"NÃO DEIXAREMOS APAGAR A VELA DA MEMÓRIA"
Notícias da Ucrânia
Holodomor dos anos 1932-1933 na Ukraina
Uma das mais trágicas páginas na história do nosso país. Quando os pesquisadores falam sobre Holodomor dos anos 1932-1933, então eles têm em mente desde abril de 1932 até novembro de 1933. Durante esses dezoito meses morreram milhões de pessoas. O pico da tragédia foi a primavera de 1933. Nestes dias morriam de fome, na Ukraina, a cada minuto 17 pessoas, 1000 por hora e quase 25.000 a cada dia. Nos últimos tempos muito se fez para honrar a memória sobre aquele tempo terrível. Em maio de 2003 o Parlamento ukrainiano, em apelo oficial à Nação reconheceu Holodomor como genocídio. Semelhantes ações aprovaram os países da Comunidade de Estados Independentes. Com o decreto do Presidente da Ukraina Viktor Yushchenko foi estabelecido o Dia da Memória das vítimas do Holodomor em 26 de novembro. Durante dezenas de anos sobre Holodomor não se podia, não é que escrever, mas nem falar abertamente. No período da independência esta mancha branca no ensino começou a ser progressivamente preenchida (Infelizmente, a partir do governo de 2010, pelo presidente pró-russo Viktor Yanukovych, Holodomor já não está sendo visto como genocídio da nação ukrainiana, apesar de que, cada vez mais historiadores europeus e americanos o reconhecem como tal - OK).
Dmytro Badera descreve brevemente o que vivenciou naqueles anos terríveis, em sua aldeia Yasenov-2, distrito Lobashivskyi, província de Odessa, sua vovozinha Maria Lazarenko. Eis o que ela contava:
Uma das mais trágicas páginas na história do nosso país. Quando os pesquisadores falam sobre Holodomor dos anos 1932-1933, então eles têm em mente desde abril de 1932 até novembro de 1933. Durante esses dezoito meses morreram milhões de pessoas. O pico da tragédia foi a primavera de 1933. Nestes dias morriam de fome, na Ukraina, a cada minuto 17 pessoas, 1000 por hora e quase 25.000 a cada dia. Nos últimos tempos muito se fez para honrar a memória sobre aquele tempo terrível. Em maio de 2003 o Parlamento ukrainiano, em apelo oficial à Nação reconheceu Holodomor como genocídio. Semelhantes ações aprovaram os países da Comunidade de Estados Independentes. Com o decreto do Presidente da Ukraina Viktor Yushchenko foi estabelecido o Dia da Memória das vítimas do Holodomor em 26 de novembro. Durante dezenas de anos sobre Holodomor não se podia, não é que escrever, mas nem falar abertamente. No período da independência esta mancha branca no ensino começou a ser progressivamente preenchida (Infelizmente, a partir do governo de 2010, pelo presidente pró-russo Viktor Yanukovych, Holodomor já não está sendo visto como genocídio da nação ukrainiana, apesar de que, cada vez mais historiadores europeus e americanos o reconhecem como tal - OK).
Dmytro Badera descreve brevemente o que vivenciou naqueles anos terríveis, em sua aldeia Yasenov-2, distrito Lobashivskyi, província de Odessa, sua vovozinha Maria Lazarenko. Eis o que ela contava:
"Em 1932 a colheita foi fraca. As pessoas ainda conseguiam se manter. Mas o governo de então recolheu as provisões dos aldeões até o último grãozinho. Em 1932 o Partido Comunista aprovou uma resolução extraordinária sobre reforço no recolhimento do pão (produtos alimentícios em geral). As aldeias ukrainianas estavam condenadas para fome e canibalismo. A recusa em entregar o pão era considerada como sabotagem. Aplicaram-se repressões aos aldeões individualmente. Entregavam-se até sementes e fundos de reserva de comestíveis. Molotov e Kahanovych vieram especialmente a Ukraina para controlar a colheita e a exportação de grãos. Nas aldeias organizavam-se brigadas especiais de pessoas jovens, as quais com ajuda de ferros com ponteiras procuravam grãos escondidos nas casas, ate revolviam a terra se suspeitavam que algo podia ser ali escondido. Ukraina foi transformada em cemitério.
Então eu estava com oito anos. Eu via tudo o que acontecia com meus próprioos olhos e o pavor se apoderava de mim. Frequentava o segundo ano. Na escola havia duas turmas de segundo ano, A e B. Cada classe tinha, aproximadamente, dez alunos. Lembro, no almoço um prato de sopa ou nhoque. Um dia nos deram um prato de nhoques. Do meu lado esquerdo sentava-se um menino chamado Pedro. Eu prestei atenção porque ele apenas ingeria a água e os nhoquezinhos colocava na caixinha de fósforos. Os noquezinhos eram pequenos, como as sementes da cereja. Ele conseguiu apenas a metade da caixinha. Eu perguntei: "Pedro por que você não come os nhoques, mas coloca-os na caixinha?" "Isto eu levarei para mamãe", - respondeu o menino. Mas os seus cuidados foram em vão. Morreu Pedro, morreu sua mãe.
