domingo, 14 de abril de 2013

HOLOKOST: O Inferno na Terra - 3ª Parte

LEMBREMOS DE VINNYTSIA
Antin Drahan

ZONAS PROIBIDAS

Após o assassinato de Kirov e durante o maciço terror de 1937 - 1938, em muitas cidades ukrainianas, as áreas próximas das instituições da NKVD eram rodeadas com tábuas bastante altas, as chamadas "zonas proibidas", e ainda eram protegidas pelos guardas. A estas zonas a população não só não podia espiar como era proibida delas se aproximar. O que acontecia nestas "zonas proibidas" ninguém sabia, mas circulavam rumores e suposições terríveis. E houveram alguns corajosos despreocupados que ao anoitecer subiam em alguma árvore não muito distante para apaziguar sua curiosidade. Alguns conseguiram ver filas de buracos profundos ou pequenos montículos, mas minguém sabia de sua predestinação.

Em Vinnytsia já não havia muitas pessoas que pudessem dar uma descrição historicamente exata dos lugares que a NKVD escolheu para ocultação de suas vítimas chacinadas. Mas, encontraram-se várias pessoas que sabiam e lembravam os últimos acontecimentos desses três locais dos dois lados da estrada de Liten. No primeiro local havia anteriormente um pomar que pertencia a alguns proprietários, os quais já nos anos trinta passaram viver na cidade. Ninguém cuidava do pomar. Em março de 1938 a NKVD interessou-se pelo pomar. Iniciaram as medições e foi colocada uma cerca de tapumes de 3 - 4 metros de altura, fortalecendo-a com guardas da NKVD que revezavam-se dia e noite. Às vezes ouviam-se rosnados de cães. À população diziam que o pomar foi cercado para proteger as árvores frutíferas das crianças, ou que lá aconteciam exercícios militares.

O estabelecimento dessa "zona proibida" em Vinnytsia comprova uma transcrição da ata da reunião do Conselho Municipal e alguns testemunhos oculares que citamos:

   Transcrição do protocolo nº1 da reunião do Conselho Municipal de Vinnytsia, de I.IV.1939: 

   "Ouviram: Notificação do Comissariado da Segurança do País sobre o fechamento para o público do território próximo a fazenda leiteira Eslava em Vinnytsia.

   Deliberaram: Fechamento para o público da parte do território da fazenda leiteira Eslava que pertence ao Conselho Municipal de Vinnytsia, de 27 hectares, 9.151m², e transferi-la ao comando do Comissariado Nacional de Segurança.

   Neste local estão proibidas quaisquer construções sem autorização do Comissariado Nacional de Segurança. Os limites desta zona são:

   a) norte - mata municipal e terras da aldeia Piatychany;
   b) leste -  construção rodoviária N° 646;
   c) sul    -  estrada de Liten;

O valor das construções residenciais será pago pelo Comissariado.

Presidente do Conselho Municipal Fursa, secretário Slobodianiúk".

Testemunho do colaborador da estação hidro-biológica de Vinnytsia H. Hulevych: 

"Na primavera de 1938 eu fui para Kyiv e fiquei lá três meses. Nesse tempo, em Vinnytsia, prenderam meu irmão. Voltando no verão para Vinnytsia eu vi , em frente ao local do meu trabalho, na estrada de Liten, uma nova cerca de aproximadamente 3m de altura, de tábuas bem ajustadas e em duas linhas. Para minhas indagações o que isto significava e para que, recebi diversas respostas. A mais frequente é que era construção da NKVD. Depois de algum tempo surgiram comentários que ali enterravam os fuzilados da NKVD. Certa vez senti cheiro putrefato trazido pelo vento da direção da cerca. Observando a cerca com atenção, descobri um pequeno buraco de onde caiu um nó, e olhei através dele. Vi muita argila fresca amontoada e bem próximo da cerca - montes já escurecidos de cadáveres, os quais, provavelmente, ainda não conseguiram enterrar. Cada vez que um carro se aproximava eu o seguia com os olhos até o portão, atrás do qual ele desaparecia. Eu cogitava que dentro do carro estava também o cadáver de meu irmão. Quase diariamente eu via veículos de carga que à noitinha passavam ao longo da nossa estação para o portão da cerca de estacas e, no dia seguinte, carregados de argila partiam na direção da estrada de Liten".

