quinta-feira, 4 de abril de 2013

REARMAMENTO NA RÚSSIA

Contra quem se arma Rússia? Moscou poderá assustar ainda mais seus vizinhos e o Ocidente.
Tyzhden (Semana), 28.03.2013
Maxim Buhryi

A anunciada reforma militar de Putin prevê um ambicioso programa de rearmamento. O sucesso não é garantido.



 


As crescentes ambições na política externa russa relacionam-se com o êxito da nova reforma militar. Putin verdadeiramente encarnou à vida a posição do artigo pré-eleitoral em "Gazeta russa" sob o título "Seja forte: garanta a segurança nacional da Rússia", que previa a aceleração do processo de rearmamento das Forças Armadas da Rússia. Os especialistas atribuem esta militarização a fatores geopolíticos, e o relatório do diretor da Inteligência Nacional dos Estados Unidos alerta sobre ameaça aos vizinhos.
 
Programa de rearmamento - 2020
A aceleração da reforma militar tornou-se uma das principais posições ideológicas da Volodymyr Putin durante sua campanha presidencial no ano passado. No artigo acima mencionado ele escreve sobre uma nova tendência mundial: cada vez mais o frequente desejo de resolver as questões econômicas e de recursos através do uso de força. Então, como afirma o dono de Kremlin, Rússia não deve induzir ninguém à tentação com sua fraqueza". Preparando-se para voltar ao mais alto cargo, Putin proclamou "Programa sem precedentes de desenvolvimento das Forças Armadas e do complexo militar-industrial" e anunciou, que nos próximos dez anos para isto vai atribuir aproximadamente 23 trilhões de rublos, ou mais de 750 bilhões de USD.

Significativamente, as principais teses começam no artigo da indispensável reforma da análise estratégica na esfera da defesa nacional. Meta - aceleração, capacidade de avaliar as ameaças com 30-50 anos de antecedência.Quanto a estratégia de segurança, Kremlin elegeu a teoria clássica da dissuasão nuclear como o principal mecanismo para a prevenção de uma grande guerra. Ao mesmo tempo Rússia seguirá a tendência mundial da modernidade - criação de armas de alta precisão não nucleares, de amplo raio de ação, que também poderão ser usadas para a dissuasão estratégica.

A ênfase de Moscou na dissuasão nuclear incentiva ao uso de concepções clássico-geopolíticas "aéreas e marítimas". Assim, na base para sua Força Aérea permanecerão bombardeiros estratégicos, aos quais se juntarão os drones (aéronaves controladas à distância, por meios eletrônicos e computacionais, sob a supervisão e governos humanos, ou sem a sua intervenção, por meio de Contraladores Lógicos Programáveis - OK) e caças de quinta geração. Ao mesmo tempo o desenvolvimento da Marinha prevê não somente a sua modernização com apoio nos cruzadores submarinos de mísseis, mas também a segurança da "frota oceânica", com uma presença estratégica nas regiões de interesse de Kremlin - com "demonstração da bandeira". Este mês o comandante das Forças Armadas da Rússia, vice - almirante Viktor Churikov confirmou a decisão sobre a permanência constante no Mar Mediterrâneo com a conexão operativa de cinco-seis navios da Frota do Mar Negro da FR e anunciou a possibilidade de criação de tais forças nos oceanos Pacífico e Índico. De acordo com outras informações Rússia discutiu neste inverno a questão de criação de bases militares no Vietnã.

