Yanukovych das advertências para cessar a perseguição política.
Devido a história com Vlasenko para o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha foi convidado o embaixador Paulo Klimkin, o qual ouviu algumas declarações desagradáveis do Comissário para Europa Oriental Antje Leendertse. Em atenção que Berlim dedica a este caso Leendertse testemunha sua importância planejando visitar Kyiv na próxima semana.
- Por onde você andou depois de perder poderes parlamentares? Disseram que esteve escondido, talvez em alguma embaixada...
- Isto são estórias. Simplesmente nós decidimos, que seria melhor do ponto de vista da apresentação da posição, para eu não comparecer no tribunal. A. Yatseniuk conhece minha atitude para com o judiciário, que é extremamente negativa. E nós decidimos, que é melhor que no tribunal não esteja eu, mas Yatseniuk e Tytarenko. Será que eu posso desaparecer? Atrás de mim há muitos observadores! Até agora enquanto nós conversamos, meu telefone está cheio de spams. Veja, 34 mensagens não lidas. Elas vem de um número. É o monitoramento eletrônico do meu telefone.
Além disso recebo telefonemas de pessoas que eu não conheço. No primeiro dia do julgamento eu, provavelmente, recebi chamada de uma centena de pessoas que não conheço, que diziam: "Oh, desculpe, eu me confundi". E houve a chamada identificada de Nova York, e depois esse mesmo número mas com código russo.
O propósito é abalar a psique. Infelizmente, comigo eles não tiveram sorte. Quando a chamada é do spam, eu não atendo. Em segundo lugar é para identificar a localização do telefone.
- Todas as decisões relacionadas a Yulia Tymoshenko recebe, pessoalmente, Yanukovych. É claro que ele não investiga os detalhes. Mas, o comando para pressionar a pessoa Yanukovych dá pessoalmente. Bem entendido, o trabalho executam Kuzmin, Portnov e Lukash.
- Eu penso que Portnov é o ideólogo de todos estes esquemas ditos legais. Tudo sobre a perseguição a Hrehorii Nymyria e todas as acusações contra mim - estou convencido, são de A. Portnov. Anteriormente eu não falava sobre isso mas, desde fevereiro de 2012 os tribunais começaram apresentar questões sem fundamento contra mim, em casos civis. Trata-se de minha ex-esposa, única pessoa que eles encontraram para usar contra mim. Esta pessoa, infelizmente, para aparecer, e por dinheiro, escreve qualquer coisa que lhe indiquem.
Agora está na moda a palavra "bulldozer". È quando o tribunal não ouve seus argumentos, mas simplesmente diz abertamente: "Para mim tanto faz o que você diz aqui. Eis a decisão do tribunal que você é culpado!". Os tribunais atuam assim em todos os casos contra a oposição: tanto nos civis como nos criminais.
- Meu trabalho no Serviço Fiscal foi acompanhado de manipulações e combinações. Eu declarei dispensa do Serviço Fiscal para permanecer como deputado. Isto não foi honestoo. Talvez tenha sido imaturidade de jovem político. E, depois, quando entendi que não era correto, eu mesmo pedi demissão do Serviço Fiscal em março de 2009, quando podia continuar até 2010.
- Quanto a Yanukovych, ninguém esperava o que aconteceu depois dele assumir o governo. Na verdade, metade da população até hoje não percebeu este cataclisma político que teve lugar em 30.09.2010, quando o Tribunal Constitucional anulou a Constituição. Tudo começou dali (Em 30.09.2010, o Tribunal Constitucional caçou as reformas constitucionais aprovadas em 2004. A partir desta data atua a Constituinte de 1996 - OK).
Shcherban insinuava que os conterrâneos queriam matá-lo
- Tymoshenko não reconhecer Yanukovych como presidente foi correto porque Yanukovych não ganhou as eleições em 2010. As eleições foram falsificadas. Apesar de que elas foram reconhecidas pelos observadores, eu tenho uma explicação lógica, baseada na comunicação com políticos e diplomatas europeus. Depois da terceira rodada em 2004 nós tivemos eleições parlamentares em 2006, nas quais venceu a oposição. Tivemos eleições antecipadas em 2007 e também venceu a oposição. Infelizmente as eleições de 2010, quando uniram-se Yanukovych e Yushchenko foram desonestas e não cumpriram as normas. Mas funcionou uma certa inércia mental.
Na primeira etapa do governo Yanukovych foi criado algo que, de fora, lembra democracia. A primeira batalha foi em 2010 nas eleições locais. E depois eles pensaram que vieram para sempre - e começaram aniquilar certas questões básicas.
- No julgamento da Tymoshenko eu considero que podíamos questionar
melhor as testemunhas. Mas, nos primeiros dois dias eu fui afastado e, outros
não foram admitidos na sala. Mas não havia chance para Tymoshenko porque o caso
não tem nada a ver com a jurisprudência. Kuzmin lançou, e outros apoiaram a
idéia de que a proteção de Tymoshenko é politizada. É claro, nós usamos
argumentos jurídicos, sabendo que eles não seriam aceitos pelo tribunal. Mas nós
preparávamos argumentos jurídicos para o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos.