Das palavras do guarda de mercado OPANAS SKREPKA, de Vinnytsia, protocolou-se o seguinte testemunho:

"De 1935 a 1941 eu era guarda das plantações frutíferas municipais, na estrada de Liten. Em março de 1938 um pomar ao lado da plantação sob minha guarda foi cercado com altas estacas de madeira. Perguntando aos trabalhadores que colocavam estas estacas eu soube que ali planejavam construir uma creche ou um parque infantil. Mais ou menos um mês depois eu subi, à noite, numa árvore que crescia próximo da cerca. Havia luar. Próximo da cerca eu vi seis buracos, cada um aproximadamente com 3m². Nos buracos havia alguns cadáveres. Não estavam cheios, daí porque ainda não estavam cobertos. Já anteriormente eu havia observado que para dentro da cerca começaram entrar veículos carregados e deles jogavam algo - ouvia o som surdo sobre o chão. Naturalmente, ver o que acontecia lá, eu não podia. Algumas vezes, de manhã bem cedinho, após a chegada de veículos de carga à noite, eu percebia um traço de sangue pela estrada de Liten até o local cercado. De manhã, o guarda da NKVD que ficava permanentemente na guarita, cobria esse traço com areia. À noite eu não ouvia nem tiros, nem gritos mas, durante o dia, às vezes via quando chegavam os comissários em automóveis. Então soavam tiros. Às vezes vinha de dentro da cerca forte cheiro cadáverico. Ninguém podia aproximar-se porque ao lado da cerca, tanto na parte interna como externa, constantemente andavam vigilantes. Em 1938 os funcionários da NKVD exigiram de mim algumas mudas do horto florestal que eu guardava. Quando eu neguei categoricamente, fui levado até o escritório municipal da NKVD. Lá me advertiram que eu não tinha direito de proibir coisa nenhuma. Depois disso os funcionários da NKVD levaram do horto aproximadamente 200 mudas jovens de pinheiros, boldos e acácias e as plantaram nas sepulturas cobertas. Somente uma parte dessas árvores vingou".

MARIA PONOMARCHUK (estrada de Liten, N°44) testemunhou:

Desde 1927 eu resido nesta moradia, e do local cercado pela NKVD até minha casa são somente 300m. Frequentemente eu percebia que os agentes da NKVD, de uniforme, noite e dia ficavam de guarda. O que eles construíam no local cercado ninguém sabia mas já naquele tempo havia murmúrios que, quando NKVD constrói boa coisa não espere. Ninguém acreditava na notícia espalhada propositalmente sobre a construção do parque esportivo infantil. Em 1938 eu vi, diversas vezes, quando na área cercada entravam dois veículos bastante carregados e cobertos com lona. Naquele tempo já se supunha que ali eram enterrados os fuzilados pela NKVD".

Os mesmos acontecimentos afirmavam outras testemunhas - diz a brochura SUMA: "Crime de Moscou em Vinnytsia". As indicações do técnico de construção FEDIR STRANYTSIA, dos trabalhadores VASYL KOZLOVSKYI, PETRO ZIVAK, motorista YEVHEN BINETSKYI, guarda OLEKSA KOZLOVSKYI, supervisor de olaria TROKHEM AMOSOV e sua esposa OLENA são perfeitamente idênticos. Todos testemunharam que após a construção da cerca, na primavera de 1938, do antigo pomar frequentemente emanava odor cadavérico, que durante a noite ali entravam ou saíam veículos de carga e que antes da vinda do exército alemão em julho de 1941, os guardas da NKVD constantemente andavam ao lado da cerca. Essas pessoas fornecem testemunho incontestável que a NKVD resolveu aproveitar essa porção de terreno como local de enterro de suas vítimas. E, para garantir que no futuro não haveria risco de descoberta do pavoroso crime, o local foi proclamado como zona proibida, como se vê no protocolo firmado pelos órgãos governamentais da cidade de Vinnytsia.

Desta maneira interromperam-se as construções do largo terreno, que no pensamento da NKVD afastava o perigo da descoberta do mistério das sepulturas coletivas. O plantio de árvores nas sepulturas afastaria no futuro a possibilidade de qualquer sinal.

No entanto, para sepultar a imensa massa de vítimas da NKVD, fuziladas nos anos de 1937-1939, este terreno não foi suficiente. Para o enterro dos cadáveres foi aproveitado o cemitério, também na estrada de Liten.