Putin critica a modernização das armas na forma de compra de tecnologia ocidental (como a encomenda do porta-aviões francês Mistral) e aposta na modernização do seu CIM (Complexo Industrial Militar). Tipos prioritários de armas e equipamento militar para legislação da FR - são armas nucleares modernas (muitos dos mísseis existentes serviram por mais de 20 anos e devem ser aperfeiçoados), meios de defesa aeroespacial incluindo os novíssimos sistemas de comunicação altamente tecnológicos de exploração e gestão incluindo as aeronaves-drone não tripuladas, sistemas de proteção individual dos soldados no campo de batalha, armas de precisão e os meios para combatê-las. O principal aspecto dos futuros meios de defesa da Rússia devem tornar-se as forças nucleares de dissuasão e as armas nucleares de precisão, a Marinha da FR, a UPU (União Postal Universal), Força de Defesa Cósmico-militar. Deve ser criado sistema único 
aeroespacial. Deve ser criado sistema único aéro - cósmico de proteção do Estado. Exatamente este sistema com as forças de dissuasão nuclear confrontará os mísseis de qualquer tipo especialmente dos EUA e OTAN. Geograficamente a Bilokamiana (Pedra branca - edifício do governo russo em Moscou - OK) jogará com o papel garantidor da estabilidade da Eurásia: previsto na formação do sistema de segurança coletiva do "espaço eurasiano" com base na CST (Organização do Tratado de Segurança Coletiva), sendo que a prioridade para Kremlin entre as regiões do mundo é o Norte (especialmente os ricos recursos da região do Ártico Ásia-Pacífico.

Continuando a modernização das forças armadas, Putin anunciou uma melhoria significativa no apoio financeiro para os militares e policiais. É planejada uma transição gradual para passagem para exército de contrato - de um milhão de soldados em 2017, serão profissionais 700 mil, e os recrutas em 2020 serão apenas 145 mil. O líder de Kremlin examina o CIM como canal de modernização da economia do país. Até 2020 está planejando a atualização não menos de 70% do armamento e equipamento. A renovação do CIM deve tornar-se locomotiva de desenvolvimento de uma série de setores - de básicos a rádioeletrônica, informática, telecomunicações, ciências, tecnologias, etc.
A reforma incorpora princípios de formação de exército moderno, móvel, com apoio na dissuasão nuclear como compensação pelos altos custos (no final dos anos oitenta os gastos com defesa atingiam 15% do PIB) e orientando o exército soviético para guerra territorial. Os princípios desta reforma desenvolviam ainda o governo Yeltsin e ajustavam com a experiência dos dois conflitos na Chechênia e a guerra russo-georgiana de 2008. Exatamente a guerra com a Geórgia e a crise econômica global levou à rápida introdução da chamada reforma Sierdiúkova de 2008 - 2011, que alcançou alguns resultados positivos, embora pareça hoje inglória para seu principal executivo, o primeiro ministro da defesa civil, russo. Com base nestes resultados e relativa estabilidade econômica Putin iniciou sua reforma, que prevê um aumento ambicioso de despesas públicas com o exército.
 
Os petrodólares serão suficientes?
 
Despesas do orçamento federal para defesa em 2013 aumentaram em quase 15%, para 2,1 trilhões de rublos, embora inicialmente planejou-se ainda mais - cerca de 20% (para comparação: na economia do ano passado gastou-se 3,27 milhões de rublos). No entanto, o financiamento para os gastos militares pode, realmente, ser menor. Tais despesas se tornariam realidade apenas no caso de um crescimento econômico positivo. No entanto, os economistas têm cada vez mais questionado o cenário otimista do poder. O programa governamental de desenvolvimento econômico para 2018 por Dmitry Medvedev prevê um desenvolvimento médio do PIB de 5% ao ano. No entanto, os representantes do Ministério da Economia prevê, por exemplo, o crescimento real do PIB entre 3 - 3,6% e o ex-ministro de Finanças Alekxei Kudrin acredita que não será superior a 3%. A estatística distinguiu a primeira redução significativa do produto interno bruto em janeiro: a taxa de crescimento anual foi de apenas 1,6%. Na produção de indústrias extrativas caiu 2,3%. A comunidade russa de negócios preocupa-se também com problemas de desaceleração de crédito bancário: os empréstimos com a taxa de dois dígitos são demasiado elevados para pequenas e médias empresas e, ao mesmo tempo refletem o alto nível de risco para as instituições financeiras. Enquanto isso, fatores de ação prolongada, que podem afetar o sucesso da reforma militar de Putin - desequilíbrios estruturais da economia, que continua em grande parte orientada para matéria-prima. Mais um fator - problemas demográficos. Estimativas oficiais indicam: trabalhadores russos até 2020 diminuirão em 8 - 9% dos atuais 87 milhões, e esses problemas é pouco provável que poderão ser superados com medidas de migração política (programa de retorno à Rússia dos "compatriotas", que vivem no exterior, e a distribuição de passaportes russos aos cidadãos de países vizinhos, particularmente Ukraina.
 