Em nossa adega ainda tínhamos um barril com maças azedas. Certa vez eu peguei maçãs azedas e levei-as para escola. Entrei na sala do jovem professor Ivan Lysak. Ele pegou-as rapidamente e começou a comer com avidez.
No outono de 1933, quando eu fui para terceira série, de duas classes fizeram uma. Sobraram 12 alunos, os outros morreram de fome.
Na aldeia vivia um homem chamado Yuda Koval. Eu lembro a casa onde ele morava. Certo dia ele pegou um saco e foi no cemitério, aonde levavam os mortos. Yuda, entre os mortos escolheu uma criança, colocou-a no saco e levou para casa. As pessoas viram. Em casa ele cortou a carne e cozeu. A cabeça, os ossos e os pés deixou na dispensa. Os vizinhos chamaram a milícia e levaram Koval. Ninguém mais o viu na aldeia.
As pessoas andavam com as pernas inchadas, como cepos, devido a fome. Ao pisar ficava a marca molhada no chão. Quando começou a primavera, as pessoas "foram pastar". Comiam espinafre, urtiga, tília, tudo o que podiam comer. Sekleta, da nossa aldeia, disse que os ratos são azedos e os sapos doces. Ela também comeu gatos e cães. E graças a isso sobreviveu. Mas sua mãe, Malanka, morreu. Ao semen Lysak, que recolhia os mortos e levava ao cemitério, disseram que Malanka havia morrido. Então ele veio para levá-la, mas ela ainda estava viva e lhe disse: "Semen desatrele os cavalos para que pastem um pouco de grama, e você descanse. Eu morro logo. Por que você deverá vir outra vez?" Ele assim fez. Esperou até ela morrer, depois levou-a ao cemitérioo.
Minha tia Likeria tinha sete crianças. Eles viviam a 18km de distância e passavam uma fome atroz. Ela veio até nós no início da primavera e disse" : Irmãzinha, ajude, estamos morrendo!" Mamãe deu-lhe sementes, batatinha e beterrabas. Mas ela disse: "Eu ajudarei você revolver a terra no quintal." Enquanto revolvia a terra, tia juntou um balde de batata congelada e apodrecida. Resolveu levá-la para casa, mas mamãe pegou aquela batata e jogou-a num monte de esterco. Então titia ficou muito ofendida, chorando disse: "Você é assim, irmã? Meus filhos estão morrendo de fome, e você ficou com pena de nos dar batata podre!" Mas mamãe ofereceu-lhe outro balde de batata e titia parou de chorar. Tia Likeriai perdeu, devido a fome, o marido, cinco filhos e velho sogro. Sobraram vivos dois filhos maiores: Petró e Vasyl. Petró morreu no front. Vasyl, devido a uma lasca de projétil perdeu o maxilar inferior. Assim ele viveu.
As pessoas comiam cavalos mortos. Eu vi quando a vizinha carregava nas costas um pedaçoo de cavalo. Ela sobreviveu. Do outro lado da rua vivia Nastia com filha Catarina. Morreram ambas.
Em 1932 morreu nosso avôzinho Demyd, de fome. Ele vivia na aldeia Iasenovy-1. O avô Demyd nasceu ainda no tempo da escravidão, teve cinco filhos. Viveu 85 anos de muito trabalho e privações.
No inverno de 1932 os ladrões roubaram nossa vaca. Ela foi encontrada esfaqueada em outra aldeia e o bezerro foi entregue na escola para "quentes desjejuns".
Em nossa aldeia havia uma clínica. Apenas lá poucos ficavam vivos - não havia nada para alimentar os famintos.
Os mortos da aldeia eram trazidos ao cemitério. Cavavam grandes buracos e nestas sepulturas irmãs, enterravam 20-30 pessoas por dia. Com o mau tempo juntavam-se muitos cadáveres. Na aldeia Hvozdavka-2 vivia um rapaz de 17 anos, que pastava os bezerros do Kholkhoz (fazenda coletiva). Enfraquecido e morituro, mas ainda vivo, foi colocado na carroça e levado ao cemitério. Foi baixado ainda vivo na sepultura. Ele pedia aos que o enterravam: "Irmão, dê-me uma tragada". Mas cigarro não lhe deram. Enterraram-no vivo. Havia aldeias onde não havia ninguém para fazer os enterros. As pessoas iam ao campo, às pilhas de feno, faziam ali buracos, deitavam-se neles e morriam.
Na minhah aldeia Iasenove-2, em 1932 havia 945 casas. Meu pai Ivan Onufriyevich conhecia bem a aldeia e contou, que devido a fome aí morreram aproximadamente 100 pessoas.
Continua...
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Foto formatação: AOliynik
Lembro de ter visto um filme numa fita VHS contendo inúmeros depoimentos em inglês de pessoas que viveram aquele período de terror, possivelmente colhidos algumas décadas depois. Um registro contundente que deveria ser resgatado e postado.
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