A primeira testemunha, HULEVICH, que informou sobre sepulturas coletivas, abertas pela NKVD, evidenciou:

"Eu residia na parte da cidade, cujo caminho mais curto para o centro era através do cemitério. Indo para o trabalho, frequentemente via que no cemitério abriam sepulturas. Mas eu não imaginava porque as preparavam. Entretanto, achando no outono de 1937, na álea principal uma galocha e percebendo a marca de sangue nela eu comecei observar com atenção. Certa vez à noitinha, no outono do mesmo ano eu vinha pela aléia principal do cemitério e notei que um veículo aproximou-se do portão. Escondi-me na sombra de uma árvore e vi que o veículo, com algumas pessoas sentadas, estava carregado e coberto com lona. O carro aproximou-se das valas. Eu percebi claramente o baque dos corpos jogados dentro das valas, acompanhados de brutais injúrias. Rapidamente, completando o fechamento da vala com terra e sempre injuriando, as pessoas subiram no veículo e saíram do cemitério".

O sacristão YURII KLEMENKO, que vive em Bobliúv, em 29.06.1943 testemunhou:

"Em 1941 eu trabalhei como guarda e atendente do depósito junto ao hospital Pirohov em Vinnytsia. Este hospital localizava-se próximo ao cemitério, separado apenas pela cerca. De minha guarita avistava todo o cemitério. No outono de 1937 eu vi os prisioneiros abrindo buracos no cemitério, de 2m². Eles eram vigiados durante o trabalho. Tudo isso despertou minha curiosidade e por isso, durante a noite comecei observar. Próximo de duas horas entrou no cemitério um veículo de carga. Sob a luz dos refletores eu vi claramente como duas pessoas jogavam algo do veículo para o buraco. Eu nunca interoguei ninguém a respeito porque tinha medo de ser aprisionado pela NKVD!"

O contador PETRO BOKKHAN testemunhou:

"Em 1937 frequentemente ia à casa dos pais de minha esposa, que residiam próximo ao cemitério. Na maioria das vezes eu ia através do cemitério e frequentemente via, no local separado próximo do hospital de Pirohov que abriam sepulturas. Voltando para casa, mais ou menos às 8:00 horas à tardinha, via que este trabalho ainda continuava. Mas, quando eu passava pelo cemitério pela manhã, todas as sepulturas estavam cobertas".

Interrogada a enfermeira YEVHENIA PROLINSKA, de Vinnytsia, contou:

"No outono de 1937 eu trabalhava como enfermeira no hospital Pirohov. Frequentemente fazia plantão à noite. Certa vez eu notei que veio ao hospital o médico da prisão da NKVD, o qual eu conhecia apenas de vista. Ele, normalmente usava uniforme da NKVD mas, na ocasião usava roupas civis. Procurava o coveiro que residia no hospital. Ordenando ao coveiro levar 3 -4- pás cortadeiras, o médico foi com ele ao cemitério. Pelo fato de que meu esposo foi aprisionado pela NKVD em 20 de dezembro, eu me interessei pelas visitas noturnas do médico. Tirei o avental branco, vesti um paletó preto e, secretamente, fui ao cemitério. Eram 2 ou 3 horas da noite. Parei próximo da cerca ao ouvir uma conversa da qual participavam umas dez pessoas. Próximo delas havia dois veículos de carga, cuidadosamente cobertos com lona. Na minha imaginação eram cadáveres dos assassinados na prisão da NKVD, e aqui faziam-se preparativos para enterrá-los. Se fossem prisioneiros que morreram naturalmente, seriam enterrados às claras, e não secretamente à noite. Vendo que as pessoas aproximavam-se dos veículos, e receando ser percebida, apressei minha volta ao hospital. De manhã, ao passar pelo cemitério no qual, neste local, fazia guarda um miliciano, eu observei com precisão que havia uma parte, de mais ou menos 3m² onde a terra foi remexida e aplainada... Quando no dia posterior eu perguntei ao guarda o que trouxeram à noite para o cemitério, ele respondeu: "Isto não lhe diz respeito, não é assunto de seu interesse". Tais acontecimentos repetiam-se com frequência, e a solicitação dos serviços do coveiro não se restringia apenas ao médico mas também aos comissários da NKVD. No local onde eu observei estas sepulturas, em condições normais não enterravam".

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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