Outros fatores negativos é o baixo nível de desenvolvimento institucional e corrupção sistêmica, que corrói o regime de Putin por dentro. Por isso, alguns especialistas militares russos avaliam as perspectivas de obtenção de totais pontos de referência como visões. Em particular, Mikhail Barabanov, editor-chefe da revista "Moscovo Breve Defesa", considera que o programa de militarização baseia-se na utópica duplicação do PIB russo em 2020, em comparação com 2014. Ele prevê que o real financiamento das despesas para reforma militar será no nível de dois terços dos volumes declarados. Para modernização das Forças Armadas foram estabelecidas premissas de preços muito otimistas e prazos irreais para criação de novos armamentos.
 
Declaração de liderança
 
A reforma militar de Putin ressoa ideologicamente com a nova concepção da política externa da FR. Ao contrário da anteriormente usada amorfa "multipolaridade", a visão de mundo russo, de acordo com um novo documento já está orientada "policêntrica", que realmente faz jus à idéia de "zonas de influência". Essas áreas estratégicas no mapa do Kremlin são três: Euro-Atlântica, Eurásia e Ásia-Pacífico. Rússia é o centro da Eurásia. No entanto, esse papel de líder regional não é suficiente, portanto o poderio de Kremlin está direcionado na nova concepção do espaço Euro-Atlântico, que deve ser construído em parceria da FR. UE e EUA. A este projeto em grande parte foi dedicado o pronunciamento do ministro do exterior russo, Sergei Lavrov, no último Fórum de Segurança em Munique.
 
  Orientação ao Plano de Putin - Perspectiva de armas russas até 2020: 
  
 
400 atuais mísseis balísticos intercontinentais de base terra e mar;  8 mísseis submarinos cruzadores de indicação estratégica; 20 barcos submarinos multifuncionais;  50 navios de superfície, de combate; 

100 aparelhos cósmicos;  600 aviões modernos, 5ª geração;  1000 helicópteros;  28 conjuntos de regimentais sistemas de defesa S-400; 

38 conjuntos de divisão antiaérea, sistemas de mísseis Knight;  10 mísseis de brigada, complexo "Iskander-M";  2300 tanques atuais;  2000 complexos de artilharia e canhões;  17.000 automóveis militares. 
 
Deste modo, bloqueando as aspirações euro-atlânticas de seus vizinhos no espaço pós-soviético, Kremlin hoje promove sua própria concepção de integração com o Ocidente. No entanto, por que Rússia, para a qual não há muito tempo era prioridade a cooperação com a modernização do Ocidente, repentinamente militariza-se.  Segundo o diretor de estudos russos Leon Aron, Putin usa a estratégia de "fortaleza sitiada": exatamente a proteção de "ameaças externas" pode fazer legítimo seu regime autoritário. Outra dimensão da filosofia do presidente - a liderança geopolítica que Rússia perdeu em muitas posições: os especialistas estrangeiros não a consideram uma grande potência. De acordo com o político russo Sergei Karaganov "o atual modelo de desenvolvimento da Rússia não lhe dá outros meios de assegurar a posição de liderança".
 