- Kuzmin chegou a pedir um cargo para Tymoshenko quando ela era
ministra. Ele veio duas vezes conversar com ela durante a campanha de 2009 e
contou que o presidente Yushchenko queria obrigá-lo a abrir uma questão contra
Tymoshenko culpando-a pelo assassinato de Shcherban, mas ele estudou todos os
autos e lá não há nada contra ela.
- Esta questão é complicada. Na verdade procurar quem encomendou a
morte de Shcherban não é trabalho da proteção. Eu conheço cinco versões do
assassinato. Hoje, estudando os documentos, encontrei mais uma. No dia do
assassinato, 03.11.1996, Shcherban voltava de Moscou, da festa de aniversário de
casamento de J. Kobzon. A festa aconteceu no hotel "Redysson Slavyanskaya". No
mesmo dia às 5:00horas da tarde, isto é, depois de quatro horas e meia do
assassinato de Shcherban, em Moscou mataram o proprietário do hotel "Redysson
Slavyanskaya" Pol Teitum.
Teitum e Shcherban eram amigos, eles ajudavam um ao outro. Falam
que Teitum conseguiu um empréstimo americano para Shcherban, de 50 milhões de
dólares, com garantias estatais.
- Eu estou intrigado com as coincidências de Volodymyr Shcherban
(um parente de Yevhen Shcherban). Ele, de repente, uma vez na vida não foi ao
futebol e neste dia morre, vítima de uma explosão criminosa Alik Grek. No dia em
que Mamot veio e disse a Shcherban que DSI deve ganhar 110 milhões de USD ele é
morto no pátio de sua casa (DSI é uma das maiores multinacionais que ocupa
cargos-chave na indústria de aço na região Central e do Leste Europeu.
Em 02.10.1996 Volodymyr Shcherban é destituído do cargo de
presidente do Conselho Regional. Segundo suas próprias palavras ele começa a
divisão dos negócios com Yevhen Shcherban e, exatamente, um mês depois Yevhen
Shcherban morre. Dois dias depois o filho de Volodymyr Shcherban recebe, das
contas da falecida esposa de Yevhen (morreu no mesmo acidente) dois milhões de
dólares.
- Mas eu repito - eu não sou investigador e não pretendo dizer que
estas versões são verdadeiras.
- Eu acredito sinceramente que Shcherban e Lazarenko não tinham
conflitos sérios entre si. Yevhen Shcherban era conselheiro de Lazarenko e o
senhor viu sua entrevista na TV. Esta é apenas uma parte. Yevhen Shcherban,
nesta entrevista insinua com transparência, a pessoa que gostaria matá-lo.
E são pessoas desta região. E esta versão aparenta ser mais lógica.
Lazarenko não recebeu quaisquer preferências a partir da morte de Shcherban. E
as relações comerciais de gás foram construídas satisfatoriamente para DSI como
para CEE (empresa da Tymoshenko)
- Yulia Tymoshenko não tem nada a ver com o assassinato de Yevhen
Shcherban. Tymoshenko não tratava sobre assuntos de gás na região de Donetsk.
Com esta função ocupava-se Oleksandr Hravets.
- Mas eu considero muito interessante a situação do senhor
Kyrychenko (atualmente reside nos EUA-OK). E, mesmo na versão da procuradoria
há claramente a suspeita de que Kyrychenko é cúmplice. Porém, eu recebi a
resposta de que os promotores decidiram não tomar medidas contra ele. Ao mesmo
tempo, nós sabemos que o Senhor Kyrychenko, de repente começou cooperar com a
investigação. Sobre isso declarou sua esposa Isabella, que foi tomada como
refém, pela procuradoria, em sua visita a Ukraina. (Kyrychenko também cooperou
com os procuradores nos EUA, no julgamento de Lazarenko, evitando assim sua
prisão - OK).
Sobre as condições da prisão - Tymoshenko:
- Na enfermaria da prisão e outras instalações anexas, incluindo
sala de tratamento, havia câmeras de vídeo. Tymoshenko não tinha privacidade nem
por um minuto durante 24 horas. Certo dia eu com Tymoshenko, Plakhotniuk e Sas
estávamoos na sala de reunião com advogados, e Tymoshenko resolveu ler um dos
seus apelos. Em menos de três minutos, e segundo a lei sala de reuniões com
advogado não deve ser vigiada de nenhuma forma, entram três guardas dizendo: "Se
você continuar falando sobre temas políticos, nós suspenderemos a reunião". Nós,
apesar de sentados, quase caímos. Eu perguntei: "Prezados, como é que vocês
sabem o que nós falamos?". - "Mas... nós..."
- Em toda parte havia filmadoras. E imaginem que dentro da
enfermaria havia guardas. Quando ela dormia, ao seu lado havia uma
mulher-guarda. Quando Tymoshenko ia comer, atrás dela vinhah a guarda; quando
lia um livro, a guarda olhava o que ela lia, Tymoshenko escreve, a guarda olha o
que ela escreve... E isto todos os dias.