Os prognósticos estratégicos quanto a Kremlin podem tornar-se uma questão complicada. De um lado o autoritarismo russo é altamente personalizado e repousa sobre a autoridade de Putin. A sociologia fornece interessantes comparações quanto a confiança nele, ao governo e ao parlamento. A avaliação do presidente, mesmo no nível mais baixo de janeiro de 2011, ainda permanece bastante elevada, mas a credibilidade ao governo, especialmente ao parlamento, não cresce. Por causa da fraqueza das instituições a situação na Rússia se assemelha ao que havia na União Soviética durante a estagnação, então os analistas estrangeiros, como os antigos analistas americanos da vida soviética, são forçados a predizer o futuro na borra de café, como mudará o curso do país, depois de Putin.
 
Para quem a arma aponta?
 
Cada vez mais, os especialistas da FR se preocupam com o futuro de seu país. Uma das mais famosas analistas Lidia Shevtsova recentemente, com dramaticidade, expressou-se sobre o início do colapso do sistema russo. Embora o regime e parte de liberais locais, que o legitimam, ainda tem força para se reagrupar, a agonia, de acordo com a observadora, é inevitável. Ela, corajosamente indica o militarismo como o instrumento de sobrevivência do sistema russo e anuncia que agora não se trata de retórica. "Hoje a retórica neoimpeperialista e militar começa a ser implementada na doutrina, mas algumas forças do "estabilishment" podem tentar incorporá-la na prática". De fato, segundo Shevtsova, paralelamente com a concepção formal há um consenso da elite sobre o domínio da Rússia no pós-soviético espaço e possibilidade de utilização soft power (suave poder) ou intervenção armada direta, para eliminar os indesejados regimes de países vizinhos e deter a influência ocidental.
 
A militarização russa incomoda alguns países do leste da Europa, que são membros da OTAN, especialmente a Polônia e os países bálticos. Ao mesmo tempo ela chama a atenção sobre os EUA. Particularmente, de acordo com Washington Times, o Pentágono observa os maiores estudos nucleares na Rússia nos últimos vinte anos, que aconteceram no final do mês passado. No entanto os especialistas não vêem nenhuma ameaça de Moscou para o Ocidente ou a OTAN.
 
A perspectiva ukrainiana sob estas condições parece bastante sombria. Razões para falar sobre a ameaça real russa ao nosso país não há. Qualquer intervenção do exército da FR no nosso território ou mesmo provocação de caráter armado inevitavelmente provocaria dentro do país forte sentimento antirrusso e, consequentemente, para Kremlin seria muito mais difícil arrastar Ukraina para seus projetos neoimperiais de integração. Ao Kremlin é mais confortável continuar agindo com os métodos que já influencia Kyiv: pressionar no governo ukrainiano, de fato segurando-o "no gancho", e através de sua quinta coluna desestabilizar a situação no país. No entanto, aumentam os riscos da instabilidade. O passado dá alguns exemplos de crises. Dois países (¹) durante a divisão da Frota do Mar Negro da URSS em 1992 - 1994 encontravam-se à beira de um conflito armado, de fato recorriam desavenças. O grau de oposição elevava-se também durante a crise ao redor da ilha de Tuzla (¹)  em 2003 e a guerra russo-georgiana em agosto de 2008. Hoje não há conclusão da demarcação no estreito de Kersh (³) (que está relacionado com os direitos da utilização do transporte de gás Pallas), não estão reguladas as questões com a permanência na Criméia da Frota do Mar Negro, modernização do qual resiste Yanukovych, tentando impor à Rússia os serviços de fábricas locais.
 
Sob essas condições, provavelmente, a militarização russa como evidência de força aplicará o papel de força efetiva, empurrando Yanukovych para cessão de interesses nacionais, econômicos e políticos da Ukraina.
 
1,2,3 - Todos estes conflitos aconteceram entre Ukraina e Rússia.
 
 
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Fotoformatação: A.Oliynik

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