- Segundo o Código Penal da Ukraina cada prisioneiro tem direito a
ilimitado número de telefonemas, com duração também ilimitada. Único preso que
não tem esse direito é Tymoshenko. Quando morreu seu sogro, Gennady A.
Tymoshenko, que era pessoa muito chegada a Tymoshenko, nós precisamos brigar
durante 4 horas com os penitenciários para que Yulia pudesse expressar suas
condolências à viúva.
- Quanto à entrega de alimentos - somente entregamos o que não é
proibido. Vem da família e, às vezes dos defensores. Mas, de nenhum prisioneiro
na Ukraina não se publica a relação desse material, somente da
Tymoshenko...
- Talvez, por fora, isto até pareça uma gaiola dourada. Se
Yanukovych acredita que as condições são luxuosas, eu sugiro que ele troque com
Tymoshenko.
- Tymoshenko não conduz, suficientemente, atividade política como
Lutsenko. Lutsenko, apesar de preso e isoladoo, tem direito ao telefone e pode
dar entrevistas a jornalistas, fazer declarações políticas sobre questões
importantes, até escreve um blog da cela.
- O que me espera não sei, é difícil prognosticar a vontade de uma
pessoa. Eu devia ter sido preso, mas o governo não esperava
reação internacional tão forte. Os europeus entendem que a questão não é
Vlasenko, mas o que acontece com o parlamento ukrainiano.
- Sobre os danos que eu teria causado a ex-esposa é um absurdo
completo. Eu estou agradecido às testemunhas que confirmaram suas justas
declarações anteriores. Estas questões estão sendo falsificadas do mesmo modo
que se falsificam as questões da Tymoshenko.
- Se eu fosse solicitado a dar minha opinião sobre o Acordo de
Associaçãoo Ukraina-UE eu consideroo que Yanukovych fez o possível para que na
Ukraina não considerassem os valores europeus. Aqui floresce o banditismo. E a
Yanukovych não deve ser atribuído o Acordo com UE pelo que ele causa a Ukraina.
E eu não acredito que hajam mudanças enquanto Yanukovych não quiser.
- Na sociedade cresce o nível de insatisfação pelo que aconteceu
nestes três anos. Yanukovych foi muito hábil na construção desta "democracia de
fachada", e na criação de uma atmosfera de intimidação. Mas, algo aconteceu e
precisamos agir. Se as pessoas vêm à rua, pelo menos em pequenas quantidades,
isto pode dar impulso às próximas ações. (A oposição está organizando protestos
nas cidades - OK).
- A privação do meu mandato também é uma criação magistral da
atmosfera de medo. Até cada um dos deputados regionais (do governo) vai pensar:
"Tão rapidamente retiraram o mandato do Vlasenko. Com que rapidez me
destruirão?".
Acredito que o deputado Verevskyi (governista) foi destituído de
seu mandato com sua concordância. Ele teve problemas pelo fato de ser político
porque sua empresa é internacional. Mas, circulam notícias de que ele recebeu
compensações, isto é, construção de 18 praças na cidade de Kyiv.
- Meus amigos são arrastados como testemunhas, exigindo deles
indicações criminais. Eles trabalham sistematicamente contra nós. Iniciando em
fevereiro de 2012 me vinham sinais de diversas pessoas: "Seja mais suave na
defesa da Tymoshenko, e tudo estará bem".
"Dê meio passo para trás, não seja tão duro nas estimativas".
- A questão não é, porque os cidadãos ukrainianos não protegem
Tymoshenko. A questão é por que os cidadãos ukrainianos não protegem a si mesmo?
Por que a vovozinha de Kharkiv, que recebe uma mísera pensão vem a mim, um
deputado da oposição e diz "Filhinho, posicione-se contra a lei sobre a reforma
das pensões". - "Sim. Não somos nós. E a senhora votou em quem, vovozinha?". -
"Pelo Partido das Regiões". "E por que a senhora não vai falar com eles?". "Mas
o fedido está em algum lugar distante, e você está aqui, falando conoosco,
filhinho".
- As pessoas não se manifestam pelos seus direitos por muitas
razões. Primeiro - a atmosfera do medo. Decepção de 2004 - segunda razão.
Terceiro - as pessoas estão no limiar da pobreza. Em 2004, não importa o que nós
disséssemos havia a classe média que podia, até por duas vezes no ano descansar
na Turquia, o que já era norma. As pessoas podiam comprar automóveis e
apartamentos financiados.
Nós, de 1991 a 2009 passamos de um país soviético a um país mais ou
menos livre com renda de nível médio mas mentalmente, como sociedade, ficamos
aquém. As pessoas ainda vivem no sistema socialista soviético. Como exemplo cito
um amigo que diz: "E o que sua Yulia fez para nossa defesa?". Então eu digo:
"Amigo, por que você não pergunta - o que você fez pela nossa advocacia?". Esta
é a nossa mentalidade de consumidor.
Creio que o final para nosso presidente é assustador. Mas a
pergunta é - quando. Mubarak esperou 30 anos.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
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